• Nenhum resultado encontrado

Complicações

No documento Luxação patelar em cães (páginas 84-88)

CAPÍTULO 1 – Revisão Bibliográfica

4. Luxação de patela

4.15 Complicações

O tratamento cirúrgico é geralmente bem sucedido, contudo até 43,1% dos casos os tutores referem que os animais apresentam claudicação ocasional e, até 13% necessitam de outra cirurgia (Alam, et al., 2007; Linney, et al., 2011; Kalff, et al., 2014).

A claudicação pós cirúrgica e resultados insatisfatórios podem ser devidos a uma grande variedade de fatores (Oshin, 2016). Condições presentes antes da cirurgia tais como o estado da cartilagem articular, presença de OA e deformidades esqueléticas nos MP podem desempenhar um importante papel relativamente ao aparecimento de complicações (Daems, et al., 2009; Oshin, 2016).

A presença de patologias concomitantes tal como RLCCr e lesões dos meniscos podem levar a uma persistência da claudicação a menos que sejam corrigidos simultaneamente. Adicionalmente, a persistência da claudicação para além do período pós-cirúrgico normal de 2 a 4 semanas pode ser secundário a complicações associadas às próprias técnicas cirúrgicas de correção da LP (Oshin, 2016).

66 As complicações ocorrem entre 18% a 29% dos cães que são submetidos a cirurgia para correção da LP. Estas são geralmente classificadas em complicações maiores, que exigem cirurgia de revisão, ou menores, quando a cirurgia não é necessária (Arthus & Langley-Hobbs, 2006; Gibbons, et al., 2006; Cashmore, et al., 2014). Um maior risco de desenvolver complicações é maioritariamente descrito em cães de porte grande. Segundo Clerfond et al. e Gallegos et al., cães submetidos a uma única cirurgia para correção de LP bilateral não verificaram um aumento do risco de complicações em grupos de cães que pesavam menos de 12Kg e 15 Kg respetivamente, sendo assim bem tolerada (Clerfond, et al., 2014; Gallegos, et al., 2016).

As situações mais frequentemente descritas de complicações maiores na correção cirúrgica de LP incluem a recidiva da luxação patelar, problemas associados a TTT, tais como quebra ou migração de implantes, fraturas da TT ou o seu deslocamento e ainda fraturas da tíbia proximal (Oshin, 2016).

A recidiva da luxação patelar é a complicação pós-cirúrgica mais comum. Vários estudos referem diferentes valores de incidência desta complicação, tendo alguns autores obtido 6%, 9%, 12,4% e 19,8%, (Gibbons, et al., 2006; Linney, et al., 2011; Stanke, et al., 2014; Fullagar, et al., 2017).Geralmente a recidiva da luxação dá-se para a mesma direção que a LP pré-cirúrgica, e as razões para isto ocorrer assentam no facto de não se ter realizado um correto alinhamento do mecanismo do quadríceps, falha do implante precocemente e ainda falha em corrigir concomitantemente deformidades esqueléticas subjacentes, tais como, a existência de um sulco troclear pouco profundo e um varus femoral excessivo (Roush, 1993; Arthus & Langley-Hobbs, 2006; Gibbons, et al., 2006).

A maioria dos estudos descrevem ocorrer uma relação entre os elevados graus de LP pré-cirurgicamente e altas taxas de recidiva da luxação (Singleton, 1969; Roush, 1993; Arthus & Langley-Hobbs, 2006). Contudo esta relação não é estatisticamente significativa (Arthus & Langley-Hobbs, 2006; Cashmore, et al., 2014). Não foram observadas relações significativas entre a recidiva da luxação e a idade, sexo ou peso do animal (Linney, et al., 2011). A recidiva da luxação para a direção oposta devido a uma correção excessiva é menos comum, mas também tem sido descrita (Arthus & Langley-Hobbs, 2006; Linney, et al., 2011).

Shaver et al., contrariamente a Clerfond et al. e Gallegos et al., relatou que a correção de LP bilateral apenas numa intervenção cirúrgica ser a única variável significativamente

67 associada com a recidiva da luxação, referindo que a probabilidade de recidiva da luxação era 12,5 vezes maior do que em cães que realizaram cirurgia unilateral (Shaver, et al., 2014).

A TTT é cada vez mais vista como um componente crítico na correção de LP. A transposição é realizada para a direção oposta da LP e corresponde a uma tentativa para realinhar o mecanismo extensor. As complicações associadas a esta técnica podem estar diretamente relacionadas com o procedimento em si ou com o seu efeito na posição proximodistal da patela. As mais comuns incluem a migração ou falha do implante, fratura da TT e fratura da tíbia proximal e perónio (Arthus & Langley-Hobbs, 2006). Outras complicações menos comuns são rotura negligente do TP ou do tendão do m. extensor digital longo (Oshin, 2016).

Uma posição anormal proximodistal da patela é referido como patela alta ou baixa. O mau posicionamento da patela, contudo, tem sido descrito em cães como uma complicação de LP, seja por lesão direta da patela ou secundariamente a complicações da TTT (Edwards & Jackson, 2012).

A realização de técnicas de trocleoplastia reduzem significativamente a frequência da recidiva da luxação da patela, mas complicações têm sido associadas (Arthus & Langley- Hobbs, 2006; Gibbons, et al., 2006). As complicações comuns à maioria das técnicas de trocleoplastia incluem a obtenção das dimensões, seja profundidade ou largura, inadequadas. Uma trocleoplastia que possua profundidade excessiva pode causar fratura dos côndilos do fémur, que necessitará posteriormente de correção cirúrgica (Chase & Farrell, 2010).

Com a sulcoplastia ou resseção troclear, a migração do fragmento de osteocondral ou de cartilagem ou fragmentos menores destas porções dentro da articulação, tem como consequência a exacerbação da claudicação ou da OA. Após a cirurgia, as forças compressivas da porção articular da patela reduzida e a fricção na superfície de osso esponjoso, devem manter a cunha troclear no sulco aprofundado. Caso esta redução não seja conseguida, a cunha troclear pode migrar (Chase & Farrell, 2010).

Por outro lado, as técnicas de trocleoplastia, numa tentativa de alcançar as dimensões adequadas, podem originar bordos ou lábios trocleares proeminentes, sejam do lado lateral ou do medial, e podem consequentemente fraturar (Chase & Farrell, 2010).

68 OA secundária é uma sequela frequentemente associada a LP, e segundo Roy et al., não existe evidência que o seu desenvolvimento e progressão é influenciada consoante a escolha do tratamento (Roy, et al., 1992).

Para a correção de deformidades angulares esqueléticas muitas vezes é necessário recorrer a DFO e o uso de implantes adequados e a preservação do fornecimento vascular ao fémur deve resultar numa cicatrização rápida e previsível (Roch & Gemmil, 2008; DeCamp, et al., 2016). As complicações associadas a esta técnica incluem sobretudo problemas na cicatrização e mau alinhamento dos fragmentos. A maioria das outras complicações são menores e não necessitam de cirurgia de revisão, a não ser que possam originar complicações mais graves. São exemplos de complicações menores problemas relacionados com a ferida cirúrgica (seja, inflamação da ferida cirúrgica, formação de seroma, infeção superficial ou profunda, deiscência de sutura, reação à sutura, entre outros), edema do TP, hiperextensão da articulação tibio-társica e deslocamento proximal da TT (Oshin, 2016).

69

No documento Luxação patelar em cães (páginas 84-88)

Documentos relacionados