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COMPATIBILIDADE DA ANTECIPAÇÃO DA TUTELA COM O RITO

Atos Judiciais Não Sujeitos à Ação Rescisória

3.1. Da redação do artigo 486 do Código de Processo Civil. 3.2. Dos artigos 486 e 485 do Código de Processo Civil. 3.3. Prazo para propositura e efeitos da ação anulatória.

3.1 Da redação do artigo 486 do Código de Processo Civil

O artigo 485 do Código de Processo Civil prevê que apenas a sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser objeto de ação rescisória. Por conseguinte, sentenças que não forem de mérito ou atos que não dependerem de sentença possuem tratamento diverso, quando viciados, conforme estabelece o artigo 486 do Código de Processo Civil:

Art. 486. Os atos judiciais, que não dependem de sentença, ou em que esta for meramente homologatória, podem ser rescindidos, como os atos jurídicos em geral, nos termos da lei civil.

Referido dispositivo dispõe sobre a anulação de “ato judicial” praticado pelas partes em juízo, dependente ou não de sentença homologatória85, em que o remédio jurídico cabível exercitável é a ação anulatória.

A inserção do artigo 486 do CPC no Capítulo relativo à ação rescisória parece inadequada, ao tempo em que parece justificar-se tal inclusão, por motivos finalísticos, conforme entendimento de Berenice Magri.

A ação anulatória de ato judicial vem disposta, impropriamente, no Título IX do CPC de 1973, que trata ‘Do Processo nos Tribunais’, especificamente no Capítulo IV, ‘Da Ação Rescisória’. E isso porque, na verdade, a ação anulatória do art. 486 do CPC em nada diz respeito à ação rescisória, nem ao processo nos tribunais

85

MAGRI, Berenice Soubhie Nogueira. Ação anulatória: art. 486 do CPC. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1999. p. 41.

[…]. No entanto, embora ação anulatória seja distinta da ação rescisória, é certo que a ela se assemelha, por se tratar de uma das formas de impugnação da sentença, indiretamente, não obstante a finalidade da ação anulatória seja atacar o próprio ato (‘judicial’) homologado por sentença. Foi inserida no capítulo de ação rescisória porque o fim prático à ação anulatória é o mesmo da ação rescisória, ou seja, impugnar a sentença mesmo que reflexamente por meio da desconstituição do ‘ato judicial’. 86

O referido artigo se apresenta tecnicamente inadequado, por conta da utilização dos três termos “atos judiciais”, “rescindidos” e “nos termos da lei civil”, em repetição ao parágrafo único do artigo 800 do Código de 1939.

O termo ‘atos judiciais’ empregado no dispositivo tem o significado de ‘atos processuais’, todos os atos que se destinam a movimentar o processo ou que formam o processo, que são realizados em juízo.

Chamam-se atos judiciais porque são realizados em juízo, mas na verdade a lei processual refere-se a atos das partes, porque o ato praticado por órgão judicial não é atacável pela ação anulatória do art. 486 do Código de Processo Civil.87

No caso do artigo 486 do CPC, tais atos têm que ser realizados pelas partes. São atos das partes, em juízo, que envolvem declarações de vontade das partes, sejam unilaterais ou bilaterais. 88

A classificação dos atos processuais mais didática, adotada por processualistas, divide-os em ‘atos das partes’ e ‘atos do juiz’. Os ‘atos das partes’ podem ser

postulatórios, dispositivos, instrutórios e reais. São exemplos de atos postulatórios as

petições e os requerimentos. Os atos dispositivos são declarações de vontades pelas quais as partes dispõem de seus direitos processuais, como a transação e a desistência de recurso ou de ação. Como exemplos de atos instrutórios, podem ser citados alegações e fatos probatórios. Os atos reais ou atos res, non verbis, são

86

MAGRI, Berenice Soubhie Nogueira. Ação anulatória: art. 486 do CPC. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1999. p. 42.

87

FERREIRA, Luís Pinto. Teoria e prática dos recursos e da ação rescisória no Processo Civil. São Paulo: Saraiva, 1982. p.288.

