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2.2 Sobre a competência

2.2.3 Competência em razão do valor

Em se tratando do valor, a legislação admite nos casos de conciliação a sua superação, mas se esta não ocorrer o processo será julgado no limite do estabelecido no artigo 3º, ficando prejudicado o excedente.

No caso de não realização do acordo após a audiência de conciliação, existe a possibilidade do autor desistir da ação, evitando, assim, qualquer prejuízo e/ou, ainda, o enriquecimento sem causa da parte requerida.

Com intenção de alargar a competência do juizado, a Lei 9099/95 ampliou o limite do juizado em razão do valor, alterando-o de vinte para quarenta salários mínimos, de tal sorte que aumentou o acesso da pessoa à justiça aparentemente mais informal e célere.

Ainda no que se refere ao valor, o CPC brasileiro divide as matérias cognitivas em ritos ordinário e sumário, observando-se que o primeiro refere-se a causas de até sessenta salários mínimos e o segundo abarca causas que possuem montante acima desse valor.

Existem algumas exceções, ou seja, as causas do artigo 275, inciso II, do CPC, prevendo que o rito deverá ser sumário independente do valor da causa.

Tendo em vista esse dispositivo legal e, ainda, o que disposto no artigo 3º, inciso II da Lei 9099/9577, há entendimento de que, independentemente do valor, essas causas podem tramitar no juizado, porquanto serem interesses de menor

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77 “Artigo 3º – O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas: inciso II – as enumeradas no artigo 275, inciso II, do Código de Processo Civil.”

complexidade.78

Nesse mesmo entendimento surgem as causas referentes às ações de despejo para uso próprio que, em tese, podem tramitar pelo juizado também independentemente do valor, haja vista o disposto no artigo 80 da Lei 8245, de 18 de outubro de 1991, ao prever que: “...para fins do inciso 1 do artigo 98 da Constituição Federal, as ações de despejo poderão ser consideradas como causas cíveis de menor complexidade...”, ou seja, para alguns doutrinadores o fato de ser de menor complexidade já tornaria possível a demanda no juizado, em vista do artigo 3º, caput, da Lei 9099/95.79

Nesse contexto, o entendimento é de que realmente o juizado tem competência para julgar causas com valor superior ao limite estabelecido na lei; todavia, a opção por este procedimento importará em renúncia ao crédito excedente, nos termos do artigo 3º, parágrafo 3º da lei especial, exceto para conciliação.80

Na esteira desse raciocínio, a sentença que julgar causas acima do limite será ineficaz, tendo em vista o disposto no artigo 39 da Lei 9099/95, o qual afirma a ineficácia de sentença condenatória na parte que exceder a alçada estabelecida nesta lei, pois estas não poderão ser superiores ao valor por ela estabelecido.

Oportuno citar que, ao elencar as matérias do artigo 3º da Lei 9099/95, o legislador contempla as ações possessórias sobre bens imóveis, mas somente aquelas cujo valor não exceda o limite de quarenta vezes o salário mínimo, ou seja, foi taxativo, fato que não ocorreu em relação as causas do artigo 275, inciso II, do

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78 LUCON, P. H. S. op. cit. p.178. 79 Idem. p.178-179.

80 SILVA, Jorge Alberto Quadros de Carvalho. Lei dos juizados especiais cíveis anotada. São Paulo: Saraiva, 2001. p.15-16.

CPC, que apenas as considera causas de menor complexidade.

Comparando-se a Lei 7244/84 com a atual Lei 9099/95, observa-se que a primeira prevê a competência do juizado para o processo e julgamento das causas de reduzido valor econômico, enquanto a atual estabelece processo e julgamento apenas de causas de menor complexidade. Aliás, ao tratar do assunto em um capítulo especial no CPC, o legislador já havia refletido que as causas do artigo 275, inciso II, independentemente do valor, deveriam ser processadas pelo rito sumário, ou seja, nada obstando o seu trâmite pelo juizado no rito sumaríssimo.

Joel Dias Figueira Júnior e Maurício Antônio Ribeiro Lopes81, além de outros fundamentos utilizados para o entendimento que adotaram, no sentido de que a lei restringe a causas do artigo 275, inciso II, do CPC, ao limite do inciso primeiro do artigo 3º da Lei 9099/95, ou seja, quarenta vezes o salário mínimo, citam, através de julgados de colégios recursais82, o que está ocorrendo na prática.

Contudo, qualquer raciocínio que tem por fundamento decisões proferidas por juizes de primeiro grau e, ainda, pelos juizes do colégio recursal dos juizados, deve ser visto com certa restrição, pois a grande maioria dos magistrados está pensando mais em restringir o número de processos nos juizados do que propriamente fazer uma interpretação teleológica da lei, uma vez que dada a falta de estrutura e a maneira geral como são tratados os juizados, com lamentável desdém, _______________

81 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias; LOPES, Maurício Antônio Ribeiro. op. cit. p.104.

82 “Colégio Recursal - Porto Alegre - Competência do JEC - mesmo as causas cíveis enumeradas no art. 275, quando de valor superior a quarenta salários mínimos, não podem ser propostas perante o Juizado Especial. (Súmula n. 11), ressalvada, obviamente, a renúncia ao crédito excedente. No mesmo diapasão, o orientação fixada pelo Colégio Recursal de São Bernardo do Campo, ao assinalar que “se não houve conciliação entre as partes para a superação do limite de quarenta vezes o salário mínimo, única exceção a permitir inobservância do quantum nas causas de competência dos Juizados Especiais Cíveis, não é plausível supor que a mera menção às ações do art. 275, II, do CPC, destacada pelo legislador neste âmbito, tivesse, a exemplo da legislação processual civil, o condão de autorizar fosse contornado o teto máximo explicitado na lei especial.”

não há interesse em se ter um entendimento calcado em maior amplitude.83

Em relação ao acesso à justiça, a discussão em torno da amplitude do valor da causa no juizado, tendo em vista os esforços concentrados em movimentos para se efetivar o acesso à justiça, não é muito diferente, visto que em se tratando de valores altos a parte atacada no seu direito, presume-se, terá condição de solucionar o seu problema pelas vias do processo comum, arcando com as despesas necessárias, mas este debate é importante para a presente pesquisa no sentido de esclarecer os conflitos na aplicação da norma especial que trata do juizado.