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CAPÍTULO 3. METODOLOGIA

3.3. Sistema de utilização pelo ser humano

3.3.2. Sistemas sócio-econômico-culturais

A caracterização dos sistemas sócio-econômico-culturais da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, refere-se à identificação sociográfica das populações que a compõe e ao levantamento das relações população e meio ambiente. As informações disponíveis neste trecho foram obtidas do Plano de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe (Sergipe. Consórcio Projetec, SEMARH, SRH, 2010, no prelo).

A população residente no território da Bacia Hidrográfica compreende 1.186.704 habitantes no senso de 2010 (IBGE CIDADES, 2011). A maioria reside em áreas urbanas, fato que comprova o acelerado processo de urbanização em curso da BHSE nas últimas décadas, sendo responsável pelo grande passivo ambiental da região.

Dentre os municípios mais populosos destacam-se Aracaju (570.937), Nossa Senhora do Socorro (160.829), Itabaiana (86.981) e São Cristóvão (78.876). Aracaju é o município mais populoso, com ausência de áreas rurais, o que indica 100% de urbanização. Nossa Senhora do Socorro, é o segundo município mais populoso (97% de urbanização), cresceu devido à industrialização. Os municípios com menor grau de urbanização são: Moita Bonita (39,3%) e Nossa Senhora Aparecida (36,5% de urbanização).

A taxa de crescimento populacional na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, considerando o ambiente urbano é superior a outras Bacias, chegando a um total de 11,1%.

Para os estudos de uso e ocupação do solo foram definidas categorias incluindo tanto aspectos do ambiente natural, como áreas de infra-estrutura e de uso antrópico. Por sua importância foram listadas as seguintes categorias: Natural (Caatinga, Campos de Restinga, Dunas e Areiais, Manguezal, Mata, Mata Atlântica, Mata Ciliar, área degradada e área embrejada); infra-estrutura (área industrial, corpos d’água, povoados e sede municipal) e uso antrópico (associação de Caatinga/cultivos/pastagem, culturas agrícolas/solos expostos, pastagem e viveiro e salina).

A utilização dos solos na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe é predominantemente dominada pelas categorias de pastagem com 253.453,5 ha (70,37%) cultivos agrícolas 50.171,9 ha (13,93%) e áreas de mata com 24.021 ha (6,67%) de área da Bacia. Neste total, o destaque fica para a Mata Atlântica que ocupa 21.504 ha, ou seja, 5,97% da área da Bacia Hidrográfica.

O uso e ocupação do solo na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe indicam uma importante diversificação de usos no terço inferior da Bacia Hidrográfica. Ocorrem áreas de matas, vegetação de restinga, manguezal, corpos d’água e outros usos de menor expressão espacial.

Dentre a vegetação natural ocorrem testemunhos da Mata Atlântica no eixo Laranjeiras – Areia Branca e também entre Riachuelo, Divina Pastora e Santa Rosa de Lima que ocupam cerca de 6% da Bacia Hidrográfica. As áreas de restinga são concentradas na região costeira com forte presença na porção norte do município de Barra dos Coqueiros, ocupando cerca de 2% da área da Bacia Hidrográfica.

Áreas de maior expressão representam o uso com cultivos agrícolas. Embora dispersas por todos os municípios em pequenas áreas, destacam-se duas importantes ocorrências, sendo uma entre Riachuelo, Laranjeiras e Areia Branca e outra, em áreas de Itabaiana e Moita Bonita. Além dessas áreas de maior expressão, ocorrem outras em Santo Amaro das Brotas, Feira Nova e Nossa Senhora da Glória.

No setor agrícola da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe existe a predomin ância da lavoura temporária sobre a permanente. A evolução recente da ocupação do espaço agrícola na Bacia experimentou discretas alterações. Em relação à área total declarada com uso de lavouras permanentes, temporárias, matas, florestas e pastagens. Hou ve, na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, elevação de área plantada com lavouras permanentes e temporárias. Manteve-se no mesmo patamar a área com matas e florestas, as áreas com pastagens experimentaram uma redução da ordem de 45.000 ha.

