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Grafico 2: Cargo/Função que o participante desempenha

2.8 COMPREENDENDO AUTOGESTÃO COLETIVA DO CONHECIMENTO

Alguns autores contribuíram para o entendimento dos princípios da autogestão perfa- zendo um vasto caminho com percepções diferenciadas, conforme artigo “Discutindo auto-

gestão” de Ferraz e Dias (2008). De acordo com a área de estudo muda-se o foco empreendi- do para o significado de autogestão.

Ferraz e Dias (2008) afirmam que no final do século XX ressurgiu a discussão acerca da autogestão no âmbito da sociologia, das ciências administrativas e da economia. No entan- to, o termo autogestão coletiva é novo e percorre o campo de estudo comunicacional, sendo encontrado na teoria desenvolvida por Jorge González, a qual foi amplamente absorvida para a abordagem tratada nesta pesquisa.

O termo autogestão coletiva é tratado por Jorge González dentro do conceito de ciber- cultur@. Sua teoria tem sido acompanhada pela autora Cecília Peruzzo com estudo teórico e trabalho de campo realizados junto à equipe do Laboratorio de Investigación y Desarrollo en Comunicación Compleja (LabCOMplex) e que envolveu pesquisa de campo por meio de investigação participante em Comunidades Emergentes de Conhecimento do Altiplano Potosino, no México. É um estudo em desenvolvimento e um tema restrito, mas sobretudo importante para esta pesquisa.

No contexto da sociedade atual há uma dinâmica social em busca do conhecimento humano por meio do uso das tecnologias digitais e pela CMC. Mas, apesar do aumento pro- gressivo do acesso à internet, grandes contingentes humanos buscam a interação real no modo de gerar e difundir conhecimento, na contramão da evolução tecnológica da comunicação. No entanto, de algum modo, também as pessoas e organizações procuram se inserir nesse ambi- ente de transformações de estruturas e relações sociais.

É nesse patamar que se estudou o conceito de cibercultur@, ligando o termo autoges- tão coletiva ao conhecimento. A proposta é que o conhecimento articulado entre stakeholders de projetos organizacionais poderia se revigorar ao assumir a cibercultur@ como estratégia para a emergência de inteligência coletiva, pois ajudaria a configurar processos de participa- ção ativa e autogestionária da comunicação. Assim, a autogestão coletiva do conhecimento poderia abarcar a complexidade dos processos comunicacionais e, do ponto de vista da com- plexidade, procurar dar conta dos paradoxos existentes na comunicação e do poder do discur- so nas organizações, onde o conhecimento é fundamental e promotor dessas vertentes.

González (2008, p.127) entende cibercultu@ a partir do “[...] prefixo grego Kyber (ci- ber), a palavra latina “cultura” e o símbolo tipográfico @”. Kyber (ciber) porque:

Desenvolver cibercultur@ implica gerar, incrementar, aperfeiçoar, melhorar e com- partilhar as habilidades para conduzir, dirigir e “pilotar” relações sociais, num exer- cício de autogestão coletiva, horizontal e participativa (...) Cultura é empregada no seu sentido original como “cultivo, cuidado, atenção e desenvolvimento”. A habili- dade para se autoconduzir e se dirigir aos outros para soluções mais inteligentes

frente aos enormes desafios do século XXI, pode ser aprendida, pode ser comparti- lhada, pode ser cultivada com outros e para outros (E uso) o símbolo arroba @, (...) por sua semelhança gráfica com um espiral, (...) para representar um circuito de re- troalimentação positivo, um processo aberto e adaptável que gera uma resposta emergente que surge da densidade das relações do sistema e não se reduz à soma de seus componentes.

Conforme González (2011), o conceito de cibercultur@ trabalha com a interrelação entre três dimensões inseparáveis da ação humana: a informação, a comunicação e o conhe- cimento. A gestão e organização dessas três ações resultam na dimensão simbólica de vida social, como a capacidade de estabelecer relações entre experiências e signos e, a partir daí, a outros signos mais complexos (textos, discursos). O conceito de coordenação de ações é uma forma de organização. Portanto, o conceito de comunicação que se busca se põe como uma organização social, pois a forma social em que o ser humano se organiza, como a concordân- cia para desenvolver conhecimento, para relacionar coisas, fica investida formando o produto mesmo do conhecimento.

