• Nenhum resultado encontrado

4 A DIMENSÃO SOCIAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

4.4 Competência ambiental de pdls

O conceito de competência ambiental corresponde ao conjunto de habilidades que um indivíduo adquire para dominar as condições físicas do ambiente, de modo a permitir a satisfação de suas necessidades físicas, sociais e culturais.

WHITE (citado por STEINFELD, DUNCAN e CARDELL, 1977) afirma que a competência ambiental é obtida através da exploração espacial, como meio de se

desenvolver habilidades para poder lidar o ambiente. A cada novo espaço, uma nova habilidade é adquirida e trabalhada; através de processos de adaptação, as pessoas exploram novas situações ambientais e ampliam os limites da sua competência. O conjunto dessas habilidades, desenvolvidas gradativamente durante a vida, confere ao indivíduo a qualidade de dominar as condições ambientais para o desenvolvimento de seu papel social.

Também para STEINFELD, DUNCAN e CARDELL (1977), as pessoas vivem em um leve e constante estado de desequilíbrio entre suas habilidades e as condições ambientais, expandindo suas habilidades através de uma adaptação lenta e contínua ao ambiente. No entanto, se há uma grande discrepância entre a competência e as exigências ambientais, os esforços para lidar com o ambiente levam a pessoa ao fracasso e ao sentimento de frustração no enfrentamento de situações adversas, quais sejam a existência de barreiras físcias e arquitetônicas que impeçam seus deslocamentos e acesso.

Para Guimarães (1991), o meio ambiente pode ser muito hostil ou muito ameno, inibindo o desenvolvimento do potencial individual, a qual pode chegar a deixar de explorar as fronteiras de suas limitações físicas; por outro lado, quando o meio ambiente impõe condicionantes da atividade humana dentro de limites admissíveis à adaptação, o ser humano se sobrepõe aos condicionantes ambientais, e se revela perante aos demais. Assim, o domínio dos condicionantes físicos ambientais pode ser considerado um poderoso impulsionador do desenvolvimento pessoal.

As pessoas com deficiência, em sua maioria, experimentam uma grande diferença entre suas habilidades físicas e as exigências ambientais, pois, de modo geral, não conseguem assumir o controle sobre as condições ambientais necessárias ao relacionamento social. Ao terem seus esforços frustrados na exploração do ambiente, pessoas com deficiência não conseguem sustentar o processo de adaptação que as demais pessoas vivenciam continuamente (STEINFELD, DUNCAN e CARDELL, 1977); isso não significa que eles não vivenciem nenhum tipo de adaptação, mas o nível é tão baixo que o desenvolvimento de suas habilidades é mínimo. Dessa forma, muitas delas não conseguem estabelecer um nível aceitável de competência ambiental, o que está diretamente relacionado à dependência do auxílio de outras pessoas para a realização das atividades da sua vida diária.

Esse baixo nível de competência ambiental traz diversas conseqüências sociais e psicológicas aos indivíduos com deficiência, pois, a serem impedidas de experienciar os espaços construídos como a maioria das pessoas, as diferenças concretas das pessoas com deficiência ficam ainda mais evidentes, o que gera o peso psicológico de perceberem - se como pertencentes a uma minoria, contribuindo para o processo de segregação psico- social e de exclusão espacial (DUARTE e COHEN, 2004).

Significa dizer que as relações das pessoas com deficiências com outras pessoas também são consideradas como fatores que influenciam o grau de habilidade de lidar com as diferenças entre essas pessoas, tanto quanto ocorre com as relações com o ambiente. Essas relações estão ainda relacionadas com o desenvolvimento da identidade das pessoas com deficiência, frente à necessidade de se sentir incluída, de interagir socialmente e espacialmente. Além disso, ao se sentirem incompetentes neste processo de interação elas podem vir a desenvolver identidades negativas.

Outro aspecto que também demonstra a interdependência entre a competência ambiental e o desenvolvimento do papel social dos indivíduos numa interação social, é o fato de que as pessoas precisam expressar sua identidade através do domínio territorial e do controle do seu espaço pessoal.

Segundo GUIMARÃES (1991, p.19), o prestígio de um indivíduo ocorre pela exposição de sua identidade e pelo reconhecimento do domínio de seu espaço pessoal; por outro lado, a segregação de um indivíduo é função conjunta de seu anonimato (não reconhecimento da identidade) e da intrusão (invasão de seu espaço pessoal). Por outro lado, maior competência ambiental e controle da informação sobre si mesmo significa maior autonomia e espontaneidade para o comportamento exploratório e para a interação social.

