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FINALIDADE DE PESQUISA: PERSPECTIVA BRASILEIRA

4) Fármacos: Os tipos de produtos antes apontados têm a vantagem de ser mais inde- inde-pendentes do controle da Anvisa, mas não há como deixar de investir em tecnologia

10.2 COMPETÊNCIA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

A expansão do conhecimento científico relacionado às interações fauna e flora dos ecos-sistemas aquáticos e terrestres dos biomas nacionais, sob a ótica tanto taxonômica-evo-lutiva, quanto da biologia e comportamento dos vetores das doenças endêmicas requer a utilização de técnicas de vanguarda que permitam a identificação de espécies (com aná-lise morfológica, anatômica e química), o conhecimento de suas relações de parentesco, para facilitar a produção de novos fármacos.

Para isso, a biotecnologia é indiscutivelmente uma valiosa ferramenta para aprimorar:

o uso da biodiversidade; a melhoria dos alimentos e a obtenção de moléculas bioativas de uso na medicina. Assim, a biotecnologia pode se tornar um aliado fundamental para a gestão do patrimônio genético em prol do desenvolvimento da produção de fitoterá-picos a partir de plantas medicinais conhecidas ou com potencial que possam vir a ser investigadas, em função da competência científica e tecnológica que dispomos no país.

O estudo diagnóstico realizado a partir da análise de bases de dados da ciência e tecno-logia apontou que há competência considerável em ciências biomédicas, com forte con-centração de atividades de pesquisa nas áreas biológicas no Brasil. Aproximadamente 26% dos pesquisadores atuam nas áreas de saúde e biologia. Esta constatação é relevan-te, levando-se em conta que uma grande proporção das necessidades de saúde do país constitui alvos estratégicos para a moderna biotecnologia. Tais alvos incluem vacinas, soros, antitoxinas, reagentes biológicos, medicamentos, plantas medicinais e pesticidas (MARQUES, 2000).

O Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos pode contribuir para o desenvolvimento científico e tecnológico regional na medida em que proporciona a capacitação de recursos humanos locais por meio de parcerias envolvendo academia, complexo produtivo industrial e comunidades locais promovendo o fornecimento de informações confiáveis sobre a taxonomia dos ecossistemas locais, desenvolvimento de novos produtos e processos ajudando na geração de riquezas por si próprias, em um contexto de internacionalização econômica.

No País, há competência acadêmica e científica distribuídas por todas as Regiões. O Departamento de Assistência Farmacêutica do Ministério de Saúde, em 2009, realizou um levantamento da capacidade instalada de ciência e tecnologia na área de plantas medicinais e fitoterápicos. A pesquisa foi feita, a partir de busca realizada no Diretório de Grupo de Pesquisa do Brasil do sítio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) do Ministério da Ciência e Tecnologia, utilizando 33 palavras-chaves relacionadas ao tema. Constatou-se que há 1.789 Grupos de Pesquisa em que estão integrados 3.853 pesquisadores desenvolvendo pesquisas em temas como:

Plantas Medicinais, Química dos Produtos Naturais, Fitoterápicos, Fitoquímica, Etno-botânica; Extratos Vegetais, Bioprospecção, CQ de Plantas Medicinais e CQ de Fitoterá-picos, entre outros.

No entanto, busca feita no Diretório de Grupo de Pesquisa do CNPq, com apenas as palavras plantas medicinais fitoterápicos (denominado a partir de então no texto como

“fitoterápicos”), em 06/10/2009 (Tabela 1, anexo), identificou-se 34 grupos de pesquisa distribuídos em 29 instituições. Com relação à distribuição regional tem-se: 13 na região Sudeste, 10 na Sul, quatro na Nordeste, quatro na Centro-Oeste e três na Norte. Em relação ao número de pesquisadores, encontrou-se 341 pesquisadores, sendo: 126 na Região Sudeste, 95 na Sul, 46 na Nordeste, 39 na Centro-Oeste e 35 na Norte. Quanto ao

número de grupos de pesquisa por instituição, exceção feita a UFSC que apresentou três grupos e as Universidades Federais de Minas Gerais, da Paraíba e de Pernambuco que apresentaram dois grupos cada uma, as demais, em um total de 30, apresentaram um grupo de pesquisa por instituição.

