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Competitividade saudável: estratégia para motivar a prática da pesquisa

5 Resultados da Etapa 2: Experimento com Estudantes e Professores

5.4 Análise de Discurso: Relatos dos Participantes

5.4.4 Competitividade saudável: estratégia para motivar a prática da pesquisa

Conforme já foi explanado, os dados coletados mostram que os alunos não desejam obter notas boas para se mostrarem melhores do que os demais. Porém, os recursos de Mural

de Medalhas e o Placar dos Desafios no Youubi foram muito bem aceitos. Esse fato parece

mostrar que a competitividade despertada dentro do ambiente não é considerada como algo negativo. Pelo contrário, os relatos mostraram que os estudantes se sentiram mais motivados para estudar e pesquisar os conceitos envolvidos nos desafios, tanto no momento de criar, quanto para responder os desafios corretamente. Essa relação parece mostrar que há uma percepção muito clara dos estudantes sobre o caráter lúdico do ambiente de aprendizagem, ou seja, é bem visto competir por mais medalhas virtuais no Youubi, ou, por uma posição melhor no placar, sem causar qualquer constrangimento. Porém, não é bem visto pelos estudantes competir por notas nas disciplinas. A seguir são listados os relatos dos estudantes do grupo experimental sobre a competitividade despertada no Youubi e suas consequências positivas:

(GE-B-2) Com certeza a competição é interessante. Pois se está havendo uma competição você vai buscar mais informações para ganhar. Dai as pessoas buscam mais informação para isso. Eu fui bem competitivo com relação aos desafios, de estar sempre lá olhando e fazer as questões e ver quem estaria acertando mais do que as outras pessoas.

(GE-B-3) [Desafios] é uma boa ideia, pois a pessoa se sente convidado a participar. Contribui sim para o aprendizado, pois, para poder responder certo, a pessoa vai pesquisar. Acho uma competitividade saudável.

(GE-B-4) Me senti [competitivo] na hora de responder os desafios, se ia acertar ou não. Também olhava a pontuação. ‘Todo mundo acertou e só eu que errei essa aqui’. É uma competição saudável, estimular tarefas para ganhar medalhinhas. Algumas perguntas de desafios eu fui pesquisar no Google. Mesmo naquela pergunta sobre programação, eu acertei de primeira, mas mesmo assim eu fui pesquisar a respeito depois.

(GE-B-5) Sim, claro [me senti competitiva]. Mas não foi com a intenção de ser melhor do que os outros, mas acho que é natural a gente querer acertar as coisas. Olhei também o mural de uma colega minha.

(GE-B-6) Pelo APP ter aquela parte de desafio, a gente se torna mais motivado a buscar coisas na Internet a resposta certa, agente vai pesquisando, e é uma forma de estudo, né?

(GE-B-7) Eu entrava mais para responder os desafios.

(GE-B-7) Essa competição vai estimular o aluno a pesquisar sobre aquele conteúdo. Aquela pergunta do calor específico, eu ‘poxa, eu já vi isso’, e tentei responder e ‘eu errei isso, não acredito, eu sabia!’.

(GE-C-2) Me senti mais curiosa. Por querer responder os desafios, eles foram a coisa que mais me motivou. As pessoas colocavam um desafio, e se eu não sabia eu ia procurar sobre aquele assunto, por exemplo, de geografia, de curiosidades, ai eu fui procurando. Eu aprendi muita coisa não diretamente ligada à universidade.

(GE-C-2) Assim que você abre o desafio tinha o placar. Se você via seus amigos acertando você queria acertar também. Um pessoal que eu conheço criou um desafio e eu tentava responder certo. Eu também olhava a quantidade de notificações, se tinham aumentado. Isso Influencia positivamente, porque você quer acertar, você quer aprender aquele assunto. Por exemplo, o rapaz postou, ‘essa bandeira é de qual país?’, daí você procura aquela, mas acaba aprendendo outras também. Dai você acaba aprendendo mais.

