• Nenhum resultado encontrado

A Comissão para a Eficácia das Execuções

No documento DOUTORADO EM DIREITO São Paulo 2012 (páginas 126-128)

CAPÍTULO 5 – A RECENTE DESJUDICIALIZAÇÃO DA EXECUÇÃO

5.4 A Comissão para a Eficácia das Execuções

A Comissão para a Eficácia das Execuções foi criada pelo Decreto-Lei no 226/2008, de 20 de novembro – reforma da reforma –, mas regulamentada pelo Decreto-Lei no

165/2009, de 22 de julho. Nos termos do preâmbulo daquele decreto, só haveria plena confiança da sociedade nas ações executivas se um órgão independente pudesse exercer a disciplina dos agentes de execução, realizar fiscalizações e formatar, com rigor, os estágios obrigatórios, para que houvesse uma adequada formação técnico-jurídica e ético-profissional dos candidatos.

Para manter sua independência e isenção, a CPEE deve ser composta por representantes dos vários setores interessados na eficácia da ação executiva, como o Conselho

328 “O novo processo civil francês institui ainda a figura do juiz da execução, que tem por finalidade coordenar a realização dos atos executivos. Também compete ao juízo da execução julgar os incidentes que surjam no curso da execução (p. ex., propriedade de um bem penhorado) e conceder medidas conservativas (p. ex., sequestro)”. LUCON, Paulo Henrique dos Santos. A eficácia das decisões e execução provisória. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p.108.

Superior da Magistratura; os Ministérios da Justiça, das Finanças e da Segurança; a Câmara dos Solicitadores; a Ordem dos Advogados; o Colégio de Especialidade dos Agentes de Execução; a Associação dos Consumidores ou dos Usuários dos Serviços da Justiça; e o Conselho Econômico e Social português.

Como dito anteriormente, o nível de formação dos agentes de execução tornou-se uma das grandes fontes de preocupação do Governo português, em razão das muitas críticas recebidas após a reforma de 2003. Assim, a Comissão recebeu a especial missão de emitir recomendações330 sobre a formação dos agentes de execução, definindo critérios gerais; estabelecer o número de candidatos para cada estágio anual; escolher e designar a entidade externa responsável pela elaboração do exame de admissão no estágio de agente de execução (a Pontifícia Universidade Católica de Lisboa foi a eleita nos anos de 2009 e 2010); aprovar o relatório anual das atividades desempenhadas no estágio; e realizar a avaliação final dos estagiários.

Além da formação, a Comissão para a Eficácia das Execuções vem tentando aperfeiçoar os serviços prestados pelos agentes de execução, realizando uma exigente e criteriosa inspeção de todos os agentes.331 Para tanto, a CPEE fixou um programa de ação disciplinar e de fiscalização de acordo com as orientações da Comissão Europeia para a Eficácia da Justiça, do Conselho da Europa332, registrando-o em um manual de orientação para o agente de execução.

330<http://www.cpee.pt/media/uploads/pages/32_RECOMENDACOES_da_CPEE_FORMACAO.pdf>. Acesso em: 13 maio 2011.

331 A fiscalização do agente de execução pela CPEE é realizada das seguintes formas: 1) monitoramento dos meios eletrônicos, uma vez que toda a atividade e diligência realizada deve ser cadastrada no GPESE/SISAA (sistema da Câmara dos Solicitadores); 2) vistoria nos escritórios dos agentes, para verificação, por exemplo, da existência de tabela de tarifas, de seguro de responsabilidade civil, do devido arquivamento de processos findos, da certificação digital nos computadores, do cadastro dos funcionários na Câmara dos Solicitadores, da observância de prazos e registros dos atos no site apropriado, entre outros.

332 "(...) IV. Enforcement agents: 1. Where states make use of enforcement agents to carry out the enforcement process, they should comply with the principles contained in this recommendation. 2. Enforcement agents' status, role, responsibilities and powers should be prescribed by law in order to bring as much certainty and transparency to the enforcement process as possible. States should be free to determine the professional status of enforcement agents. 3. In recruiting enforcement agents, consideration should be given to the moral standards of candidates and their legal knowledge and training in relevant law and procedure. To this end, they should be required to take examinations to assess their theoretical and practical knowledge. 4. Enforcement agents should be honourable and competent in the performance of their duties and should act, at all times, according to recognised high professional and ethical standards. They should be unbiased in their dealings with the parties and be subject to professional scrutiny and monitoring which may include judicial control. 5. The powers and responsibilities of enforcement agents should be clearly defined and delineated in relation to those of the judge. 6. Enforcement agents alleged to have abused their position should be subject to disciplinary, civil and/or

No efetivo exercício do poder disciplinar sobre os agentes de execução, em caso de não observância dessas orientações, bem como das leis, portarias e regimento interno da Câmara dos Solicitadores, a CPPE pode instaurar processos disciplinares, cuja procedência pode implicar penas de suspensão à expulsão do profissional. Ela também deve decidir questões relacionadas aos impedimentos e suspeições do agente de execução.

5.5 Tramitação da ação executiva

Neste tópico tentar-se-á fazer um breve resumo sobre o procedimento executivo desjudicializado, utilizando-se, em regra, a sequência de fases apresentada pelo Código de Processo Civil português. Pretende-se dar ênfase aos trâmites que sofreram efetiva mudança com as reformas, mas não se deixará de apontar os demais atos, para que seja possível transmitir a noção do “todo”, ou seja, começo, meio e fim da execução realizada pelo agente de execução português.

Não custa lembrar que será feito o devido “corte” mencionado na introdução, ou seja, tão somente será detalhado o procedimento da execução para pagamento de quantia certa. Registra-se, rapidamente, que os outros tipos de execução sofreram poucas alterações, apesar de serem realizadas pelo agente de execução. Assim, na execução para entrega de coisa certa, nos termos do art. 928 do CPC português, o executado é citado para fazer a entrega ou apresentar sua oposição no prazo de 20 dias. Já na execução para obrigação de fazer, nos termos do art. 933 do CPC português, o executado é citado para realizar suas obrigações ou apresentar sua oposição no prazo de 20 dias, sendo cientificado de que o credor pode i) requerer a prestação por outrem, sendo devidos então os valores despendidos com tal providência (em se tratando de obrigação fungível) ou ii) exigir indenização pelos danos sofridos pela não realização da prestação pelo próprio executado (em se tratando de obrigação não fungível).

criminal proceedings, providing appropriate sanctions where abuse has taken place. 7. State-employed enforcement agents should have proper working conditions, adequate physical resources and support staff. They should also be adequately remunerated. 8. Enforcement agents should undergo initial and ongoing training according to clearly defined and well-structured aims and objectives”. Disponível em: <https://wcd.coe.int/wcd/ViewDoc.jsp?Ref=Rec(2003)17&Language=lanEnglish&Site=CM&BackColorInternet =DBDCF2&BackColorIntranet=FDC864&BackColorLogged=FDC864>. Acesso em: 13 maio 2011.

No documento DOUTORADO EM DIREITO São Paulo 2012 (páginas 126-128)