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Comunicação, inteligência coletiva e autogestão do conhecimento no contexto da gestão de projetos em organizações

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Academic year: 2017

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2012

1.

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em Comunicação

COMUNICAÇÃO, INTELIGÊNCIA COLETIVA E AUTOGESTÃO

DO CONHECIMENTO NO CONTEXTO DA GESTÃO DE

PROJETOS EM ORGANIZAÇÕES

Brasília - DF

2013

(2)

RACHEL VAZ GOMES DE MELO FILIPE

COMUNICAÇÃO, INTELIGÊNCIA COLETIVA E AUTOGESTÃO DO CONHECIMENTO

NO CONTEXTO DA GESTÃO DE PROJETOS EM ORGANIZAÇÕES

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Comunicação da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Comunicação.

Orientador: Prof. Dr. João José Azevedo Curvello

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F484c Filipe, Rachel Vaz Gomes de Melo

Comunicação, inteligência coletiva e autogestão do conhecimento no contexto da gestão de projetos em organizações. / Rachel Vaz Gomes de Melo Filipe – 2013.

123f. : il ; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2013. Orientação: Prof. Dr. João José Azevedo Curvello.

1. Comunicação. 2. Inteligência coletiva. 3. Gestão do Conhecimento nas Organizações. 4. Relações humanas. I. Curvello, João José Azevedo, orient. II. Título.

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AGRADECIMENTOS

A Deus por existir em meu ser. Por sempre guiar os meus passos e me abrir as portas ao co-nhecimento.

Ao meu marido pelo incentivo e presença em minha vida. Aos meus pais pelo apoio e muito amor. Aos meus filhos pela alegria, amor, carinho e presença constantes.

Ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Católica de Brasília (UCB), a oportunidade que me ofereceu de integrar o seu quadro de alunos e realizar o mes-trado acadêmico.

À CAPES pela bolsa ofertada, proporcionando um estudo de maior dedicação.

Aos professores doutores da Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Católica de Brasília: João Curvello, pela valiosa orientação; Florence Dravet; Alexandre Kieling; Luiz Iasbeck; Roberval Marinho; Cosette Castro; Márcia Coelho; Liliane Machado, por todas as contribuições. Aos meus colegas de curso, pelo incentivo recíproco.

Aos Diretores do Capítulo PMI-DF: Francisco de Abreu, Marcelo Cota e Vitor Rascop, pela disponibilidade, apoio e oportunidade para aplicar a pesquisa on line desde mestrado no seu cadastro de membros, sem o qual não se concluiria.

A todos os voluntários que dedicaram tempo e atenção em responder ao questionário de pes-quisa on line.

Ao Prof. Dr. Edilson Ferneda por ter me ajudado na revisão com sugestões que complementa-ram este trabalho.

A Prof.ª Dra. Cecília Peruzzo pelo envio de textos de Jorge González os quais foram funda-mentais para esta pesquisa.

À Secretária Rozely de Santana do Programa de Pós-Graduação em Comunicação pelo apoio e consideração.

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“É o conhecimento vivo que conduz a grande aventura da descoberta do universo, da vida, do homem. Ele trou-xe, e de forma singular neste século, fabuloso progresso ao nosso saber.”

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RESUMO

FILIPE, Rachel V. G. M. Comunicação, Inteligência Coletiva e Autogestão do Conheci-mento no contexto da Gestão de Projetos em Organizações. 2013. 124f Dissertação do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Comunicação – Universidade Católica de Bra-sília, Brasília/DF, 2013.

Esta pesquisa com aporte dissertativo é desenvolvida consoante a interrelação entre informação, co-municação, conhecimento, realizada por meio do coletivo inteligente, para favorecer a autogestão do conhecimento entre os stakeholders de um projeto organizacional. Realizou-se junto aos membros cadastrados no PMI-DF, amparada principalmente pelas teorias da autopoiese de Maturana e Varela, dos Sistemas Sociais de Niklas Luhmann, da cibercultur@ de Jorge González e da inteligência coleti-va de Pierre Lévy. Essas abordagens teóricas ofereceram subsídios para analisar como emerge inteli-gência coletiva e verificar a ocorrência da autogestão do conhecimento entre os stakeholders de proje-tos organizacionais, a partir do processo de seleção autopoiética da comunicação, pela redução de complexidade no interior do sistema, rompendo com o ciclo da dependência tecnológica. Nosso prin-cipal objetivo foi averiguar, a partir do conhecimento em gestão de projetos, se emerge inteligência coletiva por meio de relações que se articulam numa autogestão coletiva do conhecimento nos processos de comunicação entre os stakeholders primários de projetos organizacionais. Para tanto, metodologicamente, a pesquisa foi classificada como descritiva com estudo de caso junto ao PMI-DF, e se deu por meio da aplicação de questionário online, tendo como sujeitos da pesquisa os membros cadastrados naquela instituição. A avaliação dos resultados se deu por intermédio de análise qualitativa e quantitativa dos resultados obtidos. Esta dissertação procurou compreender a reorganiza-ção contemporânea das relações sociais no contexto organizacional, onde assuntos como poder, cultu-ra, sociedade, conhecimento, inteligência, autogestão e tecnologias de comunicação são recorrentes e vitais. Assim, esta pesquisa inferiu que o compartilhamento de conhecimentos e habilidades entre stakeholders de projetos organizacionais, que se articulam num exercício de autogestão coletiva do conhecimento, pode conduzir ao surgimento de inteligência coletiva. E a emergência dessa inteligên-cia coletiva pode ser efetivada quando há realização de encontros presenciais, compartilhamento de experiências, prévia verificação e análise das várias opções para se alcançar o objetivo do projeto, alinhamento dos pontos de vista conflitantes e entendimento mútuo entre os stakehol-ders.

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ABSTRACT

FILIPE, Rachel V. G. M. Communication, Collective Intelligence and Self-Management of Knowledge in the context of Project Management in Organizations. In 2013. 125f Disserta-tion of the Post-graduate Stricto Sensu in Communication - Catholic University of Brasilia, Brasilia / DF, 2013.

This dissertation research contribution is developed according to the interrelation between infor-mation, communication, knowledge held by the intelligent community, to promote self-management knowledge among stakeholders of a project organization. Held with members registered in PMI-DF, supported mainly by the theories of autopoiesis of Maturana and Varela, the Social Systems of Niklas Luhmann, the cibercultur @ Jorge González and collective intelligence of Pierre Lévy. These theoreti-cal approaches offered subsidies to analyze how collective intelligence emerges and verify the occur-rence of self-management knowledge among stakeholders of organizational projects, from the selec-tion process autopoietic communicaselec-tion, the reducselec-tion of complexity within the system, breaking the cycle of technological dependence. Our main goal was to examine, from a knowledge management project, if collective intelligence emerges through relationships that articulate a collective self-management knowledge in the processes of communication between the primary stakeholders of or-ganizational projects. Therefore, methodologically, the research was classified as descriptive case study with PMI-DF, and was through a questionnaire online, and as research subjects registered mem-bers in that institution. The evaluation of the results was made by means of qualitative and quantitative analysis of the results obtained. This research sought to understand the reorganization of social rela-tions in contemporary organizational context, where issues such as power, culture, society, knowledge, intelligence, self-management and communication technologies are recurring and vital. Thus, this study inferred that the sharing of knowledge and skills among stakeholders for organizational projects that articulate an exercise of collective self-management knowledge, can lead to the emergence of collective intelligence. And the emergence of this collective intelligence can be effective when there conducting face meetings, sharing of experiences, prior verification and analysis of the various options to achieve the project objective, aligning the conflicting viewpoints and mutual understanding between the stakeholders.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Áreas do conhecimento necessárias ao gerenciamento de projetos ... 16

Figura 2: Mapa Mental da Pesquisa ... 23

Figura 3: Tratamento processual na comunicação interna ... 56

Figura 4: Processos de gerenciamento de projetos ... 68

Figura 5: Funções principais na gerência de projetos ... 70

(11)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Características das camadas de competências em gerenciamento de projetos ... 72

Quadro 2: Princípios de eficiência, eficácia e efetividade ... 74

Quadro 3: Benefícios da Gestão de Projetos ... 76

Quadro 4: Lista dos processos comunicacionais contidos no Gráfico 12... 91

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LISTA DE GRÁFICOS

Grafico 1 – Nível de Conhecimento em Gerenciamento de Projetos ... 79

Grafico 2: Cargo/Função que o participante desempenha ... 80

Gráfico 3: Compreensão do termo stakeholder primário ... 81

Gráfico 4: Experiência dos respondentes desta pesquisa ... 82

Gráfico 5: Meio de comunicação mais utilizado entre os stakeholders. ... 83

Gráfico 6: Meio de comunicação com maior resultado em termos de entendimento mú-tuo entre stakeholders de um projeto ... 84

