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3 Percurso metodológico

3.4 COLETA E ANÁLISE DE DADOS

Foram realizadas observações ao longo da realização do projeto CurtaCiência, análise de documentos oficiais, aplicação de um questionário e entrevista de grupo focal com os alunos participantes do projeto, além da leitura de artigos e livros da área em evidência nesse trabalho. Dessa forma, os dados foram construídos a partir das observações, análise de documentos oficiais, descrição do local de pesquisa, anotações durante as reuniões e oficinas ao longo do projeto, leituras de artigos e livros da área de educação, sobretudo de ensino de ciências, levantamento das opiniões dos sujeitos envolvidos, por meio de um questionário, além da entrevista de grupo focal (utilizando o recurso de uma filmadora e de um gravador de voz). Todos esses métodos de pesquisa auxiliaram na compreensão das práticas cotidianas do projeto CurtaCiência.

A observação esteve presente em todos os momentos do projeto em que pesquisador e participante do projeto estavam presentes, como nas reuniões, oficinas e no grupo focal. Todas as observações, bem como algumas reflexões dessas, foram registradas em um “diário de bordo”. Gil (2009, p. 100) afirma que a observação “é o uso dos sentidos com vistas a adquirir os conhecimentos necessários para o cotidiano”. Lüdke e André (2013) apontam que, na observação, o contato direto entre pesquisador e pesquisado permite uma melhor captação da perspectiva dos sujeitos pesquisados. Discorrendo sobre essa afirmação, Gil (2009) considera esse contato como uma grande vantagem da observação como técnica de coleta de dados, pois os dados são percebidos de forma direta, sem que a mediação de outra pessoa seja necessária.

A observação pode variar quanto ao grau de participação do observador no trabalho, quanto à explicitação do seu papel e dos objetivos da pesquisa e quanto ao período da observação. Lüdke e André (2013) apontam 4 tipos de observador: (1) participante total, onde o observador não revela ao grupo nem sua identidade nem o propósito da sua pesquisa; (2) participante como observador, onde o observador não esconde suas atividades mas revela apenas uma parte dos propósitos da pesquisa; (3) observador como participante, onde o observador deixa claro tanto o seu papel quanto os seus objetivos; e (4) observador total, onde o observador não interage com o grupo, apenas observa. Na presente pesquisa, o pesquisador assumiu a postura de um participante como observador (2), pois os alunos sabiam desde o início sobre a pesquisa, mas desconheciam todos os seus objetivos.

A análise documental foi feita utilizando os Planos de Curso do Curso Técnico em Aquicultura Integrado ao Ensino Médio, do Curso Técnico em Pesca Integrado ao Ensino Médio, ambos atualizados em 2013, e do Relatório de Gestão de 2013, a fim de descrever o local da pesquisa, bem como seu histórico e perfil dos profissionais formados. Bardin (2011, p. 47) aponta que a análise documental é “uma operação ou conjunto de operações visando representar o conteúdo de um documento sob uma forma diferente da original, a fim de facilitar, num estado ulterior, a sua consulta e referenciação”.

Foi aplicado um questionário aos alunos a fim de conhecer os saberes, opiniões e interesses dos alunos quanto a temas como: o ensino de ciências na escola, a utilização de um único ponto de vista no ensino de ciências, o interesse por filmes e o uso de filmes na sala de aula. Gil (2009, p. 121) define o questionário como:

[...] técnica de investigação composta por um conjunto de questões que são submetidas a pessoas com o propósito de obter informações sobre conhecimentos, crenças, sentimentos, valores, interesses, expectativas, aspirações, temores, comportamento presente ou passado etc.

O questionário aplicado aos alunos foi aberto, permitindo uma liberdade de resposta. Nesses casos, Bardin (2009) sugere que as respostas sejam classificadas segundo alguns critérios, numa grelha de análise, a fim de facilitar a compreensão.

Outra fonte de coleta de dados foi o grupo focal. Esse recurso é uma técnica de coleta de dados considerada muito rica para detectar as percepções, expressões e comportamento de determinado grupo, permitindo ao pesquisador coletar uma grande quantidade de informações em período curto de tempo. Gatti (2005, p. 11) aponta que

O trabalho com grupos focais permite compreender processos de construção da realidade por determinados grupos sociais, compreender práticas cotidianas, ações, e reações a fatos e eventos, comportamento e atitudes, constituindo-se uma técnica importante para o conhecimento das representações, percepções, crenças, hábitos, valores, restrições, preconceitos, linguagens e simbologias prevalentes no trato de uma dada questão por pessoas que partilham alguns traços em comum, relevantes para o estudo do problema visado.

A técnica de grupo focal pode ser utilizada em diversos momentos ao longo da pesquisa, inclusive após o processo de intervenção, como foi nessa pesquisa. Nesse caso, teve como finalidade principal o estudo do impacto gerado pelo projeto CurtaCiência, sobre os participantes. Todo o diálogo produzido durante a entrevista de grupo focal foi fielmente

transcrito, objetivando compreender o discurso dos participantes por meio das ideias centrais. Por sua vez, a análise do discurso do sujeito coletivo (DSC) foi feita a partir da técnica de Lefévre e Lefévre (2003a). Para esses autores, o DSC é “um discurso síntese elaborado com pedaços de discursos de sentido semelhante reunidos num só discurso”. O material verbal coletado é analisado a partir das ideias centrais ou ancoragens e suas expressões chaves. Lefévre e Lefévre (2013b) diferenciam ideias centrais, ancoragens e expressão chave:

a) Expressões-chave: “pedaços, ou trechos, ou seguimentos, contínuos ou descontínuos, do discurso, que devem ser selecionados pelo pesquisador e que revelam a essência do conteúdo do depoimento ou discurso, ou da teoria subjacente b) Ideias centrais: “é um nome ou expressão linguística que revela e descreve da maneira mais sintética e precisa possível o sentido ou sentidos das expressões-chave de cada um dos discursos analisados e de cada conjunto homogêneo de expressões- chave

c) Ancoragem: “expressão de uma dada teoria ou ideologia que o autor do discurso professa e que está embutida no seu discurso como se fosse uma afirmação

Lefévre e Lefévre (2003a) destacam que essa técnica representa uma mudança importante na pesquisa qualitativa porque permite detectar pensamentos, expressões, crenças e valores de um grupo, a partir de procedimentos científicos sistematizados e padronizados.