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UMA FERRAMENTA DE DETECÇÃO: OS INDICADORES DE MAUS TRATOS OU OUTRAS SITUAÇÕES DE PERIGO

No documento CPCJ Guia Educacao 1 (páginas 109-114)

PREVENÇÃO SECUNDÁRIA E TERCIÁRIA INTERVENÇÃO DO EEEF JUNTAMENTE COM OUTRAS ECMIJ

3.4.2 UMA FERRAMENTA DE DETECÇÃO: OS INDICADORES DE MAUS TRATOS OU OUTRAS SITUAÇÕES DE PERIGO

Para se identificar situações de maus tratos ou perigo na infância e na adolescência os profissionais dos estabelecimentos de educação, ensino e formação devem conhecer e ter em atenção determinados indicadores, que podem ser sinais de risco e alerta observáveis nas crianças e suas famílias, quer a nível físico, quer a nível comportamental e social. A observação sistemática da criança tendo como referência estes indicadores permite avaliar melhor a respectiva situação da criança e determinar as formas de actuação que se julguem pertinentes adoptar, sendo que um reconhecimento atempado das dificuldades da relação entre a criança e os pais, pode:

• Auxiliar à definição de uma intervenção atempada a ser desenvolvida junto das famílias e com as crianças, prevenindo-se, assim, o aparecimento de problemas mais graves, como por exemplo, comportamentos de recusa de alimentação, alterações do sono, rejeição à escola, comportamentos agressivos, entre outros;

• Promover o bem-estar e o desenvolvimento equilibrado e global da criança; • Facilitar a sua inclusão.

Existem diversos indicadores de maus tratos que são mais ou menos visíveis conforme o contexto em que se actue. Deste modo, alguns profissionais da educação, pelos locais onde exercem as suas funções, assim como pelos contornos das mesmas, têm maior acesso a certos aspectos da vida das crianças do que outros. Enquanto, nos centros de saúde é mais fácil detectarem-se determinados indicadores físicos, que noutros locais em que, por diversas razões, podem passar despercebidos, nos EEEF, local onde se têm um acesso privilegiado ao quotidiano de aprendizagem das crianças, a diversas formas do seu comportamento individual e social, ao seu rendimento escolar e ao seu processo de inclusão, os indicadores possíveis de ser identificados poderão ser de outra natureza.

Para detectar possíveis situações de maus tratos ou outras situações de perigo, é conveniente partir da variável idade da criança, pois, dependendo da sua etapa

evolutiva/desenvolvimental, os sinais de alerta de perigo existentes podem ser diferentes. A manifestação de uma situação de maus tratos ou perigo será qualitativamente diferente conforme a idade da criança. Uma criança de 5 anos, de acordo com o nível de desenvolvimento cognitivo e sócio-emocional em que se encontra, não terá o mesmo comportamento ou atitude que um jovem de 14 anos, em pleno desenvolvimento da adolescência.

Estas diferenças que se constatam nas crianças podem observar-se em mais pormenor se se tiver em conta os 3 níveis básicos de desenvolvimento: físico, cognitivo e sócio-emocional.

O desenvolvimento físico diz respeito à capacidade da criança responder ao ambiente que a rodeia e inclui o desenvolvimento motor e sensorial.

O desenvolvimento cognitivo refere-se às capacidades intelectuais, incluindo as capacidades de aprendizagem.

O desenvolvimento sócio-emocional depende do estado emocional da criança e inclui aspectos como o auto-conceito e a auto-estima, as capacidades relacionadas com a expressão de sentimentos, as estratégias de resolução de conflitos, entre outras competências pessoais e sociais.

Neste documento, podem estabelecer-se três grupos de indicadores, que mais frequentemente se identificam em cada nível etário.

Em função da natureza do que se observa, os indicadores de maus tratos ou perigo podem ser agrupados nas seguintes QUATRO grandes categorias:

Físicos relativamente à criança

Comportamentais relativamente à criançaAcadémicos relativamente à criança

Comportamentais relativos à atitude da sua família.

No anexo A são apresentados os indicadores de perigo ou “sinais de alerta” mais observáveis no campo dos maus tratos, ou outras situações de perigo, procedendo- se à sua distinção de acordo com os níveis etários.

No anexo B sugere-se um modelo de Ficha de comunicação/sinalização que inclui um Protocolo de Observação para a Detecção da situação de perigo, permitindo A presença de algum destes

indicadores não significa automaticamente a ocorrência de situações de maus-tratos.

Há crianças que apresentam alguns destes indicadores e, no entanto, não sofrem nenhum tipo de maus-tratos. Para efectuar uma primeira avaliação haverá que ter em conta o número de indicadores que a criança apresenta, a frequência com que se manifestam, os contextos em que surgem, a sua gravidade e a sua duração ou eventual cronicidade sendo importante a abordagem do caso/situação com outros profissionais da educação, da saúde e/ou da segurança social.

