• Nenhum resultado encontrado

2.7 Cadeia produtiva da indústria têxtil e de confecção

2.7.3 Panorama no Ceará

Trazendo um breve histórico da indústria têxtil no Ceará, por meio de um levantamento realizado pela Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (ADECE), observa-se que essa cadeia produtiva teve um primeiro avanço no período pós-revolução industrial, com o ciclo do algodão, quando a cotonicultura tornou-se uma importante fonte de renda para o estado, de modo que ao final da década de 1860, o valor da exportação algodoeira em relação ao total vendido pelo Ceará chegou a atingir 72,6% (ADECE, 2018).

Impulsionada pela grande disponibilidade do algodão, a primeira indústria têxtil surgiu no ano de 1884 e em 1907 o Ceará tinha 18 fábricas e 1200 operários, mas o grande salto para o setor veio com a chegada da energia elétrica, a partir do ano de 1950. Desde então o progresso continuou, proporcionando medidas federais como a transformação do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) em autarquia, a criação da Universidade Federal do Ceará (UFC), do Banco do Nordeste (BNB), dentre outros (ADECE, 2018).

No período de 1975 a 1986, devido a diversos fatores, o Ceará vivenciou um grandioso momento econômico na indústria de confecções, chegando à posição de segundo polo de confecções do país, entretanto, após este período o estado enfrentou alguns desafios que induziram ao declínio do setor, dentre estes fatores destacam-se: a morte de grandes lideranças no acidente da VASP em 1982, a estagnação nos anos 1980 e 1990, fracassos dos planos econômicos, atenuação dos incentivos, arrocho fiscal e a entrada da china como concorrente mundial. Buscando se reestruturar, o setor iniciou um processo de modernização, houve a criação do curso de estilismo da UFC em 1994, a formação e qualificação por meio do SENAI, apoios do SEBRAE, dentre outras ações (ADECE, 2018).

Um ranking mais recente aponta o Ceará na sexta posição entre os estados com maior representatividade na indústria do vestuário. A Tabela 5 apresenta esta classificação

segundo o relatório do Banco do Nordeste, elaborado por Mendes Júnior (2018) do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (ETENE).

Tabela 5 - Vínculos e remuneração de trabalhadores da indústria do vestuário - 27 Estados.

Ranking Estados Vínculos

Remuneração (R$) Vínculos (%) Remuneração (%) 1 São Paulo 142.910 242.646.496,61 24,67 27,53 2 Santa Catarina 105.664 196.305.482,55 18,24 22,27 3 Paraná 55.341 81.553.919,36 9,55 9,25 4 Minas Gerais 65.669 81.118.649,08 11,34 9,20 5 Rio de Janeiro 42.109 66.929.362,67 7,27 7,59 6 Ceará 43.345 55.013.701,38 7,48 6,24

7 Rio Grande do Sul 21.657 33.815.716,01 3,74 3,84 8 Goiás 23.057 28.578.692,43 3,98 3,24 9 Rio Grande do Norte 16.384 22.752.365,91 2,83 2,58 10 Pernambuco 18.953 20.898.240,39 3,27 2,37 11 Bahia 11.420 13.623.203,88 1,97 1,55 12 Espírito Santo 10.950 13.654.097,08 1,89 1,55 13 Mato Grosso do Sul 4.034 4.980.398,63 0,70 0,56 14 Paraíba 4.143 4.374.792,96 0,72 0,50 15 Piauí 3.369 3.557.025,69 0,58 0,40 16 Mato Grosso 1.657 2.226.913,05 0,29 0,25 17 Sergipe 2.001 2.097.995,22 0,35 0,24 18 Pará 1.141 1.231.408,67 0,20 0,14 19 Distrito Federal 945 1.269.414,33 0,16 0,14 20 Rondônia 1.054 1.146.297,85 0,18 0,13 21 Maranhão 1.108 1.174.896,76 0,19 0,13 22 Amazonas 816 875.213,25 0,14 0,10 23 Alagoas 870 861.937,15 0,15 0,10 24 Tocantins 362 421.980,90 0,06 0,05 25 Acre 195 201.418,30 0,03 0,02 26 Amapá 99 113.800,52 0,02 0,01 27 Roraima 68 74.553,05 0,01 0,01 Total 579.321 881.497.973,68 100 100

Fonte: Adaptado de Mendes Júnior (2018, p.1), dados de 2016 do IBGE e MTE.

A Tabela 5 apresenta o Ceará em um bom posicionamento nacional, mostrando que ainda é um importante polo de confecção do vestuário. Esta classificação está baseada na remuneração e não nos vínculos empregatícios. Mendes Júnior (2018) explica que o valor da produção tende a ter correlação positiva maior com as remunerações do que com vínculos, devido ao maior investimento em máquinas e equipamentos da indústria do vestuário estar vinculado às remunerações pagas à mão de obra relativamente mais especializada.