(GE-C-3) Achei genial. Por exemplo, criei um desafio, e o pessoal da minha turma participou, inclusive era um desafio sobre futebol, foi bem legal. Eu acessava o APP nos intervalos de almoço e das aulas. Mas achei bem fácil criar coisas novas; estava de boa.

(GE-C-3) Muitas vezes. Em casa mesmo, o pessoal passava um desafio e assim que eu via eu tentava responder e pesquisava na Internet para poder responder. Tentava ficar sempre antenado ali com a galera, com o pessoal. (GE-C-5) Eu criei vários lugares, desafios e eventos. Isso motiva muito, naquela parte dos desafios, você pesquisar e aprender, pra criar. Dos desafios que eu criei, eu já tinha uma ideia vaga. Daí eu ia pesquisar para ver qual era realmente a resposta correta.

(GE-C-5) Naquele negócio lá das medalhas, eu estava tentando conseguir mais medalhas do que os outros. Eu tentava responder mais desafios do que os outros. A competitividade ajuda a aprender mais sim, pois foi um incentivo a mais, foi dosado certo.

(GE-C-8) Aprendi muitas coisas com os desafios respondidos.

(GE-C-8) Foi bom, porque o desafio foi relacionado à disciplina, ai eu estava numa dúvida no assunto, então gostei do desafio.

(GE-C-8) Quando você não consegue responder a questão, a busca de informações é muito boa para o aprendizado.

Alguns relatos dão destaque ao recurso das medalhas, uma estratégia de gamification. Semelhantemente ao que acontece em outros tópicos, sobre outras funcionalidades e interações, essa percepção de pontuações virtuais acaba motivando um maior engajamento nas práticas presenciais, conforme pode ser observado a seguir:

(GE-B-2) Eu olhava o mural também, eram bem legais as medalhas, pois mostrava se você está sendo frequente e coisas do tipo.

(GE-B-6) Olhei o mural de alguns para ver as medalhas. Isso influencia sim no aprendizado.

(GE-B-7) Eu olhava como estava a pontuação das outras pessoas. Eu ainda olhei algumas vezes o mural de medalhas.

(GE-C-2) Torna mais interessante o perfil da pessoa ter as medalhas. [...] Deveria ficar mais visíveis as medalhas.

(GE-C-3) Eu senti um clima de competição, mas no bom sentido. Eu estava até conversando com uma amiga que estava participando. Ela dizia, entra aí no meu perfil e vê quantas medalhas eu tenho. Vamos ver quem está respondendo e participando. Era legal porque motivava a gente a participar mais ainda. Se ela está na frente, eu vou pesquisar mais para passar na frente dela. Então a gente foi meio que competindo, mas na brincadeira.

(GE-C-3) Conseguir acessar de volta, participei de alguns desafios e vi as medalhas e a de ‘super usuário’, é muito legal.

(GE-C-5) Eu sou bem competitivo, então, eu tentava pegar mais medalhas, então, em sala, resolvi resolver também no quadro, porque ele também dá ponto às vezes para quem responder.

Alguns relatos também destacam o caráter interdisciplinar explorado pelos desafios, pois, os estudantes mostram se interessar em responder e pesquisar por temas que normalmente não fazem parte do domínio do seu curso, ou que nunca antes teve a curiosidade de buscar conhecer. A seguir algumas dessas citações:

(GE-C-3) O APP foi bem legal porque mudou de certo modo minha rotina porque busquei sobre coisas que eu não tinha nenhum foco sobre aquilo ali. Normalmente os alunos aqui têm um certo foco, mas a gente conversando com as outras pessoas a gente acaba aprendendo sobre coisas novas e não somente naquele foco específico da disciplina. Cada um foi repassando assuntos diferentes, e me motivou a buscar informações novas sobre aquelas coisas que eu não sabia. Por exemplo, a ideia de desafios é bem legal, porque se tinha algo que eu não sabia eu ia pesquisar para poder responder.

