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Resultados e discussão dos casos clínicos

No documento Luxação patelar em cães (páginas 101-109)

CAPÍTULO 2 – Casos Clínicos

8. Resultados e discussão dos casos clínicos

Assim, no presente trabalho foram incluídos 11 cães diagnosticados com LP, 2 com LPL e 9 com LPM (Gráfico 2), e posteriormente

realizada a cirurgia de correção, perfazendo um total de 13 joelhos lesionados, isto é, apenas 2 animais apresentavam LP bilateral (18%).

Todos os animais com LP bilateral foram diagnosticados com LPM, o que significa que os casos de LPL foram todos classificados como unilaterais. Apenas 11 joelhos foram submetidos a cirurgia e todos eram de animais diferentes. O

resultado relativo à apresentação da LP bilateral ou unilateral foi semelhante ao descrito por Alam et al. (2007) e Bosio et al., constatando que a apresentação unilateral é mais frequentemente diagnosticada. Por outro lado, vários autores mostraram que a prevalência da LP bilateral é superior, o que poderá ser explicado pelo facto dos dados recolhidos serem de centros de referência de cirurgia ortopédica, alterando possivelmente a perspetiva em termos epidemiológicos. Os dois animais com LP bilateral apenas foram submetidos a cirurgia a um joelho.

A população total foi constituída por 9 machos (82%) e 2 fêmeas (18%), o que contrasta com o descrito por Souza et al. (2011) que relatou que a maioria das LP possuem uma maior distribuição nas fêmeas que nos machos. Já em relação à conclusão de Gibbons et al e Alam et al. (2007) referente ao facto da LP em cães de grande porte ser mais comum em machos que em fêmeas, os resultados observados são similares e concordantes, visto que, considerando o limite de peso corporal usado por Gibbons et al.(15Kg) registaram-se 3 machos e apenas 1 fêmea e com o limite utilizado por Alam et al. (2007) registaram-se igualmente 3 machos embora não se tenha observado nenhuma fêmea (Gráfico 4). Por outro lado, a outra conclusão dos mesmos autores relativamente ao facto de que em cães de pequeno porte a LP seja mais comum em fêmeas, os dados dos casos recolhidos contrariam essa ideia, uma vez que, para peso corporal inferior a 15Kg, registaram-se 6 machos e 1 fêmea, e para menos de 18Kg existiam 6 machos e 2 fêmeas (Gráfico 4).

18%

82%

Bilateral (2) Unilateral (9)

Gráfico 2: Distribuição dos casos de LP acompanhados consoante a apresentação seja uni ou bilateral.

83 Todos os estudos científicos utilizados para a comparação do sexo do animal possuíam um número bastante superior de casos, pelo que os 11 animais observados e analisados não são uma boa amostra representativa. Seria, assim, necessário eliminar a maior prevalência do sexo em causa para poder aferir quanto a este tópico, bem como adicionalmente contabilizar os casos de LP de grau I ou de outros graus em que os tutores não aceitaram a realização da cirurgia e que, por estes motivos, não foram registados. Contudo, avaliando a distribuição do sexo separadamente dos casos com LPL e LPM (Gráfico 3), verificou-se que não existiram fêmeas com LPL (100% machos; 0% fêmeas), enquanto que nos animais com LPM existiram 2 fêmeas (22%) e 7 machos (78%). 2 7 0 2 0 1 2 3 4 5 6 7 8 LPL LPM Machos (9) Fêmeas (2) 6 6 3 3 1 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 7 <15Kg <18Kg >15Kg >18Kg Número de cães P o rt es do s es Fêmeas (2) Machos (9)

Gráfico 3: Distribuição do sexo dos cães com LP consoante o diagnóstico seja LPL ou LPM. Gráfico 4: Distribuição do sexo dos animais consoante o limite de porte utilizado