Segundo González (2011), o conceito de conhecimento funciona como um processo mais que como um produto: como passar de um estado de menor conhecimento para um de maior conhecimento. Isso pode ser verificado no sentido dado pelo autor quando interrelacio- na as tecnologias digitais e as ecologias simbólicas - de informação, de comunicação e de conhecimento. Essas ecologias simbólicas não podem ser trabalhadas sem um ecossistema de suportes materiais da informação, da comunicação e do conhecimento, entendido como siste- mas de informação – tecnologias digitais (celulares, tablets, etc) e a comunicação mediada pelo computador. Desse modo, o processo de interação das ecologias simbólicas não se limita ao vetor tecnológico para gerar conhecimento, para organizar e coordenar ações e passa a fun- cionar como uma interrelação de uma cultura de informação, uma cultura de comunicação e uma cultura de conhecimento. Mas em um sistema de informação coletivo, compartilhado com outros, como stakeholders que fazem parte de um projeto.

O sistema de informação não pode se individual, pois González (2011) afirma que: [...] quando esta capacidade se volta ao coletivo, as bases da consciência rapidamen- te se conectam, porque desenvolvem uma maior capacidade de relacionar o passado, de redefinir o presente e de se abrir ao futuro. E esse é um novo produto. Eles dei- xam de ser somente narrados de fora para autonarrar os seus próprios contos, que vão encontrar contradições e conflitos com as definições, com os contos externos. Isso inicia um processo para desocupar o território simbolicamente ocupado e reo- cupá-lo com novas relações, coletivamente construídas.

Assim, apesar da visão atual da sociedade do conhecimento que aponta o ciberespaço como espaço virtual criado pelos meios informáticos e dependentes de computadores, con-

forme afirma Lévy (1999), para a cibercultur@, o ciberespaço não se limita ao vetor tecnoló- gico. De acordo com Peruzzo (2010, p.31), para a cibercultur@, entende-se o ciberespaço como:

[...] um fenômeno complexo que requer interpretações na perspectiva da cosmovisão que lhe é constitutiva, na imaterialidade como sua essência enquanto processo, mas que se interconecta com o espaço físico por meio das pessoas que o movem, dos consequentes reflexos concretos em suas vidas, dos processos históricos que não dissociam o espaço físico do ciberespaço e da própria vida que continua para além das infovias.

A noção de territorialidade muda quando a comunicação é operada por meio de supor- tes tecnológicos. No entanto, a ação de indivíduos se opera em seu próprio território, isto é, fisicamente, mesmo quando se está comunicando virtualmente. Como a comunicação se esta- belece como formas de organização social e de sociabilidades, entende-se a formação de laços sociais, de reciprocidade, de sentido coletivo dos relacionamentos. González (2008, p.127) acredita ser necessário:

[...] (rever as)ferramentas teóricas e a estratégia prática para colocar em vigor uma diferente forma de apropriação da rede da Internet e das tecnologias digitais existen- tes, para usá-las não apenas para acessar, mas também como plataformas geradoras de informação, de comunicação e especialmente de conhecimento locais.

Para esta pesquisa, entende-se empoderamento da autogestão coletiva do conhecimen- to como relações flexíveis que se articulam entre stakeholders de projetos organizacionais, a partir da identificação, reconhecimento e conexão desses atores sociais. A autogestão do co- nhecimento poderia proporcionar o compartilhamento das competências e habilidades de stakeholders nas organizações, em prol de melhoria e aperfeiçoamento da condução do co- nhecimento individual dos participantes, como um coletivo inteligente, frente à competitivi- dade do mercado e no atendimento de seus objetivos em projetos organizacionais.

O conhecimento partilhado está ligado à comunicação interpessoal dos stakeholders que, por sua vez, acontecem no interior do indivíduo, independente de a comunicação ter sido realizada por meio virtual ou físico. Importa que os laços sociais sejam estabelecidos para que a operação de uma autogestão coletiva do conhecimento em projetos organizacionais possa remeter em soluções mais inteligentes e propiciar o desenvolvimento mais eficiente das rela- ções nas organizações.

Para González (2011), o produto da cibercultur@ (2011) “[...] são as comunidades emergentes de conhecimento como formas sociais de apropriação e cultivo da autodetermina- ção frente a problemas concretos”. Para a gestão de projetos em contextos organizacionais, as

comunidades de conhecimento poderiam ser as pessoas e organizações, tais como clientes, patrocinadores, a organização executora e o público, que estão ativamente envolvidas no pro- jeto ou cujos interesses podem ser positiva ou negativamente afetados pela execução ou pelo término do projeto. Dessa forma, da articulação entre stakeholders em projetos, se operaria a cultura da informação, da comunicação e do conhecimento numa autogestão coletiva do co- nhecimento para ativar a inteligência coletiva entre eles na solução de problemas e sobrevi- vência do projeto frente à manutenção da competitividade no mercado de trabalho.