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3.4 CONSELHOS DE CULTURA

3.4.1 Tipologia dos conselhos

Entre as instâncias conselhistas há alguns tipos como de políticas públicas. Para que se compreenda como se dá a estrutura desses conselhos, traçam-se características que os vários modelos possuem. Nesse sentido, de acordo com tipologia de Cunha Filho (2010, p. 95-96), os conselhos podem ser classificados a partir de cinco premissas:

a) Quanto à inserção normativa, podem ser de três tipos de norma: - hierarquia constitucional, quando estão previstas na Carta Magna;

- hierarquia legal, quando são regidas por uma lei ou norma de mesma hierarquia, como medidas provisórias ou resoluções do Congresso Nacional;

- hierarquia infralegal, quando são criadas por normas secundárias, como os Decretos ou outras normas de graus ainda mais inferiores.

Nota-se que quanto mais elevada a norma a qual se insere o conselho, maior será a sua estabilidade, bem como acentuada é a sua importância no campo político e da administração pública.

b) Quanto à vinculação potestativa:

Podem estar vinculados a um dos três poderes: Executivo, Legislativo ou Judiciário. A maioria dos atuais conselhos tem vinculação com o Executivo. Considera-se ainda na recente história dos conselhos no Brasil três tipos de órgãos colegiados; sendo eles: a) aqueles criados a partir de uma demanda do poder público, por meio do Executivo (obviamente, existe a participação de outros atores, além dos atores políticos representantes do Executivo); b) aqueles que surgem a partir de uma demanda popular; e c) os que são institucionalizados, que foram criados por leis originárias do Poder Legislativo (GOHN, 2011, p. 74). c) Quanto ao produto final da atuação:

São divididos em consultivos, deliberativos, fiscalizatórios ou executivos. No primeiro, a tarefa principal é a consulta ou emissão de sugestões, bem como este tipo não vincula a autoridade a quem é dirigida. Já no segundo, “o resultado de sua ação vincula a autoridade destinatária”. O terceiro possui como característica a fiscalização ou controle do ato de um órgão ou autoridade. Por fim, o quarto tem como característica, utilizando-se ainda da definição de Cunha Filho, a realização direta das políticas, “caso em que mais se aproximam ou efetivamente são órgãos administrativos de natureza plural”.

d) Quanto à composição:

Divide-se em exclusivamente pública, quando possui apenas membros que representem o Estado, ou público-social, tendo representação da esfera civil e do Estado. Nesse último caso, essa composição pode ser paritária ou não, ou seja, quando sociedade e Estado estão igualmente representados. A recomendação do MinC aos estados e municípios é que sejam paritários.

e) Quanto à natureza preponderante:

Podem ser política, técnica ou mista. Na política, a atuação do conselho afetará os rumos da atuação estatal. Já na técnica, a área de atuação principal é a técnico- científica e exige “expertise” para atuar nesse modelo. E a última é a junção das duas naturezas, política e técnica.

Salienta-se, por fim, que a tipologia dos Conselhos, bem como sua composição, deve constar na norma que o institucionaliza; assim como também em seu regimento interno. Isso se aplica para a criação/institucionalização do órgão colegiado em qualquer âmbito de governo, seja municipal, estadual, distrital ou nacional.

Como vimos neste capítulo, a partir da explanação das categorias conceituais, as instâncias conselhistas são exemplos da incorporação de diversos segmentos sociais e dos movimentos sociais, bem como possuem o que Lüchmann (2007) chama de representação no interior da participação. Para compreendermos esse mecanismo, analisa-se a seguir a retomada do Conselho e a criação do Colegiado.

4 CNPC E COLEGIADO SETORIAL DE CULTURAS POPULARES

Imagem 5 – Membros do Colegiado Setorial de Culturas Populares

Fonte: Ministério da Cultura e Giordanna Santos.

Após as contextualizações realizadas nos capítulos anteriores, procuramos responder neste capítulo os seguintes questionamentos: Como se dá essa participação? Como os representantes da sociedade civil desempenham o papel de conselheiros? A partir desses pontos, analisamos o tipo de participação e representação que ocorre no Colegiado.

