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3 A COBERTURA DOS JORNAIS FOLHA DE SÃO PAULO E O GLOBO

3.2 Análise da Cobertura

3.2.3 Comparação e Conclusão

Tabela 1

Matérias com características de Jornalismo para a Paz e de Jornalismo de Violência na Folha de São Paulo e no O Globo nas três fases pesquisadas

O Globo Folha de São Paulo

Jornal. para a PAZ Jornal. de Violência Jornal. para a PAZ Jornal. de Violência

matérias % matérias % matérias % matérias % Violência e Contexto 34 55,74% 27 44,26% 122 65,95% 63 34,05% Maniqueísmo e Pluralidade 35 57,38% 26 42,62% 133 71,89% 52 28,11% Fontes Oficiais e F. Oficiais e Não- Oficiais 29 47,54% 32 52,46% 106 57,30% 79 42,70% FASE 01 Sem Solução e Com Solução 9 14,75% 52 85,25% 12 6,49% 173 93,51% Violência e Contexto 21 60,00% 14 40,00% 78 67,83% 37 32,17% Maniqueísmo e Pluralidade 25 71,43% 10 28,57% 94 81,74% 21 18,26% Fontes Oficiais e F. Oficiais e Não- Oficiais 20 57,14% 15 42,86% 47 40,87% 68 59,13% FASE 02 Sem Solução e Com Solução 5 14,29% 30 85,71% 13 11,30% 102 88,70% Violência e Contexto 39 70,91% 16 29,09% 84 75,00% 28 25,00% Maniqueísmo e Pluralidade 39 70,91% 16 29,09% 85 75,89% 27 24,11% Fontes Oficiais e F. Oficiais e Não-Oficiais 24 43,64% 31 56,36% 50 44,64% 62 55,36% FASE 03 Sem Solução e Solução 11 20,00% 44 80,00% 11 9,82% 101 90,18% Violência e Contexto 94 62,25% 57 37,75% 284 68,93% 128 31,07% Maniqueísmo e Pluralidade 99 65,56% 52 34,44% 312 75,73% 100 24,27% Fontes Oficiais e F. Oficiais e Não-Oficiais 73 48,34% 78 51,66% 203 49,27% 209 50,73% TOTAL Sem Solução e Com Solução 25 16,56% 126 83,44% 36 8,74% 376 91,26%

Na cobertura realizada pelos jornais Folha de São Paulo e O Globo, encontramos muitas semelhanças não só nos dados obtidos, mas também na postura adotada pelos veículos.

A categoria Destaque do Contexto do Conflito dos fatos foi predominante nos dois veículos, sendo uma característica do Jornalismo para a Paz, apesar de a maioria das matérias, identificadas com esta categoria, ficarem restritas em contextualizar “quem jogou a primeira pedra” e em não explorar a formação do conflito- pensando em conflito sobre a concepção de Galtung, que não reside na violência física e direta, mas nas diferenças de interesses, objetivos, necessidades de um povo, grupo ou nação.

Um ponto relevante para a corrente do Jornalismo para a Paz é a utilização de fontes oficiais e não-oficiais. Isto demonstraria um jornalismo democrático, imparcial e investigativo. “Dar voz aos sem voz” este é um dos nortes para a construção de um Jornalismo para a Paz. Vê-se que isto aconteceu em parte. Entretanto, diferentemente das categorias anteriores, houve certa tendência a aparecer mais indícios de Jornalismo de Violência. Os dados mostraram que se chegou a cerca de 50% das matérias, nos dois veículos que utilizavam somente fontes oficiais.

O Jornalismo para a Paz tenta evitar a demonização de um lado e a vitimização do outro, relatando as diversas partes envolvidas, seus prós e contras. Procura humanizá-las, mostrando todos os aspectos: ações positivas negativas, defeitos, qualidades, fraquezas e forças. No Brasil, o dualismo- maniqueísta pode ser atribuído a matérias que registram os fatos com dois atores, tais como em São Paulo - o PCC, de um lado, e a Polícia e/ou governo, de outro -, e, no Rio de Janeiro - o Comando Vermelho versus a Polícia e/ou governo. Entretanto observou-se, nas categorias Pluralidade e Maniqueísmo, a predominância de matérias plurais nos dois jornais, apresentando não só a violência oriunda da criminalidade, mas também a truculência e a ilegalidade institucionalizada.

