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3.3 POLÍTICAS CULTURAIS A PARTIR DE 2003: SISTEMA NACIONAL DE CULTURA

3.3.1.2 Instâncias de participação: conferência e conselho

As conferências podem ser compreendidas como espaços de exercício da cidadania, do direito de participação, colocando em prática a democracia participativa direta combinada com a representação, bem como é importante momento de escuta, discussões, debates e formulação de propostas que deverão embasar as políticas públicas de determinadas áreas. (ARAGÃO, 2013, p. 74).

Reforçando a perspectiva inovadora sobre política cultural nacional, a realização dessas instâncias está em consonância com a ideia de desenvolver uma política cultural sistemática, descentralizada, com cooperação entre os entes federativos, com participação social e que ultrapasse políticas de governo.

As conferências se apresentam com um dos pilares para o desenvolvimento e o avanço do Sistema Nacional, estaduais e municipais, pois são um espaço de participação, debate e construção coletiva entre governo e sociedade civil para as políticas culturais. A instituição delas, enquanto espaços participativos, está de acordo com o “princípio da democratização dos processos decisórios com participação e controle social”. Segundo a Portaria n.º 28/2010, que publica o regimento do CNPC,

Art. 14. A Conferência Nacional de Cultura será constituída por representantes da sociedade civil, indicados em Conferências Estaduais, na Conferência Distrital, em Conferências Municipais ou Intermunicipais de Cultura e em Pré-Conferências Setoriais de Cultura, e por representantes do Poder Público dos entes federados, em observância ao disposto no regimento próprio da Conferência, a ser aprovado pelo Plenário do CNPC.

No início da gestão Gil, foram realizados eventos para promover a interação com a sociedade; dentre esses, ocorreram 20 encontros do Seminário Cultura Para Todos, nos quais participaram cerca de 30 mil pessoas. Além desses eventos, também cabe destacar o II Seminário Nacional das Políticas Públicas para as Culturas Populares e o I Encontro Sul Americano das Culturas Populares, realizados de 14 a 17 de setembro de 2006, em Brasília; Oficina de Consulta para Políticas de Difusão e Representação das Culturas Populares, de 27 a 29 de março de 2006, no Rio de Janeiro.

A I Conferência Nacional de Cultura (I CNC) foi realizada em 2005. Teve como tema “Estado e sociedade construindo políticas públicas de cultura”, sendo subdivido em cinco eixos temáticos: 1) Gestão Pública da Cultura; 2) Cultura é cidadania; 3) Economia da Cultura; 4) Patrimônio Cultural; e 5) Comunicação é cultura, todos estes tendo ainda subeixos. No modelo da Conferência, os participantes foram divididos em grupos de trabalhos (GT) que equivalem a cada eixo citado acima. (MINISTÉRIO DA CULTURA, 2005).

Segundo o Ministério da Cultura (2005), um dos principais objetivos desse evento foi o debate sobre o Plano Nacional de Cultura (PNC). A integração com a sociedade civil se deu primeiro nas Conferências municipais e/ou intermunicipais (até 31 de outubro de 2005), depois nas estaduais (até novembro de 2005), seguidas das Pré-Conferências Setoriais39. Estas ocorreram nas cinco regiões do país, de setembro a novembro de 2005, com a participação de instituições, movimentos sociais e Colegiados Setoriais que desenvolvem ações culturais.

De acordo com o relatório da I CNC (MINISTÉRIO DA CULTURA, 2006), 1.158 municípios participaram de um total de 438 conferências municipais e intermunicipais, 19 estados e o Distrito Federal realizaram conferências próprias. O total de participantes diretos nas conferências municipais e intermunicipais foi, segundo os dados levantados até o mês de julho de 2006, de 53.507 participantes. A Plenária final da CNC foi composta por 1.276 delegados, dentre sociedade civil, poder público, convidados e observadores.