88

manifestados por conduta ou coisa, por exemplo, pagamento de custas e preparos, oferecimento de caução. Os ‘atos do juiz’ são os despachos de expediente ou ordinatórios, os despachos interlocutórios, as sentenças terminativas e as sentenças definitivas.89

A expressão “rescindidos” não é tecnicamente adequada ao artigo 486 do Código, por tratar-se de hipótese de anulação. A expressão guarda o significado de “nulos” ou “anulados”90, podendo os atos ser anulados, por via de ação anulatória, e não rescindidos por meio de ação rescisória.

Quanto à expressão “nos termos da lei civil”, é tecnicamente imprecisa, devendo ser entendida como lei material, aquela que contém preceito, comando, ordem para fazer ou não fazer algo, e sanção para a transgressão.

Entenda-se ‘lei material’, porque o ato jurídico inserto no processo, ou tomado por termo, pode ser regido pelo direito público, ou pelo direito comercial, ou pela legislação do trabalho, ou outra legislação especial, ou, até, por direito estrangeiro.91

A lei civil é qualquer direito material, privado ou público, que disciplinar o ato jurídico em exame, por isso, o ato para ser anulado, via ação anulatória, deverá estar viciado de nulidade absoluta ou relativa, de acordo com as regras do direito material.

3.2 Dos artigos 486 e 485 do Código de Processo Civil

Examinando o artigo 486 do CPC, constata-se a previsão de duas categorias de atos judiciais que, como já declinado, deveriam ter a designação de atos processuais. A primeira categoria é a dos atos que não dependem de sentença e a segunda é a dos atos seguidos de sentença meramente homologatória.92

89

SANTOS, Moacyr Amaral dos. Primeiras linhas de Direito Processual Civil. São Paulo: Saraiva, 1993 .p.279-281; CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. 9 ed. São Paulo: Malheiros, 1993 .p.281-282.

90

PONTES DE MIRANDA,Francisco C. Tratado da ação rescisória. Campinas: Bookseller, 1998. p. 410.

91

PONTES DE MIRANDA, Francisco C. Tratado da ação rescisória. Campinas: Bookseller, 1998. p. 414.

92

Conforme abordado anteriormente, os atos que independem de sentença são declarações unilaterais ou bilaterais de vontade das partes, regidos pelo direito material, podendo ser desconstituídos pela ação anulatória. A renúncia ao direito de recorrer, a arrematação e a adjudicação são exemplos dessa categoria de atos processuais.

Os atos das partes sujeitos a sentença meramente homologatória, também são regidos pelo direito material, porém com eficácia processual dependente da sentença homologatória, sem a apreciação do mérito, não produzem coisa julgada material. Como exemplos de hipóteses de atos que geram sentenças meramente homologatórias, podem ser mencionados, dentre outros, a desistência da ação, prevista no artigo 158, parágrafo único, do CPC, e a partilha amigável feita por instrumento particular, prevista no artigo 1.029 do CPC.

A sentença homologatória, sob o enfoque do artigo 486 do Código, tão-somente confere o ato das partes, aceitando a vontade das partes, confirmando acordos, desde que observadas as formalidades legais.

Sentença homologatória é aquela que se restringe e se limita a conferir o ato das partes, que não se origina do órgão judicial, mas tem uma força e eficácia equivalentes às que teria, caso resultasse ou fosse proveniente do próprio órgão judicial, equiparando-se na sua força, eficácia e energia.93

De acordo com o disposto no artigo 486 do CPC, a sentença meramente homologatória não é passível de anulação, será anulado o ato que foi homologado pela sentença.

A ação dirige-se ao conteúdo (ato homologado), como que atravessando, sem precisar desfazê-lo antes, o continente (sentença de homologação). Insista-se em que não é a sentença, mas o ato homologado, que constitui o objeto do pedido de anulação – o que não quer dizer que a eventual queda do segundo deixe de pé a primeira. 94

93

FERREIRA, Pinto. Teoria e prática dos recursos e da ação rescisória no Processo Civil. São Paulo: Saraiva,1982. p.288.

94

A sentença homologatória é rescindível, nos termos do artigo 485, e anulável, de acordo com a disposição do artigo 486, relevando, para o ajuizamento da ação, verificar se houve a extinção do processo com ou sem julgamento do mérito.