Para tal feito, primeiramente, realizamos uma análise normativa, ou seja, da compreensão do conjunto de regras, critérios e normas que regem o órgão. Nesse sentido, os documentos utilizados são os regimentos internos do CNPC (Portaria n.º 28, de 19 de março de 2010) e do Colegiado Setorial de Culturas Populares, bem como a Lei n.º 8028 de 1990, o Decreto n.º 5520/2005 e alterado pelo Decreto n.º 6.973, de 2009 (ANEXOS), que institui o

Sistema Federal de Cultura (SFC) e dispõe sobre a composição e o funcionamento do Conselho Nacional de Política Cultural, e dá outras providências; e ainda o Decreto n.º 6.973, de 7 de outubro de 2009, que altera o Decreto n.º 5.520, de 24 de agosto de 2005.

Nessa análise normativa, consideramos a natureza, a composição, a atuação e a competência, para verificar as regras que estruturam o funcionamento do Conselho e do Colegiado, particularmente, no que diz respeito à distribuição das funções, aos procedimentos de tomada de decisão, buscando responder as perguntas iniciais deste capítulo. Além desses pontos, é importante também observar, a partir de 2005, o papel do Colegiado de Culturas Populares nesse contexto e, por último, o lugar de fala dos atores que o compõem. Dessa maneira, esta seção se estrutura em duas partes: uma sobre CNPC e outra sobre Colegiado.

Com relação aos dados de análise, compreendemos que as normas de criação e os Regimentos Internos retratam o desenho institucional que os órgãos assumem. Por conseguinte, proporcionam informações que nos permitem analisar o quanto estas instituições participativas estão aptas a cumprir os objetivos que motivaram suas criações, ou seja, as promessas de expandir e democratizar o acesso às políticas públicas para cultura e culturas populares.

Sobre o órgão conselhista e o Colegiado são considerados os seguintes itens a serem analisados, a partir dos pressupostos da democracia participativa: 1) estrutura, composição e funcionamento do órgão, 2) quem preside as reuniões, 3) competência, 4) quem propõe a pauta, 5) frequência e local das reuniões, 6) processo decisório, 7) como são escolhidos os representantes da sociedade civil e o poder público e seus mandatos. A presença ou não destas informações permite analisar que tipo de regra estrutura a prática dos membros do CNPC.

Em geral, os regulamentos de funcionamento dos Conselhos seguem um padrão comum para a composição desses órgãos: Plenário, que é o local onde os membros titulares do Conselho se reúnem e debatem o conteúdo da política cultural; Mesa Diretora ou Coordenação Geral, formada por um(a) coordenador(a), vice-coordenador(a), secretário(a) e vice-secretário(a), de uma Secretaria-Executiva incumbida de auxiliar a Mesa Diretora ou a Coordenação Geral e de Comissões Técnicas, Temáticas e/ou de Trabalho permanentes e/ou temporárias, dentre estas estão os Colegiados Setoriais.

Ressaltamos ainda que a reinstalação do CNPC, transformação de câmaras setoriais para Colegiado, bem como a criação de novos Colegiados, fizeram parte da reestruturação administrativa do MinC, a partir de 2005. De acordo com material informativo “Cultura em 3 dimensões”, “era prioridade reverter o processo de redução de seus quadros, que atingiu quase 45% nos últimos 20 anos. [...]”. Dessa maneira, foram definidas diretrizes estratégicas, dentre

elas: “criar órgão colegiado que amplia a participação da sociedade para ser responsável pela formulação de política cultural do país; e definir uma secretaria finalística para dar apoio técnico e administrativo no funcionamento do CNPC” (MINISTÉRIO DA CULTURA, 2010, p. 20).

Como vimos, o Conselho a partir dos anos 2000 tem formato, funções e funcionamento diferentes dos anteriores. A seguir analisamos como eram as normas legais anteriores e a da norma do CNPC.