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LEGISLAÇÃO PENAL

No documento CPCJ Guia Educacao 1 (páginas 76-81)

REGIME JURÍDICO APLICÁVEL ÀS SITUAÇÕES DE PERIGO

ALGUNS ASPECTOS A TER EM CONSIDERAÇÃO EM MATÉRIA DE ADOPÇÃO

2.5 LEGISLAÇÃO PENAL

No presente ponto parte-se da distinção entre Ministério Público e Tribunais para a abordagem de alguns conceitos jurídicos que enformam o sistema judicial, concluindo com uma breve incursão nas várias tipologias de crimes que envolvam directa ou indirectamente crianças. Tenta-se assim, dar a conhecer aos técnicos as condutas que preenchem os vários tipos legais de crime com vista à sua detecção e denúncia às entidades competentes para o exercício da acção penal.

Lei Tutelar Educativa aprovada pela Lei n.º 166/99, de 14 de Setembro

Artigo 4.º LTE - Lei Tutelar Educativa

2.5.1 O CÓDIGO PENAL – CRIMES PRATICADOS CONTRA CRIANÇAS

Os crimes praticados especialmente contra crianças encontram-se dispersos por várias normas ínsitas no Código Penal, designado neste guia por CP, estando a sua tramitação prevista no Código de Processo Penal, designado neste guia por CPP. É da competência dos Tribunais judiciais fazer cumprir a lei e aplicar as consequentes medidas penais àqueles que incorrerem na sua violação, nos termos do previsto na Lei de Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais. O Ministério Público exerce a acção penal orientada pelo princípio da legalidade e, defende a legalidade, nos termos da Constituição, da Lei e do Estatuto do Ministério Público.Compete ao MP a abertura de processo de inquérito. A abertura do inquérito inicia-se pela notícia do crime, bastando para o efeito a suspeita da sua prática.

a] PROCESSO DE INQUÉRITO

O inquérito compreende o conjunto de diligências que visam investigar a existência de um crime, determinar os seus agentes, a responsabilidade destes, descobrir e recolher as provas, em ordem à dedução de acusação.

b] CONHECIMENTO DO CRIME

O conhecimento do crime é levado ao MP por intermédio dos órgãos de polícia criminal, ou por particulares, através da denúncia.

Compete ao MP decidir se ainda precisa da formalização de queixa pela pessoa que tem legitimidade para o fazer.

c] PARTICIPAÇÃO DOS CRIMES COMETIDOS CONTRA CRIANÇAS

Quando os factos que tenham determinado a situação de perigo constituírem crime, as ECMIJ/AS e as CPCJ devem comunicá-las ao MP e/ou às Entidades Policiais, sem prejuízo das demais comunicações previstas na referida lei. Aos técnicos, entidades e agentes que trabalham na área da infância e juventude não lhes é exigido que conheçam toda a tipologia de crimes, contudo, é importante que tenham o conhecimento mínimo que lhes é exigido por forma a poderem cumprir, não só com a sua função protectora, mas também com a obrigatoriedade de denúncia legal do crime. Perante uma situação de dúvida, deverá a situação Artigo 262.º do Código de Processo

Penal

Artigo 70.º da Lei de Protecção das Crianças e Jovens em Perigo

ser levada ao conhecimento do MP, ao qual caberá decidir a abertura ou não do processo de inquérito.

Os crimes mais relevantes na protecção das crianças são o de violência doméstica, maus tratos físicos, abuso sexual e negligência grave pelas consequências que provocam nas crianças que são alvo dos mesmos.

Também a Exploração Sexual de Crianças tem sido objecto de atenção em vários diplomas, nomeadamente na Convenção do Conselho da Europa Contra a Exploração Sexual e o Abuso Sexual de Criança, sendo que neste contexto se chama a particular atenção para a Lei n.º 113/2009, de 17 de Setembro, cujo objecto abrange a aferição da idoneidade no acesso a funções que envolvam contacto regular com crianças e a tomada de decisões de confiança de crianças, impondo a apresentação de registo criminal e prevendo o alargamento do prazo do cancelamento definitivo do registo destes crimes.

2.5.2 RESPONSABILIDADE PENAL

2.5.2.1 DOS CRIMES CONTRA AS PESSOAS

2.5.2.2 DOS CRIMES CONTRA A INTEGRIDADE FÍSICA

Foram apenas seleccionados os crimes relacionados com esta matéria que se entendem mais relevantes

a] EXPOSIÇÃO OU ABANDONO

É punido com pena de prisão, quem:

Colocar em perigo a vida de outra pessoa: expondo-a em lugar a que a sujeite a uma situação de que ela, só por si, não possa defender-se; ou abandonando-a sem defesa sempre que ao agente coubesse o dever de a guardar, vigiar ou assistir. A pena é agravada sempre que o crime for praticado, por ascendente ou descendente, adoptante ou adoptado da vítima e, bem assim, se do facto resultar ofensa à integridade física grave ou a morte.

O crime é de natureza pública, não depende de queixa da vítima para o procedimento criminal.

