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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.2 A COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO NO BRASIL

Para Campello (2003), Dudziak (2003), como também para Hatschbach (2002, 2008), a competência em informação engloba algumas expressões entre as quais: alfabetização informacional, letramento, literacia12, fluência informacional e competência informacional. Nesta dissertação, foi adotado o termo competência em informação, seguindo o que foi proposto em 2004 no Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias (SNBU)13 sobre Habilidades e Competências em informação, no qual fizeram parte das discussões as estudiosas Dudziak e Hatschbach.

As discussões abordadas, nesse Seminário, foram importantes porque as questões levantadas contribuíram para se chegar a um consenso quanto à terminologia a ser empregada no Brasil. Desde então, o termo passou a ser reconhecido e vem sendo utilizado por muitos estudiosos da área da Ciência da Informação. (HATSCHBACH, 2008).

Neste sentido, é importante registrar que a utilização neste trabalho da expressão

competência em informação, primeiramente, resultou de uma reflexão realizada pelas

autoras na qual chegaram à conclusão quanto à importância de ao menos se definir uma terminologia sobre o tema. Depois por se entender que esse termo está mais associado ao domínio relacionado ao processo informacional, processo este que reúne o desenvolvimento de habilidades, aquisição de conhecimentos e práticas informacionais, referentes à busca e ao uso da informação em qualquer suporte e que é recorrente nos estudos da Ciência da Informação e da Biblioteconomia.

12

Literacia é o termo utilizado em Portugal e que corresponde a letramento aqui no Brasil.

13

SNBU – Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias, realizado em 2004 na cidade de Natal-RN. Mesa- Redonda 4. Tema: Habilidades e Competências em informação: o caso da information Literacy. Palestrantes: Elizabeth Adriana Dudziak e Maria Helena Hatschbach.

Outro aspecto positivo que se observa é que, a partir do consenso da terminologia, os estudos acerca da competência em informação puderam avançar e, “Hoje, as pesquisas em torno do tema encontram-se em um estágio de maturação que extrapolou a idéia inicial de conjunto de habilidades preconizado nos anos 80 e 90 [...]” (DUDZIAK, 2008, p. 41).

Neste sentido, Campello (2006, p. 70) registra que “O interesse despertado pelo conceito na área de Biblioteconomia e Ciência da Informação, no Brasil, sinaliza para a necessidade de se buscar significado específico no contexto da nossa realidade.” Assim, uma reflexão, nesse sentido, é importante porque até então os estudos realizados, conforme os resultados obtidos nos estudos de Dudziak (2001) foram iniciativas baseados em experiências de outros contextos, (ver Quadro 2).

Um aspecto importante a ser observado ao fazer uma análise desse Quadro é que, além dele (o Quadro) trazer informações acerca das principais iniciativas de estudos sobre a competência em informação, confirma que essa expressão surgiu, pela primeira vez aqui no Brasil, nos trabalhos de Caregnato (2000) sob o nome de alfabetização informacional, primeiramente, associada aos estudos dos usuários. (CAMPELLO, 2003). Observa-se que a autora utilizou a mesma terminologia dada por Bawden (2001) a competência em informação.

Número de publicações em Information Literacy

PAÍS ERIC LISA

Estados Unidos 249 297 Austrátia 29 30 Reino Unido 3 43 Canadá 12 19 Países Baixos 1 9 Finlândia 1 7 França 1 6 China 1 5 Itália 0 4 África do Sul 3 20 Nova Zelândia 3 3 Suécia 3 3 Espanha 1 2 Japão 1 3 Índia 0 2 Noruega 0 3

Nigéria, Namíbia, Pretória, Botsuana, Arábia Saudita, Hungria, México, Rússia, Suíça

0 1 cada

República Tcheca, Malásia, Nova Guiné 2 cada 1 cada

Bélgica, Japão, Alemanha 1 cada 1 cada

Registro sem indicação de país 399 119

Total geral 716 519

Quadro 2 – Número de publicações sobre Information Literacy por país (1974-2000) busca simples, bases

de dados ERIC e LISA.

