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PREVENÇÃO PRIMÁRIA NO CONTEXTO EDUCATIVO

No documento CPCJ Guia Educacao 1 (páginas 89-96)

ESTABELECIMENTOS DE EDUCAÇÃO, ENSINO E FORMAÇÃO

3 INTERVENÇÃO DOS ESTABELECIMENTOS DE EDUCAÇÃO E ENSINO

3.1 PREVENÇÃO PRIMÁRIA NO CONTEXTO EDUCATIVO

Na linha da definição proposta no ponto 1.5. podemos dizer que a prevenção primária inclui acções desenvolvidas no contexto educativo, quer pelos EEEF quer por estes em cooperação com outras entidades, dirigidas a todas as crianças e jovens e até às suas famílias, sem qualquer distinção, com o objectivo de promover o seu bem-estar e de evitar casos de risco e perigo, por exemplo, ensinando as crianças, além das matérias programadas para as disciplinas, outras competências necessárias à prevenção de maus tratos.

Pontos 3.1, 3.2 e 3.3

Ponto 3.4

Ficha de Sinalização Pontos 3.5, 3.6 e 3.7

Com o mesmo objectivo podem considerar-se igualmente acções que promovam a melhoria das competências parentais, nomeadamente um conhecimento mais aprofundado daquilo que caracteriza cada estádio de desenvolvimento das crianças e dos jovens.

Pelas suas características os EEEF oferecem vantagens na implementação de actuações de carácter preventivo:

• As crianças passam muito tempo nos estabelecimentos de educação e ensino; • A existência de pessoal técnico treinado e com formação adequada,

• Os docentes e restantes profissionais dos EEEF têm mais acesso às crianças e aos pais comparativamente a profissionais de outras instituições;

• A idade das crianças torna-as receptivas à mudança de atitudes e à aquisição novos valores e hábitos;

• Maior eficácia - os programas aplicados num contexto educativo apresentam uma eficiência a longo prazo muito maior na redução do impacto das situações de perigo nas crianças (Plummer, 2001) comparativamente a um programas implementados por outras organizações, quer nos EEEF quer na comunidade. • Menor estigmatização das crianças e das famílias, comparativamente a

programas aplicados noutros contextos.

É possível desenhar e implementar nos EEEF programas de prevenção primária, dirigidos ao conjunto da comunidade educativa, que visem reduzir a incidência de maus tratos e outras situações de risco e perigo, não se focando apenas em problemas como o absentismo, o insucesso escolar e o bullying.

Também as CPCJ, na sua modalidade alargada, “(…) em articulação com a rede social e outros programas e projectos comunitários, têm um papel central na promoção de uma política de prevenção primária essencial a um salto qualitativo fundamental no domínio de uma cultura do reconhecimento e efectivação dos direitos da criança, compatível com os desafios civilizacionais do nosso tempo e por isso indispensável ao futuro de cada comunidade (…)” (A. Leandro e R. Carvalho, comunicações pessoais, 2006 e 2009).

De salientar que, ao nível das CPCJ, a Educação tem um representante integrante da modalidade alargada. Desta forma as acções de prevenção primária de todos os tipos de maus tratos e situações de perigo beneficiam claramente da boa articulação entre este elemento e todas as escolas no respectivo concelho. Também o Protocolo estabelecido em 3 de Junho de 2006 entre o Ministérios do Trabalho e Solidariedade

www.educacaoparatodos.org

Comunidade educativa:

O conjunto de actores implicados directamente no funcionamento da escola (professores, direcção, alunos e membros dos órgãos do EEEF), bem como actores indirectamente ligados, como os pais, os representantes das autoridades locais e do mundo económico e social local, etc..

Social e o Ministério da Educação que institui a figura de um professor-tutor com funções (ver Protocolo, Anexo D) definidas no que respeita à prevenção primária, é, também, um elemento fundamental na colaboração com os EEEF nestas acções de prevenção.

Para se implementar programas de actuação preventiva de carácter primário nos EEEF é necessário ter em conta os seguintes aspectos, entre outros:

• O projecto educativo;

• As mudanças no ambiente provocadas pela implementação dos programas; • A formação dos docentes e dos restantes profissionais.

A aplicação destes programas de prevenção, em qualquer âmbito de actuação coloca alguns desafios à comunidade educativa mas que podem ser ultrapassados com o envolvimento dos necessário recursos humanos e materiais.

Frequentemente alude-se ao facto de muitos docentes se encontrarem sobrecarregados, pela dificuldade de cumprir os programas curriculares e ao mesmo tempo terem de atender e minorar as dificuldades dos alunos. Também é frequente considerarem-se os currículos dos alunos actualmente demasiado extensos.

Apesar destas dificuldades, em muitos agrupamentos/escolas estão a ser realizadas experiências interessantes nesta matéria. Algumas dessas experiências demonstram que é possível incluir nos currículos escolares componentes de prevenção dos maus tratos ou outras situações de perigo, através de temas transversais, como a educação para a saúde, a educação para a cidadania, da educação sexual, da educação para o consumo, etc. ou através de programas de desenvolvimento de competências pessoais e sociais, e a mediação de conflitos.

