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COMO COMUNICAR E INTERVIR JUNTO DA CRIANÇA

No documento CPCJ Guia Educacao 1 (páginas 117-120)

PREVENÇÃO SECUNDÁRIA E TERCIÁRIA INTERVENÇÃO DO EEEF JUNTAMENTE COM OUTRAS ECMIJ

3.6 ACTUAÇÃO JUNTO DA CRIANÇA E SUA FAMÍLIA

3.6.1 COMO COMUNICAR E INTERVIR JUNTO DA CRIANÇA

Em algumas situações a criança estabelece laços de confiança com um adulto no contexto escolar que lhe permitem revelar eventuais situações de maus tratos ou outras situações de perigo. Existem outros casos em que, apesar de a criança não comunicar aspectos da sua vida que revelem a existência de algum tipo de maus tratos ou outras situações de perigo, observa-se na sua vida quotidiana uma série de sinais ou indicadores de risco. Em ambos os casos é necessário reunir a informação acerca da situação da criança e da família, porque por vezes a própria dinâmica escolar diária o não permite.

O objectivo não é fazer uma entrevista de avaliação nem intervenção terapêutica com a criança, é sim recolher a informação necessária e suficiente para possilitar a adopção de medidas conducentes à sua protecção imediata.

Nestes casos, geralmente efectua-se uma observação ou seguimento mais pormenorizado, que pode incluir conversas ou reuniões com a criança e a família. Quando se decide que um profissional do EEEF deve falar com a criança, deve ser uma pessoa por quem aquela tenha uma boa relação e sinta consideração e respeito. Na maioria das situações pode coincidir com a figura do professor ou director de turma. Assim, seria conveniente conjugar a competência emocional na relação com a criança com a competência ou experiência profissional.

Quando é a própria criança que decide a quem revelar a sua situação e o faz junto de um profissional do EEEF, conclui-se que esta é a pessoa por quem ela sente confiança. A criança mostra que se sente segura com este profissional, pelo que o mesmo deve responsabilizar-se e informar a criança que vai estar presente daí em diante nos momentos considerados mais críticos na sua protecção e em função das necessidades da criança. Neste caso o EEEF deve comprometer-se em possibilitar o envolvimento desse profissional nesses momentos. A investigação tem mostrado que a pessoa a quem a criança conta a situação deverá ter um papel central no desenrolar da situação tanto em benefício da criança e da sua recuperação como em benefício da avaliação ou investigação criminal.

Tanto numa situação como noutra a atitude empática dos profissionais da educação na abordagem à criança é fundamental, pois pode conquistar ou aumentar a sua confiança, o que facilita a obtenção de informações mais objectivas necessárias às intervenções para a proteger.

A criança deve ser ouvida de acordo com as recomendações deontológicas, éticas e princípios orientadores (artigo 4.º da Lei n.º 147/99 de 1 de Setembro) nomeadamente o interesse superior da criança e a privacidade.

Para ouvir a criança há que ter em consideração os seguinte aspectos:

• Antes da conversa é importante avaliar se a mesma vai pôr a criança em perigo. É especialmente relevante determinar se o maltratante pode exercer represálias;

• Convém ter presente que a criança pode estar temerosa, assustada, por isso deve estar o mais cómoda possível, tendo em conta as circunstâncias e as instalações da escola;

• A conversa deve ser realizada num local tranquilo e livre de possíveis interrupções. Os gabinetes de apoio aos alunos e as salas de apoio e atendimento aos alunos e encarregados de educação, podem ser bons locais; • Durante a conversa, o docente ou outro profissional do EEEF não deve estar

sentado por trás da secretária, mas preferencialmente ao lado da criança; • Logo no início da conversa convém esclarecer a criança que ela não é o

problema nem a responsável pela situação. Isto é importante porque muitas vezes, as crianças sentem-se culpadas pela situação de maus tratos;

