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Para compreendermos como o perfil do internauta brasileiro se aplica nas culturas populares é necessário mostrarmos quem são os atores da área. Consideram-se mestres(as) de culturas populares e tradicionais a pessoa que tem experiência prática e conhecimento dos saberes e fazeres populares, por meio da transmissão oral ou não; além disso, é dedicado(a) às expressões culturais populares e seu trabalho é reconhecido pela comunidade onde vive e/ou por outros setores culturais. (BRASIL, 2012c).

Buscando identificar quem é o público da área, bem como seu conhecimento das políticas culturais e a abrangência do Colegiado de Culturas Populares, realizamos um

levantamento entre novembro de 2011 a março de 2014, por meio de formulário eletrônico encaminhado via internet para redes de culturas populares, listas de grupos do setor, membros do Colegiado e divulgado nos sites do Conselho Estadual de Cultura da Bahia e na página do Facebook da SCDC/MinC. Os critérios para escolha do meio de aplicação desse questionário foram: 1) utilizar recursos do ambiente digital, para verificar a inserção do setor na rede 2) usar o mesmo tipo de instrumento similar ao já adotado/usado pelo MinC, CNPC e/ou SCDC em processos participativos virtuais e por meios dos quais fazia divulgação desses órgãos.

Sobre essa escolha, a priori, tínhamos apenas a hipótese de que os canais de comunicação digitais poderiam limitar o tipo de ator social da área que estava participando ou interagindo com o MinC. Para comprovar esta premissa, escolhemos realizar o levantamento apenas pela internet, com a finalidade de verificar se o uso somente deste canal era suficiente ou não para o contexto das culturas populares. Por isso, ao final, quando obtivemos um número abaixo do esperado (que era de no mínimo 100 respostas), analisamos que mesmo com uma amostragem menor, este quantitativo veio mostrar que a hipótese se confirma na prática.

Dessa maneira, nas seções seguintes, mostramos os resultados do questionário aplicado durante o período da pesquisa.

5.2.1 Questionário estruturado

Durante o período de dezembro de 2011 a 2013, mesmo com vários tipos de divulgações, obtivemos apenas 70 respostas. Dentre os participantes, 54% são homens e 46% mulheres, o que demonstra certo equilíbrio no que diz respeito à questão de gênero, pois a diferença é menor que 10%.

No que se refere à escolaridade, 43% possuem pós-graduação concluída e em andamento; 36% são graduados e graduandos; 6% não concluíram o ensino superior; 11% têm ensino médio completo e 4% não o finalizaram. Nesse sentido, identifica-se um perfil altamente escolarizado de conselheiros em comparação à população brasileira, a qual possui uma escolaridade média de 7,1 anos de estudo, o que equivale ao ensino fundamental incompleto. (IBGE, 2010).

Sobre o acesso à rede, a maioria dos entrevistados possui acesso em mais de um local, sendo que apenas 10% não possui internet em casa. A quantidade de entrevistados que utilizam a internet no trabalho é de 51%. A minoria dos participantes acessa a partir de lan house (3%). Ou seja, o universo pesquisado se enquadra nas classes A (98%), B (80%), C

(39%), as que mais possuem acesso à rede, de acordo com Comitê Gestor da Internet (CGI, 2014).

Com relação à faixa etária, identifica-se que a maioria dos participantes tem até 35 anos (52%); os de 36 a 49 totalizam 30% da amostra e acima de 50 anos apenas 17%; esse público coincide com o perfil dos usuários de internet traço pela pesquisa TIC Domicílios. (CGI, 2014).

Gráfico 5 – Pesquisa sobre abrangência das políticas para culturas populares e o Colegiado

Fonte: Próprio autor.

O contexto dos entrevistados é direta ou transversalmente ligado à cultura, sobretudo às culturas populares. Entre as profissões, há principalmente servidores públicos, antropólogos, produtores culturais, jornalistas e estudantes; sendo que apenas 13% se consideram mestres(as) de culturas populares, como demonstrado abaixo,

Gráfico 6 – Quantitativo de mestres(as) de culturas populares

Pouco mais da metade dos entrevistados (51%) diz atuar em alguma instituição, entidade ou órgão ligado às culturas populares (Conselho, ONG, OSCIP, Ponto de Cultura), como é mostrado no gráfico seguinte.

Gráfico 7 – Atuação em algum órgão, Conselho ou ONG/OSCIP, Ponto de Cultura, na área de Culturas Populares

Fonte: Próprio autor.

Com relação à região, a maioria dos entrevistados é da região Nordeste, 51,4%, (36) e Centro-Oeste 24,2% (17). Do Sudeste, apenas 10% (7) de participantes, 5,7% (4) do Sul e 8% (2) do Norte. No Nordeste, 80% dos entrevistados eram da Bahia. Ou seja, apesar de divulgada na internet, na Rede de Culturas Populares e Tradicionais88, canal de comunicação da SCDC/MinC e listas de discussão em âmbito nacional, o perfil dos participantes se concentrou no local onde a tese foi desenvolvida e onde a pesquisadora possui maioria de contatos da área cultural. Além disso, consideramos também que esse grande quantitativo de participantes do nordeste está relacionado com o próprio histórico de atuação, mobilização e organização de atores sociais da área, sejam eles pesquisadores (a exemplo dos folcloristas que desde a década 1920 investigavam, principalmente, as manifestações e os grupos populares na região Nordeste) ou “fazedores” de cultura.

Nesse sentido, concorda-se com Borges (2013) quando fala sobre a aplicabilidade da internet em torno dos debates políticos,

Há um sem número de aplicações políticas em torno da comunicação. Um exemplo é a intensidade comunicativa que precede e permeia a construção de políticas públicas. Assim, o emprego da internet na comunicação com cunho político não pode ser separadodo contexto mais amplo da atuação dessas organizações, como se fosse uma comunicação à parte, alijada do fluxo cotidiano, que envolve comunicação face a face e o uso de outros meios de comunicação anteriores. (BORGES, 2013, p. 85).

88 A RCPT possui entre seus membros: 15 entidades/grupos/instituições como pessoa jurídica; dois grupos informais; 100 pessoas físicas, ver: <http://culturaspopulares.org.br/membros/>. Acesso em: 28 jan. 2015, a Rede Culturas Populares possuía 20.856 usuários na página do Facebook, ver:

Assim, consideramos o perfil do público entrevistado como altamente escolarizado, com acesso às informações da rede em mais de um local, atuante no universo da cultura e com militância em órgãos conselhistas ou em entidades do terceiro setor.