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2.2 Sobre a competência

2.2.2 Competência em razão da matéria

Os Juizados Especiais Cíveis tiveram a sua competência ampliada em relação aos Juizados Especiais de Pequenas Causas para processar e julgar as causas de menor complexidade, sendo estabelecida por critérios objetivos.

A competência dos juizados, prevista no artigo 3º e incisos, é definida no sentido de conciliar, processar e julgar causas cíveis de menor complexidade e, como regra geral, fixa as causas em valor cujo montante não exceda em quarenta vezes o salário mínimo.73

Em relação aos critérios objetivos, a regra enumera as causas do artigo 275, II, do CPC: ação de despejo para uso próprio, ações possessórias, respeitando-se o valor limite e, em seu parágrafo 1º, a competência para promover a execução de _______________

72 SALVADOR, Antonio Raphael Silva. op. cit. p.22.

73 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e prática dos juizados especiais cíveis. São Paulo: Saraiva, 2002. p.15.

seus julgados e dos títulos executivos extrajudiciais.74

A lei também normatiza as causas excluídas da competência dos juizados e dentre elas estão as de natureza alimentar, falimentar, fiscal e de interesse da Fazenda Pública, bem como as relativas a acidentes de trabalho, conforme o disposto no parágrafo 2º do artigo 3º.

Ainda que essas causas tenham sido excluídas, existe a possibilidade de elas serem recebidas no juizado para tentativa de conciliação, pois o artigo 58 da Lei 9099/95 permite que as normas de organização judiciária local estendam a competência do juizado para as causas não abrangidas por tal norma.

Na pesquisa realizada, verificou-se que no estado de São Paulo as normas não autorizam, inexistindo a possibilidade de iniciar-se qualquer ação judicial referente as causas excluídas pela Lei Federal.

Em princípio, considerando a ampliação do acesso à justiça através da Lei 9099/95, ao não admitir essas causas inviabiliza-se um avanço maior, pois muitos conflitos gerado por questões dessa natureza poderiam ser resolvidos nos juizados, principalmente em se tratando de natureza alimentar.

Nesse sentido, a lei poderia ser mais abrangente, autorizando o processamento de causas como a de separação consensual, divórcio e alvará de pequeno valor econômico.

É importante anotar que, apesar de não sabermos os motivos pelo qual o legislador optou por não autorizar o processamento dessas causas, por outro lado, no artigo 57 da referida Lei autorizou-se no âmbito do juizado a homologação de acordo extrajudicial de qualquer natureza ou valor.

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Considerando este dispositivo e havendo consenso entre as partes envolvidas, chegando as mesmas a um acordo extrajudicial, este poderá ser levado ao juizado a fim de ser homologado judicialmente; dessa forma, pode-se incluir como exemplo os casos de separação consensual.

Por outro lado, existem causas que ainda que não inclusas no rol das excluídas da lei, e também não são recepcionadas no juizado, como é o caso da ação monitória.

A ação monitória tem por objetivo, dentro do Direito, a cobrança de uma dívida prescrita, o que não impediria o seu trâmite pelo juizado, em vista do já exposto, uma vez que cobrança não é causa de maior complexidade.

Contudo, a discussão em torno da possibilidade ou não de ingressar com este tipo de ação no juizado é significativa, pois nos termos do artigo 1102,do CPC, ela possui um procedimento próprio e caracterizado no sistema processual civil, confrontando com o procedimento do juizado.

Através de publicações de sentenças e despachos no Diário Oficial do Estado de São Paulo foi possível verificar que não há unanimidade em relação ao assunto, visto que vários juizados do estado recepcionam essas ações, enquanto outros não admitem-na.

Ainda nesse sentido, do que admite-se ou não no juizado, temos também a ação cautelar de sustação de protesto, que encontra o mesmo problema da ação monitória, ou seja, por ter um procedimento específico também discute-se a possibilidade de ser admitida ou não no procedimento do juizado.

Para Vicente Grecco Fillho não é possível o tramite da ação cautelar pelo fato de que o objetivo deste processo é evitar os efeitos danosos de uma situação enquanto aguarda-se a satisfação do direito sem perturbação do andamento do

processo principal, ou seja, é uma ação preparatória para evitar algum tipo de dano à parte requerente enquanto não se julga o direito no processo principal.75

Através do estudo teleológico da lei observa-se que o legislador, apesar de não ter incluído essas ações no rol das causas permitidas, e ainda a ação de despejo por falta de pagamento ou por infração contratual, também não as excluiu, conforme o disposto no parágrafo 2º do artigo 3º; e para se atingir o fim desejado, aparentemente nada obsta o recebimento dessas ações no juizado.

Relevante frisar que o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo prevê competência mais ampla, nos termos da Resolução 88/95, incluindo demandas de despejo por falta de pagamento de aluguel ou encargo de locação e retomada de imóvel em função do término do prazo estabelecido no contrato de locação.76

Porquanto, em relação aos procedimentos diferentes, a presunção é de que a partir do momento em que o autor opta pelo juizado, ele aceita as regras de procedimentos desse órgão em detrimento da Lei Processual Civil.

O registro quanto a possibilidade ou não de se recepcionar as ações monitória, cautelar e de despejo por falta de pagamento ou por infração contratual, é apontar alguns pontos de conflitos entre a Lei 9099/95 e a realidade atual que, de certa forma, interferem na questão do acesso à justiça, uma vez que no juizado a perspectiva é de se atingir com maior rapidez a solução de interesses conflitantes.

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75 GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2003. p.157. 76 LUCON, P. H. S. Revista de Processo. São Paulo: Instituto Brasileiro de Direito Processual: abr.- jun. de 1998. p.179.