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COMPADRES E COMADRES PREFERIDOS DE PALMEIRA Padrinhos, seus títulos ou condição jurídica e a quantidade de afilhados:

3. PADRINHOS E MADRINHAS: HIERARQUIAS DEFININDO TRAJETÓRIAS.

3.1 COMPADRES E COMADRES PREFERIDOS DE PALMEIRA Padrinhos, seus títulos ou condição jurídica e a quantidade de afilhados:

Manoel escravo de Capitão 31 Joaquim Ribeiro da Siva 28 Serafim de Oliveira Ribas 24 Domingos Inácio de Araújo Capitão 21 Manoel da Cruz Carneiro Major 21 Roberto José de Deus 19 Manoel Ferreira dos Santos 19 Prudente Barbosa de Brito 16 Antônio Joaquim de Camargo 16 Francisco escravo de

dona

16 Manoel Teixeira de Freitas 15 Manoel Batista dos Santos 14 Manoel (Soares) do Santos 13 Luciano José de Andrade 13 Teodoro Ferreira Maciel 12 João de Paula Teixeira Tenente 12 Francisco de Paula Pereira 12 Manoel Inácio de Andrade 12 Pedro Ribeiro de Souza 11 Veríssimo Inácio Marcondes 11 José Caetano de Oliveira Alferes 11 Antônio Alexandre Vieira 11 Candido José de Almeida 10 Antônio Teixeira de Freitas 10 Manoel de Paula Teixeira Tenente 10 Ricardo Rodrigues Seixas 9

José Elizeo 9

José Cardoso 9

João Aires de Araújo 9 Francisco de Paula Farias Capitão 9 Joaquim Mateus Branco e Silva Alferes 8 João Mendes de Araújo 8 Henrique escravo de

Alferes 8 Generoso Alexandre Vieira Vigário 8 Francisco Xavier Cintra 8 Benedito Gonçalves 8 Bento escravo de

tenente

8 Ponciano José de Araújo Vigário 7 José Manoel Teixeira 7

Inocêncio Cardoso 7

José Prudêncio Marcondes 7

João Franco 7

Antônio José de Lima 7 Manoel José Moreira 7 Manoel Mendes de Sampaio 7 Joaquim José de Andrade 7

Antônio Cornélio 6

Serafim Gonçalves 6

Ricardo Rodrigues Franca 6 Manoel Martins de Araújo Capitão 6 Manoel José Dias da Costa 6

Malaquias escravo 6

Lucas dos Santos Cordeiro 6 Bento escravo de

capitão

6 José Joaquim de Almeida

Júnior

6 José Francisco de Siqueira 6 José Antônio de Camargo e

Araújo

Padre 6 Joaquim Batista dos Santos 6 João Antônio Coelho 6 Gabriel Narciso Bello 6 Francisco Antônio das Chagas 6 Francisco Antônio Cardoso 6 Francisco Alves da Rocha 6 Venâncio José Ribeiro 6 Prudente José dos Santos 6 Joaquim escravo de

alferes

6 Policarpo Antunes Ferreira 5 Patrício Teixeira de Oliveira

Cardoso 5

Patrício escravo de tenente

5 Oliverio José da Silva 5

Lucas Antônio 5

José Ferreira dos Santos 5 Joaquim dos Santos Belém 5 João Nepomuceno Carneiro 5 João Leite Penteado 5 João José Teixeira 5 Francisco de Paula Guimarães Capitão 5 Francisco das Chagas 5 Antônio Manoel dos Santos 5

Foram listados os homens que tiveram cinco ou mais registros nos assentos batismais. A maioria deles apadrinhou cinco ou seis crianças, mas vemos um grupo menor que reúne muitos afilhados. Esses padrinhos têm condição jurídica e social diversas e alguns escravos também tiveram um papel importante como padrinhos, mas os homens livres representaram não só a maioria entre os padrinhos, mas também tiveram mais afilhados. Esses homens também não costumaram servir de substitutos das madrinhas. Poucos deles tiveram essa participação como segundo padrinho.

Entre os nomes incluídos estão os de pequenos proprietários, pobres e escravos, mas principalmente os formadores da elite palmeirense e seus familiares. Muitos deles ostentam títulos e patentes militares, indicações importantes da proeminência social e política; além dos titulados estão seus filhos, pais, irmãos. Só com esse primeiro olhar sobre o grupo dos maiores padrinhos, já é claramente perceptível a presença de familiares entre esses homens. Acrescentando a essa constatação um quadro semelhante voltado para as madrinhas, o parentesco próximo entre os batizantes bem sucedidos fica ainda mais evidente.

