3.2 Delineamento da pesquisa
3.2.3 Percepções de especialistas sobre o cluster
3.2.3.1 Coleta de dados (1ª Etapa)
Passo 1 - Definição da amostra
Segundo autores como Yin (2016) e Creswell (2014), na pesquisa qualitativa, as amostras tendem a ser escolhidas de uma forma mais deliberada, conhecida como amostragem intencional. Desta forma é possível selecionar as unidades de estudo que proporcionem dados
1ª ETAPA - Coleta de dados
2ª ETAPA - Análise de conteúdo
1.Definir amostra 2.Elaborar protocolo de entrevista 3.Obter autorização do CEP* 4. Aplicar entrevistas
mais relevantes. Assim, também é possível introduzir participantes na pesquisa que possam ter percepções diferentes sobre o tema abordado e, portanto, evitar a tendenciosidade.
Com relação ao tamanho da amostra, isso não foi considerado tão importante para esta pesquisa, porque, conforme mencionam autores como Yin (2016) e Flick (2009), não há uma fórmula para definir o tamanho da amostra em estudos qualitativos. Em geral, amostras maiores possuem uma maior confiabilidade, porém, ter amostras grandes não é a única forma de aumentar a confiança; uma consideração importante a ser levada em consideração é a composição dos objetos de estudo.
Nesta etapa de análise qualitativa, foram investigadas instituições ligadas ao Governo, à Indústria e à Academia, além de agentes catalisadores, que conforme descrito por Fundeanu e Badele (2014), são entidades de coordenação e consultoria nacional e internacional. Por ser apenas uma fase exploratória da pesquisa, não houve a intensão em focar um grande volume de participantes, o foco foi na composição, procurando instituições que apresentassem envolvimento elevado com o tema e setor investigado. Para tanto, foram selecionados oito objetos de estudo (instituições), representados no Quadro 7.
Quadro 7 – Objetos de estudo para análise qualitativa
ESFERA INSTITUIÇÃO
GOVERNO Secretaria das Cidades – SCIDADES (Governo do Estado)
Secretaria Municipal do Desenvolvimento Econômico – SDE (Governo Municipal) INDÚSTRIA
Sindicato das Indústrias de Confecção de Roupas de Homem e Vestuário no Estado do Ceará - SINDROUPAS
Sindicato das Indústrias de Confecção de Roupas e Chapéus de Senhoras do Estado do Ceará – SINDCONFECÇÕES
ACADEMIA
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI
Rede de Pesquisa em Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais – RedeSist – Tendo como representante no Ceará o Departamento de Economia da Universidade Federal do Ceará - UFC
Universidade Federal do Ceará – UFC (Curso de Design e Moda) CATALISADOR Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE
Fonte: O autor (2019)
Os representantes selecionados para serem entrevistados faziam parte da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Vestuário e/ou do Núcleo Estadual de Apoio a Arranjos Produtivos Locais do Ceará. Somente a SDE não compõe nenhuma destas duas relações, porém, esta instituição foi incorporada à amostra por indicação de outras instituições, devido a sua importância no desenvolvimento regional do setor em análise.
Com a definição das instituições a participarem da pesquisa, houve o contato por e- mail e posteriormente por telefone a fim de agendar a entrevista. No caso dos sindicatos houve ainda visitas presenciais aos escritórios, na tentativa de agendar as entrevistas. Entretanto, das
oito instituições, com apenas seis foi possível a aplicação da entrevista. O quadro 8 apresenta a relação dos participantes das entrevistas
Quadro 8 – Relação de participantes da pesquisa Instituição Área de atuação Função
entrevistado
Tempo experiência
Formação
SCIDADES
Responsável pela coordenação do Núcleo Estadual de Apoio a Arranjos Produtivos Locais do Ceará - NEA APL- CE.
Assessor Técnico (proj. APL) 8 anos na função Administrador SDE
Responsável pelo fortalecimento do sistema produtivo do Município. Economista da Coordenadoria de Projetos da SDE 3 anos na função Economista SINDCONF. Representa as categorias econômicas das Indústrias de Confecções, com base territorial em todo o estado do Ceará.
