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Epidemiologia

No documento Luxação patelar em cães (páginas 35-39)

CAPÍTULO 1 – Revisão Bibliográfica

4. Luxação de patela

4.6 Epidemiologia

A LP é uma das doenças ortopédicas mais comumente encontradas nos cães e que pode resultar no desenvolvimento de doença articular degenerativa, dor e claudicação (Alam, et al., 2007). Num estudo efetuado por Souza et al. de 2011, de um total de 889 cães avaliados com doenças ortopédica, 13% foram diagnosticados com LP (Souza, et al., 2011).

A LP congénita apresenta-se com maior frequência que a LP traumática (Alam, et al., 2007; Campbell, et al., 2010). Segundo Daems et al., as LPM congénitas representam mais de 80% das LP diagnosticadas em cães (Daems, et al., 2009).

A LP tem sido uma causa comum de claudicação em raças de cães de pequeno porte, apesar de, mais recentemente, a incidência em animais de maior porte estar a aumentar (Alam, et al., 2007; Schulz, 2013).

A LP é uma das principais alterações ortopédicas hereditárias observadas em várias raças de cães (Gibbons, et al., 2006; Lavrijsen, et al., 2014). Um estudo epidemiológico em Inglaterra em 2016 concluiu que as raças com maior prevalência diagnosticadas com LP incluíam as raças: Spitz (6,5%), Yorkshire Terrier (5,4%), Chihuahua (4,9%), Bulldog Francês Figura 6: Deformidades esqueléticas associadas à LP. As imagens em vista cranial mostram como a relação do fémur distal e tíbia proximal afetam a posição da patela. As imagens em vista transversa mostram a rotação interna da tíbia em relação ao fémur e consequente LP, que nos graus III e IV ultrapassa completamente o bordo troclear medial. Adaptado de (Di Dona, et al., 2018).

17 (4,0%), Lhasa Apso (3,8%), Cavalier King Charles Spaniel (3,8%), Bichon (3,8%), Pug (3,5%), Sem Raça Definida (SRD;1,2%) e Staffordshire Bull Terrier (0,5%) (O'Neill, et al., 2016). Segundo o estudo de 2017 em Itália, as raças mais frequentemente diagnosticadas, por ordem decrescente, são cães SRD (19,6%), Cavalier King Charles Spaniel (7,5%), Pinscher Miniatura (6,6%), Chihuahua (6,2%), Caniche Toy ou Miniatura (5,4%), Labrador Retriever (4,7%), Pastor Alemão (3,7%), Bulldog Inglês e Yorkshire Terrier (3,7%) e Boxer (3%) (Bosio, et al., 2017). Estas diferenças sugerem existir influências ambientais e hereditárias (O'Neill, et al., 2016).

A maioria dos cães diagnosticados com LP apresenta LPM e este resultado foi confirmado por Bosio et al., em que a LPM foi vista em 85% dos cães enquanto a LPL apenas em 15%; Alam et al., com prevalência de 95% de LPM e apenas 5% de LPL, Souza et al., que no seu estudo concluíram que 89,6% dos cães apresentavam LPM (Alam, et al., 2007; Souza, et al., 2011; Bosio, et al., 2017)

A LPM é uma das patologias mais comuns tanto em cães de pequeno como grande porte (Souza, et al., 2011). Alam et al., considerando que as raças de pequeno porte seriam até 18kg (um total de 93 cães), registaram que 99% foram diagnosticadas com LPM e apenas 1% com LPL. Também verificaram que raças de maior porte, a partir dos 18kg, 85% apresentaram LPM e apenas 15% LPL (Alam, et al., 2007). Bound et al. também apresentaram resultados semelhantes, descrevendo que, apesar de no seu estudo existir uma grande quantidade de cães de grande porte, a LPM dominou o cenário clínico (Bound, et al., 2009).

A LPL foi anteriormente considerada uma patologia de cães de porte grande e gigante (Alam, et al., 2007). Contudo, Kalff et al., em 2014, observaram que a LPL estava mais presente nos cães de porte médio e grande. A raça Cocker Spaniel foi a mais afetada neste estudo, embora possa estar associado ao facto de ser uma raça bastante popular na área (Kalff, et al., 2014). Por outro lado, Gibbons et al., em 2006, realizaram um estudo em LP em raças de porte grande (neste caso consideraram> 15kg) e obtiveram que apenas 3% dos cães possuíam LPL, sendo o Labrador Retriever mais prevalente, permitindo concluir que a prevalência de LP em cães deste porte está a aumentar, mas a LPL não. (Gibbons, et al., 2006).

Segundo Belanger et al., a castração dos cães de raça determinada não teve efeito significativo no risco de desenvolvimento de LP, contudo em cães SRD verificaram que existia influência da castração nos machos, diminuindo o risco de LP (Belanger, et al., 2017). Alam et

18 al. (2007) referiram que a incidência de LP em cães machos inteiros ou castrados foi similar, contudo verificaram uma maior representatividade de fêmeas esterilizadas com LP (Alam, et al., 2007).

