• Nenhum resultado encontrado

Por se tratar de uma dissertação voltada para o estudo da acessibilidade em uma área de difícil intervenção, ou seja, uma área urbana com feição histórica optou - se por, no trabalho de campo, utilizar multimétodos (SOMMER & SOMMER, 2002), ou seja, promover a associação entre alguns métodos, a fim de agregar as informações essenciais à elucidação da temática.

Para poder escolher os métodos de investigação que lhe proporcionarão um conhecimento mais rico e abrangente de seu objeto de estudo, é imprescindível que o pesquisador tenha uma noção clara das dimensões subjacentes ao fenômeno que está estudando, além de contar com uma sólida formação que lhe proporcione um conhecimento amplo sobre estratégias e instrumentos de pesquisas passíveis de serem utilizadas em seu trabalho. (GUNTHER, PINHEIRO & ELALI, 2008)

Nesse sentido, foi realizado o levantamento dos documentos referentes aos dois projetos em estudo, e feita uma pesquisa de campo exploratória, desenvolvida em dois momentos: reconhecimento técnico do espaço previamente delimitado (vistoria baseada em check list) e observação comportamental por sua vez subdividida em observação livre e mapeamento comportamental centrado na pessoa.

O levantamento documental teve como principais referências os projetos Cidade sem Barreiras e Cidade para Todos , que deram origem às intervenções físicas em estudo. Para tanto se recorreu à leitura de documentos oficiais, mapas, fotos e registros pessoais, além de bibliografia relativa aos temas recorrentes à acessibilidade, os quais também compõem o referencial teórico que sustenta a avaliação técnica. Ofereceu, ainda, apoio para a fundamentação teórica sobre o estado da arte do tema, o estudo de experiências similares, através de visitas a sítios urbanos considerados acessíveis (quer ainda estivessem sob intervenção quer as respectivas obras já tivessem sido concluídas), além do back - ground 51pessoal da pesquisadora ao longo de quase vinte e cinco anos de estudo sobre o tema, referencias apresentadas ao longo do texto, sobretudo por meio de fotografias, as

quais destacam diferentes modos de aplicação de critérios de acessibilidade aceitáveis pelo mundo afora .

O reconhecimento técnico da área em estudo ocorreu a partir de vistorias fundamentadas na legislação que versa sobre atuação em sítios históricos, acessibilidade e normas brasileiras temáticas. Nesse contexto destaca - se a Lei Municipal 4.090/92, que forneceu os parâmetros para as intervenções realizadas na Cidade Alta, a partir de sua interface com as leis federais 10.048 e 10.098 (ambas do ano 2000), com o Decreto Federal 5.296 (de 2004) e com a Norma Brasileira 9050 (do mesmo ano), à qual o decreto remete. A vistoria recorreu a um check list abordando 9 (nove) condições relacionadas às calçadas e passeios, abrangendo, no total, 100 (cem) critérios essenciais à acessibilidade (Apêndice 01), cujos comentários serão mais detalhados item 8.1.

Finalmente, o estudo da acessibilidade focada nos comportamentos humanos face às condições oferecidas para o deslocamento no espaço pesquisado, ocorreu a partir da observação, que possibilitou a identificação e o registro de situações relevantes, recorrendo, concomitantemente, às técnicas da fotografia e anotações pessoais. Ressalte-se que a observação permite captar os comportamentos espontâneos, sem intromissão ou solicitações por parte do pesquisador, para realizarem quaisquer tipos de ação, sendo, portanto, uma ferramenta de pesquisa bastante eficaz quanto aos resultados obtidos.

A depender dos objetivos da investigação a ser desenvolvida, a realização de observações tem grande aplicabilidade, encontrando rebatimento em várias áreas que focalizam seus estudos em aspectos relativos ao movimento e localização das pessoas no espaço. (PINHEIRO, ELALI & FERNANDES, 2008)

Após algum tempo de observação livre, optou-se por realizar o mapeamento comportamental centrado na pessoa, como técnica cuja meta foi ilustrar situações cotidianas nas quais os problemas de acessibilidade se tornaram mais evidentes (envolvendo portadores de deficiência ou não). De acordo com a literatura específica nessa área, o mapeamento comportamental centrado na pessoa (MCCP)

(...) corresponde ao acompanhamento de um indivíduo durante o tempo em que permanece no espaço em estudo. Ao final das observações, os dados são transferidos para um mapa do local e descritos detalhadamente em uma ficha de acompanhamento. (...) As observações podem ser contínuas ou periódicas. (...)

Quando as atividades se mostram regulares e previsíveis, é preferível passar para a pessoa seguinte. (...) A decisão sobre quantas pessoas incluir depende mais de aspectos práticos da pesquisa (custo, disposição do Pesquisador, etc.) do que da teoria subjacente. (PINHEIRO, ELALI & FERNANDES, 2008).

Esse conjunto de métodos/técnicas de pesquisa foi usando nas inúmeras visitas à área realizadas pela pesquisadora entre os anos de 2005 e 200752, nas

quais foi possível detectar diversas situações relacionadas à acessibilidade, de um modo geral, e especificamente, das condições de acessibilidade em diversos sítios históricos.

