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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.4 CINEMA E EDUCAÇÃO

2.4.2 Um breve histórico do documentário

Os primeiros registros cinematográficos foram realizados pelos irmãos Louis e Auguste Lumière, em 1895 com o auxílio do cinematógrafo. Esse equipamento, considerado um grande avanço tecnológico registrava em 24 quadros por segundos a imagem e as reproduzia em movimento sobre uma tela (LUCENA, 2012). As cenas capturadas inicialmente por eles eram aquelas do cotidiano, com característica documental, sem roteiros, como a saída de um grupo de funcionários da empresa (A saída da Fábrica), a chegada de um trem à estação (A chegada de um trem à estação) e o almoço de um bebê pelos pais no quintal de casa (O almoço do bebê). Bill Nichols (2012) aponta que a característica documental desse estilo de filme se dá pela fidelidade da imagem fotográfica que é registrada e, por isso, parece ser um meio de comprovar o que a câmera “viu”. Com o tempo, o estúdio dos irmãos produziu uma

grande quantidade de títulos, chegando a estabelecer um estilo característico de linguagem cinematográfica (JESUS, 2007).

Nesse mesmo período, Thomas Edison produziu alguns filmes com estilo diferente daqueles dos Lumière, por haver encenações, histórias criadas e estética teatral. Esse estilo de filme passou a ser considerado de ficção e devido à sua baixa qualidade não teve muito a preferência do público. Eles ainda preferiram os filmes que retratavam histórias do cotidiano. Os filmes de ficção ganharam mais aceitação quando Mélies, em seu filme “Viagem à Lua” (1902) utilizou seu “cinema de camadas, inserindo nos filmes cenários que se completavam e se complementavam, atores que se movimentavam entre os cenários e elementos como automóveis, trens, foguetes” (LUCENA, 2012). Além disso, soube estimular a imaginação do espectador, utilizando roteiros fixos e atores, tendo como foco o entretenimento do espectador.

Com essas informações trazidas pela literatura, podemos observar o surgimento de dois estilos de filmes: o de ficção, que conta uma história imaginada por alguém, usa encenação, personagens criados, estimula a imaginação do espectador e foca no entretenimento, e os filmes de não ficção, que tratam de uma história do cotidiano, com personagens reais, tendo como foco informar, demonstrar algo ao espectador.

Esse segundo estilo de filme, chamado de não ficção, foi receber um nome apenas em 1926, quando o escocês John Gierson escreveu uma matéria para o jornal New York Sun fazendo uma crítica ao filme Nanook of the North, produzido por Robert Flaherty em 1922 e usa o termo documentary1 para se referir a ele. Esse filme surgiu após a terceira visita de Flaherty a uma comunidade de esquimós que vivia no Norte do Canadá e é um marco na história do documentário não somente pelo termo documentário que foi usado pela primeira vez, mas também porque ele foi organizado como uma narrativa dramática, que opunha o homem ao seu ambiente gelado, hostil, mostrando sua cultura, seu modo de vida (LUCENA, 2012).

Em alguns momentos, o produtor precisou usar artifícios como o uso de cenários e personagens criados para finalizar seu filme. Um exemplo disso foi a construção de um Iglu grande e aberto para que a filmagem fosse feita, porque o Iglu real, em que a família do Nanook vivia era pequeno e escuro, impedindo a movimentação da câmera e a captação de luz. O que Flaherty fez foi recriar algo que existia, segundo seu conhecimento e seu objetivo.

Por isso, Grierson se refere a documentário como um “tratamento criativo da realidade” (LUCENA, 2012). Essa definição retrata muito bem esse estilo de filme até hoje, ainda que muitos autores tenham tentado definir de outras maneiras mais extensas o gênero.

Grierson se apropriou desse novo estilo de filme que surgiu com Flaherty, tendo se tornado um grande teórico do documentário clássico. Ele via nesse gênero uma forma de levar educação às massas, que não tinham acesso a ela, e também reforçar a educação formal que era ameaçada pela moderna sociedade democrática. Sua visão proporcionou o apoio não só da elite pós-Iluminismo, mas também do Governo que passara a financiar seus filmes (JESUS, 2007). Esses filmes retratavam os problemas que a sociedade moderna enfrentava, mas com o objetivo de veicular os aspectos funcionais do Estado. Entre outras palavras, com o objetivo de manipular esses problemas em prol do fortalecimento do Governo e do sistema capitalista em detrimento da formação de uma sociedade crítica e reflexiva.

O documentário clássico, proposto e fortalecido por Grierson, fazia uso da voz over, ou seja, as narrativas eram feitas sobre imagens, predominava a filmagem em locais externos com personagens reais, os equipamentos eram muito pesados, as películas eram de baixa sensibilidade e não era possível a reprodução do som nos filmes. Mas a partir da década de 30, com a possibilidade de reprodução do som nos filmes e da década de 50 com a produção de equipamentos mais leves e películas mais sensíveis, o cinema e, assim, o documentário, sofreram significativas mudanças.

Dentre essas mudanças, Lucena (2012) cita o surgimento do cinema direto e do cinema verdade. O cinema direto surgiu quando os americanos Robert Drew e Richard Leacock cobriram a campanha à presidência dos Estados Unidos (EUA) e o cinema Verdade surgiu com os franceses Edgard Morin e Jean Rouch, que afirmavam que a privacidade de uma pessoa é violada quando a câmera é ligada. Naquele, a produção não interfere na filmagem, faz-se uso de iluminação reduzida, registra-se o comportamento espontâneo do entrevistado, ou seja, mostra-se “a vida como ela é”, enquanto que nesse, a equipe interfere e participa da filmagem, assim como os equipamentos, e a metodologia de produção de filmes é exposta.

Essas três correntes que surgiram do documentário (clássica, cinema direto e cinema verdade) tem fundamentado o estilo de documentários no Brasil até os dias de hoje, embora outras linhas experimentais tenham se firmado (LUCENA, 2012). Na literatura sobre esse gênero,

observa-se que as correntes, linhas, gêneros ou tipos de documentário diferem de autor para autor. Bill Nichols (2012), por exemplo, aponta a existência de seis tipos de documentário: modo poético, modo expositivo, modo observativo, modo reflexivo e modo performático.