Quanto aos atos homologáveis por sentença, releva fazer a distinção entre os abrangidos pelo artigo 485, inciso VIII e os abrangidos pelo artigo 486, segunda parte.

O artigo 485, inciso VIII, do Código, abrange as hipóteses em que “para a

entrega da prestação jurisdicional, o Judiciário teve de adentrar ao cerne da transação

que já preexistia à demanda”95. O conflito é solvido pela sentença mediante

heterocomposição, não se tratando de sentença meramente homologatória, sendo produzida coisa julgada material e encerrado o processo com julgamento do mérito, nos termos do artigo 269, inciso III, do Código de Processo Civil, hipótese de cabimento de ação rescisória.

O artigo 486, segunda parte, do CPC diz respeito a sentenças que não enfrentam o mérito da causa, e, não fazem coisa julgada material, a serem atacadas por ação anulatória. Nessa hipótese, a transação entre as partes existiria independentemente da sentença que a homologou, houve autocomposição.96 A sentença extingue o processo, sem julgamento do mérito, conforme previsão do artigo 267 do CPC.

Firmou-se o entendimento de que não há incompatibilidade entre os dispositivos em destaque, por tratarem de hipóteses distintas. A transação homologada por sentença poderá ser atacada via ação anulatória e as sentenças de mérito, via ação rescisória, como se vê deste inserto, extraído da RT 577/299: “a transação homologada

em Juízo pode ser rescindida como os atos jurídicos em geral, não assim mediante

95

OLIVEIRA, Francisco de. Ação rescisória: enfoques trabalhistas: doutrina, jurisprudência súmulas. 2 ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1996. p. 240.

96

rescisória. Não há incompatibilidade entre os arts. 485, VIII e 486 do CPC, que tratam

de hipóteses distintas”.97

A admissibilidade da ação anulatória, nos termos do artigo 486, não pode gerar confusão com a previsão de admissibilidade da ação rescisória do artigo 485, em razão de a rescisória visar à coisa julgada e a anulatória, ao ato da parte, homologado ou não, por isso, apresentam aspectos diferentes, como se vê no entendimento a seguir, trazido à colação com a observação de que, onde se lê sumaríssimo, leia-se sumário, em razão da nova redação dada pela Lei n° 9.245, de 27 de dezembro de 1995.

Em vários aspectos a ação anulatória distingue-se da ação rescisória. A ela não se aplica o prazo decadencial de dois anos, do art. 495 do CPC, mas o da prescrição do direito material. A anulatória se propõe no órgão de 1º grau, enquanto a rescisória só cabe nos Tribunais. Seu procedimento é o ordinário ou o sumaríssimo. A ação anulatória pode ser aforada pendente o feito principal – podendo eventualmente suspender o curso deste – ou é ajuizada depois de transitar em julgado a sentença, e a anulação do ato homologado leva de roldão a sentença homologatória, que, embora não rescindida, fica esvaziada de conteúdo, redundando no prosseguimento do processo primitivo principal. Na execução, passa-se a mesma coisa. Enfim: a rescisória visa a res iudicata; a anulatória, o ato da parte, homologado ou não.98

No mesmo sentido decidiu o Supremo Tribunal Federal, quanto aos objetos da ação rescisória e da ação anulatória, afastando eventuais dúvidas quanto à existência de incompatibilidade dos dispositivos em estudo.

O objeto da rescisória é a sentença de mérito que, formalmente, transitou em julgado. A ação anulatória objetiva o anulamento de atos praticados no processo, a respeito dos quais não se pronuncia nenhuma sentença, ou que se pronuncia uma sentença meramente homologatória. Na rescisória há julgamento de

97

No mesmo sentido: MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil. 8 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. v. V. p. 159; COSTA, Coqueijo. Ação rescisória. Rev. de Roberto Rosas. 6 ed. São Paulo: LTr, 1993. p. 102; THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 27 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. v. I. .v. I, p. 666; MAGRI, Berenice Soubhie Nogueira. Ação anulatória: Art. 486 do CPC. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1999. p. 77); BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Ac. Unº Sexta Câmara. j. 3 junº 80. AP. 11.732. Rel. Des. Enéas Marzano. RT496/101; 502/103; 630/147.