Já, com a palavra-chave Biofármacos (Tabela 2, anexo) identificou-se 17 grupos de pes-quisa, 14 instituições e 208 pesquisadores, distribuídos regionalmente, a saber: 12 na Região Sudeste, com 137 pesquisadores; três na Região Centro-Oeste, com 34 pesqui-sadores, um, na Região Nordeste, com 28 pesquisadores e um na Região Sul com 9 pes-quisadores. Na Região Norte não foi identificado nenhum Grupo de Pesquisa, a partir dessa busca.

Quando se compara a produção científica do tema fitoterápico com o tema Biofármaco, o primeiro apresenta uma média de 136 publicações por grupo, enquanto o segundo 296 por grupo, sendo que a diferença maior se concentra nas publicações internacionais do tema Biofármaco, já que este apresenta uma média de 216 por grupo, enquanto que o tema Plantas Medicinais e Fitoterápicos 80 por grupo.

No que concerne à Formação de Recursos Humanos (FRH), avaliado pelo somatório de alunos de Iniciação Científica, Mestrado e Doutorado, não se encontra muito diferença entre os temas analisados, já que Biofármacos apresenta 2.262 e Fitoterápicos 2.497.

Quando se analisa a FRH por nível acadêmico, verifica-se que o tema Biofármaco apre-senta 850 alunos de mestrado, 427 de doutorado, enquanto que o tema Fitoterápico, apresenta 664 alunos de mestrado e 205 de doutorado, sendo que quando se trata de alunos de Iniciação Científica foi possível identificar 985 alunos para o tema Biofármaco e 1.628 alunos para Fitoterápico. Cabe destacar que o primeiro tema apresenta metade do número de grupos de pesquisa (17) em relação ao segundo que apresenta (34).

Há que se considerar os dados observados a partir da comparação dos temas Biofármaco e Fitoterápico, sobretudo relacionado com o menor número de alunos de doutorado, menor número de publicações em revistas internacionais e maior número de alunos de Iniciação Científica no âmbito do tema Fitoterápico.

Quanto à distribuição regional, torna-se importante ressaltar que 12 (137 pesquisadores) dos 17 grupos de pesquisa em Biofármaco encontram-se na Região Sudeste, enquanto que no tema Fitoterápico apenas 13 (126 pesquisadores) dos 34 grupos de pesquisa.

No que concerne a titulação dos líderes dos Grupos de Pesquisa, no tema Fitoterápico, todos apresentavam o título de doutor, exceção feita a um Grupo de pesquisa em que apenas um dos líderes era mestre. Quanto ao número de Bolsa de Produtividade em

Pesquisa foram identificadas treze bolsas (4 PQ-2, havendo 1 DT-2, 4 PQ-1D, 2 PQ-1C, 1 PQ-1B e 1 PQ-1A), distribuídas em 8 dos 34 (cerca de 23%) Grupos de Pesquisa.

Já, para o tema Biofármaco, todos os líderes apresentaram o título de doutor, sendo iden-tificadas 16 bolsas de produtividade (7 2 e mais 1 DT-2, 3 1D, 1 1C, 3 PQ--1B, 1 PQ1A), distribuídas em 13 dos 17 (cerca de 76%) Grupos de Pesquisa.

Há que se considerar que a modalidade de Bolsa de Produtividade em Pesquisa do CNPq apresenta categorias PQ2 e PQ1, sendo que esta última integra pesquisadores mais con-solidados em termos de coordenação de projetos, produção científica e formação de re-cursos humanos, o que repercute até mesmo no valor monetário da bolsa, já que, a esta, acompanha uma taxa de bancada de mesmo valor. Essa categoria PQ 1 integra, ainda os níveis 1D, 1C, 1B e 1A, sendo este último, o nível mais alto dessa modalidade de bolsa.

