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PRESSUPOSTOS DA AÇÃO RESCISÓRIA

CAPÍTULO I: ASPECTOS FUNDAMENTAIS DA AÇÃO RESCISÓRIA

1.6 PRESSUPOSTOS DA AÇÃO RESCISÓRIA

Na ação rescisória, além dos pressupostos comuns à generalidade das ações, dois outros são tidos pela lei processual como pressupostos ou condições específicas da ação rescisória. O primeiro é a existência de sentença de mérito transitada em julgado. O segundo é a presença de um dos motivos de rescindibilidade do julgado, enumerados em casos específicos, nos nove incisos do artigo 485 do Código de Processo Civil.

Quanto ao primeiro pressuposto, previsto no caput do artigo supracitado, a sentença de mérito transitada em julgado, é pressuposto genérico de toda ação rescisória.

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COSTA, Coqueijo. Ação rescisória. Rev. Roberto Rosas. 6 ed. São Paulo: LTr, 1993. p. 164.

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BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. 1ª Seção, AR 07-RJ. Rel. Minº Vicente Cernicchiaro, j. 26 set. 88. DJU 23 out. 89.

A expressão “sentença de mérito transitada em julgado” constitui-se de dois elementos, ‘sentença de mérito’ e ‘transitada em julgado’, que conferem atributos à decisão rescindenda.

Sentença de mérito é aquela que, na análise do julgado, adentrou a matéria de fundo, de conteúdo, ocorrendo a real entrega da prestação jurisdicional, proferida nas hipóteses do artigo 269 da lei processual civil, provoca a extinção do processo, com julgamento do mérito. Na sentença de mérito, o juiz acolhe ou rejeita o pedido do autor, o réu reconhece a procedência do pedido, as partes podem transigir, ou o juiz pode pronunciar a decadência ou a prescrição.

O termo sentença deve ser considerado no sentido genérico, abrangendo os acórdãos dos juízos colegiados, as decisões de mérito monocráticas no colegiado, portanto, nem só as decisões de primeiro grau são passíveis de rescisão.

Para uma sentença ser qualificada como de mérito, importa o conteúdo do ato decisório, não importando a linguagem utilizada pelo legislador, até uma decisão interlocutória pode enfrentar o mérito. Nesse sentido manifesta-se Humberto Theodoro Júnior.

Não importa se o ato era atacável por apelação ou por agravo, se foi decisão singular ou coletiva, nem se ocorreu em instância originária ou recursal. Se se enfrentou matéria de mérito… mesmo sob a forma de decisão incidental, terá havido, para efeito de ação rescisória, sentença de mérito.

Sob esse enfoque, o Supremo Tribunal Federal decidiu ser cabível ação

rescisória contra despacho de relator que negou seguimento a agravo de instrumento que enfrentou o mérito discutido no recurso extraordinário. 42

É cabível ação rescisória contra despacho do relator que, no STF, nega seguimento a agravo de instrumento, apreciando o mérito da causa discutido no recurso extraordinário. 43

42

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 27 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999 .p. 654-655

43

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. AR nºº 1.154-6-SP, rel. Minº Moreira Alves. AC. 15 mar. 1984. RT. 593-241.

Em não sendo de mérito a sentença, a parte não tem interesse processual para rescindir, pois a demanda poderia ser renovada, indefinidamente, mediante prova de pagamento ou depósito de custas e honorários do advogado, nos termos dos artigos 267 e 268 do Código de Processo Civil, cabendo lembrar que as sentenças terminativas não fazem coisa julgada sobre a lide e, não ocorrendo a coisa julgada, não há que se falar em ação rescisória.

O segundo elemento da expressão, ‘transitada em julgado’, diz respeito literalmente ao trânsito em julgado da decisão, cabendo fazer a distinção entre trânsito em julgado formal e trânsito em julgado material. Para essa distinção, pode ser ressaltado o entendimento de Francisco Antonio de Oliveira:

(...) a coisa julgada formal assegura a imutabilidade da sentença pela preclusão dos prazos para recorrer. A sentença torna-se irrecorrível. E como a matéria meritória fora enfrentada pelo julgado, desaguará fatalmente para a coisa julgada material. Se a decisão não houvesse enfrentado o mérito, não haveria coisa julgada formal e, por conseqüência, também não poderia haver coisa julgada material. Haveria tão-somente o trânsito em julgado ou preclusão. 44

A ação rescisória só se propõe contra decisão que já transitou em julgado, da qual não cabe ou não mais cabe recurso, não significando dizer que se esgotem previamente todos os recursos interponíveis, conforme dispõe a Súmula nº 514 do Supremo Tribunal Federal.

A admissão da ação rescisória não está condicionada ao ataque da decisão no todo. A ação rescisória pode atacar a decisão, no todo ou em parte, bastando ser possível cindi-la e que de uma das partes cindidas não se interponha recurso. Havendo trânsito em julgado quanto a referida parte, será passível de ação rescisória, desde que à preencha os requisitos legais específicos. Quanto à outra parte da decisão, havendo recurso, não há que se falar em trânsito em julgado, podendo posteriormente caber

44

OLIVEIRA, Francisco de. Ação rescisória: enfoques trabalhistas: doutrina, jurisprudência e súmulas. 2 ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1996. p.59.

ação rescisória, também, desta outra parte cindida da decisão, mas que terá fundamentos próprios e inconfundíveis.45

A cisão da decisão pode evidenciar-se melhor quando, na ação primitiva, houver mais de um pedido, que poderá proporcionar na decisão recurso de um pedido, e talvez, futuramente a ação rescisória, e do outro pedido não havendo recurso, desde que preenchidos os pressupostos da ação rescisória, lembrando que os termos iniciais dos respectivos prazos decadenciais serão diferentes46, apesar de terem origem em uma única decisão.

Coisa julgada é a eficácia que torna imutável e indiscutível a decisão, não mais sujeita a recurso, e a coisa julgada que impede ser rediscutido o litígio irrecorrivelmente decidido.

A coisa julgada material confere imutabilidade à sentença, que gera o interesse processual para propositura da ação rescisória. Se não há coisa julgada, não há base para a ação rescisória.

Quanto ao segundo pressuposto específico para ação rescisória, existência de um dos motivos de rescindibilidade do julgado enumerados especificamente nos nove incisos do artigo 485 do Código de Processo Civil, serão analisados no capítulo a seguir.

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MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil. 8 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. v. V, p. 114.

46

MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil. 8 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. v. V, p. 114.