Gráfico 7: Cruzamento de dados sobre comunicação eficiente entre stakeholders na or-ganização ... 85

Gráfico 8: Grau de autonomia do gerente de projetos ... 86

Gráfico 9: Concordância quanto algumas condutas pessoais na organização ... 87

Gráfico 10: Incidência de algumas habilidades interpessoais e de gerenciamento na co-municação organizacional ... 89

Gráfico 11: Técnica mais utilizada nas tomadas de decisão coletivas ... 90

Gráfico 12: Alguns processos comunicacionais utilizados nas organizações ... 92

Gráfico 13: Alguns procedimentos comunicacionais aplicados em projetos organizações ... 95

Gráfico 14: Alguns procedimentos para uma comunicação eficiente ... 98

Gráfico 15: Aprendizados em projetos organizacionais ... 100

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LISTA DE SIGLAS

BDTD – Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações CAPM – Técnico Certificado em Gerenciamento de Projetos CEP – Comitê de Ética em Pesquisa

CMC – comunicação mediada por computador CONEP – Comissão Nacional de Ética em Pesquisa

Guia PMBOK – Um Guia do Conhecimento em Gerenciamento de Projetos

LabCOMplex – Laboratorio de Investigación y Desarrollo em Comunicación Compleja NTE – La Nueva Teoria Estrategica

PMI – Project Managment Institute PMI-DF – Capítulo Distrito Federal

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 15

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ... 15

1.2 ALGUNS CONCEITOS RELEVANTES... 19

1.3 JUSTIFICATIVA ... 20

1.4 PROBLEMA E HIPÓTESES ... 21

1.5 OBJETIVOS ... 22

1.5.1 Objetivo geral ... 22

1.5.2 Objetivos específicos ... 22

1.6 METODOLOGIA ... 23

1.6.1 Planejamento da pesquisa ... 24

1.6.2 Pesquisa Qualitativa ... 24

1.6.3 Pesquisa Quantitativa... 25

1.6.3.1 Coleta de Dados... 26

1.6.3.2 Metodologia de Análise de Dados ... 26

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ... 28

2.1 ALGUMAS PERSPECTIVAS SOBRE COMUNICAÇÃO ... 28

2.2 COMUNICAÇÃO COMO RELAÇÃO ... 31

2.3 PARADOXOS NA COMUNICAÇÃO HUMANA... 34

2.3.1 Paradoxo da racionalidade ... 35

2.3.2 Paradoxo do tempo ... 36

2.3.3 Paradoxo da autorreferência ... 38

2.3.4 Paradoxo da semântica na comunicação ... 38

2.3.5 Paradoxo da probabilidade do improvável ... 39

2.3.6 Paradoxo como processo da comunicação complexa ... 40

2.4 A COMUNICAÇÃO NA TEORIA DOS SISTEMAS SOCIAIS DE LUHMANN .. 41

2.5 DISCURSO E PODER NOS PROJETOS ORGANIZACIONAIS ... 46

2.5.1 Interdição ou palavra proibida ... 47

2.5.2 Segregação da loucura... 47

2.5.3 Vontade de verdade ... 48

2.5.4 Procedimentos internos ... 49

2.5.5 Formação discursiva nos projetos organizacionais ... 49

2.6 COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL COMO ESTRATÉGIA ... 51

2.6.1 O significado de estratégia e a comunicação ... 52

2.6.2 Comunicação estratégica e/ou estratégias de comunicação ... 53

2.6.3 Dimensão estratégica da comunicação no contexto organizacional ... 54

2.7 INTELIGÊNCIA COLETIVA ... 57

2.7.1 Definição de Inteligência Coletiva ... 58

2.7.2 Inteligência e conhecimento ... 60

2.7.2.1 Inteligência e conhecimento na perspectiva de Pierre Lévy ... 60

2.7.2.2 Inteligência e conhecimento na perspectiva de Jean Piaget ... 61

2.7.3 A inteligência coletiva e a comunicação organizacional... 62

2.8 COMPREENDENDO AUTOGESTÃO COLETIVA DO CONHECIMENTO... 63

(15)

2.9.1 Compreendendo a gestão de projetos ... 67

2.9.2 Competência na gestão de projetos ... 70

2.9.3 Gerenciamento e planejamento estratégico ... 73

2.9.4 Excelência em gestão de projetos ... 75

2.9.5 A gestão de projetos e a comunicação ... 76

3 ANÁLISE DOS DADOS COLHIDOS ... 78

3.1 VERIFICAÇÕES PRELIMINARES DE DADOS PARA ANÁLISE ... 78

3.2 O CONHECIMENTO EM GERENCIAMENTO DE PROJETOS ... 79

3.3 COMPREENSÃO DO SIGNIFICADO DE STAKEHOLDER PRIMÁRIO ... 80

3.4 EXPERIÊNCIA EM PROJETOS ORGANIZACIONAIS ... 82

3.5 UTILIZAÇÂO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL ... 82

3.6 AUTONOMIA PARA TOMAR DECISÕES SOBRE UM PROJETO ... 85

3.7 O PROCESSO DE SELEÇÕES NA COMUNICAÇÃO ... 86

3.7.1 Seleção Individual ... 86

3.7.2 Decisão Coletiva ... 90

3.8 PROCESSOS E PROCEDIMENTOS COMUNICACIONAIS EM PROJETOS ... 90

3.8.1 Alguns processos comunicacionais ... 90

3.8.2 Alguns procedimentos comunicacionais ... 94

3.9 ALGUNS PROCEDIMENTOS PARA UMA COMUNICAÇÃO EFICIENTE ... 97

3.10 O APRENDIZADO EM PROJETOS ORGANIZACIONAIS ... 99

3.11 APLICAÇÃO DE UM PROJETO EM OUTROS PROJETOS SEMELHANTES . 100 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 103

REFERÊNCIAS... 108

APÊNDICE A –Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ... 112

(16)

1 INTRODUÇÃO

O tema desta dissertação é a inteligência coletiva como resultante do processo comu-nicacional exercido entre stakeholders primários (principais partes interessadas) de um proje-to no contexproje-to organizacional, que se opera por meio de relações flexíveis que se articulam em uma autogestão coletiva1 do conhecimento. A emergência por uma autogestão do conhe-cimento operada no coletivo inteligente – como a negociação permanente da ordem estabele-cida, do papel de cada um, o discernimento e a definição de objetivos, mesmo a reinterpreta-ção da memória, conforme Lévy (1999, p.31) “[...] surge em razão da necessidade de coorde-nar ações de comunicação para viabilizar estratégias de mobilização organizacional.”

De acordo com a 4. edição do “Um Guia do Conhecimento em Gerenciamento de Pr o-jetos”, chamado “Guia PMBOK” (PMI, 2008), stakeholders primários incluem todas as pes-soas com papel gerencial ou de tomada de decisões que são afetadas pelo resultado do projeto, como o patrocinador, o gerente de projetos e o principal cliente, ou seja, aqueles que têm uma obrigação contratual ou legal com o projeto. De acordo com o Guia PMBOK, a identificação dos stakeholders primários é feita, inicialmente, para que a partir daí a lista se expanda até que outras partes sejam incluídas. No entanto, stakeholders primários fazem parte de um gru-po maior onde os demais stakeholders também podem compartilhar. Assim, quando se fala em stakeholders, também pode se estar falando em stakeholders principais, e isso vai depen-der do porte do projeto ou da necessidade de se destacar alguns dos participantes.

Esta pesquisa foi realizada junto aos membros cadastrados no Project Managment Ins-titute (PMI), mais precisamente no Capítulo Distrito Federal (PMI-DF), para investigar ações de comunicação na condução de negócios estratégicos considerando o nível de conhecimento em gerenciamento de projetos dos seus filiados.