(GE-B-7) Ter acesso ao perfil de outras pessoas, é interessante, porque é uma oportunidade a mais de aprender alguma coisa. Não precisa ser só da nossa área, a gente pode aprender sobre várias coisas, conhecimento nunca é demais. Por exemplo, discutir nos desafios, com comentários, contribui para o aprendizado.

(GE-C-6) Usando o APP temos como direcionar mais a estratégia de aprendizado. Se estivermos falando do aprendizado comum da sala de aula, podemos direcionar mais, por exemplo, através dos desafios, eles servem para direcionar seu foco para novas áreas de conhecimento, não só daquilo de sala, mas para todos os outros. Por exemplo, eu não tenho conhecimento sobre futebol, que foi uma pergunta que tinham feito, “qual o time italiano que tem 3 estrelas no uniforme”. Sei não, vou descobrir, então fui pesquisar, me instigou para eu aprender conhecimento novo, mudou então a forma com que eu aprendo. Me estimulou a aprender informações extras que normalmente eu não iria atrás, mas descobri através da pesquisa. Me estimulou a aprender coisas, sair da minha zona de conforto, daquilo que estava na sala também, e buscar outras coisas, saber mais sobre o mundo. (GE-C-2) Realmente, os desafios foram o mais estimulante. Você quer aprender para responder certo. Mesmo as coisas de biologia, dos outros cursos, foi legal. Se tivesse mais desafios eu teria aprendido mais.

(GE-C-6) A questão do aprendizado realmente houve uma coisa a mais, não só das coisas de sala de aula, mas eu aprendi sobre futebol, lembrei sobre minha infância com uma pergunta que tinha sobre desenho animado, aprendi sobre biologia; foi um jeito bem interessante, perguntas que me fizeram pesquisar mais sobre aquele assunto, com vontade de entender e responder aquilo corretamente. Acho que os desafios realmente foram uma bela lição. Algo criado pelos próprios usuários que estimula os outros a estudarem mais, com a vontade de acertarem aquilo e aumentar sua pontuação. Foi excelente isso.

Há relatos também que explicitam que a interação entre os estudantes extrapolam o virtual e acabam por influenciar também presencialmente. Por exemplo, alguns estudantes relatam que ampliaram seu ciclo de amizade, outros envolviam os amigos que estavam ao seu redor para ajudarem a responder os desafios juntos com ele.

(GE-C-2) Com o professor não houve mudança, mas com os alunos sim. Os alunos falavam: vou criar um desafio, respondam. Ficavam formando os grupinhos. Teve muita interação entre os alunos. Todo mundo queria utilizar o aplicativo e queria que você avaliasse o que você fez lá, que você respondesse o desafio, que você responda o chat, que visse o local criado. As pessoas que eu não conhecia eu comecei a conhecer graças ao aplicativo, pessoalmente. A gente se engajou mais também para se juntar mais pra formar grupos de estudo. Acho que não teve mais uso porque teve pouca gente usando o aplicativo.

(GE-B-6) Eu estava em casa, e tinha uma pergunta, e eu envolvi todo mundo que estava lá ao meu redor para me ajudar a responder. Fui buscar conhecimento através de outras pessoas para responder certo.

Embora não fosse o objetivo principal da pesquisa, foi inegável a descoberta da importância que os estudantes deram ao recurso de criar e responder as questões de Desafios e às estratégias de gamification (placar e mural de medalhas). Os estudantes foram unânimes em destacar o impacto da competitividade, do trabalho em equipe, do lúdico, e das atividades desafiadoras sem a pressão de que aquilo valerá nota, em sua rotina de estudo durante o período do experimento. Em outras palavras, foi notório o impacto positivo na motivação e, consequentemente, no engajamento dos estudantes para pesquisarem novos conhecimentos e mobilizarem os demais estudantes ao seu redor, pois todos os participantes do grupo experimental relataram esse ímpeto de pesquisar para responder corretamente os desafios.