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1 HISTORIOGRAFIA DAS ADAPTAÇÕES DO QUIXOTE

1.1.2 Compilação de dados

Por sua posição marginal no sistema literário18, muitas das traduções e adaptações para

jovens leitores não são encontradas nos acervos de bibliotecas e, quando as encontramos, a

17O termo republicar está dicionarizado em português. Segundo o dicionário Aulete, significa publicar novamente.

Como veremos adiante, muitas vezes não é possível saber se o exemplar foi reeditado ou apenas reimpresso, portanto preferimos usar republicação, acepção que inclui as duas ações, editar e/ou imprimir novamente.

18 Sabemos que dentro do sistema literário, a literatura popular ou de massa se contrapõe à literatura erudita, culta,

também chamada de alta literatura. Segundo Zilberman (2012: 19), Walter Benjamin foi um dos primeiros a investigar as relações da literatura com a cultura de massa, e a partir da década de 1960, a “Teoria da Literatura rompe com as fronteiras estabelecidas quando de seu aparecimento e passa a abrigar pesquisas sobre cultura de massa”. Márcia Abreu (2006: 82) inclui na literatura de massa “romances policiais, de aventura, sentimentais, faroeste, histórias em quadrinhos”, e Nelson Werneck Sodré (1978) confirma o discurso da literatura de massa como legítimo resultado das exigências da sociedade moderna. Apesar de Leila Perrone-Moysés (2005: 345) criticar o desprestígio do ensino da alta literatura em relação à atenção dada à leitura de massa, Emer O’Sullivan (2009: 131) justamente se queixa da falta de estudos acadêmicos sobre literatura infantil e juvenil, a qual não seria considerada como parte da “grande literatura”. John Milton (2002: 11) informa que os estudos da tradução ignoraram, até muito pouco tempo atrás, “a tradução de literatura para mercados de massa”. Essa mudança ocorreu, segundo o professor da USP, com a virada cultural [cultural turn], que ampliou as fronteiras desses estudos para além da linguística, “articulando-se com outras áreas como a psicanálise, a filosofia, a política, o feminismo, a desconstrução e os estudos pós-coloniais”. Um dos principais autores no campo dos estudos de tradução, André Lefevere (1992), inclui as pesquisas sobre traduções e adaptações dentro dos estudos literários, e retoma também, assim como Itamar Even-Zohar (2005) e Gideon Toury (1995), a descrição de literatura herdada do formalismo russo, em que a literatura é um dos sistemas que constituem o “complexo sistema de sistemas conhecido como cultura” [the complex ‘system of systems’ known as a culture] (Lefevere, 1992: 14, aspas do autor).

indexação geralmente não inclui uma entrada para o nome do tradutor. A pesquisa, que já havia se mostrado complicada no caso das traduções integrais, torna-se ainda mais complexa no caso das adaptações, pois essas obras estão ainda em posição mais periférica que aquelas, especialmente em se tratando de adaptações de livros para a literatura infantojuvenil.

Portanto, a busca dos exemplares foi iniciada por meio de sebos, utilizando o portal da

Estante Virtual e fazendo uso de filtros. Aqui é importante lembrar que os exemplares

oferecidos para compra são catalogados pelos próprios vendedores, e muitos não são livreiros, criando uma grande heterogeneidade de entradas. Nota-se um problema ainda maior no caso de busca de adaptações: a obra pode estar tanto nas estantes de literatura estrangeira, nacional, literatura infantojuvenil, gibis, ou, no caso dos autores dos séculos passados, na estante de livros

raros. Esclarecemos aqui como foram resolvidos os seguintes empecilhos:

A) Falta de informações

 Autor: Como foi dito no início deste capítulo, a coleta de dados ainda é um dos grandes desafios dentro da historiografia da tradução. É bem comum encontrar livros publicados no século XIX e início do XX sem indicação de autor. A frequência aumenta no caso dos tradutores, e cresce ainda mais no caso de adaptadores. O problema se agrava quando lidamos com literatura de massa, ou popular, como é o caso de adaptações para crianças e jovens. O termo mais utilizado pelos editores é anônimo, mas, pelo caráter histórico desta pesquisa, não se quis confundir com o termo que aparece impresso em alguns livros mais antigos (especialmente antes do século XIX), optando-se pela expressão autoria desconhecida.  Data da edição: A falta de informações em relação à data de publicação de cada exemplar é um dos maiores empecilhos ao se organizar os dados recolhidos em uma tabela cronológica, responsável pela tabulação de dados incertos, ou aproximações, como por exemplo [192_?] para provável década de 1920. Nesses casos colocou-se o exemplar dentro do ano 1920, mas com a indicação [192_?].

 Data das republicações: o mesmo dito acima. Como neste tipo de pesquisa é comum não se conseguir dados como tiragens e vendas reais, utilizou-se a frequência das reedições e reimpressões para gerar um panorama da recepção da obra. O problema é sempre distinguir

edições de reimpressões, dois termos que, apesar de padronizados pela ABNT e ISBN, ainda

são usados de maneira algo aleatória19. Os dados conseguidos através do exame dos exemplares

19 O ISBN define uma edição como “todos os exemplares produzidos a partir de um original ou matriz. Pertencem

à mesma edição de uma publicação todas as suas impressões, reimpressões, tiragens etc., produzidas diretamente por outros métodos, sem modificações, independentemente do período decorrido desde a primeira publicação”. Já a ABNT define a primeira edição simplesmente “Primeira publicação de um original”. No caso das definições de

físicos foram completados com dados retirados das pesquisas feitas ao elaborar a listagem. Alguns anos foram estimados: calculando-se o intervalo entre duas edições examinadas fisicamente, projetam-se outras publicações; ou através de dados extratextuais, como biografias dos adaptadores ou editores. Servem também de referência temporal diferenças ortográficas e valores em diferentes moedas (cruzeiros, reais etc.), sempre seguindo a indicação da ABNT, que recomenda registrar uma data aproximada entre colchetes, como nos seguintes exemplos: “[1994?] para ano provável; [195_] para década certa; [ca.1970] para data aproximada; [2002] data certa, porém não indicada na publicação” (Rodrigues, 2008: 16).

1.2 ORGANIZAÇÃO DOS DADOS OBTIDOS EM PLANILHA E OBTENÇÃO DE GRÁFICOS ESTATÍSTICOS