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

É cada vez mais comum, nas organizações, a promoção das relações sociais para gerir e compartilhar o conhecimento, no sentido de reduzir a complexidade de seus sistemas e gerar novo conhecimento para a sua manutenção em mercados competitivos. Para isso,

1 Autogestão coletiva, de acordo com Jorge González (2008), é a habilidade para se autoconduzir e se dirigir aos

(17)

se que o conhecimento está no homem - indivíduo-social2 - e é através da comunicação que o saber pode ser gerado, difundido, compartilhado e assimilado em contextos que prezem pelo princípio dialógico3 (MORIN, 1999) próprio das relações sociais. No cenário de uma socieda-de complexa, impregnada socieda-de meios tecnológicos socieda-de comunicação, pensar o conhecimento humano autoconduzido coletivamente, por meio da seleção de informações num processo circular e autônomo de operações em seu próprio sistema comunicacional, leva a uma neces-sária reflexão sobre o vínculo entre comunicação, inteligência coletiva e autogestão do conhe-cimento no contexto da gestão de projetos em organizações.

Projetos organizacionais são utilizados como meios de atingir objetivos e metas do plano estratégico de uma organização, e compreendem a comunicação entre os stakeholders de um projeto em questão. Organizações que gerenciam seus objetivos estratégicos através da gestão de projetos procuram conhecer as áreas de especialização comuns necessárias à equipe do projeto, conforme mostrado na Figura 1.

Figura 1 - Áreas do conhecimento necessárias ao gerenciamento de projetos.

Fonte: PMI (2004)

2 Ver Peruzzolo, A. A comunicação como encontro. Bauru, SP: Edusc, 2006, p.109.

3 “O princípio dialógico pode ser definido como a associação complexa (complementar/concorrente/antagônica)

(18)

Pesquisou-se este tema a partir da conectividade entre os stakeholders de projetos or-ganizacionais, observando o disposto no Guia PMBOK e em livros de Administração que tratam do gerenciamento de projetos. O Guia PMBOK é orientado para aplicação em organi-zações que desejam implantar práticas em gerenciamento de projetos.

Neste contexto, as pessoas, como partes interessadas (stakeholders) de um projeto, por exemplo, precisam ser percebidas como interconectadas para operar a diferenciação4 na co-municação entre elas, promovendo a autogestão do conhecimento entre todas as partes envol-vidas. Conforme Takeuchi e Nonaka (2008), a promoção do conhecimento envolve a sinteti-zação de múltiplos opostos, como a conversão do conhecimento tácito em conhecimento ex-plícito, e vice-versa; corpo/mente, indivíduo/organização; inferior/superior; hierarquia/força de trabalho; Oriente/Ocidente, transcendendo os paradoxos. Em contrapartida, existe a “[...] tendência das organizações em eliminar paradoxos, contradições, inconsistências, dilemas e polaridades, permanecendo presas a rotinas ultrapassadas criadas pelo sucesso anterior” (T A-KEUCHI E NONAKA, 2008, p.297). Compreender o processo da comunicação ajuda os stakeholders na construção da autogestão coletiva do conhecimento e ameniza as divergências de opiniões que envolvem tradição e inovação.

A comunicação traz em sua complexidade, muitas vezes de forma simultânea, os prin-cípios dialógico e dialético. Entre os stakeholders de um projeto organizacional opera a ideia de um dialogismo (arte do diálogo). A aplicação recíproca de questionamentos, de comunica-ção redundante que favoreça o entendimento do que é falado, de visão crítica dos negócios envolvidos para minimizar dificuldades, de opiniões para expor o pensamento e visão dos participantes envolvidos, se dá por meio de ações de comunicação necessárias que proporcio-nam interações entre ambas as partes. O indivíduo tenta, com o outro, problematizar um co-nhecimento sobre uma realidade concreta para melhor compreender esta realidade, explicá-la e transformá-la. Segundo Freire (1982, p.67), “[...] entre compreensão, inteligibilidade e co-municação não há separação”.

Concomitantemente ao diálogo há a operação do processo dialético (lógica, argumen-to, síntese), a partir da ideia de que um pensamento produz outro pensamento. A cada interpe-lação de sentido, o indivíduo pode modificar e reelaborar seu pensamento, sua identidade. Surge, então, uma reinterpretação do contexto discutido que, num primeiro instante, opera individualmente, e, posteriormente, é compartilhada com o outro. Pode-se dizer que a

4 A informação é uma diferença que leva a mudar o próprio estado do sistema, ou seja, é a diferença que

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gência individual é acionada através de soluções propostas, por meio da comunicação entre as partes interessadas, numa autogestão coletiva do conhecimento. Poder-se-ia dizer que os pro-cessos de comunicação dialógico e dialético se correlacionam e estão integrados, ora traba-lhando um ora outro, formando um complexo sistema de comunicação.

A compreensão da existência dessas formas de comunicação amplia a possibilidade de pensar uma autogestão coletiva do conhecimento, por meio da inteligência individual dos stakeholders, numa espécie de mobilização das competências, aliada ao meio social, para o alcance dos objetivos estratégicos da organização. No processo de autogestão, a comunicação se realiza mediante a seletividade, em que os conhecimentos e competências compartilhados são, de certa forma, constituintes de uma seleção de sentido para, posteriormente, serem cor-relacionados e reinseridos num pensamento em conjunto para que ocorra, então, a autogestão coletiva do conhecimento.

No entanto, a interconexão entre os indivíduos precede a autogestão coletiva do co-nhecimento. Assim, sem comunicação entre um e outro é impossível haver a autogestão do conhecimento de forma coletiva.

A interconexão entre indivíduos, no contexto da sociedade atual, caracterizada como sociedade da informação ou conhecimento, pode ser realizada de várias maneiras. Com a glo-balização, já não se pode pensar a relação homem-mundo fora do contexto tecnológico dos meios de comunicação, ou seja, do uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) para a geração de conhecimento e sua disseminação.

A comunicação virtual, uma extensão do ato presencial para o ato virtual nas relações sociais, faz parte do cotidiano de organizações e indivíduos em particular, devido à ocorrência de negócios desterritorializados5. A comunicação mediada por computador (CMC), ou comu-nicação virtual, ganha mais expressividade com o avanço das TIC, podendo se realizar via página virtual, webtv, plataformas interativas, blog, twitter, fotolog, podcast, entre outros. Não está em questão, neste trabalho, o estudo sobre os vários modos de comunicação virtual, nem da estrutura e operacionalidade das redes de comunicação, nem aprofundaremos questões como a web semântica6. Tratar-se-á, sim, dos processos de comunicação que se operam tanto por esses meios virtuais como reais.

5 Desterritorialização é a comunicação virtual, isto é, on line entre indivíduos entre espaços geográficos

disper-sos. (LEVÝ, 1996)

6 Web semântica significa, resumidamente, a busca de significados organizados em um sistema de taxonomia,

(20)

Em relação aos meios virtuais, Kerckhove (1995, p.216) afirma que “[...] como exten-sões dos nossos seres interiores, as tecnologias eletrônicas produzem objetos que emulam os nossos ambientes interiores”. São os meios eletrônicos funcionando como um elo entre o eu e o outro, em espaços geograficamente dispersos.

1.2 ALGUNS CONCEITOS RELEVANTES

Cibercultur@, autopoiese, e inteligência coletiva são conceitos pertinentes para a compreensão da necessidade por uma autogestão coletiva do conhecimento como propulsora dos projetos estratégicos nas organizações. Como esses conceitos são estudados dentro do contexto do gerenciamento de projetos organizacionais, faz-se necessário uma abordagem sobre o seu significado para o entendimento da problematização desta pesquisa.

O conceito de cibercultur@, grafado assim por Jorge Gonzalez (2007), vem de sua abordagem da cibercultura como objeto de conhecimento e como valor de desenvolvimento social. Ativar cibercultur@, no conjunto das relações sociais, requer o desenvolvimento da cultura da informação, da cultura de conhecimento e da cultura de comunicação. Esses três elementos são indissociáveis e, interagindo entre si, proporcionam a criação do conhecimento organizacional. Desenvolver cibercultur@ implica gerar, incrementar, aperfeiçoar, melhorar e compartilhar as habilidades para conduzir, dirigir as relações sociais, num exercício de auto-gestão coletiva, horizontal e participativa. Ainda segundo González (2007), a habilidade para se autoconduzir e se dirigir aos outros para soluções mais inteligentes frente aos enormes de-safios do século XXI pode ser aprendida, compartilhada e cultivada com outros e para outros. Existem diversas abordagens para o significado de conhecimento, como também para o estabelecimento dos vários tipos de conhecimento que o homem pode desenvolver. Fala-se, por exemplo, em conhecimento empírico, filosófico, científico e teológico. Em conformidade com o assunto desta pesquisa, contemplou-se o conhecimento segundo a abordagem filosófi-ca, procurando compreender a mente do homem como fruto do raciocínio e da reflexão hu-mana, e a abordagem científica, como o conhecimento racional, sistemático, exato e verificá-vel da realidade.