Madrinhas por ordem de vezes em que compareceram a pia batismal:

Nome Marido ou parentesco Nº

Esmeria Manoel escravo Escrava 26

Clara Madalena dos Santos Viúva de Cândido José dos Santos Dona 24 Balbina Maria / Francisca de Siqueira Manoel (Antônio) Ferreira dos Santos Dona 22 Josefa Joaquina (Maria pinheira) de França

(Marcondes)

Domingos Inácio de Araújo Dona 21 Cândida Joaquina de França (Marcondes de Sá) Filha de Domingos (casou com José

Vieira Neves) Dona 20 Mariana de Siqueira Moraes Serafim de Oliveira Ribas Dona 19 Ana Maria do Rosário Joaquim Ribeiro da Silva 16 Joaquina Soares Viúva, mãe de Manoel Soares 13 Rosa Maria de Jesus Teodoro Ferreira Maciel Dona 12 Querubina Rosa Marcondes de Sá José Caetano de Oliveira Dona 11 Ana Joaquina da Trindade (também é Ana

Luciana)

Joaquim dos Santos Leal (e filha de Luciano José de Andrade)

11 Inácia Dias de Olivera Prudente Barbosa de Brito 11 Matildes Umbelina da Gloria Antônio Joaquim de Camargo Dona 11 Ludovina Maria (Narcisa) dos Santos Manoel Inácio de Andrade 10 Francisca Caetana de Oliveira Manoel da Cruz Carneiro Dona 10 Inácia dos Santos (Belém) Francisco das Chagas 9 Zeferina (Maria) Nuncia de Almeida Irmã de Cândido José dos Santos e

Almeida

Dona 9 Maria Matildes de Souza Lucas dos Santos Cordeiro 9 Ana Placidina dos Passos (dos Santos) Francisco Gonçalves de Castro 8 Barbara Serena de Siqueira Pedro Ribeiro de Souza 8 Emereciana Maria da Conceição Roberto José de Deus 8 Isabel Caetana (Marcondes) de Franca Antonio Joaquim de Oliveira Dona 8 Isabel da Costa Buena José Elizeo de Jesus 8

Maria Cipriana de Souza Francisco Antônio das Chagas 8

Maria do Carmo José Antônio de Góes 8

Rita Maria das Neves viúva Dona 8

Umbelina de Paula (Teixeira) Cardoso José Cardoso Pais Dona 8

Ursula Maria Benedito Gonçalves 8

Maria (supondo que é sempre a mesma Maria) Bento escrava 7 Maria Aurea de Araújo Filha de Lourenço Justiniano 7 Maria Ferreira Ricardo Rodrigues Seixas 7 Maria Joaquina dos Santos José Gonçalves de Almeida 7 Maria Roberta do Espírito Santo Filha de Roberto José de Deus 7 Rita Maria do Nascimento Sogra de Domingos Inácio de Araújo Dona 7 Rosa Carmela da Candelária José Manoel Teixeira 7 Francisca Clara da Conceição Luciano José de Andrade 7 Maria Possidonia (Carneira) Teixeira João de Paula Teixeira 7 Rufina Antônia de Sá Prudente José dos Santos 7 Maria Pires (solteira) Filha de Manoel Gaspar 6 Ana Maria de Almeida (da conceição) Filha de Antônio Joaquim de Camargo Dona 6 Francisca Batista dos Santos Filha de Manoel Jose Teixeira 6 Jesuína Maria (Carolina) de Andrade Filha de Antônio Pereira de Andrade 6 Joana Maria Francisco Alves (da Rocha) 6 Joana Maria dos Santos Manoel Manso de Araújo 6 Joaquina Maria da Silva Venâncio José Ribeiro 6

Maria da Cruz solteira 6

Mara da Luz Filha de Joaquim Ribeiro da Silva 6

Maria Pires Filha de Manoel Gaspar 6

Ana Maria do Carmo Manoel Gaspar da Cruz 6

Rosa Maria Rodrigues 6

Alexandrina Maria de Oliveira João Antônio Coelho 5 Antonina Rita Maria (de Oliveira) Patrício Teixeira de Oliveira (Cardoso) 5 Apolinária da Rocha Irmã de José Elizeo de Jesus 5

Berbiana Maria da Silva 5

Maria escrava 5

Maria das Dores (Branca e Silva) Joaquim Mateus Branco e Silva 5 Maria Polucena de Araújo Filha de João Mendes de Araújo 5

Senhorinha Luiza da Silva solteira 5

Senhorinha Maria de Araújo Antônio José de Lima 5 Ursula Maria de Jesus Manoel José Moreira 5 Zeferina Marcondes de Oliveira Antônio de Sá Carneiro 5 Fonte: Assentos de batismos da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Palmeira. Livros 2 e 3.