Alguns destes programas destinam-se a promover o desenvolvimento de dimensões da personalidade e favorecem o bem-estar e o comportamento pró-social do indivíduo, nomeadamente a nível:

• Da potenciação da auto-estima;

• Do sentimento de auto-eficácia e o locus de controlo interno;

• Dos processos cognitivos que favorecem o comportamento pró-social; • Do juízo moral e ético;

• Dos comportamentos socialmente competentes; • Da educação sexual;

Ponto 4.1.1

Protocolo entre o Ministério do Trabalho e Solidariedade Social e o Ministério da Educação, Anexo H

• Da prevenção de comportamentos de risco; • Da prevenção da discriminação sexual e racial; • Da resolução de conflitos e violência em geral; • Da potenciação de um estilo de vida saudável; • Da educação para o consumo;

• Dos comportamentos sociais indesejáveis; • Do controlo da agressividade;

• Da promoção das relações amorosas positivas; • Da parentalidade responsável e positiva; • Da empatia;

• Da prevenção de drogas;

• Da prevenção de gravidez na adolescência.

Em seguida apresenta-se algumas das intervenções de carácter preventivo como exemplos de iniciativas que estão a ser implementadas com êxito nos estabelecimentos de ensino, ou que podem vir a ser implementadas no futuro.

3.1.1 PROGRAMAS DE PROMOÇÃO DA "INTELIGÊNCIA EMOCIONAL"

Cada vez mais o conceito de “inteligência emocional” adquire maior força como construto relevante na aquisição de competências emocionais que contribuem para o pleno desenvolvimento de uma criança ou jovem. Um dos principais divulgadores deste conceito, o investigador Daniel Goleman (1995) refere: “durante muito tempo os educadores estiveram preocupados com as deficientes qualificações dos alunos em áreas como a matemática, a linguagem, etc., mas agora estão a aperceber- se de que existe uma carência muito mais premente, as competências sociais e emocionais.

Este interesse crescente pela esfera emocional deve-se ao aumento de incidentes graves entre os estudantes, designadamente problemas de disciplina, de absentismo, de agressividade ou intimidação entre colegas, de um maior consumo de drogas numa idade mais precoce, etc., evidenciando problemas pessoais, interpessoais, familiares e de integração que afectam o clima dos estabelecimentos de ensino e o rendimento académico.

Estudos realizados corroboram uma clara diminuição do grau de competência emocional dos jovens, observando-se uma maior tendência para o seu isolamento,

Dissertação de mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde: "Estudo sobre a eficácia de um Programa de Inteligência Emocional no auto-conceito de alunos do 2º ano do ensino básico" - incluído no anexo II do Programa de Inteligência Emocional "Aprender com Coração" - de Márcia Sofia de Freitas.

excesso de medos e preocupações, nervosismo e tristeza, desobediência e agressividade, recurso à mentira, etc.

Neste contexto, as relações interpessoais na infância e adolescência consideram- se uma área de especial relevância, sobretudo no que se refere à prevenção, pois já se concluiu que a competência social é um dos factores que melhor explica a adaptação social das crianças ao ambiente. Determinadas actuações de prevenção a este nível ensinam as crianças a conhecerem as suas próprias emoções e as emoções alheias e a adquirirem mais competências de relacionamento social de auto-protecção e resiliência.

Algumas experiências a nível internacional incluem estes programas de alfabetização das emoções são as seguintes:

• Auto-controlo emocional ou conhecimento das próprias emoções. Capacidade para controlar as emoções;

• Empatia ou reconhecimento das emoções alheias; • Controlo e a boa gestão das relações com os demais.

Os programas de prevenção primária são muito mais eficazes quando ensinam um grupo específico de competências emocionais e sociais (p. ex. controlo de impulsos, controlo da ansiedade, etc.)

3.1.2 PROGRAMAS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS NA ESCOLA

Tal como no domínio da comunicação se assumiu a máxima de que “é impossível não comunicar”, no âmbito das relações entre as pessoas pode-se dizer que “é impossível não ter conflitos”. Portanto, a tarefa prioritária dos EEEF não é eliminar a existência dos conflitos, mas possibilitar a sua resolução adequada e justa dos mesmos.

Um dos métodos mais utilizado para prevenir e resolver a violência nas escolas é a mediação, que consiste num “método pelo qual as duas partes em oposição recorrem voluntariamente a uma terceira pessoa imparcial, o mediador, para chegar a um acordo satisfatório” (Torrego, 2000).