A II Conferência Nacional de Cultura (IICNC) aconteceu de 11 a 14 de março de 2010. O tema geral foi “Cultura, Diversidade, Cidadania e Desenvolvimento”, dividido em eixos e subeixos temáticos, sendo eles: produção simbólica e diversidade cultural; cultura, cidade e cidadania; cultura e desenvolvimento sustentável, cultura e economia criativa; gestão e institucionalidade da cultura. Antecedendo a CNC, ocorreram Conferências municipais e/ou intermunicipais, estaduais e do Distrito Federal, Conferências Livres e Pré-Conferências Setoriais de Cultura, no âmbito regional; também foi realizada conferência virtual, em portal

39 COSTA, Gabriel. Sobre as Setoriais. [S.l.: s.n.], 2009. Disponível em: <http://blogs.cultura.gov.br/cnc/sobre- as-setoriais/>. Acesso em: 27 jan. 2014.

próprio do MinC e com caráter consultivo, buscando o debate das proposições advindas das etapas anteriores e que foram discutidas nas Conferências setoriais e CNC.

A primeira etapa foi realizada em três mil cidades, totalizando 206,4 mil pessoas. Esse número foi três vezes maior que na ICNC. Todos os estados realizaram seus encontros, que ao todo foram 10,4 mil participantes nas etapas estaduais. Além disso, também tiveram 26 conferências livres, com total de 1,2 mil pessoas. As Pré-Conferências Setoriais de Cultura foram realizadas em cada uma das cinco macrorregiões brasileiras e organizadas pelo Ministério da Cultura, com o apoio dos entes federados e entidades não governamentais e terão caráter mobilizador, propositivo e eletivo. No total, foram feitas 143 Pré-Conferências setoriais e eleitos 743 delegados. De acordo com artigo 36 do Regimento Interno da II CNC, ocorreram Pré-Conferências Setoriais das Linguagens e Expressões culturais já constituídas em Colegiados, ou seja, em 2009 e 2010 as Culturas Populares tinham apenas GT. As conferências setoriais foram realizadas nas áreas de arquitetura, arquivos, arte digital, arte visual, artesanato, audiovisual, circo, cultura afro-brasileira, culturas indígenas, culturas populares, dança, design, livro leitura e literatura, moda, museus, patrimônio imaterial e material e teatro. Por fim, na II CNC foram 1,4 mil participantes de todo país.

Em sintonia com o SNC, a III Conferência Nacional de Cultura, em 2013, teve o tema “Uma política de Estado para a Cultura: Desafios do Sistema Nacional de Cultura” e também contou com etapas prévias, dentre elas: municipais, territoriais, setoriais e estaduais. Em cada etapa realizada, além de propostas eleitas para comporem a III CNC, ainda houve a eleição de delegados para representar suas localidades/regiões.

Em 2013, os eixos temáticos foram diferentes dos anteriores; sendo eles: 1) Implementação do Sistema Nacional de Cultura; 2) Produção Simbólica e Diversidade Cultural; 3) Cidadania e Direitos Culturais; 4) Cultura e Desenvolvimento. Mais de 600 propostas foram apresentadas na Conferência Virtual, antecedendo a etapa nacional, como consolidação final das 27 etapas estaduais e do DF e em 35 conferências livres de 2013. As conferências livres não elegem delegados para a conferência nacional, mas contribuem para os debates. Essa etapa virtual foi um espaço para a participação prévia de integrantes das delegações estaduais que compuseram IIICNC, assim como do público em geral.

Entre os dias 27 de novembro a 1 de dezembro de 2013, participaram da programação 1.745 pessoas, sendo 953 delas delegados dos 26 estados e do Distrito Federal.