(21)

um exterior infinitamente complexo, entendendo-se cada stakeholder e a organização como um ambiente interno, separado do meio. O interior do sistema é uma zona de redução de complexidade, lugar onde a comunicação opera selecionando apenas uma quantidade limitada de informação disponível no exterior, entendido aqui como meio cultural, político, econômi-co, social, etc.

O conceito de inteligência coletiva aqui considerado é o preconizado por Lévy (2011). Assim, inteligência coletiva é visto como o estabelecimento de uma sinergia entre competên-cias, recursos e projetos, na constituição e manutenção de memórias em comum, com a ativa-ção de modos de cooperaativa-ção flexíveis e transversais na distribuiativa-ção coordenada dos centros de decisão.

A literatura sobre inteligência coletiva não pode estar dissociada da literatura sobre conhecimento. Como mostra Castells (1999), o papel da produção de informação e da geração de conhecimento tornou-se, já no final do século XX, a chave para a redefinição das relações sociais. A posse da terra, das máquinas e do capital continua sendo central para a geração e apropriação do valor econômico, mas a reorganização da sociedade do novo milênio depende cada vez mais do papel que a própria sociedade possa ter na criação e produção de ideias ori-ginais e úteis, do chamado novo conhecimento.

1.3 JUSTIFICATIVA

A liberdade de participação do homem na construção do conhecimento comum é dire-tamente proporcional à liberdade dos indivíduos e do envolvimento de uma inteligência cole-tiva. É próprio do ser humano perceber os meandros da sua cultura em construção, através da consciência que cada um dos participantes tem do seu papel e função no processo que move a sua própria cultura. O homem como ser social tem uma inteligência que se baseia na capaci-dade de sentir os comportamentos do outro e construir um sistema partilhado de expectativas que é sintetizado em modelos de sociabilidade e de troca de informações e conhecimento.

(22)

técnicas adequadas pode ter um impacto significativo no sucesso de um projeto. A detenção desse conhecimento ajudaria os stakeholders das organizações a alcançar seus objetivos estra-tégicos.

A presente pesquisa, de perfil censitário, foi realizada no PMI-DF, através de um ques-tionário on line aplicado a todos os seus 400membros cadastrados.

O PMI, como a principal associação mundial sem fins lucrativos de Gerenciamento em Projetos, foi estabelecido em 1969 e está sediado na Filadélfia. A Instituição está agrupada em Padrões Fundamentais, Práticas e Extensões dos Padrões. Os padrões mundiais do PMI fornecem orientações, regras e características do gerenciamento de projetos, como o padrão do Guia PMBOK. Com mais de meio milhão de membros em mais de 184 países, atua por meio da subdivisão em Capítulos. Atualmente, são 256 Capítulos no mundo, sendo 13 no Brasil, entre os quais o PMI-DF. Esta Instituição entende que todos os membros cadastrados têm o conhecimento nas práticas de gerenciamento de projetos.

Os conceitos ora apresentados foram concebidos sob a ótica dos avanços tecnológicos resultantes do movimento social e da necessidade por comunicação do ser humano. A preten-são de estudar as relações sociais atreladas ao rompimento do ciclo vicioso da dependência tecnológica são amparados, além do conceito de cibercultur@, de Gonzalez (2007), no pen-samento de Kerckhove (1997), para quem os meios tecnológicos são utilizados como exten-sões, não só do sistema nervoso e do corpo, mas também da psicologia humana.

A temática da autogestão coletiva do conhecimento e da inteligência coletiva na co-municação organizacional ainda se mantém restrita a alguns círculos acadêmicos e interesses particulares de pesquisadores da linha de pesquisa organizacional. Pouco se sabe sobre a au-togestão coletiva do conhecimento nas organizações. Promover esse debate enriqueceria o campo comunicacional acadêmico e também as organizações, para alcançar melhores formas na aquisição de conhecimento novo no enfrentamento das perturbações decorrentes da con-corrência e da competitividade.

1.4 PROBLEMA E HIPÓTESES

(23)

fun-cionais, membros da equipe) de projetos organizacionais?” A partir dessa enunciação do pr o-blema de pesquisa conceberam-se as seguintes hipóteses:

 O processo autopoiético de seleções da comunicação é importante nas tomadas de deci-sões. No entanto, a ausência da adoção de alguns conhecimentos gerenciais comporta-mentais e comunicacionais pode implicar em tomadas de decisões que levem à impro-babilidade no processo comunicacional entre stakeholders de um projeto.

 A autogestão participativa dos stakeholders pode atuar na retroalimentação das relações do sistema, contribuindo na proliferação das inteligências individuais e do conhecimen-to coletivo. No entanconhecimen-to, pode repercutir a variável da ocorrência e da não ocorrência de procedimentos e processos de comunicação organizacional, que podem impedir o sur-gimento da autogestão coletiva do conhecimento.

 A inteligência coletiva tenta se conceber via conectividade entre os stakeholders primá-rios de um projeto. No entanto, essa interconexão se depara com as fronteiras semânti-cas dos atores envolvidos e devido à ocorrência de projetos geograficamente dispersos, não garantindo surgimento de inteligência coletiva.

 O sucesso alcançado em um projeto organizacional tende a ser replicado em outros pro-jetos semelhantes, mas como todo projeto é único e temporário, envolve a colaboração de informações e conhecimentos particulares ligados ao referido projeto.

1.5 OBJETIVOS

Os objetivos estão divididos em objetivo geral e objetivos específicos, conforme segue nas próximas seções.

1.5.1 Objetivo geral

Analisar se emerge inteligência coletiva por meio de relações que se articulam numa autogestão coletiva do conhecimento nos processos de comunicação entre os stakeholders primários de projetos organizacionais.

1.5.2 Objetivos específicos

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 Verificar o processo autopoiético de seleções da comunicação entre stakeholders primá-rios.

 Verificar as principais características do processo comunicacional entre os stakeholders primários que podem conduzir a uma autogestão coletiva do conhecimento.

 Verificar se emerge inteligência coletiva em projetos organizacionais a partir de um processo de conectividade.

 Analisar se o conhecimento oriundo de um projeto se propaga em outros projetos seme-lhantes.

1.6 METODOLOGIA

Esta pesquisa compreendeu três polos de estudo: teórico; epistemológico e metodoló-gico, conforme descrito no Mapa Mental da Figura 2.

Figura 2 - Mapa Mental da Pesquisa

Os Polos Teórico e Epistemológico estão desenvolvidos no teor do Polo Metodológi-co, na Triangulação Planejamento da Pesquisa, Pesquisa Qualitativa e Pesquisa Quantitativa, conforme descrito no Mapa Mental.

Conhecimento Polo Teórico

Questionário On line

Planejamento da Pesquisa

Pesquisa Qualitativa

Pesquisa Quantitativa

Análise de Conteúdo

Análise de Conteúdo

Análise de Conteúdo

Triangulação T.G. Sistemas

de Luhmann Cibercultur@

Inteligência Coletiva

Polo Metodológico

Polo Epistemológico

Estudo

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1.6.1 Planejamento da pesquisa

Do ponto de vista da sua finalidade ou tipologia metodológica, para este trabalho a pesquisa científica é classificada como descritiva, pois se propõe a analisar a emergência por inteligência coletiva e por uma autogestão coletiva do conhecimento nas organizações a partir do conhecimento em Gestão de Projetos, na comunicação entre os stakeholders de projetos organizacionais.

Esta etapa inicial compreendeu a definição da problematização da questão, o que já constituiu um processo investigativo, além da definição dos objetivos geral e específicos. Deu-se, nesse contexto, os aspectos abdutivos e dedutivos do desenvolvimento da esfera lógi-ca da pesquisa, para, em seguida, desenvolver aspecto indutivo. Conforme Santaella (2008, p.117),

[...] qualquer investigação científica passa necessariamente por três fases: a abduti-va, concernente à geração e recomendação de uma hipótese para explicar um fato surpreendente; a fase dedutiva, que tem a ver com a elaboração lógica da hipótese, quando suas consequências são analisadas; por fim, a indutiva diz respeito ao teste da hipótese e sua confirmação ou falsificação pela experiência futura.

Esta pesquisa foi realizada por meio do registro, análise, classificação de fatos, corre-lação de informações, mas sem manipucorre-lação dessas informações e nem interferência do pes-quisador.

