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Título I – Noções propedêuticas para a manipulação do direito

Capítulo 3 O sistema jurídico-tributário brasileiro

21. Competência é norma do sistema jurídico positivo

Diante dessa divisão jurídica do Estado, vemos que, ao lado das normas relativas à estrutura do Estado, divisão e organização de Poderes, direitos e garantias fundamentais, convivem disposições acerca da matéria tributária, que conferem competência aos entes políticos para legislar e, assim, obter recursos financeiros para a satisfação dos interesses públicos atinentes ao seu território.

Assim, muito se discute, na seara da Ciência Jurídica, o significado da chamada competência tributária no Estado brasileiro.

Como já destacado anteriormente, a norma jurídica qualificada pela conduta regulada pode ter como desiderato disciplinar a conduta humana decorrente das relações intersubjetivas ou o comportamento de produção normativa.

No caso da competência tributária, vemos que há uma norma direcionada aos Estados-membros,163 autorizando-os, por meio de seus respectivos órgãos legislativos, a editarem e introduzirem enunciados prescritivos no sistema do direito positivo.

Nesse sentido, Paulo de Barros Carvalho adverte que não se pode confundir

competência com capacidade tributária ativa. A primeira deve ser entendida como a

habilitação para editar enunciados prescritivos, inovando o direito positivo, a segunda

corresponde à integração ao pólo ativo da relação jurídico-tributária.164

163 Sentido amplo, que abrange também o Distrito Federal e os Municípios. 164 Curso de Direito Tributário, 2005, p. 219.

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Por assim ser, podemos notar que a expressão “competência tributária”, então, pode ser entendida no sentido de direito subjetivo de que são titulares os órgãos legislativos dos Estados-membros para a criação de tributos.

Nessa seara, no entanto, importa registrar que a referida expressão dá margem a interpretações bem mais abrangentes. Ricardo Lobo Torres, por exemplo, ao falar da competência recebida pelos Estados-membros, faz alusão a um “poder tributário” que surge rigidamente limitado pela Constituição e constitui uma especial manifestação do poder estatal.165

Além disso, a expressão “competência tributária” é mais uma daquelas cujo significado pode ser atribuído conforme a ênfase que se pretende destacar, ou seja, pode-se referir à “competência tributária” a fim de identificá-la como parte da soberania do Estado166; como “poder tributário”167; como “partilha do poder de tributar”168; como “princípio constitucional”.169

Em que pesem esses empregos pelos mais renomados doutrinadores do país, com a ênfase peculiar que cada um pretendeu imprimir a seu discurso, o ponto relevante é que não se pode confundir “poder” com “competência tributária”. O primeiro é pré-jurídico, é pressuposto do sistema do direito positivo. Já o segundo, diz com o próprio sistema normativo, é integrante do sistema como elemento normativo.

Nesse sentido, assevera Roque Antonio Carrazza que “no Brasil, por força de uma série de disposições constitucionais, não há falar em poder tributário (incontrastável,

165 Curso de Direito Financeiro e Tributário. 1998, p. 310.

166 Ruy Barbosa Nogueira identifica competência tributária como parte da soberania do Estado, cujo

exercício é regulado pelo Direito Constitucional Tributário. Curso de Direito Tributário. 1995, p. 117

167 Gian Antonio Micheli identifica competência tributária como “poder tributário” a “potestade tributária”.

Curso de Direito Tributário. 1978. p. 56/57. Sacha Calmon Navarro Coelho, também faz referência à competência tributária, como “poder” para instituir e exonerar tributos. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 2001, p. 477/478.

168 Hugo de Brito Machado ao discorrer sobre a competência tributária dos Estados-membros, adota, como

sinônimas, as expressões “partilha do poder de tributar” e “parcela do poder tributário”, e as elenca entre os princípios jurídicos da tributação. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 2008, p. 40, 272-273.

169 Victor Uckmar entende competência tributária como um verdadeiro princípio de Direito Constitucional

Tributário, se reportando a um poder tributário do Estado. Princípios Comuns de Direito Constitucional Tributário. 1999, p. 104-129.

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absoluto), mas, tão somente, em competência tributária (regrada, disciplinada pelo direito).170

Seja como for, a expressão “competência tributária” e as suas “variantes sinonímicas” têm sido empregadas, no mais das vezes, pela Ciência do Direito, para designar os direitos subjetivos de que são portadores os órgãos legislativos para criar um dado tributo.

Roque Antonio Carrazza assevera que “competência tributária é a possibilidade de criar in abstracto, tributos, descrevendo, legislativamente, suas hipóteses de incidência, seus sujeitos ativos, seus sujeitos passivos, suas bases de cálculo e suas alíquotas.”.171

Na mesma linha discorre Paulo de Barros Carvalho, para quem “a competência tributária, em síntese, é uma das parcelas entre as prerrogativas legiferantes de que são portadoras as pessoas políticas, consubstanciada na possibilidade de legislar para a produção de normas jurídicas sobre tributos.”.172

Além dos autores acima, registre-se a adesão de José Eduardo Soares de Melo173e de Eduardo Marcial Ferreira Jardim,174 que também, comumente empregam a expressão “competência tributária” e no mesmo sentido. Há, ainda, no cenário da doutrina nacional, outros autores que também dão ênfase ao direito subjetivo dos Estados-membros de criar tributos como indicativo da competência tributária. Citamos José Artur Lima Gonçalves;175 Hugo de Brito Machado;176 Márcio Severo Marques;177 Betina Treiger Grupenmacher,178 Maria do Rosário Esteves179 e Clélio Chiesa.180

170 Curso de Direito Constitucional Tributário. 2006, p. 469 171 Curso de Direito Constitucional Tributário, 2006, p. 471 172 Curso de direito tributário, 2005, p. 218

173 Curso de Direito Tributário. 2001, p. 100/104

174 Manual de Direito Financeiro e Tributário. 1999. P. 180-185 175 Imposto sobre a renda: pressupostos constitucionais. 2002, p. 88-89 176 Curso de direito tributário. 2008, p. 272

177 Classificação constitucional dos tributos. 2000, p. 93

178 Tratados internacionais em matéria tributária e ordem interna. 1999, p. 37 179 Normas gerais de direito tributário. 1997, p. 57

180 A competência tributária do Estado brasileiro – desonerações nacionais e imunidades condicionadas.

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Assim, pode-se ensaiar que “competência tributária” é norma de competência legislativo-tributária, em sentido estrito, ou seja, é norma de estrutura que estabelece os critérios autorizadores para que as pessoas constitucionais possam proceder à edição e à modificação das regras-matrizes de incidência tributária, instituidoras de seus respectivos tributos.

Importa notar que tal autorização não é absoluta, devendo observar os limites formais e materiais para a instituição de tributos que o próprio sistema do direito positivo impõe.

Há limites a serem observados pelo legislador dos Estados-membros (legislador infraconstitucional). Os limites formais dizem respeito aos órgãos e ao procedimento de como devem ser editados os enunciados prescritivos. Já os limites materiais disciplinam o conteúdo dos enunciados a serem editados pelo ente político competente, sujeito passivo da norma de competência tributária.