Essas mulheres, assim como no quadro de padrinhos, tiveram ao menos cinco afilhados. Para facilitar a associação delas à família, foram indicados seus maridos ou seus pais e irmãos além do único título que as mulheres tinham que demonstrava o poder de sua família, o de dona.

A grande quantidade de homônimos afetou muito mais a identificação das madrinhas que dos padrinhos, além dos muitos nomes iguais ou parecidos, sobre os quais não é possível ter certeza quanto a quem pertencem, há muita variação de nomes para algumas mulheres. Ana Pinheira, por exemplo, foi um nome muito comum, que por isso ficou de fora da listagem. Se fosse referente a uma pessoa apenas, a tal Ana Pinheira estaria entre as principais madrinhas da freguesia, entretanto, várias mulheres atenderam por esse nome em algum momento. O caso de nomes que se modificam com o passar do tempo mas identificam um só pessoa também atrapalhariam a precisão da avaliação. Dona

Josefa Joaquina de França é uma dessas mulheres. Teve uma variedade de nomes, mas por estar sempre vinculada ao nome do marido foi possível identificar todas as variações sem risco. Por vezes apareceu como Maria Joaquina, foi acrescentado ao seu sobrenome o Marcondes e o Sá, e até o nome Maria Pinheira é usado em um dos assentos pela dona. Alguns dos nomes que mais se repetem são Cândida, Maria, Ana, Joaquina e sem uma indicação de parentesco, seja o sobrenome, seja o apontamento do marido ou do pai, é impossível saber de quem se trata.

Por essas complicações que ocorreram principalmente na identificação das madrinhas, e sabendo que o interesse maior desse levantamento é a identificação de parentesco entre padrinhos e madrinhas, no caso de dúvida foram incluídas na contabilização apenas os registros em que havia a indicação do cônjuge ou de algum familiar. Desse modo, é possível que a quantidade de batismos de cada um desses homens, e principalmente de cada mulher que serviu de madrinha, seja maior que o apurado.

Analisando conjuntamente as duas listas, a presença de famílias é uma impressão forte. Olhando principalmente para as famílias nucleares, vemos casais, irmãos, pais e filhos que batizaram muito em conjunto, além disso, numa visão mais distanciada sabemos que muitos desses núcleos familiares têm parentesco entre si. Por isso, em vez do acompanhamento de trajetórias parciais dos indivíduos que mais se destacaram, veremos a atuação de suas famílias, tendo em vista que, como defendem Hameister e Fragoso, o compadrio une famílias ou casas, não se restringe aos indivíduos. 97

Os padrinhos mais atuantes do período em Palmeira foram Manoel e Esmeria, escravos casados de Domingos Inácio de Araújo, mas esse é um caso que terá atenção especial posteriormente. Logo em seguida aparece dona Clara Madalena dos Santos, viúva e proprietária de muitos escravos. Ela é comadre tanto de casais de boa situação econômica e social, quanto de escravas e agregadas, além de mães solteiras. No entanto não batiza os filhos de suas escravas corroborando a observação feita por Gudeman e Schwartz. A viúva parece ser uma boa opção de madrinha entre diversos tipos de famílias. Outra viúva que teve muitos afilhados foi dona Joaquina Soares. Era ainda jovem e não contava com escravos, apenas com os três filhos, junto aos quais

97 Ibdem; FRAGOSO, João. "Fidalgos e parentes de pretos: notas sobre a nobreza principal da terra do Rio de Janeiro (1600-1750)". In: FRAGOSO, João, SAMPAIO, Antônio C. J. de & ANASTASIA, Carla M. J. Conquistadores e Negociantes: história de elites no Antigo Regime nos trópicos. América lusa,

desenvolvia a atividade de lavra e a pequena produção agrícola. Batizou dois escravos, uma criança exposta e livres legítimos.98

Já entre os senhores de escravos e suas famílias, vários deles aparecem recorrentemente nos assentos batismais, como pais dos batizandos e principalmente como padrinhos. Serafim de Oliveira Ribas teve 24 afilhados, contando o assento em que ele foi registrado como o segundo padrinho. Era casado com Dona Mariana de Siqueira e Morais que foi madrinha de 19 pessoas. Entre os filhos, Joaquim Mariano de Sá Ribas também chega a participar de batismos, mas provavelmente por sua pouca idade não esteve entre os mais bem colocados. A família era muito importante na região, normalmente o casal nuclear participou junto dos batizados e eles eram tanto de filhos da elite quanto pessoas pobres e escravos. Alguns dos compadres eram de outras regiões, como Vacaria e Sorocaba. Em um dos assentos, o padre declara ignorar o nome da madrinha. Essa demonstração de indiferença quanto à madrinha, apesar de ter acontecido apenas uma vez, é também uma mostra da importância do padrinho.99