Quanto ao método de procedimento é um estudo de caso, pois a pesquisa foi aplicada aos membros do PMI-DF. Esta Instituição entende que todos os seus 400 membros têm co-nhecimento das práticas em gerenciamento de projetos. Este pressuposto é fundamental, pois se faz necessário que o universo pesquisado tenha o conhecimento da comunicação para o gerenciamento de projetos no contexto organizacional. Segundo Cleland e Ireland (2002, p.280), “[...] no contexto da Gestão de Projetos, a comunicação pode ser a habilidade mais exigida do gerente de projetos e dos membros da equipe”. Houveram, nesta pesquisa, tanto uma vertente qualitativa quanto quantitativa.

1.6.2 Pesquisa qualitativa

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de gerenciamento de projetos no contexto organizacional. Esta pesquisa bibliográfica se efeti-vou através de leitura de livros, artigos e trabalho acadêmicos, disponíveis no portal de perió-dicos da Capes e Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD).

O segundo passo correspondeu à leitura e seleção dos conteúdos para elaborar uma compreensão dos termos principais desta pesquisa conforme descrito acima. As abordagens selecionadas foram, portanto, uma amostra restrita. As observações destas abordagens foram, ao longo da leitura, correlacionadas com o conteúdo sobre comunicação em gerenciamento de projetos reconhecido pelo Guia PMBOK.

A seleção foi feita com base em dois critérios centrais:

(i) Contemplou os teóricos que norteiam a pesquisa. Os conceitos sobre inteligência coleti-va foram estudados nas obras de Pierre Lévy e Derrick de Kerckhove. A teoria da ciber-cultura@ de Jorge González norteou os conhecimentos sobre autogestão coletiva do co-nhecimento. A Teoria Geral dos Sistemas de Niklas Luhmann apresentou o conceito de autopoiese, elemento norteador dos estudos sobre a comunicação como essencialmente um fenômeno de interação social desta pesquisa. A 4. edição do Guia PMBOK e autores como Harold Herzner, Maximiano, David Cleland, Lewis Ireland e Darci Prado foram considerados ao se abordar a comunicação na gestão de projetos organizacionais. (ii) Relacionou as teorias com a problematização da dissertação. Para o objetivo geral e para

cada objetivo específico desta pesquisa foram apresentadas as respectivas hipóteses para análise para serem comprovadas ou falseadas. A base teórica proposta descrita acima serviu de parâmetro de estudo e aplicação para a análise dos mesmos. Essa análise sub-sidiou a construção do questionário aplicado aos membros do PMI-DF.

1.6.3 Pesquisa quantitativa

Na pesquisa quantitativa, foi realizada uma aplicação de questionário on line junto aos 400membros cadastrados no Capítulo do Distrito Federal.

Os membros cadastrados não têm a obrigatoriedade de ter alguma das Certificações do PMI ou Especialização em Gerenciamento de Projetos. O PMI entende que todos os membros cadastrados têm certo conhecimento nas práticas em gerenciamento de projetos por se filia-rem, de forma não gratuita, à Instituição. O PMI7 entende que quando uma pessoa se torna um dos seus membros é porque esta deseja ter acesso ao conhecimento, redes e recursos que

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dem ajudá-lo a melhorar o seu trabalho e progredir na sua carreira em gerenciamento de pro-jetos. A associação significa que o filiado será reconhecido como alguém que é: (i) sério em relação ao seu desenvolvimento pessoal e profissional, (ii) entusiasmado pelas boas práticas de gerenciamento de projetos e (iii) dedicado em praticar sua profissão de forma ética

Antes da aplicação do questionário, a pesquisa foi submetida e aprovada pela Comis-são Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP)8 via Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Católica de Brasília9. Dentre as informações exigidas para o cumprimento das informações solicitadas pelo CEP, está uma carta de autorização da Instituição pesquisada, ou seja, Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) permitindo a aplicação da pesqui-as (Apêndice A). Esta TCLE permitiu ao pesquisador acadêmico acessar e utilizar a lista de membros cadastrados no PMI-DF para fins de composição da amostra da referida pesquisa, intitulada ‘Comunicação, Inteligência Coletiva e Autogestão do Conhecimento no contexto da gestão de projetos em organizações’. Somente após o aval do CEP é que foi aplicado o ques-tionário on line de pesquisa (Apêndice B). Esta pesquisa teve fins estritamente acadêmicos. Após aprovação do CEP, o questionário on line foi aplicado por um período de 60 (sessenta) dias no site da SurveyMonkey10.

1.6.3.1 Coleta de dados

A coleta dos dados deste trabalho foi efetuada conforme mencionado acima, através de questionário on line. Uma vez que o acesso ao cadastro de membros do PMI-DF é restrito à Instituição, coube a ela a aplicação desse questionário. Assim, coube ao Coordenador de Pes-quisa do PMI-DF enviar o TCLE aos membros da Instituição, assim como o link de acesso ao questionário, convidando-os a participarem voluntariamente da pesquisa. Foram enviados e-mails para os 400 membros cadastrados no PMI-DF.

1.6.3.2 Metodologia de Análise de Dados

A amostra dos indivíduos que efetivamente acessaram o link e responderam, conside-rando o número de respondentes satisfatório para amostragem, respeitou os níveis de validade e confiabilidade para esta pesquisa, conforme relatado a seguir. Os dados brutos que incluem

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as perguntas e respostas da forma como foram formatadas pelo coletor do questionário on line no site SurveyMonkey é retratada no apêndice B.

O sistema utilizado para calcular o percentual de respondentes foi o recurso do site SurveySystem11, que utiliza técnicas estatísticas de correlação de dados. Essa escolha deveu-se ao fato desta ser uma ferramenta profissional para a formulação de questionários de pesquisa on line e tabulação das respostas obtidas. Como a ferramenta só aceita um respondente para cada número de IP, não é possível haver multiplicidade de respostas para cada respondente. Garantiu-se também o anonimato a todos aqueles que participaram voluntariamente.

Para determinar o tamanho da amostra necessária para a pesquisa, a fim de obter resul-tados que reflitam a população-alvo tão precisamente quanto necessário, estabeleceu-se corre-lação entre a amostra (número de pessoas que foram convidadas a preencher o questionário), o nível de confiança e a margem de erro preestabelecido.

Com base nas decisões tomadas sobre quais valores estatísticos se deveriam adotar, optou-se por trabalhar com um nível de confiança de 95% (noventa e cinco por cento) e mar-gem de erro de 10% (dez por cento). De acordo com informações obtidas no PMI-DF, o uni-verso amostral corresponde aos 400 membros cadastrados do PMI-DF. Assim, correlacionan-do os dacorrelacionan-dos estatísticos estabelecicorrelacionan-dos acima, o número mínimo de participantes necessários para validar esta pesquisa é de 78 respondentes e a pesquisa foi contemplada com 80 partici-pantes até a questão de número 9. As questões de número 10, 11, 12, 13, 14 e 15, tiveram, respectivamente, 76, 71, 65, 58 56 e 56 respostas, que são inferiores a 78. Nesse aspecto, Moscarola (1990 apud FREITAS et al, 2000) ressalta a “lei dos grandes números”, segundo a qual “[...] com uma amostra inferior a 30 observações se tem chances de encontrar tanto um valor errôneo ou defasado como um valor se aproximando da realidade”. Quanto à confiabili-dade, Perrien, Chéron & Zins (1984 apud FREITAS et al, 2000) afirmam que, além dos ar-gumentos estatísticos, o tamanho da amostra é também influenciado em muito pela credibili-dade dos usuários da pesquisa. Nesse aspecto, o próprio PMI garante que seus membros têm conhecimento em gerenciamento de projetos e, portanto, há confiabilidade nas respostas obti-das para esta pesquisa. Segundo esses critérios de validade e confiabilidade, o número de respostas teriam de estar dentro do intervalo [56, 78], que é o que ocorreu.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Dentro da organização geral deste trabalho a revisão teórica cumpre três funções princi-pais: (i) compreender o sentido de comunicação para o contexto proposto na pesquisa; (ii) estabelecer compreensão do termo inteligência coletiva a partir de um processo de conectivi-dade e (iii) compreender a autogestão coletiva do conhecimento nas relações sociais em pro-cessos autopoiéticos de seleções da comunicação. Em seguida busca-se analisar o conheci-mento das práticas em gerenciaconheci-mento de projetos no contexto organizacional.