84 Outro tópico que se pretendeu analisar foi o estado reprodutivos da população de cães observada apresentado no Gráfico 5. Apenas 3 dos 11 cães eram castrados/esterilizados (27%), mais especificamente 1 fêmea e 2 machos, e estes foram todos diagnosticados com LPM. Mais uma vez, a provável falta de representatividade em relação ao sexo dos animais da minha amostra, não permitiu estabelecer uma relação de concordância com o descrito por Alam et al (2007), em que relatou uma incidência de LP idêntica tanto em cães machos castrados ou inteiros enquanto que nas fêmeas, verificaram um maior número de casos de fêmeas esterilizadas com LP. A forma como as pessoas e neste caso, os tutores, aceitam e conhecem os benefícios da castração e a preocupação por parte das entidades competentes em divulgar essa informação, são alguns fatores que poderão estar na origem da discrepância entre vários estudos acerca deste tópico, colocando em risco a sua comparação.

Em relação à idade (Gráfico 6), 2 cães tinham idade até 1 ano (18%), 6 tinham entre 1 e 3 anos (55%), 2 tinham entre 5 e 7 anos (18%) e apenas 1 cão estavam no intervalo dos 8 a 9 anos (9%), tendo sido, no geral, compreendida entre os 6 meses e os 9 anos de idade. Observou- se, assim que, tanto em estudos mais antigos quanto nos atuais, bem como no presente trabalho, a maioria das LP são diagnosticadas em cães com menos de 2 a 3 anos. Por se tratar de uma patologia congénita ou do desenvolvimento, é justificável que os tutores procurem resposta quando os seus cães têm idades mais jovens, aquando a manifestação dos sinais clínicos, pelo que explica o grande número de casos diagnosticados antes dos 3 anos. Mais de metade dos animais registados (73%) foram diagnosticados antes dos 3 anos.

0 2 4 6 8 Castrados/esterilizadas Inteiros 2 7 1 1 Machos (9) Fêmeas (2) Gráfico 5: Distribuição do estado reprodutivo dos cães com LP.

85 Quanto às raças dos cães estudados (Gráfico 7), 3 animais eram da raça Bulldog Francês (27%), 2 animais SRD (18%), 2 eram Chihuahua (18%), 2 eram Labrador Retriever (18%), 1 cão era Pinscher (9%) e o restante era da raça Epágneul Breton (9%). Avaliando as raças dos casos com LPL separadamente dos com LPM, verificou-se que os cães com LPL eram um da raça Chihuahua e o outro era SRD de pequeno porte (3,4Kg) enquanto que os cães com LPM eram os restantes, portanto, 3 da raça Bulldog Francês, 2 Labrador Retriever, 1 SRD, 1 Chihuahua, 1 Pinscher e 1 Epágneul Breton. Todas as raças registadas, exceto Epágneul Breton, estão contempladas na maioria dos estudos epidemiológicos de LP em cães. É possível que a prevalência de LP em certas raças calculada nos estudos de O’Neill et al. e Bosio et al. apresente uma disparidade de resultados devido à popularidade e distribuição das raças das diferentes áreas de estudo. O Labrador Retriever foi a raça mais registada nos cães de grande porte e o Bulldog Francês para as de pequeno porte.

Gráfico 7: Distribuição dos cães com LP consoante as suas raças. 3 1 1 2 1 1 0 1 1 0 0 0 Bulldog Francês (3) SRD (2) Chihuahua (2) Labrador Retriever (2) Pinscher (1) Epágneul Breton (1) LPM LPL 0 1 2 3 4 5 6 7