Manoel Ferreira dos Santos e Balbina de Siqueira formavam um jovem casal no início desse período. Em 1835 ele tinha 36 anos, e ela 28. Mesmo assim já tinham cinco escravos, uma criação de animais em Guarapuava e uma renda considerável. Não tinham filhos. Era uma família de pequeno porte, mas não tão incomum, já que a própria freguesia ainda estava crescendo e se consolidando. Além disso, já se apresentava próspera e certamente buscava aumentar o status social além do fator econômico, o compadrio era uma boa maneira. O casal não batizou os filhos de grandes fazendeiros, mas pessoas de famílias menos importantes provavelmente de situação econômica parecida com a sua. Além desses, apadrinharam um escravo africano pertencente a José Siqueira Cortes, da família de Balbina, uma criança exposta em uma casa da vizinhança e dois filhos de mulheres solteiras. O casal claramente buscava nos laços com pessoas de posição inferior o aumento de seu prestígio na comunidade.100 Roberto José de Deus, também era um proprietário de terra com três escravos, apenas Esperança e seus dois filhos. Os familiares não participaram muito dos batismos, apenas a esposa Emerenciana e a filha mais velha, mesmo assim elas não apadrinharam muitas pessoas. No entanto, o chefe da casa é muito presente nos assentos de batismo. A renda que declarou na lista de habitantes é média, mas ele tinha uma criação e plantio

98 Arquivo do Estado de São Paulo. Listas de habitantes da freguesia de Nossa Senhora da Conceição da

Palmeira, 1835.

99 Ibdem. 100 Ibdem.

diversificado. Como negociante de tropas de animais, criador e agricultor, contava com uma produção variada naquele momento101. Seus filhos ainda eram novos (11 filhos, a mais velha tinha 17 anos), mas certamente representavam a força de trabalho necessária à continuidade de seus negócios, mesmo que não fossem um símbolo de poder como por vezes eram os escravos. Não batizou membros da elite, apesar de ter muitos afilhados de famílias em boa situação. Por outro lado batizou um escravo de Teodoro Ferreira Maciel, outro indivíduo de destaque que inclusive foi um dos poucos que batizou o próprio escravo.102

A família de Domingos Inácio de Araújo foi uma das mais participativas nos assentos batismais. Por ser reconhecida com facilidade, assumiu maior importância para essa pesquisa, logo saltando aos olhos, mas com um exame mais atento ela continuou a se destacar entre a teia de compadrios de Palmeira. As famílias do capitão e de sua esposa dona Josefa Joaquina de França estiveram entre as fundadoras da freguesia e proprietárias iniciais daquelas terras. Domingos desenvolveu suas atividades econômicas tanto investindo em terras e criações quanto no tráfico ilegal de africanos, do qual era um dos principais participantes. 103

Não só o próprio chefe do domicílio, mas sua esposa e as suas filhas Cândida e Isabel, além dos filhos Veríssimo, José Prudêncio, Antônio Cornélio e Francisco, foram padrinhos e madrinhas de muitos palmeirenses. A formação do conjunto padrinho- madrinha, e por vezes padrinho-padrinho, normalmente reunia integrantes dessa família. Domingos e dona Joaquina sempre apareceram mais que os outros, mas Veríssimo e Cândida também batizaram juntos muitas vezes. Além desse núcleo, os genros e a sogra, também participam dessas configurações. Chega-se logo a Joaquim Mateus Branco e Silva e a Antônio Joaquim de Camargo, um genro do Capitão Domingos de Oliveira e outro bem próximo à família. Além dele, Manoel da Cruz Carneiro, irmão de dona Joaquina, foi um dos padrinhos que mais batizou membros da elite, sempre ao lado de madrinhas de “boas famílias”.

Antônio Joaquim de Camargo, natural de Sorocaba, era proprietário de muitos escravos africanos, mulheres crioulas e crianças. Apesar de não declarar nenhuma renda ou ocupação, tinha uma criação de animais de porte respeitável para os padrões dos campos

101 Na lista de habitantes de 1835, aparece como negociante de tropa solta, criador e lavrador, além de declarar ter rebanho de carneiros, suínos, além de 8 vacas e 15 cavalares. Também plantou feijão, milho e congonha (erva mate). Ibdem.

