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PROVA INEQUÍVOCA NA TUTELA ANTECIPATÓRIA

CAPÍTULO II: DA ADMISSIBILIDADE DA ANTECIPAÇÃO DA TUTELA

2.2 PROVA INEQUÍVOCA NA TUTELA ANTECIPATÓRIA

Prova, na acepção jurídica, é entendida como a demonstração da existência e ou inexistência ou da veracidade e ou não veracidade dos fatos alegados ou contestados, nos quais se fundam os direitos objeto do litígio. A prova judiciária tem por objeto os fatos da causa e serve-se de meios e métodos próprios, para formar a convicção do juízo, quanto à verdade dos fatos da causa.175

Quando algo pode ser entendido em dois ou mais sentidos diferentes, por gerar mais de uma interpretação, é equívoco. Opõe-se ao unívoco, que possui um único significado, o qual se aplica da mesma maneira a tudo a que se refere, que só comporta uma forma de interpretação.176 O legislador preferiu utilizar, no caput do artigo 273, o termo prova inequívoca, em lugar de prova unívoca, utilizando a diversificação semântica.

O termo inequívoco e suas correspondências semânticas dizem respeito a algo claro, evidente, manifesto, não ambíguo, que não oferece dúvida, patente, evidente,

175

SANTOS, Moacir Amaral. Primeiras linhas de Direito Processual Civil. São Paulo: Saraiva, 1994 .v 3. 25-332.; CINTRA, Antônio Carlos Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. São Paulo: Malheiros, 1993 .p.295-297.

176

JAPIASSU, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990 .p.83; FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. 2 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1740.

notório.177 Cumpre salientar que, mesmo considerada inequívoca a prova, na fase da tutela antecipatória, não contém a certeza suficiente para o deferimento ou indeferimento definitivo do pedido.178

A verificação da inequivocidade independe da natureza da prova. A prova escrita, mesmo em se tratando de escritura pública pode resultar falsa, o mesmo ocorrendo com a prova testemunhal, podendo o depoente deturpar a verdade, ter a percepção imprecisa ou divergente da realidade fática, ou enganar-se quanto ao que lhe for inquirido em juízo e, ainda, apresentar dificuldades de expressão, acarretando incerteza quanto à verdade extraprocessual.179

Sequer a sentença pode ser considerada prova inequívoca, em razão da previsibilidade legal do cabimento de recursos e de ação rescisória fundada em prova falsa, situação prevista no artigo 485, inciso VI, do Código de Processo Civil.

Pode a prova ingressar no processo como inequívoca e, após a instrução, não mais ter valor probandi. O mais correto seria atribuir a inequivocidade também ao fato e não só à prova, levando em conta estarem intrinsecamente ligados, para fins de antecipação de tutela, os elementos alegação, fato e prova.180

A prova inequívoca não se reveste de absoluta certeza, a pretensão do legislador foi considerar prova inequívoca aquela que, em razão dos fatos expostos, fosse suficiente para a formação de juízo de probabilidade, mas insuficiente para a prolação da sentença de mérito.181 Se a prova inequívoca pressupusesse o

177

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986 .p.941, 416, 736 e1081.

178

BEDAQUE, José Roberto.Antecipação da tutela jurisdicional. In: WAMBER, Tresa Arruda Alvim (Coord.). Aspectos polêmicos da antecipação de tutela. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 236.

179

ALVIM, J. E. Carreira. Código de Processo Civil Reformado. 2 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 1995 .p.115.

180

Idem. Idem .p.114.

181

MARINONI, Luiz Guilherme. A antecipação da tutela na reforma do Código de Processo Civil. 2 ed. São Paulo: Malheiros, 1996. p. 67-68.

afastamento de sua demonstração, não ensejaria a antecipação da tutela, mas, o julgamento antecipado do meritum causae, conforme previsão do artigo 330, inciso primeiro do CPC. 182

[...] se a sentença pode fundar-se, até mesmo, em ausência completa de prova, decidindo o juiz apenas com apoio nas regras sobre ônus da prova, dizer que prova inequívoca é a prova suficiente à prolação da sentença equivale a incluir, no conceito de prova inequívoca, a hipótese de ausência de prova, o que soa exorbitante. 183

Na prática, a prova inequívoca é considerada todo meio de prova, em geral documental, capaz de aparentar o verossímel, por conter o fumus bonis iuris, devendo os fatos examinados, com base nas provas carreadas aos autos, mostrar-se como fatos certos, prevalecendo a orientação do artigo 131 do CPC, que atribui plena liberdade ao magistrado para a apreciação da prova.

Considera-se inequivocidade a presença lógico-jurídica do elemento de prova, articulada pelo meio legal de prova e expresso no instrumento de prova. O elemento de prova é fato, ato, pessoa. O meio legal de prova constitui-se nas alegações ensejadas em lei. O instrumento de prova é o documento formal que enseja as alegações. A prova não é inequívoca porque insuscetível de induzir o julgador a erro, quanto à realidade extraprocessual, mas pela presença induvidosa das bases da prova, que são o elemento, o meio e o instrumento, conforme declinado. A inequivocidade da prova não é mera impressão de certeza do juiz acerca da prova exibida, mas demonstração, em decisão judicial, de univocidade da teorização do instituto da prova.184

[...] pode-se concluir que prova inequívoca deve ser considerada aquela que apresenta um grau de convencimento tal que, a seu respeito, não possa ser oposta qualquer dúvida

182

MALLET, Estêvão. Tutela antecipada no Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 1998. p. 54.

183

Idem. Idem. p. 58.

184

LEAL, Rosemiro Pereira. Verossimilhança e inequivocidade na tutela antecipada em processo civil. Disponível em: Acesso em:

razoável, ou, em outros termos, cuja autenticidade ou veracidade seja provável.185

A existência de prova inequívoca é fundamento legal e antecedente lógico- jurídico da semelhança da verdade que, filosoficamente, pode ser entendida como propriedade dos discernimentos, que podem ser verdadeiros ou falsos, dependendo da correspondência entre o que afirmam ou negam e a realidade de que falam. De acordo com o artigo 273 do CPC, a inequivocidade da prova é pressuposto procedimental da caracterização da verossimilhança da alegação.186

Nem sempre a prova inequívoca é pressuposto da verossimilhança da alegação, havendo hipóteses em que, para se convencer da verossimilitude da alegação, o juiz não depende de prova.

[...] Para se convencer da verossimilhança da alegação, o juiz não depende necessariamente de prova, se a pretensão se assenta em fatos incontestes, não carentes de demonstração, caso em que a atividade cognitiva detém-se no simples exame do direito. É o que sucede, por exemplo, na ação declaratória de inexigibilidade de tributo constitucional. A prova, quando muito, poderá cingir-se a aspectos formais da relação processual, como a da constituição da sociedade, do mandatário judicial, etc., e outras condições de desenvolvimento válido e regular do processo.187