até 1A 1-3A 5-7A 8-9A

Núm er o de es Idades

86 De entre os cães acompanhados apenas 2, um macho e uma fêmea, possuíam RLCCr (18%) e foram todos diagnosticados com LPM. Semelhante ao descrito por Gibbons et al., Alam et al. (2007) e Shaver et al. acerca de existir RLCCr concomitantemente à LP, em que registaram valores de 13%, 12% e 12,8% respetivamente, os resultados obtidos no meu trabalho são consistentes com esses valores apresentados, tornando-se, assim, um aspeto que deve ser sempre avaliado tanto no exame ortopédico tanto pré- ou pós-cirúrgico. O cão macho foi tratado cirurgicamente com TTT lateral, RTC e imbricação lateral da cápsula articular enquanto que na fêmea foi realizada meniscectomia parcial do corno caudal do menisco medial, sutura lateral a envolver o sesamoide lateral e orifício na tíbia cranialmente ao tubérculo de Gerdy e simultaneamente imbricação lateral da cápsula articular. Passado 1 mês da cirurgia, ambos claudicavam pelo que foram prescritos condroprotetores e continuaram a ser consultados pelo colega que os referenciou, pelo que não há mais informações acerca da sua evolução.

No que que diz respeito ao MP afetado, dos 11 membros com LP submetidos a cirurgia (Gráfico 8), 6 são MPD (55%) e 5 são MPE (45%), pelo que considerando que os resultados obtidos foram similares aos encontrados na bibliografia, constatando que o membro não influencia a frequência da LP.

No que diz respeito ao peso corporal dos animais analisados, a distribuição do número de

casos difere quando se considera que o pequeno porte inclui animais até aos 15Kg ou 18Kg e o mesmo acontece para a classificação de grande porte (superior a 15Kg ou 18 Kg). Assim, utilizando o limite de 15 Kg descrito por Gibbons et al., 7 dos 11 cães diagnosticados com LP são de pequeno porte (64%) e apenas 4 de grande porte (36%). Por outro lado, usando o limite de 18Kg descrito por Alam et al. (2007), 8 cães são considerados de pequeno porte (73%) e 3 de grande porte (27%). O peso dos animais avaliados variava de 2,4Kg até 32,5Kg. Em conclusão, verificou-se um maior número de cães de pequeno porte com LP, o que está em concordância com o referido pelos autores acima referenciados.

MPD 55% MPE

45%

87 Como já referido anteriormente, em termos gerais, 2 cães apresentavam LPL e 9 LPM, o que perfazia os 11 cães com LP estudados. Utilizando os limites de peso anteriores, relativamente aos 8 cães de pequeno porte, o Gráfico 9 mostra que, com menos de 18Kg, 6 foram diagnosticados com LPM (75%) e 2 com LPL (25%) e, com o limite de 15Kg descrito por Gibbons et al., dos 7 cães de pequeno porte, 5 apresentavam LPM (71%) e 2 LPL (29%).

Estes resultados mostram um índice superior de casos de cães de pequeno porte registados com LPL, contrastando com os valores obtidos por Alam et al. (2007), em que apenas registaram 1% de um total de 93 cães. Contudo, nesse estudo é possível que o baixo número de casos utilizados influencie estes resultados, pelo que seria necessário um grupo de controlo para estudar esta variável.

Quanto aos cães de grande porte, tanto aqueles com mais de 18Kg como mais de 15Kg todos foram diagnosticados com LPM (100%). Os resultados deste trabalho não confirmam o que antigamente se afirmava, que a LPL seja considerada uma patologia de raças de grande porte, apesar de que esta conclusão deverá ser analisada com reservas uma vez que o número cães de grande porte é bastante reduzido. Efetivamente o que se verifica na maioria dos estudos publicados desta temática é que, a LPM é bastante mais prevalente qualquer que seja o porte do animal e, a LPL, apesar da baixa prevalência, comparando apenas valores de prevalência para raças de pequeno e grande porte, esta é mais registada em mais cães de grande porte, não invalidando que, mesmo assim, seja a apresentação de LP menos comum.

7 4 8 3 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 <15Kg >15Kg <18Kg >18Kg Núm er o de es

Intervalo de peso corporal

88 A tabela 3 que se segue permite comparar os graus de LP (não distinguindo LPM de LPL) com os resultados obtidos pelos autores Alam et al., Souza et al. e Bosio et al.

Tabela 3: Comparação da distribuição das prevalências de cães consoante os graus de LP em 3 estudos e o presente estudo (Alam, et al., 2007; Souza, et al., 2010; Bosio, et al., 2017).