2.1 ALGUMAS PERSPECTIVAS SOBRE COMUNICAÇÃO

A comunicação é um termo de largo espectro e uso variado. Para muitos sociólogos, estudiosos da Psicologia Social, vários antropólogos e comunicadores, a comunicação é um processo de transmissão de informações e conhecimentos, e pelo qual se exerce influência sobre alguém ou sobre alguma coisa (PERUZOLLO, 2006). O conceito de comunicação ser-viu, e serve ainda hoje, a muitos usos e fins; seu conceito e sentido mudam de acordo com o pensamento e/ou teoria que o animam. O modelo comunicacional básico geralmente aceito na comunicação organizacional é o de Shannon e Weaver (1949 apud PERUZOLLO, 2006), segundo os quais o processo de comunicação é afetado por fenômenos aleatórios entre um emissor, que tem liberdade para escolher a mensagem que envia, e um destinatário que recebe essa informação com suas exigências.

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Segundo Bordenave (2006), do ponto de vista da comunicação, não há garantia de en-tendimento do conteúdo da mensagem, pois é realizada através de representações no processo comunicacional, e necessita ser exercida por meio de interpretações que se encarregam do esclarecimento/entendimento/sentido na relação entre os indivíduos, entre os gerentes de pro-jetos e os stakeholders nas organizações.

Habermas (2004) negligencia o tratamento dos aspectos emocionais presentes no pro-cesso comunicacional, em favor de uma visão racionalista dos agentes sociais e suas intera-ções. A visão racionalista permite que o projeto seja conduzido vislumbrando questões eco-nômicas, políticas e sociais a favor da sobrevivência do negócio, mas tem limitada a sua capa-cidade de compreensão e análise dos processos comunicacionais contemporâneos, como a pluralidade de linguagens e o recurso crescente às imagens visuais, ligadas as percepções cognitivas.

A comunicação também pode ser entendida por meio do dialogismo de Bakhtin (2004). Segundo Bakhtin, o eu não é autônomo, mas tem autonomia parcial. Ele existe a partir do diálogo com os outros eus; necessita da colaboração de outros para poder definir-se e ser “autor” de si mesmo. Ainda segundo Bakhtin, o sujeito emerge do outro. O sujeito bakhtinia-no é dialógico e seu conhecimento é fundamentado bakhtinia-no discurso que ele produz. O sujeito é solidário das alteridades de seu discurso ao ser concebido numa partição de vozes concorren-tes. A sua dialética está vinculada com a totalidade, com a história, com a interação social.

Entende-se que conceber a comunicação, inicialmente, é não amarrá-la apenas à forma de um processo, mas, primeiro, definir o lugar e o valor dos comunicantes na ação de constru-ção das formas de vida e cultura. Como destaca Peruzzolo (2006, p.15):

O modo como cada um concebe o fenômeno da comunicação é também o que pesa e determina o modo como ele a faz e a pratica. Se para ele comunicar é transmitir, não precisará ocupar-se mais do que cuidar das técnicas de emissão de suas mensagens. Se, porém, comunicar for para ele um diálogo ou uma partilha de situações, os cui-dados terão que incluir o lugar do outro nesse processo. Se a comunicação for con-cebida como ações de reciprocidade, certamente os cuidados terão de ser redobrados porque a prioridade estará na oferta, em que os valores organizados na mensagem vêm antes do processo.

Isso implica afirmar que as relações se dão na exterioridade dos termos, razão pela qual pode-se dizer que nos comunicamos em algo e não que comunicamos algo. Procura-se compreender a comunicação por sua qualidade, não por sua mecânica.

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é-lhe impossível não comunicar. Assim como as palavras, o silêncio também possui um valor de mensagem. A atividade ou inatividade influenciam outros, e estes outros, por sua vez, não podem não responder a essas comunicações, portanto, também estão comunicando. Enfatiza-se, assim, outro fator premente para entender a comunicação por sua qualidade, dando vazão ao fator cognoscitivo presente no processo da comunicação, mesmo que, aparentemente, não ocorra.

Por outro lado, Bateson (1972 apud CENTENO, 2009) conclui que existem aspectos sobre os quais é impossível comunicar. Todo ser humano conhece certo grau de incerteza quanto à clareza das mensagens que transmite e sente a necessidade de verificar de que forma as mensagens são recebidas, para poder completar a percepção do que acaba de transmitir. Necessita, portanto, de feedback para reinterpretar a mensagem dada e o nível de entendimen-to/percepção do outro.

O homem social utiliza-se de percepção das coisas para enxergar o mundo que o cerca. A percepção depende das possibilidades físicas e biológicas da espécie. Como descreve Pe-ruzzolo (2006, p.33)

[...] aquilo a que chamamos “luz” é uma faixa de radiação de ondas eletromagnéticas portadores de partículas, também chamadas fótons, acima a abaixo da qual existem tantas outras faixas, cuja existência não percebemos diretamente, à vista desarmada, e que, portanto, para nossa relação cotidiana com o mundo, ´como se não existissem. Os limites estão na percepção, não no percebido.

No momento da percepção, o indivíduo remete a atividade comunicacional ao sistema das ações e dos desejos. Neste momento, a representação investe qualitativamente no dado percebido. Esta representação é um processo avaliativo pelo qual os estímulos percebidos recebem valorações, pois passam a significar algo para o organismo, ou seja, para o indivíduo. Estes processos comunicacionais instituem a organização social, que, por sua vez, se organi-zam sob a forma de modelos culturais como um conjunto de fatos e dados observáveis de uma cultura. Dessa forma, a comunicação é anterior ao pensamento da organização social e, pelo fato do homem ser indivíduo-social, ele está impregnado da cultura a qual pertence. Assim, comunicação e cultura estão imbricadas uma na outra.

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organização, ou seja, a do sistema e a do meio, a comunicação humana se apresenta no con-texto cultural como uma atividade complexa que conjuga situação social e relações ambien-tais complexas com a demanda da intercomunicação eficiente.

E quando se fala em comunicação no século XXI, também se fala em tecnologia. Pen-sada ecologicamente a partir da expressão e organização da vida, a comunicação se desenvol-ve progressivamente sobre diferentes paradigmas: oral, escrita e via TIC, que é a base e a es-sência das comunicações atuais.

Cada paradigma é o momento de uma transformação do homem na sua cultura. McLuhan (1972) afirma que qualquer nova tecnologia de transporte ou comunicação tende a criar seu respectivo meio ambiente humano e que ambientes tecnológicos não são recipientes puramente passivos de pessoas, mas processos ativos que remodelam pessoas e igualmente outras tecnologias.

Kerckhove (1997, p.61) amplia o alcance dessa relação entre instrumentação e ação humana ao afirmar que “[...] qualquer tecnologia que afete significativamente a linguagem afeta também o comportamento físico, emocional e mental”. Os meios eletrônicos são a po s-sibilidade de os stakeholders se conectarem uns aos outros de modo que, frequentemente, superam as barreiras impostas pela desterritorialização de projetos organizacionais.

Não se quer aqui negligenciar os meios de comunicação, nem tampouco as tecnologias de base microeletrônica empregadas no processo da comunicação humana. Todas elas fazem parte desse complexo processo comunicacional. Está-se, sim, focando o universo desta pes-quisa no fenômeno comunicativo direcionado à dimensão humana e midiatizados por disposi-tivos técnicos, onde fazem parte aspectos culturais e sociais. Procura-se entender, dessa ma-neira, o fundamento que possa dar conta da essência da comunicação, que vem sendo formu-lado a partir da rede relacional, que constitui todo fenômeno humano, e que se estende como possibilidade e abertura para a compreensão da produção do sentido e da cultura. Destaca-se, assim, a natureza social do homem.

2.2 COMUNICAÇÃO COMO RELAÇÃO

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Aceitando este pressuposto de uma pré-existência de comunicação para, a partir daí, aceitar a existência de uma relação, reconfigura-se uma compreensão mais profunda da co-municação em sua essência. Desse modo, entende-se que quando a coco-municação não ocorre ou quando ela é improvável – no caso do silêncio e da omissão, por exemplo, não havendo efetivamente comunicação – não há relação. É preciso haver comunicação para se ter relação, ou melhor, toda comunicação precisa ser uma relação.

