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Grafico 2: Cargo/Função que o participante desempenha

2.2 COMUNICAÇÃO COMO RELAÇÃO

No universo da relação homem-mundo, pode-se dizer que as pessoas se comunicam, ou melhor, quando entram em comunicação, há um relacionamento entre uma e outra. De acordo com Peruzzolo (2006), nem toda relação é comunicação, mas toda comunicação é uma relação; a relação tem uma amplitude lógica maior que a comunicação.

Aceitando este pressuposto de uma pré-existência de comunicação para, a partir daí, aceitar a existência de uma relação, reconfigura-se uma compreensão mais profunda da co- municação em sua essência. Desse modo, entende-se que quando a comunicação não ocorre ou quando ela é improvável – no caso do silêncio e da omissão, por exemplo, não havendo efetivamente comunicação – não há relação. É preciso haver comunicação para se ter relação, ou melhor, toda comunicação precisa ser uma relação.

Toda organização exerce, em sua essência, a ação de comunicação com seus agentes e estes entre si. Indivíduos e organização precisam interagir, trocar informações, produzir co- nhecimento para traçar metas e objetivos organizacionais. Neste instante, o processo comuni- cacional é fundamental para a elaboração destes alvos e, no intuito de alcançá-los, surge uma relação que, anteriormente, teve início em um processo de comunicação entre os indivíduos. Essa relação de comunicação tem um componente específico que é ser operada por uma maté- ria, o que subentende as representações dos comunicantes inseridas no sistema das ações e dos desejos. E a este sistema estão atreladas as afirmações cognitivas. Segundo Maturana (2001, p.127),

[...] ao usarmos a palavra cognição na vida cotidiana em nossas coordenações de ações e relações interpessoais quando respondemos perguntas no domínio do conhe- cer, o que nós observadores conotamos ou referimos com ela deve revelar o que fa- zemos ou como operamos nessas coordenações de ações e relações ao gerarmos nos- sas afirmações cognitivas.

Maturana (2001, p.128) especifica ainda o significado das ações de uma maneira mais fundamental, incluindo a operação corporal externa como um caso particular:

[...] chamamos de ações tudo o que fazemos em qualquer domínio que geramos em nosso discurso, por mais abstrato que ele possa parecer. Assim, pensar é agir no do- mínio do pensar, andar é agir no domínio do andar, refletir é agir no domínio do re- fletir, falar é agir no domínio do falar, bater é agir no domínio do bater, e assim por diante, e explicar cientificamente é agir no domínio do explicar científico.

Portanto, as ações como operações de um sistema vivo – como o do indivíduo, que envolve operações de um sistema nervoso –, acontecem como parte de sua dinâmica de esta- dos e está relacionada com a linguagem como meio de comunicação do homem, linguagem essa que organiza, coordena e representa aquilo que se quer mostrar para chegar ao outro co- mo termo da relação de comunicação. Desta forma, pensar, andar, refletir, e assim por diante, são fenômenos do mesmo tipo na dinâmica de estados independentemente do domínio no qual acontece. No entanto, ainda segundo Maturana (2001), no domínio relacional, são todos fe-

nômenos de diferentes tipos e os fatores que interferem nesta diferença dizem respeito às emoções, que, momento a momento, guiam o agir humano, ao especificarem o domínio rela- cional em que o homem opera instante a instante, e dão ao agir humano seu caráter enquanto um conjunto de ações: emoções como tipos de comportamentos relacionais.

Concomitante às emoções tem-se a razão, pelo fato de existir linguagem que organiza e coordena. Como seres linguajantes, Maturana (2001, p.182) afirma:

[...] todo domínio racional se funda em premissas básicas aceitas a priori, isto é, em bases emocionais, e que são nossas emoções que determinam o domínio racional em que operamos como seres racionais a cada instante.

Devido à penetrabilidade da tecnologia como meio de comunicação em todas as esfe- ras da atividade humana, principalmente a organizacional, é habitual usar diferentes tecnolo- gias de acordo com preferências e desejos. Desse modo, subentende-se que são as emoções que guiam o viver tecnológico. Neste contexto, Castells (2003, p.43) defende:

É claro que a tecnologia não determina a sociedade. Nem a sociedade escreve o cur- so da transformação tecnológica, uma vez que muitos fatores, inclusive criatividade e iniciativa empreendedora, intervêm no processo de descoberta científica, inovação tecnológica e aplicações sociais, de forma que o resultado final depende de um com- plexo padrão interativo. (...) a tecnologia é a sociedade, e a sociedade não pode ser entendida ou representada sem suas ferramentas tecnológicas.

Dessa forma, acontecem duas coisas com o viver racional. A primeira, é que se usa a razão para sustentar ou para camuflar as emoções, e isso é feito frequentemente de forma in- consciente. Assim, a comunicação na relação social está impregnada de emoções. A segunda é que normalmente não se está totalmente consciente das emoções sob as quais se escolhe diferentes argumentos racionais. Mas, ao mesmo tempo, a comunicação está imbuída de raci- onalidade na organização do pensamento. O resultado disso é que raramente se tem consciên- cia do fato de que as emoções guiam o viver, mesmo quando se afirma estar sendo racional.

Assim, no contexto da comunicação relacional nas organizações, é preciso que os steakholders compreendam os fundamentos emocionais do agir humano para não se tornarem prisioneiros tanto da crença de que os conflitos e problemas humanos são racionais – e, por- tanto, devem ser resolvidos através da razão –, quanto da crença de que as emoções que ope- ram em suas ações destroem a racionalidade e são fonte de arbitrariedade e de desordem na relação com os demais stakeholders. Há o risco, portanto de, a longo prazo, não compreende-

rem suas relações de comunicação, nem haver entendimento suficiente para possibilitar o tra- balho em conjunto em função dos objetivos organizacionais.

Surge, neste contexto, a necessidade por compreender a comunicação relacional entre os indivíduos com a operação da dinâmica de estados como o pensar, o refletir, o falar entre os comunicantes, considerando o fluxo das emoções, para dar conta da necessidade por uma interpretação/entendimento das mensagens trocadas por ambos. Depara-se, no entanto, com a complexidade da comunicação que surge à medida que se procura atingir uma camada pro- funda da comunicação como relação. Considera-se, então, nos termos dos argumentos citados, que a comunicação como relação tem possibilidades de se estabelecer de fato, à medida que emoções, razão e representação sejam fatores percebidos e considerados pelos gerentes de projetos na comunicação com os stakeholders, para conduzir suas atividades.