Vários estudos indicam que a maioria das LP são identificadas em cães com menos de 2 a 3 anos de idade, com uma maior distribuição em fêmeas que em machos, contudo no estudo de Vidoni, et al., na Áustria, não demonstraram haver influência do sexo com a observação de LP (Vidoni, et al., 2006; Souza, et al., 2011). Também Gibbons et al. e Alam et al.(2007) referem que a razão entre fêmeas e machos e o desenvolvimento de LP é influenciada pelo peso corporal do animal, dizendo que a LP é mais comum nas fêmeas de pequeno porte (<15Kg) e nos machos de grande porte (Gibbons, et al., 2006; Alam, et al., 2007).

Estudos mais antigos referem que a LP unilateral foi mais comum em cães, contudo investigações recentes mostram que a prelavência da LP bilateral é superior (Cashmore, et al., 2014). Esta afirmação foi comprovada por Souza et al. que diagnosticaram LP bilateral em 64,8% dos cães amostrados; Stanke et al., de 113 cães, 66,4% tinham apresentação bilateral; também Balogh & Kramek diagnosticaram 57 % dos cães avaliados tinham LP bilateral (Souza, et al., 2010; Stanke, et al., 2014; Balogh & Kramek, 2016). O mesmo já não se verificou nos resultados obtidos por Bosio et al. uma vez que a prevalência de LP unilateral (57%) revelou- se ligeiramente superior à bilateral (43%), bem como por Alam et al. que obtiveram 49% dos cães com LP bilateral (Alam, et al., 2007; Bosio, et al., 2017).

Não existindo estudos que comprovem haver influência no MP lesionado e a frequência da LP, o MP direito ( MPD) e esquerdo ( MPE) podem ser igualmente afetados (Gibbons, et al., 2006; Alam, et al., 2007).

Segundo Campbell et al., a RLCCr associada a LP é um achado relativamente comum, principalmente em cães de pequeno porte e de mais idade, e no seu estudo descreveram que 41% dos cães apresentavam doenças concomitantes (Campbell, et al., 2010). Estudos mais especificos referem que o facto de existir RLCCr concomitantemente à LP foram registados em 13%, 12% ou 12,8% dos casos respetivamente (Gibbons, et al., 2006; Alam, et al., 2007; Shaver, et al., 2014).

Relativamente à distribuição dos graus de luxação, de acordo com a bibliografia encontrada, os graus II e III são os mais comuns, seguido dos graus I e IV, embora se verifique alguma diferença dos resultados (Tabela 1).

19 Autores Grau I Grau II Grau III Grau IV Total de cães do estudo Total de joelhos analisados Alam et al. (2007) 18% 27% 47% 8% 134 200 Souza et al. (2010) 21.1 % 49,3% 15,5% 14,1% 48 71 Bosio et al. (2017) 14% 46% 27% 13% 559 801

Tabela 1:Distribuição da prevalência de cães consoante os graus de LP diagnosticados em 3 estudos (Alam, et al.,

2007; Souza, et al., 2010; Bosio, et al., 2017).

Segundo Campbell et al., a RLCCr associada a LP é um achado relativamente comum, principalmente em cães de pequeno porte e de mais idade, e no seu estudo descreveram que 41% dos cães apresentavam doenças concomitantes (Campbell, et al., 2010). Estudos mais especificos referem que o facto de existir RLCCr concomitantemente à LP foram registados em 13%, 12% ou 12,8% dos casos respetivamente (Gibbons, et al., 2006; Alam, et al., 2007; Shaver, et al., 2014).

Bosio et al. concluíram que, a partir dos resultados recolhidos, o tratamento conservativo foi a opção terapêutica mais escolhida em casos de LP de grau I (60%); a transposição da tuberosidade tibial (TTT), trocleoplastia e a imbricação da cápsula articular isolados ou em conjunto foram as técnicas mais executadas em casos de LP de grau II (respetivamente 52%,50% e 50%) e de grau III (respetivamente 28%, 32% e 31%).

Adicionalmente, técnicas de osteotomia corretiva da tíbia ou fémur, em combinação seja com trocleoplastia ou com prótese troclear do joelho (PGR), foram registados em 38% dos casos de LP de grau III e em 33% de casos de grau IV (Bosio, et al., 2017). No estudo de Shaver et al. de 2014, em que apenas foram incluídos cães com LPL tratados cirurgicamente, a trocleoplastia, imbricação medial da cápsula articular, capsulectomia lateral e TTT medial foram as técnicas mais frequentemente executadas (respetivamente 89%, 83%, 60% e 55% do número de joelhos submetidos a cirurgia) (Shaver, et al., 2014). Também Kalff et al. referiram que, no seu estudo de 58 joelhos tratados cirurgicamente, a TTT foi a técnica mais utilizada, sendo realizada em 51 joelhos, e 29 destes foram reforçados com banda de tensão. As técnicas de trocleoplastia mais executadas foram a resseção troclear em cunha (RTC; 42 joelhos) e resseção troclear em bloco (RTB; apenas 4 joelhos). Registaram também que a imbricação da cápsula articular foi a técnica de reconstrução de tecidos moles mais utilizada. Realizaram 15

20 diferentes combinações de técnicas cirurgicas, em que a mais frequentemente executada foi a TTT, RTC e imbricação da cápsula articular (Kalff, et al., 2014).

Os dados epidemiológicos relativos à existência de complicações pós-cirúrgicas são desenvolvidos no ponto 4.15.

No documento Luxação patelar em cães (páginas 35-39)

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