Nesse sentido, acesso absoluto dos usuários corresponde à liberdade de escolha entre diversas alternativas de exploração ambiental. Cada escolha reforça o poder de decisão em assumir o controle da informação sobre a individualidade, e isso lhes assegura a confiança própria em seus esforços de trabalhar e de conviver ativamente. (GUIMARÃES, 1991, P.25)

Considerando que a acessibilidade reside na oferta de alternativas para o uso ambiental e que o poder de decisão sobre a forma mais adequada de utilização do espaço assegura ao indivíduo autonomia, a acessibilidade ambiental, obtida pela

instrumentação do indivíduo contra os condicionantes ambientais e pelo desenvolvimento de sua competência em relacionar - se com os espaços, deve garantir sua liberdade de decisão e a possibilidade de organização de seu tempo e de administração dos objetivos em sua vida. Em outras palavras, a acessibilidade ambiental absoluta deve permitir que o ambiente seja motivador, que o usuário defina por si mesmo seu objetivo a ser alcançado, e que qualquer ajuda de outros seja utilizada por decisão pessoal e planejada, e não por imposição circunstancial e inesperada. Assim, a acessibilidade irá garantir níveis flexíveis de conforto ambiental permitindo o desenvolvimento da competência ambiental de todas as pessoas e a satisfação psico- social advinda desse conforto (GUIMARÃES, 1991, p.26).

O mesmo autor ainda alerta sobre a dificuldade de se projetar espaços públicos realmente acessíveis. Para ele, a tarefa de criar espaços absolutamente acessíveis pode até ser fácil quando o usuário da edificação for o cliente específico do arquiteto, ou seja, quando o usuário puder oferecer informações pessoais sobre suas necessidades ambientais específicas para aquele espaço. Porém, tal desafio pode ser enorme e de difícil execução se consideramos o amplo contexto do espaço público, em que necessidades distintas de diversos grupos sociais deverão ser compatibilizadas.

Por sua vez, DUARTE (2004) complementa que o espaço público é, por definição, o paradigma da democracia. Portanto, entende-se que seu planejamento deve contemplar o acesso de todas as pessoas que integram a sociedade. Essa visão mais abrangente do lugar público não se restringiria, portanto, à eliminação do grande número de barreiras à acessibilidade, mas almejaria um estimulo ao convívio entre a diversidade humana, gerando oportunidades de encontros e lazer para todos. Ou seja, os espaços urbanos, lugar de trocas e relações humanas, devem oferecer meios e recursos para garantir a acessibilidade física para todas as pessoas, e em particular, para as pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida; o que pode ser alcançado por meio de um desenho que inclua a todos, e que por meio dele, todos possam alcançar e utilizar de forma natural e segura, os espaços das cidades, construídos ou não.

Atentando, ainda a COHEN e DUARTE (2006): As cidades devem ser locais de encontro, trocas e convívio. Como ressalta Jacobs (1961), as pessoas participam da vida do bairro porque estão inseridas num sistema de relações. No entanto, temos visto que, para as pessoas com deficiência, diversas barreiras dificultam o

acesso, o convívio e os encontros entre pessoas. Ao serem impedidas de experienciar os espaços, as pessoas com deficiência percebem que as diferenças físicas entre as pessoas ficam ainda mais realçadas. Para alguns, isso traz a consciência de pertencer a uma minoria e contribui para a segregação e para a exclusão. A exclusão espacial passa, então, a significar também a exclusão social. Desta forma, é fácil compreender que a capacidade de desenvolver afetos pelo lugar depende do grau de acolhimento que estes espaços oferecem às pessoas.

A Acessibilidade considerada dentro deste conceito, universal, é um processo que deve ter origem nas decisões iniciais de desenho, no conhecimento das necessidades espaciais dos indivíduos, e, sobretudo, na vontade de fazer o que deve ser feito; não só porque a lei exige que assim seja. Desta forma é uma qualidade que deve estar incorporada naturalmente nos projeto, não por imposição.

O conceito de Desenho Universal em ambientes urbanos inclusivos terá sido totalmente absorvido quando qualquer pessoa, idosa ou não, com perdas funcionais, ou ditas normais, puderem transitar pela cidade, deslocar-se pelas calçadas, atravessar ruas, desfrutar das praças, acessarem os edifícios e utilizar-se de transporte público, com autonomia, independência e, sobretudo, com liberdade de escolha pelos caminhos por onde deseja andar.

Do ponto de vista econômico e social, é de interesse do Estado o incentivo à eliminação de barreiras arquitetônicas e a um meio ambiente integrador, que permita o desenvolvimento e produção de todo indivíduo. As previsões são de que, com o avanço da Medicina, multiplique o número de pessoas que sobrevivem em condições incapacitantes. Também quanto à média de vida, estima - se que até o ano 2030, 20% da população em termos mundiais, terão idade superior a 65 anos. Nesse sentido, o Desenho Universal torna - se uma importante e obrigatória ferramenta na consolidação desses espaços de inclusão almejados, sendo, portanto, relevante que se dedique especial atenção a este tema.

5 ACESSIBILIDADE E PATRIMÔNIO: OS ESPAÇOS URBANOS DE INTERESSE