Segundo Bringiotti(2000), existem alguns modelos de mediação que podem ser implementados nos estabelecimentos de ensino, entre os quais os seguintes:

Conselheiros entre Pares (Peer Counsellor): alunos que se voluntariam para ser conselheiros ou mediadores de outros colegas;

Mediadores: um grupo de alunos ou professores especializados em mediação em casos de conflitos;

Mediadores de recreio: um grupo de alunos de cursos superiores supervisiona os recreios e actua como mediadores nos possíveis conflitos. Exemplo> IAC; • Irmão mais velho/Tutores: os alunos de cursos superiores encarregam-se de

ajudar os recém-chegados à escola. Exemplo> Programa escolhas

Uma estratégia na formação de mediadores consistem em dar formação a certos elementos dos EEEF para, em casos de conflito, serem capazes de resolver os problemas. Estes formação é realizada em “cascata”: um especialista externo ao sistema treina especificamente elementos da escola que, por sua vez, treinam outros elementos, e estes, as crianças.

Em geral, os programas de mediação focam os seguintes temas (García y Martínez, 2000):

• Clima da sala de aula;

• Estimulação do pensamento reflexivo e de capacidades de resolução de problemas;

• Estimulação da capacidade para trabalhar em equipa e cooperar.

3.1.3 PROGRAMAS DE PREVENÇÃO DA AGRESSIVIDADE E DA VIOLÊNCIA ENTRE PARES

A mera aplicação de medidas disciplinares revela-se pouco eficaz para combater os problemas de agressividade e violência entre crianças. Este fenómeno requer, para além da adopção de medidas correctivas ou disciplinares proporcionais ao carácter das infracções, a aplicação de estratégias de prevenção centradas nas componentes emocionais, cognitivas e comportamentais das crianças.

Alguns dos factores que aumentam a probabilidade de ocorrerem agressões nas escolas são (Fernández, 1996):

• Elevado número de alunos por turma; • Pouca ou escassa supervisão nos recreios; • Falta de apoio à vítima por parte dos colegas;

• Ausência de normas de convivência, de disciplina ou falta de especificação das mesmas;

jovens entre os 12-16 anos a medidas de Educação para o Direito consignadas na Lei Tutelar Educativa.

• Ausência de canais de comunicação entre professores, alunos e outros elementos; • Falta de coesão e coordenação entre professores;

• Disciplina excessivamente permissiva ou rígida.

Os programas para prevenir a agressividade e a violência entre pares no próprio estabelecimento de ensino, podem não só ser dirigidos à totalidade das crianças escolarizadas, como também às crianças em situação de risco ou perigo.

É importante salientar que na concepção dos programas é imprescíndivel rever o contexto em que ocorrem os conflitos que conduzem à violência.

Vamos apresentar alguns dos principais temas focados em alguns desses programas: • Análise do sistema de crenças de professores, alunos e restante pessoal das

escolas acerca do que é a violência e do que é um comportamento tolerável (Goleman,1995; Fernández, 1995);

• Normas de disciplina em vigor (Goleman,1995; Fernández, 1995), constantes no Regulamento Interno do Agrupamento/Escola, e no Estatuto do Aluno, o grau de conhecimento das mesmas por parte dos alunos e dos profissionais da educação e a consistência da sua aplicação assim como as abrangidas pela Lei Tutelar Educativa. Todas as crianças têm direito à participação em todas as decisões que lhes digam respeito, e a esse propósito é positivo um enquadramento do comportamento das mesmas por regras de construção partilhada, em que os mesmos se revejam, reforçando o seu sentido de responsabilidade;

• Reflexão acerca dos comportamentos desejáveis ou indesejáveis, dos valores da cooperação, etc.

Goleman (1995) e Fernández (1995) consideram que as actividades que utilizam meios audiovisuais (documentais, películas, etc.) facilitam a reflexão e o debate sobre a violência.

3.1.4. PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE

Em contexto escolar, a Educação para a Saúde consiste em dotar as crianças e os jovens de conhecimentos, atitudes e valores que os ajudem a fazer opções e a tomar decisões adequadas à sua saúde e ao seu bem-estar físico, social e mental, bem como a saúde dos que os rodeiam, conferindo-lhes assim um papel interventivo,

Ponto 2.1.2.5 e ponto 2.4.3 www.cnpcjr.pt

Site da DGIDC - educação para a saúde

estimulando um espírito crítico e construtivo verdadeiro pressuposto do exercício de uma cidadania activa. A aquisição destas competências pode também contribuir para a prevenção das situações de perigos consignadas na Lei de Protecção. O desenvolvimento das acções na vertente da Promoção e Educação para a Saúde foi previsto nos termos do Despacho do Senhor Secretário de Estado da Educação, de 27 de Setembro de 2006, que define as áreas prioritárias (que ao clicar, podem consultar), sendo consideradas as seguintes temáticas prioritárias: a) alimentação e actividade física; b) consumo de substâncias psico activas; c) sexualidade; d) infecções sexualmente transmissíveis, designadamente VIH-Sida; e) violência em meio escolar. No quadro da autonomia dos EEE o Projecto Educativo deve ser concebido de acordo com as prioridades identificadas numa colaboração conjunta com os Centros de Saúde e em articulação com as famílias dos alunos. Encontra-se online “Educação para a Saúde em Meio Escolar”, alojada na Plataforma Moodle da DGIDC, de acesso disponível a Estabelecimentos de Educação e Ensino e aos profissionais da educação.

No documento CPCJ Guia Educacao 1 (páginas 89-96)