• Nenhum resultado encontrado

1.5 A Opção pelo Jornalismo para a Paz no Mundo

1.5.1 O Jornalismo Preventivo na Espanha

O Jornalismo Preventivo é um termo utilizado entre pesquisadores da Espanha e constitui-se numa variação do Jornalismo para a Paz que pretende ser mais abrangente. O debate sobre o tema partiu da “inquietude por ofrecer algo útil, diferente y concreto desde el ámbito de la información respecto a la prevención de conflictos armados y diversos tipos de crisis”, lembra Fraguas9 (2004, p. 7). O conceito resultou do curso de especialização em Informação Internacional da Universidade Complutense de Madrid que iniciou em 1995 e, desde então, formou inúmeros docentes, profissionais de comunicação e de Ciências Sociais.

No meio acadêmico, podemos citar dois trabalhos que foram pioneiros no estudo sobre Jornalismo Preventivo na Espanha, ambos produzidos naquele curso. O primeiro foi de Yolanda Martinez, concluído em 2001, denominado

Periodismo Preventivo. Neste trabalho, foi analisado o que pode ser desenvolvido

nos meios de comunicação como construtores da paz. O segundo, de Irene

Maseo, denomina-se Periodismo Preventivo. Los medios de comunicación en la

prevención y resolución de conflictos armados, é abordado o Jornalismo Preventivo e o papel dos meios como construtores da paz, tendo como estudo de

caso a Rádio Ijanbo, emissora que contribuiu para a pacificação da região africana dos Grandes Lagos, no pós-guerra dos anos 90.

A partir desse efervescente debate e com o apoio da referida Universidade, houve a criação do Instituto de Periodismo Preventivo y Análisis Internacional10- IPPAI, hoje um dos principais fomentadores desta corrente jornalística na Espanha. Este Instituto busca fomentar a consolidação do jornalismo preventivo na Espanha e no mundo; proporcionar informação de qualidade e análise rigorosa, favorecendo a resolução dos conflitos armados e das crises internacionais; promover a existência de espaços dentro dos meios de comunicação e na criação de meios específicos; promover uma atitude consciente e crítica sobre os conflitos armados e as crises internacionais, entre outros. (IPPAI, 2007)

O Instituto possui uma revista eletrônica criada em 2007, Revista do Periodismo Preventivo (http://www.ippai.info). A revista propõe fazer um resgate do jornalismo cívico, também conhecido como jornalismo público, surgido nos anos 80, nos Estados Unidos. O objetivo é motivar as pessoas a participar na resolução dos problemas da sociedade. Ele contribuiu com o aumento da credibilidade dos meios de comunicação.

Na revista, existem reportagens críticas e investigativas de diversos continentes, além de entrevistas e análises de especialistas sobre situações de crise no mundo. Além disto, oportuniza aos leitores participarem da seleção e elaboração dos conteúdos.

Um bom exemplo de Jornalismo Preventivo, produzido pela revista, foi uma grande reportagem feita por Ricardo Cana. O jornalista fez um trabalho mostrando a realidade do sistema penal na América Latina, com dados sobre inúmeras rebeliões, assassinatos, e como as más condições de vida, as lutas internas, as corrupções no sistema carcerário transformam os locais em bombas prestes a explodir. É destacado na matéria:

10 O IPPAI foi criado em 2003, em Madri, formado por jornalistas, analistas internacionais e pessoas vinculadas à universidade. Atualmente, há subsedes em Paris, Roma, México, Londres, Berlim, Moscou, Guatemala e Basilea.

(...) la principal causa de muerte en América Latina, una razón que ha hecho que muchos expertos la cataloguen como una ‘epidemia’, que afecta, sobre todo, a personas de entre 15 y 45 años. Esta violencia, provocada principalmente por la gran desigualdad social y económica que existe en la región, se reproduce y se retroalimenta en las cárceles gracias a la crisis del sistema judicial y policial (CANA, 2007).

Na abertura da segunda parte da reportagem diz que “El espejo que refleja la violencia del sistema. Los contínuos distúrbios em las cárceres de América Latina dejan anualmente cientos de muertos”, o jornalista fala sobre o caso brasileiro, mais especificamente a força nas ruas e nos presídios do crime organizado encabeçado em São Paulo pelo Primeiro Comando da Capital - PCC.

Este aislamiento entre los reclusos y el sistema significa al mismo tiempo la pérdida del control de las prisiones, que pasa a ser ejercido por grupos vinculados al crimen organizado, como se pudo comprobar en Sao Paulo, con el Primer Comando Capital (PCC). Según nos relata Víctor García Guerrero, corresponsal en Brasil de Radio Televisión Española, este grupo “tiene relación con el 80% de presos de Sao Paulo”, lo que explica en gran parte cómo pudo coordinar una acción simultánea a gran escala para protestar contra el traslado de varios de sus jefes a distintas prisiones (CANA, 2007).

De acordo com Fraguas (2004, p.6), Jornalismo Preventivo não é o mesmo que Jornalismo para a Paz, tendo em vista que, segundo o autor, o Preventivo é mais amplo que o Jornalismo para a Paz e que, portanto, este faria parte do

Preventivo.

(...)el periodismo preventivo pretende ser una disciplina o corriente periodística cuya intención es dotar a la opinión pública nacional e internacional de elementos informativos que sean útiles para comprender el origen, desarrollo y finalización de las situaciones clave, destacando los esfuerzos para sua resolución,(...)prevención (...) a partir de la información realizada antes, durante y después del acontecimiento.

Além dos conflitos armados, são situações-chaves e objeto de trabalho para o Jornalismo Preventivo as crises institucionais, as crises sociais, as crises humanitárias, as crises de direitos humanos e as crises ambientais. Para Fraguas esta divisão explicita as diferenças com o Jornalismo para a Paz, pois amplia as questões de abordagem:

(...) si no se tratan los cinco tipos de crisis propuestos, no se comprende la complejidad del estallido de un conflicto armado, ya que frecuentemente es una combinación de estas crisis la que antecede y precede a dichos conflictos armados.

No jornalismo preventivo, busca-se antecipar o problema, o conflito, a violência, para evitar que este aconteça e, depois do conflito, atue na pacificação; no Jornalismo para a Paz, de forma semelhante, Galtung aponta a necessidade

de o jornalista ser pró-ativo, buscando contribuir com a não-ocorrência de novas situações de violência. No pós-guerra, ele afirma que o jornalista de paz deve contribuir na resolução, reconstrução e reconciliação. Estes pontos novamente assemelham-se com o jornalismo preventivo.

Fica claro, neste trabalho, que as diferenças entre o Jornalismo para a Paz e o Preventivo são tênues ou complementares. Podemos dizer que ambos propõem um jornalismo que contribua para a construção da paz e não das guerras, conflitos armados ou qualquer outro tipo de violência como a que analisaremos: o conflito urbano, envolvendo o crime organizado.