• Para facilitar a comunicação, a linguagem utilizada durante a conversa deve ser compreensível para a criança e estar de acordo com o seu nível etário. As palavras e o tom devem ser adaptados às características evolutivas da criança; • Não utilizar perguntas fechadas de sim ou não já que pode bloquear a

comunicação e induzir as respostas. É importante usar frases neutras; • Não mostrar descrédito nem desconfiança perante as suas explicações; • Evitar que a criança reviva outras situações traumáticas;

• Deve ter-se um cuidado especial para não criar falsas expectativas à criança. No momento em que a situação de perigo se identifica é difícil prever o que vai acontecer à criança. É melhor não se adiantar aos acontecimentos, sob pena de se criarem falsas ilusões que dificultem intervenções posteriores; • Deve evitar-se prometer à criança o que não se pode cumprir. Perante uma

criança com dificuldades, o profissional pode envolver-se emocionalmente de tal maneira que lhe ofereça os seus próprios recursos pessoais, como por exemplo, o seu tempo livre, a sua própria família, etc. É importante ter cuidado para não oferecer à criança algo que depois não se esteja em condições de lhe dar. Aqui, não se trata de limitar o envolvimento pessoal e afectivo dos profissionais, seguramente positivo e necessário num grande número de casos, mas antes de advertir para possíveis consequências desta atitude;

Artigo 4.º da Lei n.º 147/99 de 1 de Setembro

Vídeo sobre a identificação e a sinalização

• A criança deve estar segura de que a conversa não será divulgada a outros professores, alunos ou outro pessoal do EEEF. Contudo, se que a criança pedir segredo, mas o profissional do EEEF pensar que vai ter de partilhar a informação sobre a situação com outros profissionais, deve informar a criança garantindo- lhe que a sua segurança não será posta em causa. O professor só deve partilhar informações sobre a situação a uma terceira pessoa se a mesma tiver competências para intervir e apenas a informação necessária e suficiente para a protecção da criança;

• Assegurar à criança que não lhe acontecerá nada por ter contado a situação; • Expressar-lhe apoio em tudo o que a criança possa necessitar para se sentir

protegida;

• Quando se considera que o caso tem de ser sinalizado à CPCJ (apenas nos casos em que se considere esgotados os recursos do EEEF ou/e de outras entidades com competência em matéria de infância e juventude ou em que os pais não concordem com a intervenção da escola ou destas entidades), deve-se informar a criança que a sua situação vai ser referenciada a um serviço especializado e, ao mesmo tempo, que se vai prestar-lhe apoio durante todo o processo, pode ajudar a criança a sentir-se mais segura;

• As crianças com necessidades especiais, nomeadamente ao nível da comunicação devem merecer uma atenção especial no que toca à abordagem em situação de maus tratos ou outra situação de perigo. Devem ser identificados e disponibilizados os recursos necessários para garantir o direito à participação da criança em todas as fases da intervenção;

• É muito relevante o registo da conversa tida com a criança por poder constituir possível prova em situações de crime. Este registo está sujeito a sigilo e deve ser arquivado em lugar seguro;

• Se o docente perante a comunicação da criança tiver necessidade de partilhar informação e solicitar apoio de outros profissionais do próprio contexto educativo, nomeadamente de um(a) psicólogo(a) existente no estabelecimento de educação e ensino, deve consultar o ponto 3.7;

• Na fase de acompanhamento ou monitorização de uma intervenção junto da criança por parte do EEEF, CPCJ ou Tribunal, o apoio e trabalho contínuo no contexto educativo com a criança é fundamental para favorecer a reparação das consequências da situação e promover o seu desenvolvimento. A atenção do EEEF deve focar-se nos défices cognitivos, emocionais e sociais que se podem relacionar com maus tratos sofridos, que a impedem de obter o rendimento académico mais adequado, identificando e facultado os apoios necessários e disponíveis.

No documento CPCJ Guia Educacao 1 (páginas 117-120)