Fonte: DUDZIAK, 2001, p. 19.

Assim, de acordo com os dados apresentados no Quadro 2, a maior representação de estudos e programas sobre o aprendizado da competência em informação aconteceram nos Estados Unidos, seguido da Austrália, Reino Unido e Canadá. Outro aspecto que chama atenção é que o presente quadro aponta uma grande incidência de publicações sem indicação do lugar, onde os estudos foram desenvolvidos e publicados. Sobre esses resultados encontrados Dudziak (2001, p. 15) entende que “[...] embora tal levantamento seja parcial, considerando que registros de outras bases de dados não foram analisados, obteve-se um perfil significativo da distribuição histórica e geográfica de publicações sobre o tema.”

Retomando a discussão acerca da utilização do termo no Brasil, Campello (2003) e Dudziak (2008) registraram que o uso da expressão estava associado à habilidade de usar técnicas para o acesso e uso de fontes informacionais, estando, pois “[...] ligada originalmente ao processo de educação de usuários de bibliotecas e à orientação bibliográfica.” (DUDZIAK, 2008, p. 42). Várias foram as iniciativas brasileiras de se associar o estudo de usuários à

competência em informação, mas até o momento não houve uma ação efetiva de fato, o que gerou esse problema foi à ausência de prática na pesquisa escolar. (CAMPELLO, 2006).

Neste sentido, ao analisar o estudo de Caregnato (2000), observar-se que na sua compreensão inicial o emprego da competência informacional estava vinculado ao surgimento de novas formas para designar o serviço educacional, oferecido pelas bibliotecas aos seus leitores: desenvolvimento de habilidades informacionais e alfabetização informacional. Porém, é oportuno ressaltar, que segundo Dudziak (2008), os estudos sobre a expressão, atualmente, encontram-se em fase de amadurecimento e superando a ideia incipiente de conjunto de habilidades a ser adquirida que foi defendida pela ALA, nos anos 80 e 90, “[...] e avança em direção a um entendimento mais dinâmico e complexo, voltado ao pleno desenvolvimento do indivíduo alfabetizado.” (DUDZIAK, 2008, p. 41).

O trabalho desenvolvido por essa autora teve um caráter especial, associado à educação do usuário e a introdução do tema da competência em informação no Brasil. Entretanto, essa introdução se deu sem delineamento e destaque claros sobre o tema, no que se refere a um aprendizado inovador pautado na aquisição de novas habilidades, conhecimentos e atitudes para lidar com problemas associados a busca e uso de informações de forma autônoma e eficiente.

Percebe-se que, a partir da publicação do trabalho, desenvolvido por Caregnato, a comunidade científica passou a realizar novos estudos sobre o assunto, que se tornou um tema recorrente e explorado pelos profissionais da informação no Brasil. Assim, pode se dizer que, inicialmente a expressão foi associada à tentativa de se ampliar o raio de ação do bibliotecário, como também da biblioteca, no contexto educacional e de se “[...] oferecer novas possibilidades informacionais necessárias para interagir no ambiente digital.” (CAMPELLO, 2003, p. 28).

Segundo Caregnato (2000), as bibliotecas até então não vinham desempenhando esse papel com eficiência, embora existissem ações voltadas à melhoria da qualidade dos serviços oferecidos aos usuários. Entretanto para autora, as áreas da Ciência da Informação e da Biblioteconomia já vinham dando maior ênfase aos usuários. (CAREGNATO, 2000). Mas por outro lado, observava-se ainda uma preocupação mais direcionada ao treinamento para o uso dos recursos e das ferramentas tecnológicas de informação. Com isso, o conceito sobre a educação do usuário ficava associado, entre outros aspectos, ao uso da biblioteca, ou seja, em como utilizar os produtos e serviços oferecidos por uma biblioteca, aos procedimentos de utilização da biblioteca somente.