98

julgamento; ao contrário, na ação anulatória não há julgamento, e sim o do direito material invocado pelas partes. Anula-se o ato homologatório e não a sentença homologatória.99

O cabimento da ação anulatória no procedimento de jurisdição voluntária, caso em que os atos judiciais são apenas homologados por sentença, sem que se opere coisa julgada material, não está afastado, também nos processos de jurisdição contenciosa. Também não se diga que a decisão homologatória não pode ser desconstituída por ação rescisória, pois a decisão pode ter sido proferida por juiz prevaricador, concussionário ou corrupto, ou impedido, ou incompetente absolutamente.100

3.3 Prazo para propositura e efeitos da ação anulatória

Quanto ao prazo para a propositura da ação anulatória, não há disposição expressa no artigo 486 do CPC entretanto, à ação anulatória não se aplica o prazo decadencial de dois anos, do artigo 495. O prazo para sua propositura é o da prescrição, disposta no direito material, que poderá ser maior ou menor que o prazo da ação rescisória, conforme determina a prescrição da “lei civil”.

Segundo disposição do artigo 177 do Código Civil, as ações pessoais prescrevem em vinte anos, contados da data em que poderiam ter sido propostas. Ordinariamente, aplica-se esse prazo à prescrição das ações anulatórias.

Com relação aos efeitos produzidos pela ação anulatória, podemos considerar três hipóteses. A primeira, quando a ação for ajuizada no curso do processo primitivo, a segunda, quando tratar-se de sentença meramente homologatória e a terceira, quando tratar-se de anulação de ato praticado no processo de execução. 101

99

PONTES DE MIRANDA, Francisco C. Tratado da ação rescisória. Campinas: Bookseller, 1998. p. 408.

100

PONTES DE MIRANDA, Francisco C. Tratado da ação rescisória. Campinas: Bookseller, 1998. p. 408.

101

MAGRI, Berenice Soubhie Nogueira. Ação anulatória: art. 486 do CPC. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1999. p. 134-136. No mesmo sentido: MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil. 8 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. v. V. p. 164-165.

Quando a ação anulatória é ajuizada no curso do processo primitivo, sobresta-se o feito se a sentença de mérito depender do julgamento da ação anulatória, na hipótese do artigo 265, IV, “a”, primeira parte do CPC. Verificado vício de nulidade no ato, este será desconstituído, o que influenciará na sentença do processo principal, onde o ato foi praticado, sendo que, se for rejeitado o pedido de anulação do ato, este será considerado válido.

O segundo efeito da ação anulatória refere-se à sua influência em relação à sentença meramente homologatória. Sendo procedente o pedido da ação anulatória, proposta após o trânsito em julgado da sentença proferida no processo primitivo, cujo objeto for a anulação do ato homologado por referida sentença, não pode subsistir a sentença homologatória. O processo primitivo retomará seu curso, sendo refeitos todos os atos, desde o ato invalidado.

O terceiro efeito da ação anulatória refere-se à anulação de ato praticado, em sede de execução. Anulado o ato no processo de execução, anular-se-ão os demais atos do processo de execução, retomando seu impulso a partir do último ato anterior ao que se invalidou, não prevalecendo a sentença que decretou a extinção do processo de execução.

Capítulo IV

Procedimento da Ação Rescisória

4.1. Petição inicial. 4.1.1. Juízo competente. 4.1.2. Cumulação de pedidos. 4.1.3. Valor da causa. 4.2. Da obrigatoriedade do depósito de cinco por cento da importância sobre o valor da causa na rescisória. 4.3 Indeferimento da inicial. 4.4. Citação e resposta. 4.5 Julgamento da ação rescisória e recursos cabíveis. 4.6. Execução da decisão rescindenda. 4.7. Do cabimento de ação rescisória de sentença proferida em ação rescisória.

4.1 Petição inicial

O artigo 488 do Código de Processo Civil dispõe quanto à elaboração da petição inicial na ação rescisória, destacando desde logo que deverão ser observados os requisitos essenciais do artigo 282 do CPC, obrigatórios para todas as petições iniciais sujeitas ao procedimento ordinário, como é o caso da ação rescisória e, de forma subsidiária ao procedimento sumário (artigo 275).

