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Tendo como lente de interpretação a teoria das Representações Sociais e a perspectiva materialista e dialética, a metanálise, como já anunciado, foi a técnica eleita para a coleta, organização e análise de dados. A escolha considerou sua capacidade em

verificar proximidades, distanciamentos ou convergências entre os resultados de diversas pesquisas envolvendo a mesma temática.

Por meio da metanálise é possível sistematizar resultados de estudos que abordam a mesma problemática. A técnica possibilita avanços sobre o entendimento a respeito de determinado tema, proporciona novas investigações, além de guardar a capacidade de afetar decisões políticas (PIGOTT, 2012).

A metanálise, assim como a “revisão da literatura”, envolve levantamentos em determinadas bases de dados de todos os estudos realizados sobre o mesmo tema a ser pesquisado. Como lembra Coutinho (2016, p.378): “As metanálises podem ser levadas a cabo quando vários estudos tentaram encontrar resposta para o mesmo problema de investigação”. A “revisão da literatura”, porém, diz respeito a uma etapa da investigação que está voltada à identificação do “Estado da Arte”. Normalmente corresponde a um dos capítulos da dissertação ou tese. Esta etapa da investigação permite um recorte entre as pesquisas já realizadas de modo a apresentar apenas as mais expressivas (CORREIA; MESQUITA, 2014). Somente após esta etapa, o/a pesquisador/a consegue identificar as lacunas entre os estudos, a relevância e o ineditismo de sua pesquisa.

Já a metanálise é uma técnica mais sofisticada de coleta de pesquisas, compilação de dados e comparação de resultados. A “revisão de literatura” seria apenas um estágio da metanálise e, neste caso, deve ser ampla, tendo em vista o objetivo de compilar resultados e respostas até então encontrados a respeito de determinada temática/problemática por meio de uma revisão sistemática do que foi até então produzido.

A revisão sistemática envolve uma abordagem explícita e rigorosa sobre os instrumentos de coleta de dados e parte de uma pergunta norteadora. Ultrapassa a simples descrição de um conjunto de pesquisas sobre determinado tema, pois engloba posicionamentos afins e também contrários à hipótese apresentada. Dentre as possibilidades de avaliação, optamos pela forma agregada, segundo a qual os resultados e revisões realizados correspondem à síntese de dados voltados a intenção de responder a pergunta norteadora. Embora haja predominância do uso de dados quantitativos em revisões agregadas, dados qualitativos também podem ser utilizados em busca de uma síntese de produções sobre determinado tema (GOUGH; OLIVER; THOMAS, 2012).

Partindo das revisões sistemáticas, que reúne todas as vozes da sociedade acadêmica, a metanálise pode engajar na determinação das novas agendas de pesquisa ao concernir a produção de conhecimento. É, portanto, uma parte essencial do processo

de interpretação e aplicação de resultados de investigações que possam beneficiar a sociedade e possibilitar o avanço de métodos (Idem, 2012).

Visando acrescentar possibilidades de compreensão e intervenções, ametanálise permite o diálogo com estudos externos às unidades de análise, porém, exige do/a examinador/a conhecimento prévio sobre a temática abordada de modo a garantir que os resultados não se originem de inferências causais e, principalmente, sejam discutidos de forma a contribuir efetivamente para a prática (PIGOTT, 2012).

Para a produção desta tese, a metanálise abarcou o exame comparativo de 326 teses e dissertações envolvendo Educação para as Relações Étnico-raciais desenvolvidas em universidades públicas e particulares de referência em todo o país.

Amparando-nos em Sánchez-Meca e Marín-Martínez (2010), optamos por utilizar a totalidade de pesquisas encontradas, uma vez que, para os autores, a amplitude da amostra pode corresponder ao número absoluto de estudos relacionados à questão de pesquisa que foi possível encontrar.

Grande parte das produções envolvendo orientações para o uso da metanáliseé voltada à análise de estudos quantitativos, por essa razão, disponibilizam modelos estatísticos complexos de análise e combinação de resultados. Normalmente envolvem interpretação de estudos empíricos a partir da investigação de dados resultantes de relatórios de pesquisa, visando estudar e descrever a síntese desses resultados (LIPSEY; WILSON, 2001; BORENSTEIN et al, 2009; PIGOTT, 2012). Portanto, a metanálise não tem tradição de utilização no âmbito das ciências sociais e humanas, mas, a despeito da sua gênese positivista, tem se aproximado cada vez mais desse campo por meio de diferentes vertentes (PINTO, 2013).

Adotamos a revisão sistemática como forma de organizar e interpretar o banco de dados com informações quantitativas e qualitativas. Importante reafirmar que, no Brasil, ainda não é comum o uso de revisão sistemática e metanálise em pesquisas qualitativas, portanto, este estudo abre novas possibilidades de opções metodológicas.