Executiva do Sindconfecções 1 ano na função e 8 anos no setor de confecção Assistente social e mestre em Administração SENAI
Centro de formação profissional do setor de confecção do vestuário. Coordenador de Tecnologia 4 anos na função e 10 anos no setor de confecção Engenheiro Têxtil UFC (Curso de Design e Moda)
Instituição de Ensino Superior ligado à Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Vestuário.
Professora adjunta da UFC, Curso de Design e Moda 20 anos na função e 30 anos no setor de confecção Economista doméstica, mestre em Eng. de Produção e doutora em Educação SEBRAE Promotora do desenvolvimento econômico e competitividade de micro e pequenas empresas.
Especialista em Pequenos Negócios 29 anos na função Administrador e mestre em Desenvolvimento Territorial Fonte: O autor (2019)
Passo 2 – Estruturação do protocolo de pesquisa
Uma vez definida a amostra, estruturou-se o instrumento de pesquisa que seria utilizado nas entrevistas (vide apêndice A). Ele foi composto por quatro partes, sendo: Parte I – Perfil do especialista e da instituição; Parte II – Perspectivas na organização de clusters (11 perguntas); Parte III – Desempenho do setor de confecção do vestuário de Fortaleza (6 perguntas); Parte IV – Avaliação dos fatores relevantes no desempenho de cluster (18 perguntas).
O instrumento de pesquisa estruturado foi submetido a um teste piloto com dois professores universitários que atuam com o tema de clusters, sendo possível assim um refinamento antes de sua aplicação.
Passo 3 - Submissão do projeto e do instrumento de pesquisa ao CEP para apreciação. A realização de qualquer tipo de estudo que envolva a atuação de humanos como participantes requer a aprovação prévia de um Comitê Institucional de Ética (CIE) (YIN, 2016), conhecidos no Brasil como Comitês de Ética em Pesquisa (CEP). Esta é uma prática obrigatória, principalmente em estudos qualitativos, que possuem predominantemente a atuação de humanos em suas participações.
Segundo Flick (2009), os códigos de ética apresentados pelos comitês visam a redução de danos causados pelos pesquisadores sobre os participantes envolvidos no processo, por meio do respeito e da consideração. Portanto, a aprovação de pesquisas pode ser motivo de frustação e requer mais energia e atenção por parte dos pesquisadores.
Pelo fato de a etapa desta pesquisa envolver seres humanos, foi submetido um projeto de pesquisa ao CEP da UNICAMP contendo o instrumento de pesquisa em junho de 2018, o qual foi aprovado por meio de Parecer Consubstanciado de 07 de agosto de 2018, com
o Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) de número
91224418.9.0000.5404. Portanto, a partir desta data foi possível iniciar a entrevista com os especialistas.
Passo 4 - Realização de entrevistas junto aos especialistas.
Esta etapa foi caracterizada pela coleta de dados em campo, envolvendo um conjunto de instituições definidas na amostra, de modo que o pesquisador se deslocou até o ambiente de trabalho dos especialistas. As entrevistas foram agendadas por telefone, momento em que foi apresentado o objetivo da pesquisa e marcada a data do encontro.
Cabe destacar que as entrevistas foram realizadas apenas com seis especialistas e não com oito, como previsto inicialmente. Apesar de várias tentativas, tanto por telefone como presencial, houve certa dificuldade em agendamento com o representante da RedeSist no Ceará e a entrevista acabou não sendo realizada. O mesmo ocorreu com o representante do SINDROUPAS.
As demais entrevistas ocorreram entre os meses de agosto e novembro de 2018. Logo no início do encontro os entrevistados foram indagados sobre a aceitação, ou não, na participação do estudo. Em caso afirmativo, tiveram que assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Neste termo também constava um campo onde se autorizava, ou não, a gravação em áudio das entrevistas. Todos concordaram em participar e autorizaram a gravação pelo pesquisador. O tempo total das seis entrevistas foi de 408 minutos, dando uma média de 68 minutos por entrevista.
O pesquisador conduziu as entrevistas dando liberdade aos especialistas para discorrerem sobre cada assunto abordado, de modo que algumas perguntas presentes no questionário foram respondidas sem mesmo terem sido questionadas.