• Nenhum resultado encontrado

Título I – Noções propedêuticas para a manipulação do direito

Capítulo 4 – Estrutura da norma de exação tributária

24. O tributo é norma de conduta e, não, de competência

24.1. Regra-matriz de incidência tributária

24.1.1. Critérios do antecedente da regra-matriz

24.1.1.1. Critério material

O critério material da regra-matriz de incidência tributária corresponde às marcas referenciais de conteúdo de um dado evento social. É o elemento nuclear da hipótese de incidência tributária e, portanto, não se confunde com o fato jurídico.

Trata-se de critério descritivo das referências indicativas dos acontecimentos sociais. É a juridicização de eventos sociais, de cunho econômico, selecionados para se sujeitarem aos efeitos da norma tributária.

Contudo, o critério material não oferece, por si só, todas as referências do evento juridicizado, pois, como sabemos, o acontecimento de um evento também está condicionado pelas marcas de tempo e lugar para que seja assim caracterizado.

Com o registro dessas particularidades, importa dizer que o critério material corresponde às marcas do comportamento ou o estado particular de uma pessoa, física ou jurídica.

No dizer de Paulo de Barros Carvalho, o critério material é composto por um verbo e um complemento, abstraindo-se, obviamente, as condicionantes de tempo e lugar que também caracterizam um evento social. Com isso, quer esse autor chamar a atenção para o fato de que o critério material não é a hipótese de incidência, sendo tão somente o núcleo dela.235

Destacar as referências de tempo e lugar do comportamento, num processo de abstração pura, permite-nos antever que não é correto afirmarmos que o critério material corresponde à hipótese de incidência tributária ou ao fato tributário. A hipótese, em sua

103

integridade, também possui as referências ao tempo e ao lugar do comportamento das pessoas, físicas ou jurídicas.

Notadamente encontramos, nos textos normativos, expressões do tipo “vender mercadorias”, “importar mercadorias”, “ser proprietário”, “industrializar produtos”, “prestar serviços”, “auferir renda”, e tantas outras expressões que indicam um verbo e o seu complemento. Assim, abstraindo aqueles elementos espaços-temporais, podemos atestar que o critério material é o núcleo da hipótese da regra-matriz de incidência tributária.

24.1.1.2. Critério espacial

O critério espacial corresponde às referências de lugar onde deva ocorrer o critério material. É a designação do espaço onde o comportamento humano previsto no núcleo da hipótese deva ocorrer, para que seja possível a incidência da regra-matriz.

Geraldo Ataliba entende que o aspecto espacial é a indicação de circunstância de lugar, contida, explícita ou implicitamente, na hipótese de incidência, relevante para a configuração do fato imponível.236

No ordenamento jurídico brasileiro, alguns documentos normativos trazem explícitas as marcas do lugar e outros, no entanto, não o fazem. É, aparentemente, opção do legislador e depende do esmero que cada um quer emprestar à clareza dos enunciados normativos. De qualquer forma, sempre haverá a marca do espaço físico em que se deu o comportamento hipotético descrito na norma jurídica.

Importa notar que não se pode confundir o critério espacial da hipótese de incidência tributária com a territorialidade da norma jurídico-tributária, pois esta diz respeito à divisão da competência entre as pessoas políticas de direito público interno no que toca aos tributos federais, estaduais e municipais. Outro aspecto distintivo importante diz respeito ao plano de eficácia territorial da lei que nada tem a ver com o critério espacial da hipótese de incidência tributária.

104

O âmbito de validade territorial da norma transcende o local de ocorrência do fato; em sentido contrário, podemos dizer que o local de ocorrência da hipótese de incidência (critério espacial) está contido no interior do universo da eficácia territorial da norma (aspecto territorial). São ontologicamente distintos.

Nesse sentido, Paulo de Barros Carvalho exemplifica bem com a legislação do IPTU, em que os efeitos da lei alcançam todo o território do município, mas somente os imóveis localizados nas áreas urbanas sofrem o impacto desse tributo.237

Assim, na esteira do entendimento de Geraldo Ataliba, pode-se concluir que as conotações espaciais da hipótese de incidência são decisivas para a conformação do fato imponível.238

24.1.1.3. Critério temporal

As relações jurídicas decorrem, por força da imputação deôntica, dos comportamentos referidos no núcleo da hipótese de incidência tributária, os quais acontecem num dado lugar e num estrato de tempo determinado.

É o tempo do comportamento o marco exato do liame abstrato da relação jurídica de que surgirão direitos e obrigações correlatas. Esse marco temporal é, sem dúvida, o ponto decisório acerca do preciso instante em que acontece o fato descrito no suposto da norma tributária e o momento em que se irradiam os efeitos jurídicos.

Assim, na hipótese da regra-matriz de incidência tributária, além do núcleo material e do lugar do comportamento, encontramos o elemento tempo, que oferece indicações relevantes para a identificação do momento em que se dá o sucesso dos eventos juridicizados que se pretendem alcançar com a tributação.

Nessa linha discorre Paulo de Barros Carvalho, que compreende o “critério temporal da hipótese de incidência tributária como o grupo de indicações, contidas no suposto da regra, e que nos oferecem elementos para saber, com exatidão, em que preciso

237 Curso de direito tributário, 2005, p. 261 238 Hipótese de incidência tributária. 2008, p. 104

105

instante acontece o fato descrito, passando a existir o liame jurídico que amarra devedor e credor, em função de um objeto – o pagamento de certa prestação pecuniária”.239

Por essa forma, podemos considerar que o marco temporal da hipótese de incidência tributária deve assinalar o exato momento em que surge um direito e um dever, em torno de uma obrigação tributária.