Nas categorias “Abordagem de Soluções Não-Violentas” ou “Não- Abordagem da Resolução do Conflito” novamente vemos grande proximidade nos resultados da análise dos dois jornais. Não se pode dizer que houve matérias “pró-ativas”, ou seja, que buscassem prevenir a ocorrência de mais violência.

Além disso, poucas apresentaram alternativas para resolução pacífica do problema.

Outro ponto observado neste estudo é o uso, freqüente, pelos veículos de comunicação da Cartola como forma de fazer o enquadramento temático da matéria, bem como de sinalizar ao leitor sobre o assunto que será abordado. Na Folha de São Paulo, a cartola chamou-se Guerra Urbana e, no O Globo, Guerra no Rio, ambas demarcavam a ênfase na violência dos fatos, utilizando a palavra guerra.

Ferreira (1986, p. 877) e Houassis (2007) definem “guerra” como luta armada entre nações e partidos de uma mesma nacionalidade ou etnias diferentes, com o fim de impor supremacia ou salvaguardar interesses materiais ou ideológicos. Para Galtung, como vimos no capítulo I, guerra é um tipo de violência, sendo o conceito de violência mais abrangente. Agora, no imaginário nacional, pensar em guerra significa pensar em uma situação de extrema violência, até porque, oficialmente, a guerra não faz parte da realidade do país.

Salienta-se também as diferentes abordagens realizadas pelos veículos Verificou-se o uso de distintas expressões para qualificar o integrante do crime organizado. A Folha de São Paulo utiliza o termo criminoso, conforme demonstra o trecho da matéria publicada no dia 08 de agosto: “Na ação mais ousada, na Vila Prudente (zona leste), “criminosos” jogaram um carro contra uma agência do Unibanco (...) (GALLO, Ricardo, 2006). Ver Anexo A.

O termo “criminoso” para Houassis (2007) significa: aquele que infringiu por ação ou omissão o código penal, cometendo crime; delinqüente, semelhante ao que é definido por Ferreira (1986, p. 877).

O jornal O Globo, a seu modo, utiliza o termo “bandido” para se referir ao integrante do crime organizado, como exposto no título da matéria publicada no dia nove de maio: “Bandidos com táticas militares”. O texto segue: “Nessas conversas, pode-se perceber que os bandidos estão divididos por setores numerados” (GOULART, 2007, p. 18). Ver anexo B.

“Bandido”, para Ferreira, é sinônimo de salteador, malfeitor, facínora, bandoleiro ou ainda pessoa sem caráter, de maus sentimentos. Para Houassis(2007) é um indivíduo que “pratica atividades criminosas; assaltante, bandoleiro; derivação por extensão de sentido de pessoa sem caráter, de maus

sentimentos; cruel, que faz sofrer, infeliz ou ainda que ou aquele que infringiu por ação ou omissão o código penal, cometendo crime; delinqüente, réu”.

Ao analisarmos os dois termos, vemos claramente que, o primeiro, “criminoso” faz a opção pela denominação mais objetiva, sem a análise de valores sobre o indivíduo, enquanto a expressão “bandido” possui conotação mais pejorativa, estigmatiza e não só qualifica quem praticou o crime, mas também é maniqueísta, caracterizando-o como um malfeitor, um indivíduo de má índole. Logo, a palavra “bandido” pode ser considerada extremamente subjetiva, pois não só denomina, mas julga e rotula, sendo uma característica típica do

Jornalismo de Violência o qual “demoniza” uma das partes.

Outra denominação utilizada pelo O Globo foi “bando”. Pode-se supor que o uso deste termo partiu de uma orientação da empresa. Ao relacionarmos com a cobertura realizada pelas redes de televisão no episódio dos ataques do PCC, vemos a definição pública de mudança de tratamento da organização. Na matéria “após acusação de exagero, TV adota tom light”, publicada pela Folha de São Paulo, fica explicitado que diversas TVs, entre elas a Rede Globo, fizeram alterações no tratamento do evento, como afirma o texto que segue: “Na Globo, o PCC foi rebaixado de facção criminosa para quadrilha. A determinação veio em um comunicado da direção de jornalismo (...) usar facção criminosa não é proibido, mas deve-se dar preferência à “quadrilha” ou a “bando” (CASTRO; MATTOS, 2007). Ver Anexo A. Constatou-se que esta postura foi adotada em fatos de violência semelhante envolvendo o crime organizado.