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CAPÍTULO 3. METODOLOGIA

3.2. Caracterização do sistema de estudo Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe

3.2.1. Composição física da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe

A Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe é constituída por 26 municípios, dentre os quais oito possuem a totalidade de suas terras inseridas nesta Bacia, enquanto que 18 estão incluídos de forma parcial, conforme Quadro 3.1. A capital do Estado também faz parte da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, o que evidencia uma densidade populacional significativa em termos urbanos e a uma probabilidade maior de conflitos pelo uso de água nos mais diversos setores.

OS 26 MUNICÍPIOS QUE COMPÕEM A BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SERGIPE

Municípios totalmente inseridos

Municípios Área da unidade territorial (Km²) População

Laranjeiras 162 26.903

Malhador 101 12.056

Moita Bonita 96 11.034

Nossa Senhora Aparecida 340 8.510

Nossa Senhora do Socorro 157 160.829

Riachuelo 79 9.351

Santa Rosa de Lima 68 3.752

São Miguel do Aleixo 144 3.702

Municípios parcialmente inseridos

Municípios Área da unidade territorial (Km²) População

Aracaju 182 570.937

Areia Branca 147 16.882

Barra dos Coqueiros 90 25.012

Carira 636 19.990 Divina Pastora 92 4.326 Feira Nova 185 5.325 Frei Paulo 400 13.854 Graccho Cardoso 242 5.648 Itabaiana 337 86.981 Itaporanga D Ajuda 740 30.428 Maruim 94 16.338

Nossa Senhora da Glória 756 32.514

Nossa Senhora das Dores 483 24.579

Ribeirópolis 259 17.163

Rosário do Catete 106 9.222

Santo Amaro das Brotas 234 11.389

São Cristóvão 437 78.876

Siriri 166 8.006

Quadro 3.1: Municípios que compõem a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe (fonte: IBGE CIDADES, 2011).

A Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe drena aproximadamente 16,7% do Estado e limita-se ao norte com as Bacias do São Francisco e Japaratuba, e ao sul, com a Bacia Vaza Barris. O quadro climático predominante é o semi-árido, que envolve em torno de 58% da

área total, enquanto que as regiões agreste e sub-úmida representam, respectivamente, 24% e 18%. Desse modo, as elevadas temperaturas contrastam com a extrema irregularidade na distribuição espacial das chuvas.

Esta Bacia corta a parte central do Estado no sentido Sudeste - Noroeste, ocupando parte dos territórios da Grande Aracaju, Agreste Central Sergipano, Leste Sergipano, Médio Sertão e Alto Sertão como pode ser observado na Figura 3.1. Os solos podem ser agrupados em função de sete unidades geomorfológicas principais: baixada litorânea, superfícies terciárias muito dissecadas, superfícies terciárias dos baixos platôs costeiros, bacia cretácea, superfícies cristalinas, superfícies de pediplanação e maciços residuais.

Compreendendo áreas nos biomas Caatinga (na região do Alto Rio Sergipe e parte do Médio Rio Sergipe) e Mata Atlântica (Baixo Rio Sergipe). Nas áreas semi -áridas do Alto Rio Sergipe, grandes extensões de terra se apresentam desmatadas, com pastagens cultivadas dominando a paisagem onde a pecuária é a atividade mais importante.

As formações vegetais naturais da caatinga (savana-estépica) no Alto Rio Sergipe são constituídas de três estratos como: herbáceo, com plantas até um metro de altu ra; arbustivo com plantas até oito metros de altura; o arbóreo, com plantas entre 12 e 15 metros de altura (ARAÚJO et al., 2006 apud SERGIPE. CONSÓRCIO PROJETEC, SEMARH, SRH, 2010, no prelo).

Para a caracterização da composição florística dos estratos, Franco (1983) apud Sergipe. Consórcio Projetec, SEMARH, SRH (2010, no prelo) descreve em três estratos os quais são:

Primeiro estrato - encontram-se espécies como a macambira (Bromelia laciniosa), gramíneas e ervas como capim-amargoso (Andropogon), mata-pasto (Senna uniflora), salsa (Ipomoea glabra), coroa-de-frade (Melocactus sp. bahiensis) entre outras.

Segundo estrato - destacam marmeleiro (Croton sp.), arranhento e juremas (Mimosa sp), catinga-de-porco (Caesalpinia pyramidalis), jurubeba (Solanum auriculatum aiton) e outras.

