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DO COMPLEXO INDUSTRIAL DA SAÚDE

ARTIGO 27 – MATÉRIA PATENTEÁVEL (

3. Os Membros também podem considerar como não patenteáveis:

4.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao mesmo tempo em que abriu o mercado brasileiro para um vasto leque de invenções da biotecnologia, a Lei 9.279/1996 impôs igualmente limitações quanto à matéria pa-tenteável – especificamente quanto ao todo ou parte de seres vivos – que, embora legí-timas e respaldadas nos tratados internacionais em vigor, constituem um contencioso em potencial com outros países. A polêmica poderá aumentar à medida que invenções e descobertas relacionadas aos genomas passem a se traduzir em mercadorias valiosas, es-pecialmente medicamentos, para cuja valorização de mercado seja necessária a proteção patentária (ASSUMPÇÃO, 2001).

Uma das principais preocupações relacionadas a uma possível extensão do patentea-mento de biotecnologias ora excluídas do escopo de proteção, por exemplo, o sequen-ciamento de genes, é o fato destas se tornarem instrumentos de monopólio. É que, por meio das patentes, grandes empresas, companhias e instituições privadas monopolizam tecnologias que, muitas vezes, são ferramentas básicas de pesquisa, restringindo o de-senvolvimento científico e tecnológico. Soma-se a isso, o fato de que na maioria das vezes, estas instituições são relutantes ao licenciamento destes produtos, especialmente para os países em desenvolvimento (KRATTIGER; KOWALSKI, 2008). Ademais, há que se destacar que tais questões carregam um significativo conteúdo político, que leva em conta ainda questões éticas e filosóficas.

Neste sentido, considerando-se a patenteabilidade de microrganismos geneticamente modificados, bem como a proibição em relação ao todo ou parte dos seres vivos, resta aprofundar no âmbito político-jurídico nacional, especialmente na esfera pública, uma discussão sobre seus efeitos e propósitos. Em outras palavras, há que se analisar de forma criteriosa quais os propósitos de uma possível mudança no escopo de proteção do siste-ma de patentes, bem como refletir amplamente sobre os efeitos para setores essenciais do país, como o de saúde, antes de proceder a qualquer alteração na legislação.

Conforme advertido por Denis Barbosa em sua obra “Uma Introdução à Propriedade Intelectual”, uma patente não garante a entrada de nenhuma tecnologia em qualquer mercado – além dos aspectos puramente comerciais, há toda uma instância regulatória que é especialmente presente na biotecnologia (BARBOSA, 2003).

O propósito maior da patente é incentivar a produção de novas tecnologias, por meio da garantia jurídica da exclusividade de seu uso. Levando em conta estes critérios e os diversos pontos de vista dos mais variados setores, torna-se cabível a análise do tema.

REFERÊNCIAS

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Gina Camilo de Oliveira / Helena Luna Ferreira / Angélica Rogerio de Miranda Pontes / Maria Celeste Emerick / Pedro Canisio Binsfeld