102 Ibdem.

103 LIMA, Carlos A. M. Tráfico Ilegal para a Fronteira Agrária: Domingos Inácio de Araújo (1830-

Gerais. Não ostentava nenhuma patente militar, mas era respeitado e um dos principais chefes de família da região. Ele e a esposa dona Matildes Umbelina da Glória batizaram muitos filhos de pessoas da elite palmeirense, como de Teodoro Ferreira Maciel, Francisco de Paula Teixeira, Domingos Inácio de Araújo, Felisberto de Oliveira Ribas. Além disso, batizou Cândido, um “bugre de Guarapuava” e Rufina, filha de Manoel e Esmeria, os maiores padrinhos da freguesia.104

Essas pessoas alcançaram todos os tipos de batizandos, mas foram alguns dos poucos que serviram de padrinhos para as crianças nascidas nas tradicionais famílias da elite. Mas não foram apenas as famílias poderosas que tiveram destaque como padrinhos. Alguns indivíduos e famílias se dedicaram a apadrinhar pessoas pobres ou de poucas posses, escravos e pardos livres.

Um dos casos mais interessantes é o de Joaquim Ribeiro da Silva e Ana Maria do Rosário. O casal de pardos livres teve uma participação nos assentos mais expressiva que as famílias citadas acima, e por vezes uma filha do casal também foi madrinha. A ocupação que Joaquim declarou na lista de habitantes foi de mestre de música de seus filhos. Aparentemente a família não tinha muitos recursos em terras ou escravos, mas Joaquim e o filho mais velho, José, sabiam ler e escrever. Podia ser uma família com renda pequena, mas eles tinham alguma instrução e um domicílio próprio; posição bastante confortável para pardos livres. Apesar de batizarem alguns escravos, inclusive africanos, Joaquim e Ana Maria batizaram muitas pessoas livres possivelmente de situação econômica igual ou inferior a sua. Prudente Barbosa de Brito, marido de Inácia Dias de Oliveira também foram padrinhos mais ligados à base da população.105

Alguns padres também tomam lugar de padrinhos. No caso de José Antônio de Camargo e Araújo e Ponciano José de Araújo, os registros dão a entender que os batismos nos quais serviram de padrinhos foram ministrados por vigários encomendados de outras regiões. Mas o padre Generoso Alexandre Vieira chegou a fazer o registro dos batismos nos quais foi padrinho, escrevendo a frase “eu mesmo” no lugar reservado ao batizante. Este foi o padre da freguesia por um longo período e batizou oito pessoas. O Concílio de Trento e as constituições primeiras do arcebispado da Bahia determinavam que padres e eclesiásticos em geral não poderiam ser padrinhos, mesmo assim vemos essas ocorrências se repetirem em Palmeira. Além disso, um

104 Arquivo do Estado de São Paulo. Listas de habitantes da freguesia de Nossa Senhora da Conceição da

Palmeira, 1835.

agregado do padre, que inclusive ganhou seu nome, Alexandre Vieira, batizou onze pessoas.106 Ele poderia ser um representante do padre, carregando uma “herança social” tal qual as famílias de fazendeiros.

Percebemos entre muitas dessas famílias o parentesco pelo casamento, e esse vínculo é acrescido do compadrio entre dependentes, mesmo os escravos. A elite tentava manter o patrimônio intacto, preservar as propriedades e perpetuá-las através dos filhos, passando pelo casamento partes que acabariam entre famílias já aparentadas por ancestrais comuns, ou que adentraram nessa elite pelo enriquecimento. 107 Os escravos não eram sempre batizados pelo topo da pirâmide, mas muitas vezes por seus dependentes já que manter esse tipo de laço, direta ou indiretamente, era importante também para a elite.108 Entre os escravos ela trazia suas vantagens, mas o vínculo horizontal tinha a força da solidariedade e do cotidiano. Por isso, alguns os padrinhos e madrinhas mais ativos eram escravos ou pardos livres.

João Fragoso detectou algumas relações parecidas, assim como as disputas entre famílias da elite. Esses fidalgos, como chama Fragoso tratando de um contexto colonial, tinham suas diferenças principalmente na disputa do poder político, mas também tinham seus aliados nesse sentido. Por isso, manter vínculos tanto horizontais quanto verticais era importante, fazia parte do processo de manter apoio, preservar a casa. O autor entende o compadrio, ao menos nos casos analisados, como relações entre o que define como casas, ou seja, famílias, com seus agregados e escravos, que representam a família principal mesmo que indiretamente.109

Martha Hameister também utiliza o conceito de casas para analisar as relações de compadrio, e compreende ainda que entre os compadres existia uma noção de troca, de dádiva. Os pais oferecem aos padrinhos um parentesco espiritual, não só com o