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Título I – Noções propedêuticas para a manipulação do direito

Capítulo 3 O sistema jurídico-tributário brasileiro

18. Sistema constitucional-tributário brasileiro

Como visto, o conjunto de normas jurídicas constitui o sistema jurídico brasileiro e a investigação acerca de sua composição permite-nos ver que no ápice desse sistema,

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encontramos, com características próprias, um subsistema em decorrência do corpo de enunciados da Constituição Federal - os enunciados constitucionais - formando, então, o que denominamos de direito constitucional, do qual se produzem as respectivas normas constitucionais.

Esmiuçando um pouco mais o subsistema constitucional e analisando as suas porções é possível “dividi-lo”, didaticamente, em tantos outros subsistemas nos quais se aglutinam características normativas que conotam um objeto material comum. Trata-se, em verdade, de um conjunto de normas que acabam por constituir outro subsistema, como aduzimos exemplificativamente, o subsistema do direito constitucional, tributário, administrativo, civil, comercial, penal, processual, etc.

Disso resulta que, identificando-se a presença de normas jurídicas, dentre tantas outras no emaranhado de enunciados constitucionais, que regulem, direta ou indiretamente, a atividade estatal de tributar, tem-se aí o conglomerado de normas constitutivas do

subsistema constitucional tributário.

Note que, como unidade sistêmica, a homogeneidade do subsistema constitucional tributário se dá pelo fato de estarem todas as normas insculpidas no texto constitucional e disciplinarem a atividade estatal de criar, fiscalizar e arrecadar tributos. Com efeito, é um subsistema que, quase exclusivamente, regula a competência tributária atribuída aos entes políticos tributantes: a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.

É realidade que a nossa Constituição Federal cuidou minuciosamente da questão tributária, estabelecendo toda a diretriz normativa para as relações jurídicas envolvendo matéria dessa natureza.

Nesse sentido, assevera Geraldo Ataliba que algumas constituições se caracterizam como um “cheque em branco” no que diz respeito à disciplina tributária, sem regras ou com regras muito frouxas, permitindo discricionariedade da Administração Pública no trato da matéria tributária.147

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Não é o caso da Constituição Federal do Brasil que, segundo Roque Antonio Carrazza, o “nosso constituinte cuidou do tema à exaustão e com esmero, podendo-se dizer que, neste passo, beirou os limites do casuísmo”.148

Por assim ser, nossa Constituição Federal está caracterizada por uma marca expressiva de enunciados destinados a regular a matéria tributária, colocados ao lado de tantos outros destinados a disciplinar a estrutura do Estado, a divisão e organização dos poderes, os direitos e garantias fundamentais. Por esse paralelo, há de se ver, então, a importância que galgou o subsistema constitucional tributário.

Como corolário, as disposições constitucionais tributárias estabelecem as balizas mestras do objeto, material e formal, que as pessoas políticas, União, Estados, Distrito Federal e os Municípios deverão observar para a produção de normas jurídico-tributárias. Isso quer dizer que a produção normativa relativa às relações jurídico-tributárias está integralmente regulada pela Constituição Federal.

Nessa seara, importa destacar que a norma jurídico-tributária caracteriza-se pela constituição de uma norma infraconstitucional cuja hipótese possui elementos descritivos de um evento lícito e prescreve em seu conseqüente os critérios para a constituição de uma relação jurídica entre dois sujeitos, cujo objeto será uma prestação pecuniária devida pelo sujeito passivo ao Estado, numa relação implicacional.

Por essa forma, podemos ver que o subsistema constitucional tributário regula o Poder de tributar, limita o Poder do Estado, equiparando-o juridicamente ao do particular, ou seja, deixando ambos submetidos aos limites impostos pelo direito positivo.

Com efeito, o subsistema constitucional tributário disciplina a limitação ao “poder” de tributar, estabelecendo o que se conhece como competência tributária. Esta é caracterizada como um vértice regulador em que vislumbramos a vertente do exercício da capacidade tributária ativa do Estado (direito de tributar) de um lado e a vertente da capacidade contributiva do contribuinte (direito de ser tributado até o limite de sua capacidade econômica) do outro.

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Nesse sentido, Roque Antonio Carrazza assevera que “entre nós, a força tributante estatal não atua livremente, mas dentro dos limites do direito positivo. Como veremos em seguida, cada uma das pessoas políticas não possui, em nosso País, poder tributário (manifestação do ius imperium do Estado), mas competência tributária (manifestação da autonomia da pessoa política e, assim, sujeita ao ordenamento jurídico-constitucional). A competência tributária subordina-se às normas constitucionais, que, como é pacífico, são de grau superior às de nível legal, que prevêem as concretas obrigações tributárias.”149

Impende registrar que a norma de competência tributária, por estar alçada no plano constitucional, não está restrita a uma visão pragmática, cuja finalística seria regular tão somente o comportamento do órgão político tributante; mais que isso, a norma de competência, para esse mister, possui um perfil completo acerca da matéria tributária. Assim, ela alcança todas as nuances que implicam uma relação jurídica tributária, esboçando, então, o arquétipo tributário às pessoas políticas.

Insta dizer que a norma de competência descreve como hipóteses normativas os eventos possíveis de serem tributados, os fatos jurídicos e as pessoas possíveis de serem imunes à tributação, a conformação do valor ao fato tributado (base de cálculo e alíquota) e até mesmo os princípios constitucionais aplicáveis a cada espécie tributária. É a demarcação do campo de atuação do legislador infraconstitucional.

Por derradeiro, é no bojo do subsistema constitucional tributário que encontraremos as prescrições normativas acerca do processo legislativo e dos respectivos documentos normativos, credenciados para introduzir no sistema de enunciados prescritivos do direito positivo tributário, novos enunciados com substância tributária.