Com direito a voto, os delegados (70% representantes da sociedade civil) elegeram 64 diretrizes para os próximos anos. A III CNC utilizou pela primeira vez a votação eletrônica.40

Como na edição especial da Revista do MinC (2013), de junho até dezembro de 2013, 450 mil pessoas participaram do processo da conferência, registrando praticamente o dobro da II CNC. A terceira edição também teve uma ampliação da participação da sociedade civil, com representação de cerca dos 70% dos delegados com direito a voto. Levando em consideração esses números, a participação da sociedade civil nas conferências foi aumentando significativamente. A partir da segunda edição, a quantidade de setoriais também se ampliou, inclusive, resultando na criação de novos Colegiados. Em todas as suas edições, o MinC publicou de forma impressa e digital relatório e/ou os resultados da Conferência.

Além dos elementos já citados que compõem o SNC, existe também as comissões intergestores tripartite (CIT), que se dá em âmbito nacional, e bipartites (CIB), que ocorrem em cada estado. Tratam-se de instâncias de negociação e pactuação para implementação dos Sistemas Nacional, Estaduais e Municipais, bem como para os acordos relativos aos aspectos operacionais de cada gestão do órgão de cultura. A CIT e as CIB são de caráter permanente e devem funcionar como órgãos de assessoramento técnico ao Conselho Nacional de Política Cultural e aos conselhos estaduais de Política Cultural, respectivamente. Enquanto as primeiras promovem a articulação entre a esfera federal e a estadual; nas segundas ocorre entre estados e municípios (BRASIL, 2011b).

Juntamente às conferências e às comissões intergestores, os conselhos são chamados pelo MinC de “instâncias de articulação, pactuação e deliberação”, sendo elementos obrigatórios para que estados, DF e municípios recebam repasse de verbas fundo a fundo, após integrarem SNC e implementarem Conselho, Plano e Fundo (CPF da Cultura), bem como seus marcos regulatórios.

Côrtes (2010), ao abordar sobre a institucionalização dos conselhos, considera que a instalação e o funcionamento de conselhos, sejam eles municipais, estaduais ou nacionais funcionando regularmente em diversas áreas, indica a existência de uma regra. (2010, p. 54). No caso do CNPC, as regras fundamentais estão na Constituição (BRASIL, 1988), que estabelece a participação em diversas áreas de política públicas, sobretudo, no artigo 215, parágrafo terceiro, e no artigo 216-A. Há também outras regras externas, que são as leis, decretos, portarias e outros instrumentos legais e administrativos, dos três níveis de gestão federativa no país, que tratam do funcionamento dos conselhos. Tais normas não fazem com

40 Observa-se que a análiseestá concentrada nas 2ª e 3ª Conferências Nacionais de Cultura, pois foram realizadas dentro do período da pesquisa.

que haja participação, mas a induzem e fomentam sua realização, o que ocorre principalmente por meio dos conselhos. (CÔRTES, 2010, p. 55). Na seção quatro, é apresentada uma análise normativa das regras que regem o CNPC.

Na concepção do ex-ministro de Estado Chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Luiz Soares Dulci, os conselhos são espaços institucionais de interlocução do Estado com a sociedade.

A atuação desses Conselhos é fundamental para o aperfeiçoamento da democracia, bem como para a transparência e efetividade da ação governamental. [...] Os Conselhos Nacionais e os demais instrumentos de participação social representam uma conquista da sociedade brasileira rumo à democratização do Estado e ao fortalecimento da cidadania. (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2010, p. 7).

De acordo com a Pesquisa Munic/IBGE (2009), aponta a existência de 1.372 municipais, bem como há 26 relativos aos estados e um no Distrito Federal e um federal (o CNPC). (RUBIM, BRIZUELA & LEAHY, 2010). Em âmbito nacional, o modelo de conselhos de cultura tem início na década 1930, sendo que a maior expansão dessas instâncias será nos anos 1970. A seguir, faz-se uma retrospectiva dos conselhos de cultura, a fim de explanar o papel que esses espaços de participação representaram ao longo das políticas culturais em décadas anteriores.