• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II: DAS HIPÓTESES DE CABIMENTO DA AÇÃO RESCISÓRIA

2.7 FALSIDADE DE PROVA

A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou seja provada na própria ação rescisória, conforme previsão do inciso VI, do artigo 485 do Código de Processo Civil:

Falsa prova é a que se revela em desconformidade com a verdade. E assim se mostrando, ela se contrapõe aos interesses da Justiça, traduzidos na exata aplicação do Direito, dado que o desvio na apuração da verdade dos fatos conduz ao desvio na aplicação do Direito.67

Falso é o não verdadeiro, não real, dirigido para o engano ou impostura, que se diz existir e não existe, por isso, a falsidade é declarada e não decretada. O que é falso de nada vale, exorta o brocardo falsum quod est, nihil est.68 Qualquer prova inexistente

considerada existente gera sentença rescindível.

66

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ac. Pleno, j. 11.3.81, E-AR 1.047-SP, Rel. Minº Cunha Peixoto; RTJ 101/50.

67

BRASIL. Tribunal de Justiça da Bahia. Ac. unº CS.RS., j. 27 mai. .82. AR 5/80. Rel. Des. Omar Ferreira de Carvalho. Bol. Forense 20/39.

68

SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 1989 .p.267; JAPIASSU, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990. p.95.

Para que a ação rescisória prospere, é imprescindível a relação de causa e efeito entre a prova falsa produzida e o fundamento da sentença rescindenda, não se exigindo, entretanto, que tenha sido o único fundamento, podendo ocorrer que a prova falsa só atinja o fundamento para um dos pedidos, acarretando rescisão parcial. Nessa hipótese, o que foi decidido sem se fundar na prova falsa permanece intacto.

A prova falsa pode gerar vários tipos de falsidades. Falsidade material ou ideológica, falsidade de documento público ou privado, falsidade testemunhal, o laudo pericial pode ser falso, a inspeção, a confissão, dentre outras hipóteses de falsos.

Para o ensejo da ação rescisória, a falsidade deverá restar devidamente apurada, provada, e duas são as vias apropriadas. A prova prévia em processo criminal, de acordo com o artigo 485, VI, primeira parte, e a prova na própria ação rescisória, nos termos da segunda parte do mesmo dispositivo e inciso.

O inciso VI é taxativo ao exigir que a falsidade seja apurada em processo criminal ou na própria ação rescisória. Cabe destacar que aquele que tem provas para a ação cível já as tem para a ação rescisória, com base na segunda parte, do inciso VI, do artigo 485 do Código.

A ação cível que declarar a falsidade da prova não acarreta a abertura do prazo preclusivo, porque a ela não se referiu o artigo 485, inciso VI; é nada mais que uma decisão com elemento de prova para a ação rescisória. Na hipótese de ser a prova produzida na própria ação rescisória, o prazo preclusivo começa do trânsito em julgado da sentença rescindenda.

Quando a prova for produzida em processo criminal, deverá instruir a petição inicial da ação rescisória a sentença criminal declaratória da falsidade, observando que a referida sentença penal tenha transitado em julgado.

Enquanto tramitar ou não se iniciar o processo criminal, não pode correr o prazo para a ação rescisória com base na primeira parte, do inciso VI, do artigo 485 do Código, a fim de se obstarem contradições entre a sentença rescindenda e o processo criminal. O prazo para a propositura da ação rescisória começa a contar do dia em que

transitou em julgado a decisão criminal declarativa da falsidade, salvo se ocorreu antes o trânsito em julgado da sentença cível.

É importante salientar que a injustiça da decisão ou a má apreciação da prova não autorizam o exercício da ação rescisória.

Quando ocorrer absolvição no juízo criminal, essa absolvição pode obstar ou não a ação rescisória com fundamento no inciso VI, do artigo 485, de acordo com divergentes entendimentos doutrinários.

Pontes de Miranda entende que a absolvição criminal não impede a propositura da ação rescisória, fundamentando tal entendimento nos artigos 66 e 67 do Código Penal.

No art. 66 lê-se: ‘Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta quando tiver sido, categoricamente reconhecida a inexistência material do fato’. A despeito da regra jurídica do art. 66, se a sentença penal afirma que não foi usado o documento, ou produzida outra prova, ou não foi prestado o testemunho (inexistência material do fato) e o documento ou o testemunho ou outra prova foi fundamento da sentença cível, não se pode negar a ação rescisória. No art. 67 está dito: ‘Não impedirão igualmente a propositura da ação civil: I, o despacho do arquivamento do inquérito ou das peças de informação; II, a decisão que julgar extinta a punibilidade; III, a sentença absolutória que decidir que o fato imputado não constitui crime’. O art. 67, em sua explicitude, tem de ser atendido: a ação rescisória, a despeito de qualquer dos atos judiciais apontados no art. 67, pode ser proposta. 69

Outro entendimento doutrinário, fundamentado no artigo 1.525, do Código Civil, sustenta que a absolvição criminal, transitada a sentença em julgado, afasta a responsabilidade civil.

O art. 1.525 do CC, embora declare independentes as responsabilidades civis e criminais, acrescenta que: ‘não se poderá, porém, questionar sobre a existência do fato, ou quem seja o autor, quando estas questões se acharem decididas no crime’. Se a sentença do juízo cível concluiu pela culpabilidade do

69

réu, decorrente da autoria, a qual tenha sido fundamento exclusivo da condenação respectiva, e se, na esfera criminal, onde a autoria e a própria existência do crime são apurados com maior rigor e mais profundidade, ocorreu absolvição porque atribuída a outrem a autoria, essa decisão prevalece sobre a do cível, uma vez transitada em julgado. 70

Com fundamento no artigo 485, inciso VI, do CPC, a parte que produziu o documento falso pode pedir a rescisão da decisão se o documento definiu o ganho de causa à parte contrária, no caso de tratar-se de processo inquisitivo ou de juízo dúplice. Mas, nos processos de caráter dispositivo em que a parte produziu o documento e foi vencedora, deve ser considerada a questão da má-fé. Se houver má-fé, não é admissível a parte pedir a rescisão, pois lhe falta pretensão à tutela jurídica. Não havendo má-fé, o interessado pode pedir a rescisão da sentença, pois o CPC não afastou a propositura da ação rescisória pela parte vencedora. 71