Foram calculadas maiores prevalências nas LP de grau II e III relativamente às de grau I e IV, o que está em concordância com o descrito pela maioria dos autores. A inexistência de cães com LP de grau I é reflexo da não inclusão de casos que não fossem tratados cirurgicamente e que está associado com o facto de que raramente necessitam de correção cirúrgica. As LP de graus II, III e IV geralmente cursam com claudicação intermitente a moderada e apresentam alterações esqueléticas, pelo que, mais facilmente é observável para o tutor e procura aconselhamento médico-veterinário.

Resultados Grau I Grau II Grau III Grau IV Total de cães no estudo Total de joelhos analisados (Alam, et al., 2007) 18% 27% 47% 8% 134 200 (Souza, et al., 2010) 21.1% 49.3% 15.5% 14.1% 48 71 (Bosio, et al., 2017) 14% 46% 27% 13% 559 801 Meus resultados 0% 45.5% (5) 45.5% (5) 9% (1) 11 11 0 1 2 3 4 5 6 <15Kg <18Kg >15Kg >18Kg LPM LPL

Gráfico 10: Distribuição dos cães com LP relacionando o porte e se foi diagnosticado com LPL ou LPM.

89 Após a análise dos dados dos exames ortopédicos, nomeadamente a gravidade da LP, e sobretudo a preferência e experiência do cirurgião, foi possível determinar o plano cirúrgico individual. No que toca às técnicas de reconstrução de tecidos moles, estas foram realizadas na maioria das cirurgias. Estas incluíram imbricação da cápsula articular, capsulectomia, desmotomia e libertação do m. vasto lateral.

Diferenciando as técnicas cirúrgicas realizadas consoante do grau de LP (Gráfico 11), para os 5 cães com LP de grau II foram maioritariamente realizadas, seja de forma isolada ou em combinada, a imbricação da cápsula articular (4 animais; 80%), RTC (3 animais; 60%) e TTT (3 animais; 60%). Estes valores são relativamente superiores aos apresentados por Bosio et al., contudo o baixo número de animais analisados e a realização das mesmas técnicas cirúrgicas em mais que um animal promove aumentos consideráveis, em termos percentuais. Para os 5 cães com LP de grau III foram realizadas, uma vez mais, de forma isolada ou combinada, a TTT em todos os joelhos (100%), RTC (4 animais; 80%), imbricação da cápsula articular (4animais; 80%) e capsulectomia medial (2 animais; 40%). Estes resultados também contrastam com os valores descritos por Bosio et al., o que também pode ser explicado pelas razões anteriormente referidas. Em nenhum dos casos foi realizada osteotomia corretiva do fémur ou tíbia. O único caso de LP de grau IV registado foi corrigido com RTB, imbricação medial e desmotomia lateral.

0 1 2 3 4 5 TTT RTC RTB Imbricação da cáps. Articular Capsulectomia Desmotomia Meniscectomia parcial Grau IV Grau III Grau II Grau I

90 Relativamente às complicações pós-cirúrgicas (Gráfico 12), foram registados 8 casos com complicações menores, distribuídos da seguinte forma: 3 casos com crepitação, 3 casos com claudicação, 1 caso com claudicação e crepitação e também 1 caso com reação na zona dos implantes. Apenas um caso apresentou recidiva da luxação devido a deiscência de sutura de pele e da imbricação da cápsula articular. Esta variável foi difícil de avaliar uma vez que a maioria dos animais não voltaram às consultas de acompanhamento e os colegas médicos veterinários que referenciaram o caso não comunicaram a sua evolução.

A maior limitação no acompanhamento dos vários casos recaiu sobretudo no incorreto posicionamento radiográfico do fémur e tíbia, o que não permitiu obter imagens diagnósticas que permitissem uma avaliação correta e precisa das deformidades esqueléticas. Sabe-se que o não tratamento ou correção destas deformidades esqueléticas poderão contribuir para o aparecimento de complicações no período pós-cirúrgico.

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