Artigos 3.º, 5.º, 6.º, 7.º e 8.º da LPCJP

Os indicadores de maus-tratos ou outras situações de perigo, podem referir-se tanto a sinais físicos, comportamentais e académicos das crianças vítimas dessas situações como dizer respeito aos comportamentos e atitudes dos adultos responsáveis pela sua protecção, educação e desenvolvimento.

efectuar uma recolha sistemática dos elementos de observação, a nível da criança, o que facilita uma primeira abordagem e avaliação da situação.

Igualmente no anexo C pode ser consultado um instrumento que tem como objectivo avaliar o nível de perigosidade e de probabilidade de recidiva de uma dada situação.

3.4.2.1 TIPOS DE INDICADORES OBSERVÁVEIS EM CONTEXTO ESCOLAR

a] INDICADORES FÍSICOS DAS CRIANÇAS

Referem-se aos sinais observáveis em qualquer parte do corpo da criança que sejam resultado do comportamento negligente e/ou violento dos pais. Incluem- se nesta categoria as feridas, contusões, fracturas, atrasos de desenvolvimento associados a manifestações físicas como o peso, a altura, a aparência, a higiene, bem como os efeitos resultantes de factos como o não ser proporcionada à criança uma alimentação adequada e suficiente, a escassez ou inexistência de afectos ou carinho, etc.

b] INDICADORES COMPORTAMENTAIS DAS CRIANÇAS

Dizem respeito às reacções comportamentais e/ou emocionais da criança que são consequência, imediata, ou de longo prazo, do stress sofrido na situação de maus tratos, ou outras situações de perigo, como por exemplo as reacções de ansiedade, stress pós-traumático, comportamentos de “bullying”, quer como agressor, quer como vítima ,etc..

Outra consequência dos maus tratos, ou outras situações de perigo, tende a ser uma baixa auto-estima. Frequentemente, as crianças que são maltratadas, ou experienciam outras situações de perigo, recebendo, por exemplo, castigos físicos frequentes, vêem-se a si próprias como “más”, sentindo, por vezes, que merecem ser castigadas. Por vezes, erradamente estas crianças são avaliadas como “hiperactivas” e/ou “problemáticas”. As reacções comportamentais e emocionais podem ser muito díspares: desde a submissão, inibição e apatia,associadas a sentimentos de depressão, até às reacções de agressividade e raiva extremas dirigidas contra si mesmas ou contra terceiros.

c] INDICADORES ACADÉMICOS DAS CRIANÇAS

Por vezes os maus tratos e outras situações de perigo têm consequências directas nos resultados escolares, registando-se mudanças bruscas do rendimento escolar,

Artigo 3.º, ponto 2, alínea f) da LPCJP.

Os problemas de atenção, a sintomatologia depressiva e determinados comportamentos subjacentes a possíveis situações de maus tratos dificultam a adaptação às aprendizagens quotidianas, às tarefas da aula, à socialização da criança favorecendo/promovendo o insucesso escolar e comprometendo a sua inclusão educativa e social.

As crianças vítimas de maus-tratos, ou outras situações de perigo, também podem revelar sucesso escolar, sendo contudo nestas situações a sua área emocional e social as mais afectadas, o que pode ser visível através de sinais comportamentais, nomeadamente, a extrema timidez, o isolamento, a tristeza persistente mas também a agressividade.

e/ou de comportamento, dificuldades de aprendizagem, problemas de atenção e concentração, faltas às aulas, ou falta de interesse e de participação.

As repercussões dos maus tratos no funcionamento cognitivo e sócio-emocional das crianças reflectem-se claramente na realização das tarefas e rotinas que o funcionamento e aprendizagem escolar exigem e consequentemente no seu sucesso escolar e educativo.

d] INDICADORES COMPORTAMENTAIS DOS PAIS

Incidem sobre o comportamento e as atitudes que os pais manifestam em relação à criança, assim como a sua participação na protecção, cuidados e educação da criança.

As crianças que sofrem maus tratos, ou outras situações de perigo, vivem geralmente em ambientes familiares adversos que as impedem de alcançar as metas próprias de cada etapa do desenvolvimento e que lhes dificultam, ou impedem, o desenvolvimento de competências físicas, cognitivas e sócio-emocionais, que lhes permitam uma boa integração educativa e social.

Tendo por base os resultados de diversos estudos, é possível apontar para algumas características que tendem a estar mais presentes nas famílias em que predominam os maus tratos físicos, emocionais e/ou sexuais, comparativamente às familias nas quais se evidencia um mau trato da criança por negligência.

• Assim, por um lado, as crianças que sofrem algum tipo de mau trato, emocional ou físico tendem a desenvolver-se no seio de ambientes familiares caracterizados, entre outros aspectos, por elevados níveis de conflitualidade e de relações instáveis e imprevisíveis, com grande frequência de interacções negativas e um baixo número de intercâmbios positivos.

