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VEROSSIMILHANÇA DA ALEGAÇÃO NA TUTELA ANTECIPADA

CAPÍTULO II: DA ADMISSIBILIDADE DA ANTECIPAÇÃO DA TUTELA

2.3 VEROSSIMILHANÇA DA ALEGAÇÃO NA TUTELA ANTECIPADA

O artigo 273 do CPC dispõe que a antecipação da tutela vincula-se ao convencimento do juiz quanto à verossimilhança da alegação. Para ocorrer o convencimento da verossimilhança da alegação, deve existir a prova inequívoca.

O primeiro juízo que assoma do termo verossimilhança é o de similar da

verdade, o que se assemelha à verdade, o de aparência de verdade. Aparência é aquilo

185

ALVIM, J. E. Carreira. Código de Processo Civil Reformado. 2 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 1995. p.115.

186

LEAL, Rosemiro Pereira. Verossimilhança e inequivocidade na tutela antecipada em processo civil. Disponível em: Acesso em:

187

ALVIM, J. E. Carreira. Código de Processo Civil Reformado. 2 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 1995 .p.103.

que é dado das coisas ao sujeito, na representação. A representação é a operação pela qual a mente tem presente em si mesma uma imagem, uma idéia ou um conceito correspondendo a um objeto externo. A função da representação é a de tornar presente, fazer aparecer à consciência a realidade externa. A relação de representação pode ser entendida como relação causal entre o objeto externo e a consciência, às vezes, como relação de correspondência ou semelhança, levando em conta o pressuposto de que a consciência é incapaz de apreender diretamente o objeto externo.188

A semelhança aparente pode corresponder ou não à verdade real, mas equivale a um juízo ou discernimento provável, que pode justificar a antecipação da tutela. Por isso, a elucidação do termo jurídico verossimilhança não deve limitar-se à semântica filosófica, pois, “na epistemologia jurídica, o pensamento hermenêutico se faz a partir

do processo jurídico-construtivo da lei e de sua vigência e incidência, e não de uma

realidade pressuposta ou suposta (verdade causal) a-jurídica.”189

A verossimilhança da alegação não se afere apenas por meio de opinião acerca dos elementos de prova exibidos, pois opinião é juízo baseado em crença acerca da verdade de algo, sem justificativa teórica ou exame crítico. Cabe invocar o artigo 126 do CPC que estabelece que, no julgamento da lide, ao juiz cabe aplicar as normas legais e recorrer à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito, não podendo eximir-se de sentenciar ou despachar, alegando lacuna ou obscuridade da lei. Aplica-se o preceito à antecipação da tutela.

Em conseqüência, ainda que controvertida a interpretação propugnada pelo requerente da tutela antecipada, se o juiz a tiver por acertada deverá deferir o pedido, não cabendo, em virtude da assinalada controvérsia, acoimar-se de inverossímil a alegação.

190

188

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p.514.

189

GRAU, Eros Roberto. O Direito posto e o direito pessuposto. São Paulo: Malheiros, 1996. p.37. 190

PONTES DE MIRANDA, Francisco C. Comentários à Constituição de 1967. Rio de Janeiro: Forense, 1987. Tomo V. p. 363.

A certeza do direito, assim como sua liquidez, não pode depender da inexistência de dúvida, quanto à lei que rege referido direito, pois tal dúvida é subjetiva, existe e depende de elementos interiores, de estados de consciência e de convicção dos juizes, e não da relação jurídica, de natureza externa.191

O juízo de verossimilhança equivale a um juízo de probabilidade e probabilidade implica a determinação, por meio de cálculo, da expectativa racional da ocorrência ou não de um fato, a partir de sua freqüência. A probabilidade pode ser determinada em vários graus, podendo ser maior ou menor, de acordo com o grau de certeza apreendido.192

O fato de, para a concessão da tutela antecipada, o CPC ter vinculado o convencimento da verossimilhança da alegação à prova inequívoca, indica que a probabilidade aferida na verossimilhança não pode ser mínima, com relação à realidade da alegação, deve aproximar-se do máximo, capaz de induzir a identificação plena entre probabilidade e verossimilhança.

Das noções de verossimilhança e probabilidade se acerca a noção de possibilidade. Às vezes, essas três noções são utilizadas indevidamente como sinônimas. Possibilidade é qualidade do possível, aquilo que não é, mas poderia ser, que é realizável, que satisfaz às condições gerais da existência, aquilo que é realizável. O juízo possível é aquele que envolve contingência, que afirma algo que pode ou não ocorrer.193 Possível é o que pode ser verdadeiro, verossímil é o que tem aparência de ser verdadeiro e provável é o que se pode provar como verdadeiro.194

191

PASSOS, José Joaquim Calmon de. Inovações no Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 1995. p. 18.

192

JAPIASSU, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990. p.201.

193

Idem. Idem. p.198-199.

194

CALAMANDREI, Piero. Verità e verosimiglianza nel processo civile. In: WAMBER, Tresa Arruda Alvim. Opere Giuridiche. Milano: Morano, 1972. v. v. p. 620-621.

O verossímil está graduado além do possível. Verossímil não é o que pode ser verdade real, é o que tem aparência de ser verdade real, não bastando a simples condição de possibilidade, requer a condição de provável. A probabilidade mínima pode identificar-se com o verossímil, a probabilidade média com o provável e a probabilidade máxima com o probabilíssimo.195

Por mais que se teorize acerca da noção de verossimilhança, constata-se que sua determinação, no processo, depende do subjetivismo de cada juiz, da sua percepção pessoal da realidade, na oportunidade de decidir quanto à antecipação da tutela.196 A verossimilhança não é, em direito processual, o que se apresenta semelhante à verdade, mas o que se pode ver ou inferir, pela similitude das alegações condutoras dos conteúdos de materialidade da prova instrumentalizados e vistos nos autos.197

Do estudo da noção de verossimilhança, pode-se entender que a expressão

verossimilhança das alegações refere-se à demonstração da existência dos conteúdos

legais da prova, como matéria necessária das alegações.

Processualmente, o termo alegações apresenta a conotação de meio legal de prova, cabendo lembrar que o corpo jurídico da prova compõe-se de elemento, meio e instrumento. Elemento de prova é fato, ato, coisa, pessoa. Meio legal de prova é a alegação ensejada em lei. Instrumento é o documento judicial ou extra-judicial, gráfico, técnico, testemunhal, fotográfico, sonoro, dentre outros sensoriáveis.

A verossimilhança das alegações configura-se pela articulação jurídica sobre o

instrumento preexistente à instauração do procedimento litigioso e trazido a juízo, não

cabendo puras alegações de probabilidade, desvinculadas de instrumentos, ainda que

195

MALATESTA, Nicola Framarino dei. Lógica de las pruebas en matéria criminal. Bogotá: Temis, 1973 .v.I .p.70.

196

ALVIM, J. E. Carreira. Código de Processo Civil Reformado. 2 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 1995 .p.105.

197

LEAL, Rosemiro Pereira. Verossimilhança e inequivocidade na tutela antecipada em processo civil.

sintaticamente bem elaboradas. O juízo da probabilidade consiste na valoração dos fatos e do direito, com relação à probabilidade da causa, em que pode exercer influência sobre a natureza do fato, a espécie de prova pré-constituída e a própria orientação jurisprudencial.