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2.2 Fatores associados a aglomerados

2.2.1 Fator cooperação

A cooperação é um dos fatores mais utilizados quando se trata do assunto sobre aglomerados de empresas. Este termo é aplicado de diferentes formas e muitas vezes como sinônimo de colaboração, parceria, aliança e cooperativismo (ZAMBRANA; TEIXEIRA, 2013). SEBRAE (2003) relata que cooperação é o ato de trabalhar em comum, envolvendo relações de confiança mútua e coordenação, em níveis diferenciados, havendo atividades e projetos realizados em conjunto entre as empresas, entre empresas e suas associações, entre empresas e instituições técnicas e financeiras, entre empresas e poder público, e outras possíveis combinações entre os atores presentes no arranjo. O órgão também enfatiza que a construção dessas redes, especialmente as empresariais, deve ser vista como um processo evolutivo, em que a identificação de objetivos comuns e o seu alcance deverá evoluir dos mais simples aos mais complexos, como uma espécie de escada que deverá ser subida degrau por degrau.

Um fator importante para a cooperação, conforme destacado na definição anterior, é a confiança mútua entre os membros, Reis (2003) reforça essa importância dizendo que:

[...] a existência de laços de confiança mútua reforça os mecanismos de cooperação entre os habitantes e favorece o desempenho das instituições políticas; esse mesmo desempenho institucional eficiente atua positivamente sobre o contexto, reduzindo a incerteza e reforçando ainda mais o nível de confiança e cooperação no interior da população (REIS, 2003, p.38).

Sobre o processo da confiança nas relações de cooperação, Zambrana e Teixeira (2013) descrevem que mesmo que haja uma boa confiança entre os membros, é importante uma formalização nas relações, ou seja, confiança e formalização não são excludentes, mas sim complementares, e com a utilização destes dois fatores na cooperação diminui-se o risco de oportunismo.

Amato Neto (2000) também destaca a importância da confiança para o sucesso no mundo dos negócios, de modo que as relações conflituosas devem dar espaço para as relações baseadas na confiança, como por exemplo, os modelos de negócios alemães, japoneses e italianos.

Um comportamento interessante sobre a cooperação entre empresas, é que ela é raramente organizada pelos empresários, é algo que surge naturalmente diante das condições do ambiente, se a cooperação for organizada, poderá ser mais eficaz (ZACCARELLI, 2003). Sobre este assunto, Zambrana e Teixeira (2013) complementam dizendo que as instituições representadas pelo governo e associações interfirmas possuem um papel fundamental nas organizações das cooperações empresariais e é função delas a formação de uma identidade coletiva.

De um modo geral, há bastante cooperação entre empresas nos clusters competitivos, provavelmente elas decorrem devido à concentração geográfica, que dificulta a existência de segredos empresariais, não havendo como manter segredo, não há alternativa a não ser cooperar (ZACCARELLI, 2003). Entretanto, Florian e Lorenzo (2008) mencionam que em casos de clusters que possuem um uso intensivo de mão de obra, com baixa qualificação, baixo índice de inovação e baixas barreiras a entradas de novas empresas, as dificuldades para cooperação tendem a ser maiores, um setor que exemplifica essas características é o de confecção do vestuário.

Sobre a utilização da cooperação em clusters no contexto brasileiro, Hoffmann, Lopes e Medeiros (2014) realizaram um estudo no cluster moveleiro localizado em São Bento do Sul, estado de Santa Catarina, no sul do Brasil, e identificaram um relacionamento dentro da cadeia de fornecimento e dentro do cluster como essencialmente econômico, revelando uma postura individualista e não percebendo a cooperação como forma de melhorar a competitividade.

Os autores também relataram que essa postura não é restrita ao aglomerado estudado e citaram o trabalho de Silva (2005) sobre o cluster de produção de calçados no Vale do Rio dos Sinos, também no sul do Brasil, no qual se observou que o medo de perder competitividade torna os empresários preocupados com o compartilhamento e a transferência de conhecimento.