• Por outro lado, as crianças cujos maus tratos principais consistem em formas de negligência ou abandono tendem a estar em ambientes familiares caracterizados pela baixa responsividade e envolvimento emocional dos pais principais, que pode atingir uma total “despreocupação” em relação às actividades que a criança realiza fora de casa, independentemente do que é esperado para a sua idade.

3.4.2.2 IDENTIFICAÇÃO DE MAUS TRATOS OU OUTRAS SITUAÇÕES DE PERIGO DOS 0 – 6 ANOS

As creches/IPSS e/ou jardins de infância são locais locais privilegiados para a detecção e intervenção celere em situações de maus tratos ou outras situações de perigo que possam ocorrer em crianças dos 0-6 anos.

Devido às características diferenciais destas idades e à sua maior vulnerabilidade é indispensável que os profissionais responsáveis pela intervenção disponham de conhecimentos sobre do desenvolvimento infantil, as necessidades relativas à alimentação, higiene, cuidados básicos, sobre os direitos das crianças e a sua violação – maus tratos - e em especial sobre o Protecção à Infância e Juventude,em tudo o que diga respeito ao diagnóstico e intervenção em situações de maus tratos. Nestas primeiras etapas do desenvolvimento da criança ocorrem uma série de mudanças fundamentais a nível físico e psicológico tornando-as, por isso, mais vulneráveis a qualquer situação que, na sequência de maus tratos ou outras perigos, as possam vitimizar.

Em Anexo A são apresentados os indicadores de perigo ou “sinais de alerta” mais observáveis no campo dos maus tratos, ou outras situações de perigo, procedendo- se à sua distinção de acordo com os níveis etários.

No anexo B sugere-se um modelo de Ficha de comunicação/sinalização que inclui um Protocolo de Observação para a Detecção da situação de perigo, permitindo efectuar uma recolha sistemática dos elementos de observação, a nível da criança, o que facilita uma primeira abordagem e avaliação da situação.

Igualmente em anexo C poderá ser consultado um instrumento que tem como objectivo avaliar o nível de perigosidade e de probabilidade de recidiva de uma dada situação.

3.4.2.3 IDENTIFICAÇÃO DE MAUS TRATOS OU OUTRAS SITUAÇÕES DE PERIGO DOS 6 – 15 ANOS

Durante o ensino básico, dos seis aos quinze anos, ocorrem uma série de importantes mudanças no desenvolvimento físico, cognitivo e emocional das crianças.

• A presença de algum destes indicadores não significa automaticamente a ocorrência de situações de maus-tratos.

• Há crianças que apresentam alguns destes indicadores e, no entanto, não sofrem nenhum tipo de maus- tratos.

• Para efectuar uma primeira avaliação haverá que ter em conta o número de indicadores que a criança apresenta, a frequência com que se manifestam, os contextos em que surgem, a sua gravidade e a sua duração ou eventual cronicidade, sendo importante a abordagem do caso/situação com outros profissionais da educação, da saúde e/ou da segurança social.

O número de casos fatais em crianças vítimas de maus tratos situa-se nas faixas etárias abaixo dos 6 anos sendo indispensável a intervenção atempada em diferentes contextos.

As crianças que sofrem algum tipo de maus-tratos durante este período podem vir a revelar maiores dificuldades de funcionamento cognitivo, atrasos de desenvolvimento global, alterações de desenvolvimento emocional e do comportamento.

Estas mudanças permitem a aquisição de um conjunto de competências e a realização de determinadas tarefas evolutivas, fundamentais neste período para que haja uma adaptação adequada da criança ao ambiente.

As crianças que sofrem algum tipo de maus tratos, ou de outras situações de perigo, podem ter dificuldades em alcançar estas metas evolutivas próprias do seu estádio de desenvolvimento, como por exemplo a assunção de responsabilidades ou a interiorização das normas, podendo apresentar dificuldades académicas e/ou problemas emocionais ou comportamentais.

3.4.2.4 IDENTIFICAÇÃO DE MAUS TRATOS OU OUTRAS SITUAÇÕES DE PERIGO ENTRE OS 15- 18

A adolescência é um período evolutivo que ocorrem uma série de mudanças importantes nas dimensões físicas, cognitivas e sócio-emocionais nomeadamente mudanças corporais, abertura a novas realidades e interesses, maturação das capacidades cognitivas, distanciamento dos modelos parentais. Não deve ser desvalorizado que nestas idades estas mudanças podem conduzir a dificuldades manifestadas através de comportamentos de maior risco, agressivos e provocatórios para com os adultos e/ou pares ou através de outros comportamentos de introversão, como o isolamento ou o retraimento excessivo.

À medida que a idade dos jovens aumenta, a probabilidade de a sua situação ser conhecida pelos serviços sociais e de protecção à infância e juventude é menor. Seguramente isto acontece porque, nestas idades, os jovens possuem uma maior capacidade para se auto-proteger e para enfrentar os problemas.

No documento CPCJ Guia Educacao 1 (páginas 109-114)