Terceiro estrato - ressalta a ocorrência de braúna (Schinopsis brasiliensis), aroeira (Myracrodruon urudeuva), angico (Anadenanthera colubrina); umburana-de-cambão (Commiphora leptophloeos), umbuzeiro (Spondias tuberosa arruda), juazeiro (Ziziphus joazeiro), cedro (Cedrella sp.), barriguda (Chorisia ventricosa), pau ferro (Dialium guianense) e mandacaru (Cereus jamacaru).

Em ambientes mais secos é observada a presença de xiquexique (Pilosocereus piauhyensis), quixabeira (Sideroxylon obtusifolium), fumo-bravo (Nicotiana glauca) e pau de leite (Sapium sp.).

Em áreas de transição como a floresta estacional, observa-se a Crataeva tapia (trapiá), Ziziphus joazeiro (juazeiro) e Geoffrea spinosa (mari ou umari), espécies encontradas nas matas ciliares de caatinga em outros locais do Nordeste. As espécies mencionadas indicam que a composição das caatingas sergipanas encontra-se aparentemente com baixo grau de endemismo e de ocorrência restrita a poucas áreas, já antropizadas.

As matas ciliares mais bem conservadas, nessa região, apresentam estrato arbóreo variando de 6 a 12 metros, em pequenos fragmentos adensados nas margens de rios, com predomínio de Lonchocarpus sericeus (ingazeira) e Poincianella pyramidalis (Caesalpinia pyramidalis, catingueira), além de Erythrina velutina (mulungu), Ziziphus joazeiro (juazeiro), Sideroxylum obtusifolium (quixabeira), Anadenanthera colubrina (angico) e Triplaris sp.

Ainda no Alto Rio Sergipe, as áreas de preservação permanente do Rio Salgadinho contam com poucos elementos arbóreos representados por Ziziphus joazeiro, Spondias tuberosa, Jathropha ripifolia, Erythrina velutina, Poincianella pyramidalis, Mimosa tenuiflora, Mimosa sp. e ainda Cereus jamacaru e a mamona (Ricinus comunis), espécie exótica subespontânea em áreas com vegetação degradada. Esses locais com vegetação ripária encontram-se geralmente ladeados por pastos e roçados de milho e de palma forrageira.

A floresta estacional, decidual e semidecidual, originalmente presente no Agreste de Sergipe, foi quase inteiramente substituída por pastagens e cultivos agrícolas, restando poucos e pequenos fragmentos isolados. Há registros da ocorrência de Sclerolobium densiflorum, Cariniana sp., Platymiscium floribundum, Plathymenia foliolosa, Caesalpinia echinata, Eschweilera ovata, Sapindus saponaria, Ocotea sp., Psidium araca, Psidium spp., Centrolobium robustum, C. tomentosum, Cordia sp., Enterolobium ellipticum, Protium heptaphyllum, Cedrella sp., Sloanea obtusifolia, Genipa americana, Myracrodruon urundeuva, Hymenaea sp., Syagrus coronata, Bowdichia virgilioides, Byrsonima sericea, Tabebuia roseo-alba, Licania tomentosa.Tabebuia chrysotricha, Erythrina mulungu, Crataeva tapia, Ziziphus joazeiro e Geoffrea spinosa.

O Médio Rio Sergipe no Parque Nacional Serra de Itabaiana e seu entorno apresentam uma vegetação com características próprias, constituindo-se em complexo vegetacional com elementos florísticos das florestas estacionais e umbrófilas, das restingas e de cerrado, constituindo-se em prioridade para conservação e uso sustentável. Pode-se observar a presença da espécie introduzida Clitoria fairchildiana (sombreiro, de origem amazônica) em meio a vegetação nativa constituída de Genipa americana (jenipapo, presente em praticamente todo território de Sergipe), Cupania paniculata, Senna macranthera, Senna ciliata, Thyrsodium spruceanum, Casearia silvestre, Himathanthus sp., Xylopia frutescens, Protium sp., Cordia nodosa, Byrsonima sericea, Miconia ciliata, Buchenavia capitata, Guatteria sp., Clusia sp., Tapirira guianensis, Cecropia sp., Jacaranda obovata, Anacardium occidentale, Curatella americ ana, Vellosia sp., Heliconia sp., Hancornia speciosa, Miconia albicans, Tabebuia sp., Vochysia sp., Vismia guianensis, Crotolaria americana, Philodendron imbe, Bromelia sp., além de várias palmeiras e pteridófitas.

Na região denominada de “areias brancas”, a vegetação é composta por espécies características de restingas como Eisembeckia sp., Cocoloba sp., várias espécies de Orchidaceae, vellosia sp., Chamaecrista syssoides, Manilkara sp., Vismia guianensis, Kielmeyera rugosa, Ulmiria sp., Lafoensa sp., Cocos nucifera , a trepadeira Mandevilla microphylla e Bromelia sp.