Artigo 70.º da LPCJP

Convenção do Conselho da Europa contra a Exploração Sexual e o Abuso Sexual de Criança

Artigo 138.º do CP Lei n.º 113/2009

b] VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

É punido com pena de prisão, quem:

de modo reiterado ou não, infligir maus tratos físicos ou psíquicos incluindo castigos corporais, privações da liberdade e ofensas sexuais, nomeadamente ao cônjuge ou ex-cônjuge, a progenitor de descendente comum em 1.º grau ou a pessoa particularmente indefesa, em razão de idade, deficiência, doença, gravidez ou dependência económica, que com ele habite. A pena é agravada se este crime for praticado contra criança ou na presença de criança. ( artigo 152.º violência doméstica).

c] MAUS TRATOS

É punido com pena de prisão quem:

tendo ao seu cuidado, à sua guarda, sob a sua responsabilidade da sua direcção ou educação ou a trabalhar ao seu serviço, nomeadamente, pessoa criança, ou particularmente indefesa em razão da idade, deficiência ou gravidez e: lhe infligir, de modo reiterado ou não, maus tratos físicos ou psíquicos, incluindo castigos corporais, privações da liberdade e ofensas sexuais, ou a tratar cruelmente; a empregar em actividades perigosas, desumanas ou proibidas; ou a sobrecarregar com trabalhos excessivos.

O crime é de natureza pública pelo que o procedimento criminal não depende de queixa da vítima para (artigo 152.º – A – maus tratos).

2.5.2.3 DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL

a] SEQUESTRO

É punido com pena de prisão quem:

detiver, prender, mantiver presa ou detida outra pessoa ou de qualquer forma a privar da liberdade. O crime é agravado na moldura penal, nomeadamente, quando seja praticado contra pessoa particularmente indefesa, em razão da idade, deficiência, doença ou gravidez.

O crime é de natureza pública, não dependendo, por isso, o procedimento criminal de queixa da vítima. (artigo 158.º- sequestro)

b] RAPTO

É punido com pena de prisão quem:

por meio de violência, ameaça ou astúcia, raptar outra pessoa com intenção: de

Lei n.º 112/2009 de 16 de Setembro sobre a Prevenção da Violência Doméstica e a Protecção e Assistência às suas Vítimas, artigo 9.º - Consentimento para o acesso aos apoios previstos

submeter a vítima a extorsão; cometer crime contra a liberdade e autodeterminação sexual da vítima; obter resgate ou recompensa; ou constranger a autoridade pública ou um terceiro a uma acção ou omissão, ou a suportar uma actividade. O crime é agravado na moldura penal, nomeadamente, quando seja praticado contra pessoa particularmente indefesa, em razão da idade, deficiência, doença ou gravidez.

2.5.2.4 DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE E AUTODETERMINAÇÃO SEXUAL

a] CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL:

Coacção sexual; artigo 163.º; Violação – artigo 164.º; Abuso sexual de pessoa incapaz de resistência-artigo165.º; Abuso sexual de pessoal internada – artigo166.º; fraude sexual – artigo 167.º; procriação artificial não consentida - art.º168.º; lenocínio – artigo 169.º;Importunação sexual – artigo 170.º

b] CRIMES CONTRA A AUTODETERMINAÇÃO SEXUAL:

Abuso sexual de criança – artigo 171.º; Abuso sexual de crianças dependentes – artigo 172.º; Actos sexuais com adolescentes – artigo 173.º; Recurso à prostituição de crianças – artigo 174.º; Lenocínio de crianças – artigo 175.º; Pornografia de crianças – artigo 176.º.

2.5.2.5 DOS CRIMES CONTRA A VIDA EM SOCIEDADE

a] SUBTRACÇÃO DE CRIANÇA

É punido com pena de multa ou de prisão, quem:

subtrair criança; por meio de violência ou de ameaça com mal importante determinar criança a fugir; ou de modo repetido e injustificado, não cumprir o regime estabelecido para a convivência do criança na regulação do exercício das responsabilidades parentais, ao recusar, atrasar ou dificultar significativamente a sua entrega ou acolhimento.

Quem incumprir, nos termos supra expostos, o estabelecido na Regulação do Exercício das Responsabilidades Parentais pode ver a pena especialmente atenuada quando a sua conduta tenha sido condicionada pelo respeito pela vontade do criança com idade superior a 12 anos.

O procedimento criminal depende de queixa. (artigo 249.º - subtracção de criança).

b] VIOLAÇÃO DA OBRIGAÇÃO DE ALIMENTOS

Pratica este crime quem:

O procedimento criminal pelos crimes previstos nos artigos 163.º a 165.º; 167.º; 168.º e 170.º depende de queixa, salvo se forem praticados contra a criança ou destes resultar o suicídio ou a morte da vítima.

O procedimento criminal pelo crime previsto no artigo 173.º, depende de queixa, salvo quando dele resultar a morte – (actos sexuais com adolescentes).

estando legalmente obrigado a prestar alimentos e em condições de o fazer, não cumprir a obrigação no prazo de dois meses seguintes ao vencimento - quem incorrer na prática reiterada do crime referido, pode ser sujeito inclusive à pena de prisão.

Quem estando legalmente obrigado a prestar alimentos e em condições de o fazer, não cumprir a obrigação, pondo em perigo a satisfação, sem auxílio de terceiros, das necessidades fundamentais de quem a eles tem direito ou quem com intenção de não prestar alimentos, se colocar na impossibilidade de o fazer e violar a obrigação a que está sujeito criando o perigo previsto anteriormente, (pondo em perigo a satisfação, sem auxílio de terceiros, das necessidades fundamentais de quem a eles tem direito) poderá ser sujeito a molduras penais mais graves. (artigo 250.º - Violação da obrigação de alimentos)

O procedimento criminal depende de queixa.

No documento CPCJ Guia Educacao 1 (páginas 76-81)