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Grafico 2: Cargo/Função que o participante desempenha

2.7 INTELIGÊNCIA COLETIVA

2.7.2 Inteligência e conhecimento

O sentido dado à inteligência e ao conhecimento, nesta pesquisa, foi comtemplada pela perpectiva de Pierre Lévy e Jean Piaget.

2.7.2.1 Inteligência e conhecimento na perspectiva de Pierre Lévy

O sentido dado por Lévy (2011, p.94) à inteligência retoma aos saberes humanos, ao conhecimento e afirma que:

O intelectual coletivo é uma espécie de sociedade anônima para a qual cada acionis- ta traz como capital seus conhecimentos, suas navegações, sua capacidade de apren- der e de ensinar. O coletivo inteligente não submete nem limita as inteligências; pelo contrário, exalta-as, fá-las frutificar e abre-lhe novas potências. Esse sujeito trans- pessoal não se contenta em somar as inteligências individuais. Ele faz florescer uma forma de inteligência qualitativamente diferente, que vem se acrescentar às inteli- gências pessoais, uma espécie de cérebro coletivo ou hipercórtex.

De outro modo, Lévy (2011, p.87) relata que “[...] os seres humanos são sempre inteli- gentes em potência [...]”. Para melhor apreensão desse sentido, descreve o tema sob três ter- mos: o inteligível, o intelecto e a intelecção.

Inteligíveis são as formas ou ideias das coisas. Mas, tal como integram as coisas, as

ideias encontram-se apenas em potência. Só passam ao ato, ou tornam-se plenamen- te ideias, quando percebidas por um intelecto. O intelecto é a faculdade de compre- ender ou perceber as ideias, o que caracteriza os seres inteligentes. Enquanto ele não

percebe formas, permanece em potência. Só passa ao ato identificando-se às ideias que acolhe, formando com elas um todo. A intelecção é o tornar-se ideia do intelec- to, o movimento que realiza a unidade entre o intelecto e o inteligível. É pela inte-

lecção que o ser inteligente passa da potência ao ato e associa-se à sua essência.

Nesse ato, o ser inteligente se une a seu intelecto e, portanto, com isso, à forma inte- ligível compreendida pelo intelecto. (LÉVY, 2011, p.95)

De acordo com essa visão, acredita-se na possibilidade de uma sociedade da sabedoria, onde todos podem encontrar seu lugar no espaço do conhecimento de mútua reciprocidade. Da interação entre stakeholders em projetos organizacionais, consoante com a prospecção de estratégias organizacionais, resolução de conflitos, criatividade e inovação, espera-se que eles, os stakeholders, passem do conhecimento em potência ao conhecimento em ato, isto é, do inteligível ao intelecto, unindo o intelecto, o inteligente e o inteligível numa só essência. Para que isso seja possível em projetos organizacionais, torna-se necessário a existência de proces- sos e procedimentos de comunicação que favoreçam a comunicação, bem como a utilização de redundância e metáforas, aumentando as possibilidades de entendimento do que é dito. Desse modo, os stakeholders serão constantemente influenciados a uma passagem sucessiva da intelecção de uma ideia a outra para acompanharem as constantes evoluções da organiza- ção em busca de sua sobrevivência.

2.7.2.2 Inteligência e conhecimento na perspectiva de Jean Piaget

Na visão de Piaget (2003), os seres vivos são todos inteligentes. A busca pela explica- ção das transformações da vida se assemelha à busca do próprio autoconhecimento humano. De acordo com Piaget (2003, p.15):

Conhecer não consiste, com efeito, em copiar o real, mas em agir sobre ele e trans- formá-lo (na aparência ou na realidade), de maneira a compreendê-lo em função dos sistemas de transformação aos quais estão ligadas estas ações.

Apesar de o conhecimento estar ligado à ação, podendo compreender o papel da assi- milação, com efeito, é entendido como ações transformadoras e não somente assimiladoras. A assimilação tem sentido duplo. De um lado, é a incorporação da realidade aos esquemas (pré- vios) de ação do indivíduo, ligados a uma interação com o meio. Como exemplo, tem-se a reunião de stakeholders para classificar os pacotes de trabalho da atividade de um projeto organizacional. Por outro lado, implica a noção de significação, pois todo conhecimento refe- re-se a significações (índices ou sinais perceptivos, desde o nível dos instintos até a função simbólica do homem), como quando um subordinado associa a força com que o chefe bateu a

porta da sala como uma repreensão, e daí em diante fica apreensivo ao ver o chefe bater a porta da sala com força como se estivesse sendo repreendido.

São transformadoras as ações que se constroem, pouco a pouco, e dão lugar a diferen- ciações por acomodação às situações modificadas. Segundo Piaget (2003, p.18), a acomoda- ção é toda modificação dos esquemas de assimilação sob a influência de situações exteriores (meio) aos quais se aplicam. Assim, não há assimilação sem acomodações (anteriores ou atu- ais), como não há acomodação sem assimilação. Por exemplo, informar um stakeholder por e- mail sobre uma reunião, conforme estabelecido no plano de comunicação, é assimilação por- que existe um plano a ser seguido, mas informar um stakeholder por documento impresso sobre uma reunião porque a internet ainda não está funcionando constitui uma acomodação deste esquema.

O fato essencial de que convém partir é que todo conhecimento, mesmo perceptivo, contém um processo de assimilação e de acomodação (invariantes funcionais). Assimilação a estruturas anteriores, estando assim ligado à ação (esquemas de ação), que depende, em parte, do meio e dos objetos ou acontecimentos aos quais se aplica e, em parte, do próprio sujeito (seu funcionamento não é independente de fatores internos, pois as ações dependem de um sistema nervoso, o qual, por mais elementar que seja, é herdado, o que admite sempre ações do sujeito que não derivam, como tais, das propriedades do objeto). Assim, quando há assimi- lação, o sujeito em face de uma nova realidade não modifica as suas estruturas. No caso da acomodação, já há alteração nos esquemas do sujeito, como o resultado das pressões que os stakeholders sofrem do meio.

Assim, a adaptação é um equilíbrio entre a assimilação e a acomodação. Do ponto de vista biológico, a organização é inseparável da adaptação. A inteligência é assimilação na medida em que incorpora nos seus quadros todo e qualquer dado da experiência (estruturação por incorporação da realidade exterior a formas devidas à atividade do sujeito). A inteligência é acomodação na medida em que modifica incessantemente os esquemas para ajustá-los aos novos dados, pois, como afirma Piaget (1970, p. 19), “[...] é adaptando-se às coisas que o pen- samento se organiza e é organizando-se que se estrutura as coisas”. Assim, inteligência é or- ganização e adaptação em contextos de constantes transformações.