Deve-se ressaltar que a categoria DT é semelhante à PQ, porém, está voltada para o de-senvolvimento tecnológico.

Nesse sentido, o tema Fitoterápico apresenta: 5 PQ2 e 8 PQ1 (4D, 2C, 1B e 1A), enquan-to que Biofármaco: 8 PQ2 e 8 PQ1 (3D, 1C, 3B e 1A). A distribuição das categorias e níveis de bolsas foi bastante semelhante entre os dois temas analisados, embora, como já colocado anteriormente, em universos correspondentes a 34 e 17 grupos de pesquisa, respectivamente.

No tocante as instituições e enfatizando-se que os grupos foram identificados utilizan-do-se apenas as palavras-chave plantas medicinais e fitoterápicos, os grupos de pesquisa relacionados ao tema Biofármaco encontram-se na Unesp (2 grupos), UFV, UFJF, USP (2 grupos), UFRJ (2 grupos), Unicamp, Instituto Butantan (2 grupos) e CNEM, UnB (2 grupos) enquanto que para Fitoterápicos: Uniararas, UFJF, FIOCRUZ, Unifenas, Uni-fesp, Unilavras, UFMG (2 grupos), UFU, UFRJ, Unicamp, Unifal/MG, UFES, UnB. Há que se considerar a consolidação dessas instituições em termos de pós-graduação em ní-vel de doutorado nos temas observados e o número de alunos de doutorado encontrados a partir de busca feita com essa duas temáticas.

Um levantamento feito a partir do campo “cursos recomendados” acessado em 05/12/2009 do sítio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação, tendo como “Grande Área” – Ciências da Saúde e “Área” – Farmácia, identificou-se 39 Programas de pós-graduação, sendo 20 com doutorado e 34 com mestrado. Desses, 19 apresentavam simultaneamente mestrado e doutorado, havendo, ainda 4 com Mestrado Profissional, distribuídos entre as seguintes instituições (entre parêntese encontram-se números de Programas por instituição): USP (4), USP-RP (3), Unesp (2), UFRGS (2), UEM (2), UFPE (2), UFRN (2), as demais com

apenas 1 Programa, a saber: UFMG, UFRJ, Fiocruz, UVV, Ufop, UFPR, UFSC, UFSM, Univali, Uniban, Uniso, Unifal, UFC, UFPA, UFBA, UFPB/JP, FUFSE, FUFPI, UFG, UCGO, Unicentro, UFAM. A grande maioria apresentava como área de concentração

“Ciências Farmacêuticas”. No entanto, foi possível identificar, pelas informações daque-le campo do citado sítio, e, ainda, nessa área de Ciências Farmacêuticas, 3 Programas com área de concentração envolvendo Produtos Naturais, a saber: Produtos Naturais e Substâncias Bioativas (Univali), Produtos Naturais e Sintéticas (USP-RP) e Produtos Naturais e sintéticos Bioativos (UFPE), o que não quer dizer que esses temas possam ser abordados em outros cursos identificados como apenas “Ciências Farmacêuticas”.

De toda forma, foram identificadas 3 das 9 instituições do tema Biofármaco, todos com mestrado e doutorado e conceitos 4, 5 e 6, respectivamente; uma das instituições – a USP – apresenta 4 programas de pós-graduação nessa área, sendo um com conceito 6, dois com conceito 5 e um com conceito 4. Já, no tema Fitoterápico foram identificadas 4 instituições das 11 instituições do tema Fitoterápico. Dessas, duas com mestrado e dou-torado com conceitos 4, uma só tinha mestrado com conceito 3 e outra com mestrado profissional com conceito 4.