No entanto, há também práticas bem sucedidas em clusters brasileiros, como o apresentado no trabalho de Negrini, Wittmann e Battistella (2007), no qual se analisou os fatores influentes em ambientes de cooperação empresarial do setor moveleiro na cidade de Pelotas, região sul do Brasil. Foram identificadas cooperações em diversas áreas, incluindo transferências tecnológicas e organizacionais. Apesar das dificuldades, as ações conjuntas proporcionaram vantagens competitivas que seriam dificilmente obtidas de forma isolada.

Algumas das finalidades da cooperação em clusters, segundo o SEBRAE (2003) são:

• cooperação produtiva visando a obtenção de economias de escala e de escopo, bem como a melhoria dos índices de qualidade e produtividade;

• cooperação inovativa, que resulta na diminuição de riscos, custos, tempo e, principalmente, no aprendizado interativo, dinamizando o potencial inovativo do arranjo produtivo local.

Diante destas finalidades, alguns benefícios são esperados das relações de cooperação, como: capacitação e aprendizado por meio da transferência de conhecimento; disseminação, absorção e uso da inovação gerada; redução dos riscos em novos projetos; eficiência e flexibilidade provocados pela otimização dos processos e redução dos custos na interação entre as unidades produtivas; maiores possibilidades de adentrar no mercado global; participação em feiras e/ou eventos nacionais e internacionais; compras conjuntas de materiais e equipamentos proporcionando preços mais baixos e melhores condições de pagamentos; economias de escala e escopo igualando a custos de empresas de grande porte; dentre outros (GANCARCZYK; GANCARCZYK, 2015; GUIMARÃES et al., 2016; HOFFMANN; LOPES; MEDEIROS, 2014; SARACH, 2015; ZAMBRANA; TEIXEIRA, 2013).

Na busca de entendimento sobre o papel que a cooperação pode ter nos clusters, Santos, Diniz e Barbosa (2004) sugerem que pelo menos dois tipos de cooperação sejam considerados:

a) Cooperação multilateral, que ocorre quando um grupo de empresas se reúne em um sindicato ou associação de produtores com autonomia decisória. Nesse tipo de cooperação, um alto nível de confiança, a proximidade local e um elevado senso de comunidade podem ser necessários para seu adequado funcionamento;

b) Cooperação bilateral, que ocorre entre empresas individuais e é caracterizada pela colaboração para solucionar objetivos específicos, limitados, e por não ter autonomia decisória. Pode ser exemplificada com as relações formais ou informais de troca de conhecimento, compra de tecnologia, joint ventures, desenvolvimento conjunto e relações de longo prazo cliente/fornecedor.

Schmitz (1999), em uma pesquisa realizada com empresas de calçados, no Vale dos Sinos (sul do Brasil), descreve ainda outros dois tipos de cooperação empresarial, quanto a sua direção, podendo ser horizontal, quando esta é realizada entre empresas concorrentes, ou vertical quando é entre produtor e fornecedor de insumos ou entre produtor e distribuidor. O resultado desta pesquisa apontou uma melhor performance nas cooperações bilaterais verticais,

contribuindo para o avanço na elevação da qualidade e velocidade de resposta, e por outro lado, as ações de cooperação multilateral e horizontal não tiveram bons resultados.

De acordo com o SEBRAE (2003), a cooperação pode ocorrer por meio de:

• intercâmbio sistemático de informações produtivas, tecnológicas e mercadológicas (com clientes, fornecedores, concorrentes e outros);

• interação de vários tipos, envolvendo empresas e outras instituições, por meio de programas comuns de treinamento, realização de eventos/feiras, cursos e seminários, entre outros;

• integração de competências, por meio da realização de projetos conjuntos, incluindo desde melhoria de produtos e processos até pesquisa e desenvolvimento propriamente dita, entre empresas e destas com outras instituições.

Uma conclusão apresentada por Teller, Alexander e Floh (2016) é que a cooperação empresarial influencia positivamente a performance do aglomerado, independentemente do tamanho e tipo de empresa.