Pinto (2013) descreve as possibilidades do uso da metanálise qualitativa em que a técnica ultrapassa a mera descrição numérica e avança ao incorporar dados qualitativos. Nesse sentido, a metanálise tem sido aos poucos, incorporada como proposta metodológica em Ciências Humanas. Dentro de uma proposta qualitativa de análise sistemática, a reunião de resultados e conclusões de diversos estudos viabiliza o acesso aos conhecimentos sobre dado fenômeno concentrados em um único estudo.

A metanálise é uma técnica de investigação capaz de trazer avanços significativos sobre determinadas questões envolvendo uma temática específica. Em

modalidades qualitativas, a metanálise, para além dos resultados estatísticos, conduz à

interpretação das interpretações elencadas (BICUDO, 2014). No campo das pesquisas

qualitativas, portanto, envolve a síntese interpretativa de teorias, métodos e/ou resultados abrindo caminhos e entendimentos sobre determinados fenômenos e possibilitando a geração de novos conhecimentos dentro de um campo de estudo (PATERSON et al., 2001).

A presente investigação une conceitos, fragmentos, impressões e resultados das pesquisas arroladas, buscando construir uma visão global da realidade ao apresentar resultados quantitativos de dados extraídos das pesquisas, alinhados às informações e conclusões qualitativas apresentadas pelos/as pesquisadores/as.

O primeiro passo envolveu a revisão sistemática e catalogação das fontes primárias compostas por investigações em nível de mestrado e doutorado concluídas entre 2003 e 2016. A primeira busca foi realizada em fevereiro de 2013, a segunda em dezembro de 2015 e a última em setembro de 2016. Foram identificadas e arroladas, ao todo, 326 estudos, sendo 51 teses e 275 dissertações.

As teses e dissertações aparecem como importantes referenciais teóricos, de modo que os conhecimentos produzidos por brasileiros/as, ou seja, fora da Europa ou América do Norte sejam valorizados. Por essa razão, diversas informações foram coletadas para além dos resultados e conclusões.

A busca pelas pesquisas foi realizada em bases de dados online indicadas no quadro abaixo a partir das seguintes palavras-chave: Educação e relações étnico-raciais; Educação e racismo; Educação para as Relações Étnico-raciais; Lei 10.639/03; Artigo 26A. As buscas por meio da palavra-chave "Lei 11.645/08" não foram consideradas por trazerem pesquisas sobre a questão indígena.

Em situações em que não foi possível acessar as produções por meio das plataformas, recorremos a outras formas de acesso, como o site da universidade ou sites de buscas em geral.

Bancos de dados online:

Instituição Plataforma Endereço do site

Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)

Banco de teses e dissertações (Plataforma Sucupira)

http://bancodeteses.capes.g ov.br/banco-teses/#!/

Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

Biblioteca Brasileira de Teses e dissertações (BDTD)

http://bdtd.ibict.br/vufind/

Para a compilação e organização desses dados, bem como a formulação dos gráficos, foram utilizados recursos do programa Excel (Office) a partir da inserção dos seguintes dados:

a) Contexto público versus privado;

b) Nível da pesquisa (mestrado ou doutorado); c) Produções por ano;

d) Produções por universidades, estados e regiões; e) Áreas de pesquisa;

f) Cor/raça e sexo dos/as pesquisadores/as; g) Atuação profissional dos/as pesquisadores/as;

h) Perfil dos/as orientadores/as (sexo e área de atuação); i) Ideologia/Mito da Democracia Racial;

j) Mestiçagem;

k) Ideologias do branqueamento; l) Eugenia

m) Marco legal (Artigo 26A da LDB; Parecer CNE/CP 003/2004; Resolução Nº 1, de 17 de junho de 2004; Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana;

n) ação de Cursos e/ou programas de formação; o) Existência de entraves à implementação;

p) Intolerâncias e preconceitos no âmbito religioso; q) Protagonismo dos Movimentos sociais negros; r) Marcha Zumbi dos Palmares;

s) Conferência Mundial contra o racismo, a discriminação racial, a xenofobia e a intolerância correlata (Conferência de Durban).

Sobre os itens acima foram organizados resultados quantitativos sem, contudo, desconsiderar a coleta de informações qualitativas envolvendo os temas.

Importante informar que novos dados se apresentaram e foram considerados para análise; alguns foram aglutinados e outros ainda desmembrados. Os capítulos seguintes não seguem, portanto, uma ordem linear dos temas listados e os resultados serão apresentados de forma gradativa.

O segundo passo envolveu a organização dos dados qualitativos por temas e elaboração dos gráficos quantitativos. Todas as informações coletadas foram distribuídas

em diferentes documentos que, por sua vez, foram coordenados internamente por meio de subitens.

A última etapa da metanálise implicou a análise comparativa e compreensão de todas as informações coletadas e organizadas. Nesse processo, as bases da teoria das Representações Sociais, bem como a perspectiva metodológica dialética, foram cruciais para o procedimento de interpretação de dados visando identificar, na organização do Sistema de Ensino, instrumentos de opressão pautados em marcadores de raça dentro da estrutura de classes.