De acordo ao senso agropecuário em 2006 a utilização das terras representa os seguintes percentuais de ocupação: lavouras permanentes (10,97%), lavouras temporárias (15,98%), matas e florestas (4,86%) e de pastagem (45,37%), confirmando a primazia de áreas com pastagem, sobre os demais usos agrícolas.

A ocupação agropecuária possui uma grande importância como atividade econômica, além de gerar empregos e produtos, tanto agrícola, como de origem animal. Em 2008 representava mais de 64,5% da área plantada da região da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, a Tabela 3.1 demonstra as principais culturas segundo a área plantada em 1996, 2000, 2004 e 2008.

A agropecuária com produtos de origem animal como galos, frangos, pintos, bovinos sofreram redução entre 1996 e 2000, mas no período total (1996 a 2008), apresentaram um crescimento da ordem de 18,4%. A produção de leite apresentou um crescimento significativo, sendo a ampliação superior a 107%, entre 1996 e 2008. Desde 1996 vem aumentando significativamente a produção de mel.

Tabela 3.1: Principais culturas da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, segundo a área plantada 1996, 2000, 2004 e 2008.

ÁREA PLANTADA (ha) Tipo de

Lavoura

Lavoura 1996 % 2000 % 2004 % 2008 %

Temporária

Milho (em grão) 26.012 20,9 25.886 22,1 50.976 33,4 81.048 43,0 Cana-de-açúcar 12.586 10,1 9.666 8,3 12.545 8,2 17.250 9,1 Feijão (em grão) 15.123 12,1 8.967 7,7 12.051 7,9 9.884 5,2 Mandioca 8.219 6,6 6.991 6,0 7.904 5,2 8.248 4,4 Batata-doce 3.000 2,4 2.374 2,0 2.660 1,7 3.234 1,7 Amendoim 388 0,3 411 0,4 475 0,3 785 0,4 Melancia 332 0,3 353 0,3 320 0,2 450 0,2 Tomate 231 0,2 215 0,2 220 0,1 270 0,1 Fava (em grão) 670 0,5 359 0,3 266 0,2 216 0,1 Sorgo (em grão) 0 0,0 0 0,0 0 0,0 182 0,1

Abacaxi 102 0,1 65 0,1 42 0,0 128 0,1

Fumo (em folha) 4 0,0 45 0,0 22 0,0 20 0,0 Total temporária 66.667 53,5 55.332 47,2 87.481 57,3 121.715 64,5 Permanente Laranja 38.068 30,5 42.207 36,0 44.704 29,3 43.271 22,9 Côco-da-baía 13.086 10,5 13.463 11,5 14.006 9,2 16.826 8,9 Maracujá 4.373 3,5 3.617 3,1 3.731 2,4 4.142 2,2 Banana (cacho) 1.184 0,9 1.215 1,0 1.357 0,9 1.173 0,6 Limão 597 0,5 780 0,7 712 0,5 748 0,4 Mamão 299 0,2 191 0,2 231 0,2 340 0,2 Tangerina 114 0,1 120 0,1 158 0,1 292 0,2 Manga 264 0,2 194 0,2 182 0,1 190 0,1 Total permanente 57.985 46,5 61.787 52,8 65.081 42,7 66.982 35,5 Total de culturas 124.652 100 117.119 100 152.562 100 188.697 100 Fonte: IBGE/Pesquisa Agrícola Municipal – anos selecionados. Elaboração Consórcio PROJETEC/TECHNE, 2009 apud SERGIPE. Consórcio Projetec, SEMARH, SRH, 2010, no prelo.

O número de trabalhos formais do segmento de indústria e construção civil cresceu 70,5%. Verifica-se que o setor de construção civil é o responsável pela maior parcela de estabelecimentos da região, em praticamente todos os anos. Em 2008, representavam 43,2% dos estabelecimentos desse grande setor da economia. A indústria de alimentos, bebidas e álcool vêm em segundo lugar, porém apresenta queda consecutiva no percentual de estabelecimentos (Tabela 3.2).

Tabela 3.2: Estabelecimentos por subsetor da indústria e construção civil na Bacia do Rio Sergipe (%) – 1996, 2000, 2004 e 2008.