Dentre os municípios do estado, destaca-se sua capital, Fortaleza, como principal centro da cadeia produtiva, é uma cidade com uma população de 2.452.185 habitantes, passando dos 3 milhões na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), segundo dados do IBGE de 2010

(SANTOS, 2014). Esta cidade possuía, em 2006, 72% de todas as empresas de confecção do Ceará, ou seja, das 2894 empresas do estado, 2081 estavam em Fortaleza (RAIS, 2017).

Esse quantitativo de empresas, com dados da RAIS, envolve apenas empresas formais. Santos, (2014) destaca que em pesquisa realizada em 2003, pelo PRODIC (Programa de Desenvolvimento da Indústria de Confecção), cerca de 71,9% das indústrias de confecção do Ceará estavam em condições de informalidade, caracterizada pela falta de registro em federações de indústrias ou em alguma instituição pública como a Secretaria da Fazenda, além de a informalidade estar ligada a condições de trabalho não regulamentadas por leis trabalhistas. Diante deste cenário de elevada quantidade de empresas de confecção em Fortaleza, ela classifica-se em terceiro lugar em um ranking de microrregiões brasileiras. A Tabela 6 apresenta esta classificação.

Tabela 6 - Ranking da indústria do vestuário por microrregião geográfica.

Ranking Microrregião geográfica UF Remuneração (R$) 1 São Paulo SP 126.617.704,80 2 Blumenau SC 82.879.306,88 3 Fortaleza CE 47.318.912,18 4 Rio de Janeiro RJ 42.176.195,39 5 Joinville SC 38.195.695,10 6 Rio do Sul SC 17.542.573,13 7 Natal RN 17.188.404,43 8 Criciúma SC 16.207.979,46 9 Goiânia GO 14.865.753,65 10 Araraquara SP 12.969.627,49 11 Nova Friburgo RJ 12.499.409,93 12 Belo Horizonte MG 11.208.284,24 13 Campinas SP 11.073.175,98 14 Juiz de Fora MG 10.663.137,67 15 Cianorte PR 9.648.442,34 16 Maringá PR 9.554.849,20 17 Apucarana PR 9.113.635,43 18 Caxias do Sul RS 8.848.133,29 19 Itajaí SC 8.446.064,59 20 Londrina PR 7.842.056,34 21 Alto Capibaribe PE 7.447.584,94 22 Sorocaba SP 7.298.450,84 23 Tubarão SC 7.144.884,98 24 Divinópolis MG 6.922.076,47 25 Vale do Ipojuca PE 6.685.742,08 26 Poços de Caldas MG 6.558.478,86 27 Porto Alegre RS 6.490.750,50 28 Guarulhos SP 6.330.236,19 29 Ourinhos SP 6.286.673,01 30 São José do Rio Preto SP 5.975.411,77 Fonte: Mendes Júnior (2018, p.6), dados de 2016 do IBGE e MTE

Outra característica de Fortaleza, quanto ao setor de confecção, é que sua produção é bastante diversificada, mas os principais tipos de vestuário são a moda íntima, a roupa de dormir, a roupa esporte, a moda praia, o jeans, a moda infantil e a chamada “modinha”, que são roupas femininas ou infantis confeccionadas em malhas (SANTOS, 2014).

O estudo realizado por Santos (2014) também identificou que o setor, muitas vezes, apresenta três subsistemas dentro do sistema de confeccionados, o primeiro formado pelas empresas de confecção, o segundo formado por empresas de facção e um terceiro formado por subcontratação de costureiras no regime domiciliar, sendo que cada um desses subsistemas realiza etapas distintas do processo de fabricação. A Figura 11 demonstra como se dividem tais subsistemas, este fluxo exemplifica o processo de produção da “modinha”.

Figura 11 – Processo de produção da “modinha” e seus subsistemas

Fonte: Santos (2014).

Neste fluxograma produtivo verificam-se os três subsistemas, conforme já relatado. No subsistema 1 (Confecção) estão quatro etapas do processo, este é o primeiro elo que adentra a produção do vestuário. A criação, geralmente, está centrada no próprio empresário, que faz esse processo pessoalmente, algumas vezes com um profissional de moda. O subsistema 2 (Regime de Facção) recebe o tecido pronto para a montagem, sendo que algumas confecções,

por meio do atravessador, vão deixar o material na facção e algumas facções se dirigem (por meio do proprietário) até a confecção para pegar peças e montar. O subsistema 3 (Subcontratação de costureiras) é uma relação que se estabelece quando há períodos de pico na produção, quando a demanda produtiva está alta e as facções chegam a seus limites produtivos, esse tipo de produção é também usado pelas pequenas confecções, quando seu aporte de capital não tem condições ainda de contratar uma facção (SANTOS, 2014).

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este capítulo apresenta o caminho percorrido pelo pesquisador a fim de construir um método científico para a investigação do aglomerado de empresas do setor de confecção do vestuário em Fortaleza. Para Matias-Pereira (2016), os procedimentos metodológicos envolvem a utilização do conjunto de métodos, procedimentos e técnicas que a ciência põe em ação para alcançar os seus objetivos, portanto, para o avanço da ciência é fundamental a utilização de métodos rigorosos, para assim atingir um conhecimento sistemático, preciso e objetivo.