O estudo de Caregnato (2000) já sinalizava para a necessidade de ampliação dos conceitos relacionados à educação dos usuários que até então, estavam limitados ao treinamento de usuários, a instrução de usuários e a orientação bibliográfica, restringindo-se a treinamentos quanto à forma de usar um determinado aparato tecnológico ou serviço, sem contudo, associá-los à construção do conhecimento e a geração de novas informações, a partir da elaboração de textos que apresentam os conhecimentos que foram construídos. Mais do que isso, desenvolver competências em informação seria proporcionar um domínio sobre o processo de busca e uso de informação, aprendendo como aprender e a desenvolver novas habilidades para gerar novos conhecimentos.

Segundo Hatschbach (2002), o surgimento do termo competência em informação proporcionou uma expansão da noção da educação de usuários. Para a autora, a competência em informação “[...] passa a enfocar, além das habilidades para o uso de bibliotecas, as habilidades de estudo, cognitivas e tecnológicas para manipulação da informação.” (HATSCHBACH, 2002, p. 36).

Neste sentido, o papel das bibliotecas seria o de favorecer o desenvolvimento de novas formas de aprendizado pelos estudantes. Assim, as atividades de apoio e treinamento do usuário deixariam de ter somente o caráter de desenvolver habilidades para usar os recursos de informação, mas favorecendo o aprendizado de “[...] aprender a pensar racionalmente e criativamente, resolver problemas, localizar, administrar e comunicar informações para estarem preparados para um mundo em constante mutação.” (HATSCHBACH, 2002, p. 11). Ou seja, favorecer o desenvolvimento de um aprendizado que possibilita a construção do conhecimento e o exercício da comunicação científica.

Observando essa trajetória do debate acadêmico em torno do tema, pode se afirmar que o estudo realizado por Caregnato (2000) contribuiu, de certa forma, para direcionar os trabalhos de outros estudiosos no Brasil acerca da competência em informação, entre os quais Dudziak (2001, 2003), Campello (2002, 2003) e Hatschbach (2002, 2008,) que ressaltaram que o foco da competência em informação está intrinsecamente ligado ao contexto da educação. Nesta perspectiva, seria muito importante que os estudos sobre o tema avançassem em apontar os pontos de conexão da competência em informação com o processo de aprendizagem. Conforme Lecardelli (2006, p. 34),

O campo da competência informacional ainda necessita de estudos e pesquisas científicas, para dar ênfase e possibilidade de avanços à geração de novos conhecimentos, principalmente no Brasil, onde o

tema ainda carece de estudos mais elaborados com base em pesquisas de ordem prática [...]

Nesse contexto, percebe-se que os estudos brasileiros sobre competência em informação ainda se relacionam timidamente ao tema da aprendizagem no ambiente educacional. De qualquer modo, atualmente, já existem alguns trabalhos mais direcionados à aprendizagem. Entre estes, se destacam os trabalhos de pesquisa realizados por Dudziak (2001) e Hatschbach (2002) e alguns artigos publicados, que abordam, de modo mais explícito, a relação da competência em informação com o processo de aprendizagem que ocorre no segmento educacional.

O estudo realizado por Hatschbach (2002), além de reforçar a relação interdisciplinar da competência em informação com outras áreas de estudos, aponta iniciativas de instituições de ensino superior que começam a tratar, mesmo que ainda de forma tímida, da relação da pesquisa bibliográfica, do treinamento do usuário (tutorial)14 e do uso da Internet com o processo de aprendizagem. Porém, em relação ao uso da internet como um recurso associado ao processo de ensino requer dos estudantes sua própria compreensão em saber avaliar com critérios as informações recuperadas nesta rede, pois as informações disponibilizadas na web podem apresentar alguns aspectos negativos no que se refere à inconsistência, instantaneidade e efemeridade das informações, como também pode levar a banalização da autoria e ao desrespeito quanto à propriedade intelectual (TARGINO, 2002).

Desta forma, acredita-se que este trabalho poderá se somar aos trabalhos que vem sendo realizados na área da Ciência da Informação sobre o desenvolvimento da competência em informação no contexto do processo de ensino-aprendizagem dos estudantes no âmbito educacional, mas precisamente relacionando esse desenvolvimento ao lócus da biblioteca universitária.

2.3 A COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO ASSOCIADA AO AMBIENTE DA