9.1 Detalhamento da Pesquisa de Campo

A vistoria técnica exigiu diversas visitas à área para coleta de informações sobre o objeto de estudo, de modo a construir um diagnóstico do quadrilátero que constitui a delimitação física da pesquisa, para o que foi fundamental a técnica de fotografia, a partir da qual as intervenções existentes foram documentadas em detalhes, assim como os materiais adotados nas mesmas.

Nelas, a pesquisadora, vivenciando os diversos espaços da Cidade Alta, colocou-se como integrante do universo de usuários, apropriando-se diferentemente da realidade e experimentando, por meio de diversas sensações, realizando percursos e estabelecendo, desta forma, as rotas que definiram as pesquisas de campo que se seguiram.

Segundo BECHTEL e ZEIZEL (1990), antes de realizar a observação científica de um espaço, deve - se fazer uma observação de orientação: o pesquisador deve caminhar, observar, ouvir, sentir, vivenciar o espaço para, primeiramente, conhecê-lo. Através dessa experiência informal do espaço e do comportamento relacionado a ele, o observador pode inferir várias hipóteses sobre quais fatores do ambiente podem influenciar o comportamento. A mesma observação pode servir, também, para orientar sobre a estrutura geral do espaço, para identificar os atores, experimentar a dimensão e forma dos espaços e estabelecer pontos de referência.

52 Excetuando - se, obviamente, o grande contato da pesquisadora com o local durante a implantação dos projetos, quando atuou na equipe técnica que realizou a implantação.

Segundo tais considerações, após as visitas de reconhecimento do espaço, ou walktrough, as vistorias técnicas foram realizadas em dias e horários de menor movimento na Cidade Alta (especialmente fins de semana), uma vez que o objetivo era a avaliação física das condições locais de acessibilidade e da qualidade das intervenções existentes (seja pelo aspecto de sua manutenção, seja pelos critérios adotados na sua execução), tentando assim, estabelecer, também, uma cronologia relacionando-as com os projetos levantados na fase de estudos teóricos. Isso explica, por exemplo, a pouca presença de pessoas em parte das fotos apresentadas nessa dissertação, algumas das quais podem dar a impressão de que a área é pouco utilizada. Ocorre que, em horários de muito movimento o intenso fluxo de usuários impede a visualização dos problemas (sobretudo nos pisos). Tal situação é ilustrada nas fotos 141 e 142 feitas no mesmo local, mas em horários diferenciados; ressalte-se que na primeira é praticamente impossível visualizar os problemas relacionados às travessias, encobertos pela presença dos transeuntes

Fotografias: 141 e 142: No cruzamento da Av. Rio Branco com Rua Ulisses Caldas, em horário de grande fluxo de pedestre e no final de semana.

Note - se que, embora nesta área o fluxo seja intenso diariamente, torna - se inviável qualquer avaliação das travessias, por exemplo, durante os dias de semana.

Fotos: Teresa Pires (Nov./2007)

Nos dias 09 e 12 de janeiro de 2008, excepcionalmente, foram realizadas visitas para complementar o inventário fotográfico, abordando, principalmente, a implantação de uma estação de transferência de usuários de transportes coletivos na Avenida Rio Branco. Estas visitas objetivaram, sobretudo, averiguar os critérios utilizados na implantação deste equipamento, à luz das normas e legislações vigentes, porém, resultaram, também, em algumas observações importantes quanto aos comportamentos de alguns usuários daquele serviço.

No check-list que auxiliou a elaboração do diagnóstico de campo foram destacadas as principais características que dizem respeito à acessibilidade nesses espaços, sobretudo, relacionadas às calçadas e aos fatores que nelas interferem, positiva ou negativamente.

Foram adotadas cores diferentes para a atribuição de pontuação entre inacessível a acessível, e como também para a existência ou não, de determinado elemento citado, objetivando facilitar a visualização das características levantadas por meio deste tipo de instrumento e sistematizar as informações visando aos resultados que deram base às diretrizes e conclusões finais.

Com base nos trabalhos de Guimarães (1999) e Elali (2002) os critérios avaliados no check-list foram formatados em um quadro sintético, para cada trecho, implicando na sistematização de dados para espaços de uso coletivo, centrados nos passeios e ambientes públicos, após o que, foram pontuados com conceitos que variaram de 0 (zero) a 4 (quatro), conforme os critérios de adequação das intervenções. Aos resultados obtidos através desta sistemática foram atribuídos valores percentuais, dentro de uma graduação que varia de 0 ( zero) a 100 (cem), em correspondência com as cores para cada nível (Figura 143). Desta forma foi possível estabelecer os níveis gerais de acessibilidade, em média percentual, para cada trecho, ou área pesquisada, em função dos atributos levantados no diagnóstico.

Os aspectos mais pitorescos, críticos ou eficientes, foram analisados à luz das normas e legislação aplicáveis nos dias de hoje, e destacados por meio de registros escritos, auxiliando na identificação de critérios sobre intervenções em áreas de interesse histórico e cultural, com vocação turística, embasando os resultados e diretrizes a serem implementadas em projetos para áreas similares na cidade do Natal.

Figura 143: Quadro de valoração e nivelamento de acessibilidade em áreas de uso público