Nas proximidades do Rio Poxim na região do Baixo Rio Sergipe, a vegetação natural restringe-se às áreas de preservação permanente, onde se observa a existência de cobertura vegetal adensada em alguns pontos, muitas vezes invadida por espécies exóticas. A altura média da vegetação é de 6m, encontrando-se Syzigium cumini, Clitoria fairchildiana, Sena macranthera, Tapirira guianensis, Cecropia sp., Ptecelobium sp., Licania tomentosa, Inga vera, Schinus terebinthifolia, Bromelia sp., Ricinus comunis, Bambusa sp. e jurubeba.

No Parque Estadual Governador José Rolemberg Leite encontra-se um exemplo de fragmento florestal urbano com Guazuma ulmifolia, Cupania racemosa, Anadenanthera colubrina, Enterolobium contorsiliquum, Andira sp. O Parque está situado no interior da APA Morro do Urubu, apresenta elevada abundância de espécies exóticas com potencial de invasoras como Leucaena leucocephala, Prosopis juliflora, Mimosa sp., Mimosa caesalpinifolia, Mangifera indica, Ricinus comunis e Clitoria fairchildiana.

Ao leste, aproximando-se da foz do Rio Sergipe são encontradas as formações pioneiras de influência fluviomarinha: os manguezais ocupam as margens dos principais rios e seus afluentes que recebem influência das marés, adentrando pelo interior até cerca de 20 km. Entre os municípios de Maruim e Pedra Branca, o mangue em bom estado de conservação é constituído principalmente por Lagungularia racemosa.

Na foz do Rio Sergipe, em Aracaju, estudos efetuados em vários pontos do estuário apontaram intenso antropismo, como no Bairro da Coroa do Meio, cujos manguezais foram eliminados na década de 80, para a urbanização da região (ALVES, 2006 apud SERGIPE. CONSÓRCIO PROJETEC, SEMARH, SRH, 2010, no prelo). Atualmente observa-se vegetação densa, com dominância de Lagungularia racemosa, além de Syzigium cumini e Terminalia catapa, espécies exóticas que ocorrem em ambiente perturbados. O ambiente natural foi substituído por edificações e deposição de pedras para conter a invasão do Rio Sergipe. Identificam-se ainda formações pioneiras de influência marinha, com restingas e dunas, notadamente em Barra dos Coqueiros e Santo Amaro de Brotas.

Há o predomínio de pastagem na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, seguida de cultivos agrícolas. A Mata Atlântica ocorre na parte Centro Sul, nos topos das colinas, os cursos d’água sob denominação de matas ciliares, estendendo-se por vales à procura de umidade. Nas áreas onde a Planície Litorânea é formada por Restinga, evidencia -se os campos de restinga com porte arbustivo e rasteiro, de formação perenifólia recobrindo a restinga. A luminosidade, a intensidade dos ventos, bem como o solo arenoso profundo, dá a esta classe uma peculiaridade ímpar. Nas áreas em que a Planície Litorânea tem formação fluviomarinha, especialmente nos estuários dos rios, ocorre uma vegetação de formação perenifólia o manguezal, que margeia os rios na altura em que o curso hídrico recebe a influência da composição marinha e dos movimentos das marés.

Para a obtenção das informações de precipitação são utilizados dados anuais de onze postos pluviométricos e uma estação climatológica presente nesta Bacia Hidrográfica. Os meses com maior valor de precipitação são abril, maio, junho e julho com destaque ao mês de maio, com maior índice de precipitação em quase todas as localidades. Por outro lado, os meses de outubro, novembro, dezembro e janeiro possuem valores de precipitação abaixo de 55 mm. A precipitação é maior próximo da Foz do Rio Sergipe no Litoral Sudeste, e diminuindo na direção da Nascente Noroeste, no Semi- Árido.

A qualidade da água do Rio Sergipe apresenta uma grande variação no conteúdo de sais, que diminui sua concentração de montante para jusante, em conseqüência do aporte de águas com baixo teor de salinidade proveniente das regiões situadas no trecho inferior da Bacia, formadas por rochas sedimentares e nas quais a incidência de chuvas é maior. Estes dois fatores possibilitam uma boa recarga, circulação e elevada renovação das águas subterrâneas que alimentam os afluentes e proporcionam a esse Rio um regime permanente. Por outro lado, no Médio e Alto curso do Rio Sergipe as águas se apresentam de baixa e média qualidade físico-química e com vazões inferiores às do curso inferior, em decorrência da prevalência de rochas cristalinas, de caráter metamórfico.