Indústria/Construção Civil 1996 2000 2004 2008

Construção civil 32,46 43,43 41,29 43,17

Indústria de produtos alimentícios, bebidas e álcool etílico 24,96 22,15 21,26 17,61 Indústria têxtil do vestuário e artefatos de tecidos 8,90 5,07 6,36 6,10 Indústria de produtos minerais não metálicos 4,13 4,27 4,91 5,84 Indústria do papel, papelão, editorial e gráfica 4,77 4,50 5,98 5,62

Indústria metalúrgica 5,12 4,27 4,49 4,66

Indústria da madeira e do mobiliário 4,94 5,42 4,91 4,52 Ind. química de produtos farmacêuticos, veterinários, perfumaria 4,83 3,58 3,74 3,25 Ind. da borracha, fumo, couros, peles, similares, ind. Diversas 2,44 1,61 1,28 2,46

Extrativa mineral 1,69 1,27 0,96 2,28

Indústria mecânica 0,64 0,46 0,85 1,76

Indústria do material de transporte 1,80 0,81 0,75 0,88 Indústria do material elétrico e de comunicações 0,35 0,40 0,64 0,75 Serviços industriais de utilidade pública 2,50 2,25 2,30 0,70

Indústria de calçados 0,47 0,52 0,27 0,40

Total 100,00 100,00 100,00 100,00

Fonte: RAIS/MTE Elaboração Consórcio PROJETEC/TECHNE, 2009 apud SERGIPE. Consórcio Projetec, SEMARH, SRH, 2010, no prelo.

O comércio varejista é responsável por 44,5% dos estabelecimentos formais da região da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, conforme a Tabela 3.3, apesar desse percentual ter caído ao longo dos anos, ainda é bastante superior ao de serviços de alojamento, responsável por 16,1% dos postos de trabalho.

Tabela 3.3 – Estabelecimentos por subsetor de comércio e serviços na Bacia do Rio Sergipe (%) – 1996, 2000, 2004 e 2008.

Comércio e Serviços 1996 2000 2004 2008

Comércio varejista 52,31 45,01 44,65 44,51

Serv. de alojamento, alimentação, reparação, manutenção, redação 14,37 15,14 15,96 16,07 Com. e administração de imóveis, valores mobiliários, serv. Técnico 11,86 14,33 14,62 13,98 Serviços médicos, odontológicos e veterinários 5,34 9,04 8,12 7,46

Comércio atacadista 5,63 4,77 4,48 5,28

Transportes e comunicações 3,64 3,74 4,80 5,14

Ensino 3,95 4,69 4,16 4,15

Instituições de crédito, seguros e capitalização 1,91 2,00 1,97 2,12 Administração pública direta e autárquica 0,99 1,29 1,24 1,29

Total 100,00 100,00 100,00 100,00

Fonte: RAIS/MTE Elaboração Consórcio PROJETEC/TECHNE, 2009 apud SERGIPE. Consórcio Projetec, SEMARH, SRH, 2010, no prelo.

Com apenas 1,2% dos estabelecimentos, a administração pública emprega 40,8% dos trabalhadores formais da região, enquanto o comércio varejista, que tem o maior percentual de estabelecimentos, emprega 17,6% da mão de obra formal de comércio e serviços. O sub-setor de ensino, que em 1996 empregava 20,1% dos trabalhadores formais, em 2008 esse percentual foi de apenas 6,3% (Tabela 3.4).

Tabela 3.4 – Trabalhadores por sub-setor de comércio e serviços na Bacia do Rio Sergipe (%) – 1996 a 2008.

Comércio/Serviços 1996 2000 2004 2008

Administração pública direta e autárquica 27,80 47,01 46,53 40,86

Comércio varejista 15,44 16,49 16,36 17,60

Com. e administração de imóveis, valores mobiliários, serv. Técnico 8,00 9,44 11,18 11,01 Serv. de alojamento, alimentação, reparação, manutenção, redação 9,21 9,14 9,31 9,91

Ensino 20,10 4,81 4,70 6,26

Serviços médicos, odontológicos e veterinários 9,46 4,54 3,99 5,24

Transportes e comunicações 5,63 4,93 4,42 4,51

Comércio atacadista 1,83 1,80 1,78 2,92

Instituições de crédito, seguros e capitalização 2,53 1,86 1,72 1,69

Total 100,00 100,00 100,00 100,00

Fonte: RAIS/MTE Elaboração Consórcio PROJETEC/TECHNE, 2009 apud SERGIPE. Consórcio Projetec, SEMARH, SRH, 2010, no prelo.