A inicial deverá expressar o juízo a que se dirige, a qualificação as partes, o fato e o fundamento jurídico do pedido, o pedido, com suas especificações, o valor da causa, as provas, com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados e o requerimento para citação do réu.

Embora o artigo 488 não contenha disposição expressa, deve a petição inicial ser instruída com os documentos indispensáveis à propositura da ação, conforme disciplina do artigo 283 do CPC, no caso, a certidão comprobatória do trânsito em julgado da decisão rescindenda, a certidão de inteiro teor ou fotocópia autenticada do julgado impugnado, a guia de depósito prévio (5% sobre o valor da causa), e o

instrumento outorgado ao advogado subscritor da petição inicial, nos termos do artigo 37 do CPC. 102

4.1.1 Juízo competente

Dentre os requisitos essenciais da petição inicial, previstos no artigo 282 do Código de Processo Civil, ressalte-se a indicação do juiz ou tribunal, a que é dirigida. Em se tratando de ação rescisória há singularidades, quanto ao juízo, a serem consideradas.

A ação rescisória está prevista no Título IX, do Livro I, sob a rubrica “Do Processo nos Tribunais”. A omissão, no CPC, de regulamentação específica sobre a competência na ação rescisória, induz que a competência para seu conhecimento e julgamento é dos órgãos jurisdicionais colegiados de segundo ou superior grau na função judicante103, não podendo ser julgada por juiz de primeiro grau, ainda que ocorra o trânsito em julgado da decisão proferida pelo juiz de primeiro grau.

A competência para processar e julgar a ação rescisória é do órgão ao qual competiria, ressalvando oportunamente que a decisão rescindenda é a do juiz ou tribunal que examinou o mérito.

A competência é sempre do órgão ao qual competiria, em grau de recurso, examinar a sentença… É o tribunal de segundo grau ou o tribunal extraordinário que tem competência para rescindir seus próprios arestos, e os de segundo grau para cortar as sentenças de primeiro grau que tenham produzido coisa julgada material viciada. Cada tribunal rescinde suas próprias decisões e as sentenças do juízo de primeiro grau. Os tribunais de terceiro grau só rescindem seus próprios acórdãos. Para se fixar com precisão a competência é necessário diagnosticar qual a última

102

SOUZA, Bernardo Pimentel. Introdução aos recursos cíveis e à ação rescisória. Brasília: Brasília Jurídica, 2000. p. 394. No mesmo sentido: COSTA, Coqueijo. Ação rescisória. Rev. de Roberto Rosas. 6 ed. São Paulo: LTr, 1993. .p. 117.

103

MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil. 8 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. v. V. p. 199; PONTES DE MIRANDA, Francisco C. Tratado da ação rescisória. Campinas: Bookseller, 1998. p. 476.

decisão de mérito proferida na causa, pois esta será, sem dúvida, a decisão rescindenda. 104

Quando se tratar de ação rescisória, é competente para processar e julgar o tribunal que seria competente para julgar a apelação que poderia ter sido interposta, com relação à sentença a ser rescindida.

A competência para a rescisória é dos tribunais, segundo a seguinte regra: se se trata de rescisão de sentença, é competente o órgão do tribunal que seria competente para o julgamento da apelação que poderia ter sido interposta; se a rescisão é de acórdão, é competente o próprio tribunal que o proferiu, com alteração, se for o caso, do órgão interno julgador, segundo as regras de organização judiciária que estruturam o tribunal e a Lei Orgânica da Magistratura Nacional. É importante lembrar que somente quando o tribunal conhece do recurso, dando-lhe, ou não, provimento, é que a decisão é sua. Se o recurso não foi conhecido, a decisão continua a ser do juiz ou tribunal recorrido, neste devendo ser proposta a eventual ação rescisória.105

Na ausência de regulamentação específica quanto à determinação da competência para o processamento e o julgamento da ação rescisória, recorre-se ao artigo 93, primeira parte, do Código de Processo Civil, que dispõe sobre a competência dos tribunais, verbis:

Art. 93. Regem a competência dos tribunais as normas da Constituição da República e de organização judiciária. A competência funcional dos juízes de primeiro grau é disciplinada neste Código.

A Constituição Federal e as Leis de Organização Judiciária estabelecerão as regras relativas à competência na ação rescisória, sendo relevante trazer à colação a