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CAPÍTULO 3. METODOLOGIA

3.3. Sistema de utilização pelo ser humano

3.3.1. Sistemas legais

A primeira lei a tratar de recursos hídricos no Brasil, o Código das Águas, foi promulgada em 1934, com o objetivo de harmonizar o uso das águas para fins de geração de energia elétrica, agricultura e demais usos (BRASIL. MMA, SRH, 2006). O Código das Águas, apesar de seus mais de 65 anos, ainda é considerada pela Doutrina Jurídica como um dos textos modelares do Direito Positivo Brasileiro (BRASIL. MMA, SRH, 2002).

A Constituição Federal em vigência modificou o texto do Código das Águas, uma das alterações foi à extinção do domínio privado da água, onde todos os corpos d’água, a partir de outubro de 1988, passaram a ser de domínio público. Outra modificação foi o estabelecimento de apenas dois domínios para os corpos d’água no Brasil: o domínio da União, para rios e lagos que banhem mais de uma unidade federada ou sirvam de fronteira entre essas unidades, ou entre o território do Brasil e o de país vizinho ou deste provenham ou para o mesmo se estendam; e o domínio dos estados, para as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvas, neste caso, aos decorrentes de obras da União (BRASIL. MMA, SRH, 2002).

A Constituição Federal de 1988 introduziu um avanço importante em relação à gestão dos recursos hídricos no Brasil, ao considerar a água como um bem de domínio público e ao instituir o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos – SINGREH, essas medidas foram consolidadas na forma da Lei 9.433/97, que estabeleceu a Política Nacional de Recursos Hídricos, conhecida também como Lei das Águas (BRASIL. MMA, SRH, 2006). A Política Nacional de Recursos Hídricos é clara e objetiva na definição de diretrizes gerais de ação, as quais se referem à indispensável integração da gestão das águas com a gestão ambiental.

A Política Nacional de Recursos Hídricos é a materialização do interesse brasileiro no cumprimento dos compromissos firmados por ocasião da assinatura da Agenda 21, na perspectiva de assegurar a sustentabilidade deste recurso. Sendo considerado que a Política Nacional de Recursos Hídricos define como seu objetivo primeiro “assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos”, fica evidente sua origem e inspiração na concepção de sustentabilidade subjacente ao documento Agenda 21 (SAITO, 2001).

Os fundamentos da Lei n° 9.433/97 indicam novos rumos em matéria de gestão das águas, a começar pelo entendimento jurídico-legal de que a superação dos graves problemas ecológicos e a condução do desenvolvimento econômico, rumo a cenários socioambientais sustentáveis passa pelo cruzamento das questões ecológicas, socioeconômicas e político- financeiras de sustentabilidade do sistema de gestão de recursos hídricos (BRASIL. MMA, SRH, 2002). O que vem a confirmar a necessidade crescente da participação de todos na gestão das águas.

Tomando como subsídio para a implementação da gestão de recursos hídricos, o Estado de Sergipe formulou a Lei nº 3.870, de 25 de setembro de 1997, dispõe sobre a Política Estadual de Recursos Hídricos, cria o Fundo Estadual de Recursos Hídricos e o Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos e dá outras providências. A lei estadual segue a mesma lógica da lei federal acima analisada (SERGIPE. SEMARH, 2009). Na Figura 3.2 é observada a divisão da Política Estadual de Recursos Hídricos nos planos de políticas públicas, etapas de planejamento, espaços geográficos e entidades coordenadoras.

Figura 3.2: Políticas públicas, tipos de planos, âmbitos geográficos e entidades (fonte: adaptação BRASIL. MMA, SRH, 2006)

No Título I, da Política Estadual de Recursos Hídricos, Capítulo III, artigos 3º e 4º – das Diretrizes Gerais de Ação, são traçadas linhas gerais à implementação da Política Estadual de Recursos Hídricos, determinando a gestão sistemática dos recursos hídricos, com a consideração conjunta dos aspectos quantitativos e qualitativos, à integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental e do uso do solo, assim como de Bacias Hidrográficas com sistemas estuarinos e zonas costeiras, articulação do planejamento de recursos hídricos estadual, regional e nacional entre si e com os setores usuários, além da articulação com municípios para gerenciamento dos recursos hídricos de interesse comum.

Ainda no Título I, Capítulo IV, artigo 5º que descreve sobre os Instrumentos, são elencados os instrumentos da Política Estadual de Recursos Hídricos: Plano Estadual, enquadramento de corpos d’água em classes, segundo usos preponderantes da água, Fundo Estadual de Recursos Hídricos, outorga dos direitos de uso, cobrança pelo uso da água e sistema estadual de informações, todos empregados como meio para alcance de uma gestão adequada destes recursos, capaz de proteger e melhorar as condições de qualidade e quantidade das águas do Estado para as atuais e futuras gerações.

No Título II, do Sistema Estadual de Gerenciamento, Capítulo I, artigos 33 e 34 que descrevem sobre os objetivos e a composição, são relacionados os objetivos do sistema e seus integrantes. Assim, constituem objetivos do sistema coordenar a gestão integrada das águas, arbitrar administrativamente os conflitos por seu uso, implementar a política de recursos hídricos, especialmente planejando, regulando e controlando o uso, a preservação e a recuperação dos recursos hídricos na promoção da cobrança pelo seu uso. Integram o sistema o Conselho Estadual de Recursos Hídricos – CONERH, os Comitês de Bacias Hidrográficas

– CBHS, a Secretaria de Estado do Planejamento e da Ciência e Tecnologia – SEPLANTEC, os órgãos dos Poderes Públicos Federal, Estadual e Municipal que relacionem com a gestão dos recursos hídricos e as Agências de Águas.

Ainda seguindo a Lei nº 3.870, podemos destacar as atribuições destinadas aos Comitês de Bacia Hidrográfica segundo o Art. 39º do capítulo III, título II: promover o debate das questões relacionadas a recursos hídricos e articular a atuação das entidades intervenientes; arbitrar, em primeira instância administrativa, os conflitos relacionados aos recursos hídricos; aprovar o Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica; acompanhar a execução do Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica e sugerir as providências necessárias ao cumprimento de suas metas; estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de Recursos Hídricos e sugerir os valores a serem cobrados; apreciar e aprovar o relatório anual sobre a situação dos recursos hídricos da Bacia Hidrográfica; propor ao Conselho Estadual de Recursos Hídricos as acumulações, derivações, captações e lançamentos de pouca expressão, para efeito de isenção da obrigatoriedade de outorga de direitos de uso de Recursos Hídricos; estabelecer critérios e promover o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo.

É nesse contexto, que a gestão dos recursos hídricos se dá no Estado de Sergipe. Observa-se que os órgãos componentes do Sistema de Gerenciamento indicados textualmente na legislação não se esgotam em si mesmos. Além disso, alterações na composição do sistema são realizadas sempre que ocorrem reformas administrativas que transformam, extinguem ou criam órgão e entidades do Poder Executivo.