Evidentemente, dada a multidisciplinaridade do tema, certamente, há outros Programas de Pós-Graduação com interfaces com a área de Ciências Farmacêuticas e que desenvol-vem projetos, tanto do tema Fitoterápicos, quanto de Biofármacos. No entanto, consi-derando o universo analisado, depreende-se a necessidade de se estimular a criação de novos Programas de Pós-Graduação no tema Fitoterápicos, como também a progres-são no conceito da Capes dos emergentes, o que certamente implicará em aumento do número de alunos de doutorado, que nesse tema representa o índice mais baixo, não somente com relação a biofármacos, como também a radiofármacos, terapia celular, te-rapia gênica, células tronco e genoma humano, conforme Tabela 3 anexa, levantados em trabalho realizado no âmbito do Departamento do Complexo Industrial e Inovação em Saúde da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saú-de ( SCTIE/MS). Observou-se também que Fitoterápico foi a área que apresentou índice mais alto de alunos de Iniciação Científica.

Da análise das repercussões dos grupos de pesquisa identificados a partir de busca feita com as palavras-chave “plantas medicinais” e “fitoterápicos”, depreende-se que o tema é abrangente e, como tal, multi e trans disciplinar, o que implica na interação de pro-fissionais das mais diversas formações, como por exemplo: ecologistas, biofísicos, toxi-cologistas, farmacêuticos, farmatoxi-cologistas, químicos, agrônomos, biólogos, botânicos, epidemiologistas, cientistas sociais e profissionais de educação e saúde que atuam em áreas como: Farmacologia, Toxicologia, Fisiologia, Genética, Química, Botânica, Agro-nomia e Farmácia contemplando, ainda, as áreas do âmbito da Farmacotécnica, Tecno-logia Farmacêutica, Farmacognosia. Sendo que a integração interdisciplinar no âmbito do binômio saúde/ambiente, com foco nas condições de vida, encontra-se terreno fértil

por meio do desenvolvimento da ciência e tecnologia, da gestão pública e privada e dos movimentos sociais.

Nesse sentido, há que se considerar o limite imposto pelas palavras-chave utilizado para a busca dos grupos de pesquisa dessa temática de abrangência tão ampla, uma vez que há pesquisas envolvendo desde o conhecimento taxonômico até no desenvolvimento de todas as etapas da cadeia produtiva, evidentemente, com todas as nuances econômica, política, social e cultural.

Torna-se importante ressaltar um levantamento feito a partir da Base de Dados denomi-nada Pesquisa Saúde do Departamento de Ciência e Tecnologia da SCTIE/MS referente a projetos aprovados na Subagenda “Complexo Produtivo”, no período de 2002 a 2008, em que mostra cerca de 10 projetos, do âmbito da temática fitoterápicos, coordenados por líderes de Grupos de Pesquisa, identificados a partir do Diretório de Grupo de Pes-quisa do CNPq.

Quanto à publicação em revistas internacionais desses grupos verificou-se uma média de 424 por grupo de pesquisa. Já, com relação à FRH observou-se: 52% de alunos de iniciação científica, 32% de alunos de mestrado e 20% doutorado.

Há que se observar o aumento na produção científica, referente à publicação em revistas internacionais, dos grupos de pesquisa identificados frente ao estudo feito com Fitote-rápicos (média de 72/Grupo) e Biofármacos (média de 216/grupo), respectivamente.

Cabe ressaltar, ainda, o aumento na porcentagem de alunos de doutorado quando com-parado com o tema Fitoterápicos (8%). Ademais, nenhum dos dez grupos de pesquisa identificados a partir de projetos aprovados na Subagenda “Complexo Produtivo” estava presente entre os 34 grupos de pesquisa identificados no diretório do Grupo de Pesqui-sa do CNPq, com as palavras-chave: plantas medicinais fitoterápicos. O próprio nome desta Subgenda suscita a necessidade de projetos multidisciplinares, daí a necessidade de um maior número de palavras-chave para detectar grupos de pesquisa com tal perfil.