A economia da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe está fortemente ligada ao setor de comércio e serviços, principalmente às atividades relacionas à administração pública. Vale destacar uma grande participação do setor industrial e de serviços, devido à existência de grandes indústrias e pelo importante centro comercial representado por Aracaju e municípios vizinhos.

A partir da análise das informações, verifica-se certa fragilidade da economia de muitos municípios localizados nas regiões Média e Alta da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, eles dependem de investimentos do setor público para facilitar a inclusão da população através da renda, a ser gerada pelo setor privado.

As unidades de conservação presentes na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe estão em grave estado de degradação, sendo constante a presença de espécies exóticas, plantios de palma forrageira e pastagens. Poucos locais podem ser observados com vegetação natural estabelecida, quase toda ela secundária, mas assim mesmo, capazes de trazer informação sobre as principais espécies que aí se estabelecem, tanto na zona Semi -Árida quanto no domínio da Mata Atlântica.

Por outro lado, os Manguezais litorâneos se constituem nas mais expressivas Áreas de Preservação Permanente na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, mostrando, em diversas áreas, com grande capacidade de recuperação mesmo frente a ameaças de ocupação e poluição por esgotos e lixo.

As unidades de conservação existentes na BHSE (Quadro 3.2) estão localizadas principalmente no bioma Mata Atlântica, com maior extensão de áreas costeiras e estuarinas que são protegidos por Áreas de Proteção Ambiental, enquanto que a porção interiorana conta apenas com um Parque Nacional Serra de Itabaiana sob a responsabilidade Federal (ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).

Segundo Araújo et al. (2006), a intensa atividade antrópica tem acelerado o processo de degradação do bioma Caatinga, ameaçando espécies vegetais e animais encontradas no local. A forma adotada para expansão econômica e territorial foi fundamentada na substituição de vegetação nativa por pastagens e lavouras agrícolas em áreas ecologicamente frágeis, declivosas que margeiam nascentes e cursos d’água (HORA, 2006). Segundo a autora, esse modelo de ocupação tem promovido, até os dias atuais, sérias conseqüências sobre o uso da água e o solo.

Quadro 3.2: Unidades de Conservação presentes na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe (Fonte: ICMBio

apud SERGIPE. Consórcio Projetec, SEMARH, SRH, 2010, no prelo).

Nome Categoria Gestão Bioma Ecossistema

Municípios Área ha. Ibura

FLONA Federal Mata Atlântica/ costeiro Nossa Senhora do Socorro 144,1685

Litoral Norte

APA Estadual

Mata Atlântica/ Estuarino costeiro

Municípios costeiros entre Aracaju e foz do São Francisco 41.312 Morro do Urubu e Parque Estadual José Rollemberg APA Parque estadual Estadual Estadual Mata Atlântica Floresta litorânea Aracaju 213,8724 e 93 Serra de

Itabaiana PARNA Federal

Caatinga/complexo

vegetacional com

elementos de floresta estacional, caatinga, restinga e cerrado.

Areia Branca, Itabaiana, Laranjeiras, Itaporanga D’Ajuda, Campo de Brito

7.966 Paisagem notável e área de especial proteção ambiental do Rio Sergipe Fase de

recategorização Estadual Mata Atlântica/Fluvial

Divisa entre Aracaju e Barra dos Coqueiros

Reforçando, todo o material bibliográfico que descreve a Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe em relação aos aspectos, físico, econômico, social foi transcritos a partir do SERGIPE. Consórcio Projetec, SEMARH, SRH (2010, no prelo), sendo este um documento de grande relevância para conhecimento mais aprofundado do ecossistema Bacia Hidrográfica.