Toda organização exerce, em sua essência, a ação de comunicação com seus agentes e estes entre si. Indivíduos e organização precisam interagir, trocar informações, produzir co-nhecimento para traçar metas e objetivos organizacionais. Neste instante, o processo comuni-cacional é fundamental para a elaboração destes alvos e, no intuito de alcançá-los, surge uma relação que, anteriormente, teve início em um processo de comunicação entre os indivíduos. Essa relação de comunicação tem um componente específico que é ser operada por uma maté-ria, o que subentende as representações dos comunicantes inseridas no sistema das ações e dos desejos. E a este sistema estão atreladas as afirmações cognitivas. Segundo Maturana (2001, p.127),

[...] ao usarmos a palavra cognição na vida cotidiana em nossas coordenações de ações e relações interpessoais quando respondemos perguntas no domínio do conhe-cer, o que nós observadores conotamos ou referimos com ela deve revelar o que fa-zemos ou como operamos nessas coordenações de ações e relações ao gerarmos nos-sas afirmações cognitivas.

Maturana (2001, p.128) especifica ainda o significado das ações de uma maneira mais fundamental, incluindo a operação corporal externa como um caso particular:

[...] chamamos de ações tudo o que fazemos em qualquer domínio que geramos em nosso discurso, por mais abstrato que ele possa parecer. Assim, pensar é agir no do-mínio do pensar, andar é agir no dodo-mínio do andar, refletir é agir no dodo-mínio do re-fletir, falar é agir no domínio do falar, bater é agir no domínio do bater, e assim por diante, e explicar cientificamente é agir no domínio do explicar científico.

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fe-nômenos de diferentes tipos e os fatores que interferem nesta diferença dizem respeito às emoções, que, momento a momento, guiam o agir humano, ao especificarem o domínio rela-cional em que o homem opera instante a instante, e dão ao agir humano seu caráter enquanto um conjunto de ações: emoções como tipos de comportamentos relacionais.

Concomitante às emoções tem-se a razão, pelo fato de existir linguagem que organiza e coordena. Como seres linguajantes, Maturana (2001, p.182) afirma:

[...] todo domínio racional se funda em premissas básicas aceitas a priori, isto é, em bases emocionais, e que são nossas emoções que determinam o domínio racional em que operamos como seres racionais a cada instante.

Devido à penetrabilidade da tecnologia como meio de comunicação em todas as esfe-ras da atividade humana, principalmente a organizacional, é habitual usar diferentes tecnolo-gias de acordo com preferências e desejos. Desse modo, subentende-se que são as emoções que guiam o viver tecnológico. Neste contexto, Castells (2003, p.43) defende:

É claro que a tecnologia não determina a sociedade. Nem a sociedade escreve o cur-so da transformação tecnológica, uma vez que muitos fatores, inclusive criatividade e iniciativa empreendedora, intervêm no processo de descoberta científica, inovação tecnológica e aplicações sociais, de forma que o resultado final depende de um com-plexo padrão interativo. (...) a tecnologia é a sociedade, e a sociedade não pode ser entendida ou representada sem suas ferramentas tecnológicas.

Dessa forma, acontecem duas coisas com o viver racional. A primeira, é que se usa a razão para sustentar ou para camuflar as emoções, e isso é feito frequentemente de forma in-consciente. Assim, a comunicação na relação social está impregnada de emoções. A segunda é que normalmente não se está totalmente consciente das emoções sob as quais se escolhe diferentes argumentos racionais. Mas, ao mesmo tempo, a comunicação está imbuída de raci-onalidade na organização do pensamento. O resultado disso é que raramente se tem consciên-cia do fato de que as emoções guiam o viver, mesmo quando se afirma estar sendo racional.

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compreende-rem suas relações de comunicação, nem haver entendimento suficiente para possibilitar o tra-balho em conjunto em função dos objetivos organizacionais.

Surge, neste contexto, a necessidade por compreender a comunicação relacional entre os indivíduos com a operação da dinâmica de estados como o pensar, o refletir, o falar entre os comunicantes, considerando o fluxo das emoções, para dar conta da necessidade por uma interpretação/entendimento das mensagens trocadas por ambos. Depara-se, no entanto, com a complexidade da comunicação que surge à medida que se procura atingir uma camada pro-funda da comunicação como relação. Considera-se, então, nos termos dos argumentos citados, que a comunicação como relação tem possibilidades de se estabelecer de fato, à medida que emoções, razão e representação sejam fatores percebidos e considerados pelos gerentes de projetos na comunicação com os stakeholders, para conduzir suas atividades.

2.3 PARADOXOS NA COMUNICAÇÃO HUMANA

Estabelecer diálogos claros e inequívocos exige muitas vezes um esforço dos indiví-duos em compreender os paradoxos que podem se estabelecer nos contextos comunicacionais humanos e organizacionais. Conhecer o pensamento humano e a relação intrínseca entre os indivíduos nos processos de comunicação em contextos organizacionais é importante porque esses processos atingem âmagos dominados por verdades relativas, tão contestáveis quanto subsistentes, e pelo conhecimento dito universal, que pretende abranger a totalidade do co-nhecimento e o coco-nhecimento comum da sociedade.

Alguns paradoxos estão contidos na comunicação no ambiente organizacional, como os paradoxos da racionalidade, do tempo, da autorreferência, da semântica e da probabilidade do improvável. Se a atuação comunicativa humana sempre esteve orientada para a simplifica-ção, baseada na necessidade de distinguir as relações (indivíduo e organizasimplifica-ção, racionalidade e racionalização, antes e depois, eu e o outro), hoje as organizações reconhecem a complexi-dade do seu sistema na integração dos indivíduos entre si e com o ambiente, assim como a necessidade por uma comunicação dialógica que desenvolva uma visão poliocular de ambos os lados da questão.

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salientar que paradoxo não implica em haver alternativas contrárias em uma situação, caso a possibilidade de optar por uma delas seja também parte da situação. Conhecimento e ação emergem da estratégia de racionalidade que abarca tanto certezas quanto incertezas, o que não se configura em alternativas, mas em paradoxos.

Para Watzlawick (1977), o paradoxo é considerado como o “calcanhar-de-Aquiles” de nossa concepção de mundo lógico-analítico-racional, uma vez que mostra a insuficiência da dicotomia aristotélica de verdadeiro-falso e de outros pares contrapostos. É importante salien-tar que paradoxo não implica em haver alternativas contrárias em uma situação. Conhecimen-to e ação emergem da estratégia de racionalidade, que abarca tanConhecimen-to certezas quanConhecimen-to incertezas, o que não se configura, no entanto, em alternativas, mas em paradoxos.

2.3.1 Paradoxo da racionalidade

Sobre a racionalidade, Morin (2000) defende que para ser racional deve-se estar aberto a todas as possibilidades de erro, caso contrário passa a ser uma racionalização dos nossos co-nhecimentos, ou seja, o que se pensa estar correto. E ser racional, nesse caso, como não é pos-to à prova, pos-tornando-se a racionalização desse pensamenpos-to, ideia ou teoria, fechada em si mesmo. Ao contrário da racionalização, que se fecha em torno de si, a racionalidade é aberta. Numa sociedade moderna e com o avanço das tecnologias que imprimem imediatismo à in-formação, os indivíduos se sobrecarregam com o volume de conhecimento disponível. As organizações, ao se depararem com este enorme arcabouço de informações, precisam selecio-nar aquelas que são relevantes para suas decisões. Nesse momento de seletividade, algumas informações acabam rejeitadas, e aquelas que foram selecionadas devem ser postas à prova para que a racionalização não tome conta das ideias, pensamentos, e que a racionalidade seja o guia da mente dos indivíduos que ajudarão as organizações nos diálogos para a tomada de decisão.

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con-ta mediante “irricon-tações” no sistema. Portanto, trata-se de um paradoxo que oscila entre a ex-clusão do meio e a reentrada de aspectos do meio, mediante inex-clusão no sistema.

As organizações precisam interagir com o meio político, social e econômico. Para is-so, operam a diferença através da seletividade de interesses, mas também desenvolvem uma capacidade de indiferença frente ao mesmo. A comunicação entre indivíduos e organizações que interagem entre si na busca por um entendimento comum em relação aos seus objetivos, abre seu sistema operativo para receber informações que vêm do meio, apesar de não serem abertos, mas fechados em si mesmos. O fato das organizações serem fechadas para manterem sua identidade opera o paradoxo sobre a racionalidade versus racionalização do sistema.

Segundo Morin (2000), a racionalidade é passível de compatibilidade entre as ideias que compõem a teoria quanto à concordância entre suas asserções e os dados empíricos aos quais se aplica. Tal racionalidade deve permanecer aberta ao que a contesta para evitar que se feche em doutrina e se converta em racionalização. A racionalidade é uma aliada na tomada de decisões e está, fundamentalmente, ligada à questão do tempo, já que o tempo desestabiliza a hierarquia de valores.

2.3.2 Paradoxo do tempo

A noção de temporalidade é outro paradoxo que pode se estabeler no entendimento en-tre os indivíduos. Não se pode trabalhar o infinito. Enen-tretanto, a existência de vida terresen-tre está dimensionada pela questão temporal. E ao se estabelecer o tempo das coisas, os indiví-duos se relacionam com suas instâncias no percurso de sua existência. Até onde se pode com-preender, e para a compreensão não se põe limite, o tempo é o que supostamente direciona ou dimensiona a noção de duração de trabalhos dos indivíduos nas organizações e dessas em relação às outras organizações, aos sistemas em geral e ao mundo. Sem entrar no mérito de se estabelecer um marco de referência entre linear/circular, ontológico/epistemológico, Luhmann (2009) defende que só existe tempo na medida em que surge a diferença, onde a diferenciação atual/não atual ou presente/não presente é indispensável para o surgimento de uma observação esquematizada temporalmente. Afirma ainda que todos os conceitos temporais necessitam de diferenciações, ainda que seja a diferenciação primária entre antes e depois, e que, somente por este fato, o tempo já está pressuposto, mesmo que sob a forma paradoxal da simultaneida-de/não simultaneidade.

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continuamente. Para organizações e seus agentes, estabelecer esta diferenciação em meio à simultaneidade/não simultaneidade torna os negócios uma continuidade de trabalhos anterio-res em meio ao fluxo constante das mudanças. Torna-se não verificável, ao menos por certo momento, o divisor antes e depois. Surge, então, um caráter de fluxo e mudança.

Segundo David Bohm (1980 apud MORGAN, 1996), a ordem explícita que se mani-festa ao redor dos indivíduos está contida por fluxo e mudança, e a ordem implícita, que está encoberta, reflete uma realidade em algum momento. A aparência de estabilidade é a expres-são de cada momento da existência que apresenta similaridade com momentos que o precede-ram, criando aparência de continuidade em meio à mudança. Na ciência e na vida quotidiana há a tendência de se considerar a mudança como um atributo da realidade e de se ver o mundo em mudança. Nas organizações, de um lado, o ato de entender a comunicação mediante a co-nexão entre informação e o ato de comunicar pode estar dentro da lógica da mudança de Bohm, onde o mundo é nada mais do que um momento dentro de um processo mais funda-mental de transformação. Por outro lado, pode-se compreender o mundo em suas relações causais, em que a ordem implícita, como inconsciente coletivo, padrões de significado e ação simbólica na comunicação organizacional fluem da ordem explícita – regras, leis. O paradoxo se estabelece quando se reverte o relacionamento usual entre realidade e mudança.

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2.3.3 Paradoxo da autorreferência

A autorreferência é outro paradoxo que pode ser encontrado desde a biologia. Matura-na e Varela (1995 apud MORGAN, 1996) argumentam que sistemas vivos, tais como orga-nismos, são autônomos e fechados, razão pela qual se esforçam para manter uma identidade, engajando-se em padrões circulares de interação que são sempre autorreferentes. É este pro-cesso de autorreferência que distingue um sistema como sistema, mas, da mesma forma, po-dem ser vistos como sistemas autorreferentes dentro de outros sistemas autorreferentes. Este paradoxo pode ser observado quando um indivíduo tomador de decisão em uma organização, ao mesmo tempo em que mantém a identidade da empresa quando toma suas decisões, pode envolver outras organizações e públicos que sofrem influências provocadas por essas decisões tomadas. É uma combinação da própria manutenção com a manutenção dos outros. Este com-portamento ou ação humana repercute em combinações em outros comcom-portamentos ou ações.

2.3.4 Paradoxo da semântica na comunicação

De acordo com Watzlawick (1977), o comportamento não tem oposto. Em outras pala-vras, não existe um não comportamento ou, ainda em termos mais simples, o indivíduo não pode não se comportar, uma vez aceito que todo comportamento tem valor de mensagem, ou seja, é comunicação. Segue-se que, por muito que o indivíduo se esforce, é-lhe impossível não comunicar. O paradoxo pragmático acontece nas injunções e predições paradoxais. Mensa-gens contraditórias podem deixar o receptor num entrave, pois caso atenda a um dos aspectos da mensagem, estará desatendendo ao outro, e vice-versa. Se o gerente de uma organização solicitar que seu subordinado seja espontâneo, este só poderá obedecer desobedecendo-o.

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mentindo, entenda-se [...]”. São situações que, muitas vezes, mediante uma ordem do chefe para seu subordinado, a mensagem pode ser interpretada de forma contrária àquela que o che-fe queria realmente ordenar. Se não houver a metalinguagem que especifica a mensagem dada eximindo a possibilidade da contradição, não haverá esclarecimento.

2.3.5 Paradoxo da probabilidade do improvável

Assim como a sociedade, as organizações são resultantes de evolução (LUHMANN, 2007, p.325-326). Essa perspectiva evolucionista tem como ponto de partida a solução do paradoxo da probabilidade do improvável. Por exemplo, “[...] a improbabilidade da sobrevi-vência de indivíduos ilhados (e também de famílias isoladas) se transforma na (menos) im-probabilidade de coordenação estrutural, e, com isso, começa a evolução sociocultural.” (idem, p.326). Luhmann ainda reforça esse pensamento paradoxal, ao dizer que “[...] a evolu-ção transforma a baixa probabilidade do surgimento em uma alta probabilidade de preserva-ção”.

O pensamento estratégico, principalmente aquele vinculado à escola empreendedora, da visão de futuro, quase sempre conduz a comunicação para o atingimento e realização desse “sonho”. Aqui, o caráter intencional da comunicação se reforça, o que subentende que o su-cesso da estratégia da comunicação só será avaliado se o resultado inicialmente planejado e esperado for atingido. Porém, é preciso conviver com a probabilidade de que isso não aconte-ça, o que caracterizaria a improbabilidade da comunicação, tal qual descrita por Luhmann (2007), de que nada garantiria que a mensagem chegasse ao interlocutor destinatário, de que nada garantiria que este a entendesse e muito menos que a selecionasse positivamente a ponto de agir conforme planificado pelo interlocutor emissor. O paradoxo, aqui, está no fato de que quanto mais se emite menos se comunica.

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2.3.6 Paradoxo como processo da comunicação complexa

As sociedades humanas, sejam arcaicas, modernas ou hipermodernas, têm em si o âmago da verdade, o conhecimento que lhes explica sua situação no mundo, conhecimento este que é passado de geração em geração via comunicação. A comunicação é capaz de perpe-tuar ou, ao menos, prolongar o conhecimento, constituição necessária da história das socieda-des humanas. No entanto, esse mesmo conhecimento, que se perpetua como verdade, carrega em si um princípio de incerteza. Conforme afirma Morin (1996), o conhecimento se funda-menta na confiança absoluta na lógica para estabelecer a verdade intrínseca das teorias, uma vez que estas estão fundamentadas empiricamente segundo os procedimentos de verificação.

Mas o conhecimento, por definição, não pode ser fechado. Ele precisa ser constante-mente questionado e reconfigurado. A limitação lógica gerada decorrente do paradoxo conduz ao abandono de uma ciência absoluta e absolutamente certa. Daí o entendimento de que o conhecimento que se perpetua como verdade carrega em si um princípio de incerteza. O para-doxo pode, muitas vezes, ser sinal de erro, isto é, significar que é necessário abandonar o ca-minho que conduziu a esse erro, ou, pelo contrário, revelar níveis profundos ou desconhecidos da realidade. Nesse contexto, os indivíduos, as sociedades, as organizações, o mundo, convi-vem com a insuficiência e a necessidade da lógica, do enfrentamento dialógico do paradoxo.

Em seu fragmento de número LIV, Heráclito (2010) afirma: “Para os vapores, tornar -se água é morte; para a água, tornar--se terra é morte; mas da terra nasce água, da água, va-por.” Segundo Heráclito, o paradoxo parece ser condição inevitável da existência das coisas. Conviver com os paradoxos implica em saber lidar com a realidade do complexo processo da comunicação, e do processo da comunicação complexa, onde as organizações têm de enfren-tar e compreender que estes fazem parte das interações humanas.

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Figura 1 - Áreas do conhecimento necessárias ao gerenciamento de projetos.
Figura 2 - Mapa Mental da Pesquisa
Figura 3  –  Tratamento processual na comunicação interna
Figura 4 - Processos de gerenciamento de projetos.
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Referências

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