• Nenhum resultado encontrado

4 A EDUCAÇÃO BRASILEIRA A PARTIR DOS ANOS DE 1990 E AS NOVAS

4.3 A Educação brasileira nos anos 2000: rupturas e continuidades na política

4.3.1 O Compromisso Todos pela Educação

Desde a década de 1990 nota-se o interesse do empresariado brasileiro na construção de uma agenda educacional, com investidas para uma maior participação no direcionamento das políticas educacionais. Nesse período muitos eventos foram promovidos com intuito de elaborar documentos para orientar as reformas do setor. Neves (2005) e Martins (2008) identificaram que para além da interferência nos rumos das propostas educacionais o interesse dos empresários se concentrou na formação de trabalhadores em consonância com os requisitos da sociedade do conhecimento.

Assim, com os mesmos propósitos apresentados pela Cepal o empresariado brasileiro envidou esforços para articular eficácia empresarial com justiça social. (SHIROMA; GARCIA; CAMPOS, 2011).

A baixa qualidade da educação brasileira nos anos 2000 motivou intelectuais, comprometidos com as condições de produção e elevação da competitividade brasileira a criar o movimento Todos pela Educação, cuja missão seria a de garantir uma educação básica de qualidade para todos os brasileiros antes de 2022. Estabelecendo cinco metas: 1 - Toda criança e jovem de 4 e 17 anos na escola; 2 - Toda criança plenamente alfabetizadas até os 8 anos; 3 - Todo aluno com aprendizado adequado ao seu ano; 4 - Todo aluno com Ensino Médio concluído até os 19 anos; 5 - Investimento em Educação ampliado e bem gerido. Para alcance dessas metas foram traçadas três estratégias: ações de comunicação e mobilização social; conteúdo técnico; ações de influência na política pública.

Esse movimento contou com a adesão de diversos segmentos da sociedade, inclusive com a participação ativa dos empresários.

O Todos pela Educação é uma aliança da sociedade civil, da iniciativa privada, de organizações sociais, de educadores e de gestores públicos da Educação. É uma união de esforços, em que cada cidadão ou instituição é coresponsável e se mobiliza, em sua área de atuação, para que suas crianças e jovens tenham acesso a uma Educação Básica de qualidade. Essa ação, prevista para acontecer até 2022, é suprapartidária, atravessa mandatos e une gerações (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2008).

A concepção de educação foi formalizada por meio do documento elaborado em 2006 por empresários brasileiros, sob o título Compromisso Todos pela Educação. Nesse documento identifica-se o clamor para toda sociedade desenvolver atitudes de responsabilidade e controle social referente à educação. De acordo com Shiroma, Garcia e

Campos (2001, p.231-234), os fundamentos da proposta estão amparados no tripé: “1) difusão de conceitos; 2) difusão de indicadores educacionais instruindo sobre seu uso; 3) difusão de recomendações individualizadas sobre como melhorar a educação”. As ideias expressas nesse Compromisso logo ganharam adesão de “organizações da sociedade civil, intelectuais, universidades, sindicalistas, grande mídia e, de forma especial, do próprio governo federal”.

No âmbito do governo federal, o decreto n.6.094 de 24 de abril de 2007 criou o Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação como forma de articular ações de colaboração por parte da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, bem como uma participação das famílias e da comunidade em prol da melhoria da qualidade da educação básica. Este decreto além de prever investimentos em programas de assistência técnica e financeira, propôs também uma forma de aferir objetivamente a qualidade da educação por meio do IDEB7, constituindo este o indicador para a verificação do alcance das metas fixadas no Compromisso. A adesão ao Compromisso pelos estados e municípios asseguraria a estes a participação nas ações para alcance das metas estabelecidas.

As orientações essenciais do Compromisso não destoaram do arcabouço ideológico produzido para orientar as reformas educacionais da década de 1990, contudo, é prudente observar algumas mudanças nos pressupostos das novas formas de regulação da educação, a qual deixa de ser realizada na esfera exclusiva do Estado e passa a ser da sociedade como um todo. Essa questão aparece de forma expressa nas orientações do movimento Todos pela Educação, “que a sociedade como um todo monitore a evolução dos indicadores educacionais, cobrando de si mesma e dos governos, a melhoria da educação” (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2008).

Nessa concepção observa-se um retorno a uma atuação intervencionista do Estado na implementação de políticas públicas, divergindo daquela proposta de minimização do papel do Estado e privatização da educação, difundida pelo receituário neoliberal, que conduziu a reforma na década de 1990.

Os indicadores educacionais resultantes da reforma neoliberal levaram os empresários a abandonar o discurso do Estado apenas como regulador ou indutor, mas, ao contrário, agora cobram deste uma execução eficaz das políticas. A meta maior do documento é criar uma nova consciência, uma

7 O IDEB seria elaborado a partir dos dados sobre rendimento escolar, combinados com o desempenho dos

alunos, constantes do censo escolar e do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), composto pela Avaliação Nacional da Educação Básica (ANEB) e a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Prova Brasil) (BRASIL, 2007).

nova sensibilidade, novas atitudes em relação à educação orientadas por uma ‘cidadania exigente’ (SHIROMA; GARCIA; CAMPOS, 2011, 243).

O que nos importa na análise desse processo é identificar a matriz orientadora para as novas formas de se operar a regulação das políticas educacionais, o que implica também perceber alterações na atuação da comunidade e os novos papéis a ela requisitados nesse cenário. Estamos diante de mudanças que constroem novos conceitos e valores no cenário educacional brasileiro, com interferências na relação entre comunidade e escola, no trabalho docente e na organização administrativa. Nestes destacamos o impacto na gestão com a centralidade no papel das lideranças (diretores), como responsáveis imediatos pela aprendizagem. Além disso, Shiroma, Garcia e Campos (2011) identificam que o documento não menciona a educação como possibilidade de mobilidade social e advertem que nesse movimento a noção de educação como forma de qualificação da mão-de-obra para a reestruturação produtiva que se operava nos anos de 1990 passa a ser substituída, “agora, a educação tem como finalidade manter os sujeitos incluídos socialmente, servindo de estratégia social contra o esgarçamento do tecido social” (SHIROMA; GARCIA; CAMPOS, 2011, p.245).

Também não é sem propósito uma articulação em âmbito internacional, tampouco motivada por um impulso ingênuo de cooperação mútua, trata-se de esforço para manter sob controle as vias de desenvolvimento dos países com potencial para estruturar sua economia e cultura numa perspectiva diferenciada e sem a dependência econômica, cultural e científica oriunda de países desenvolvidos. O que está em jogo com essas medidas intervencionistas é o rompimento de alguns limites impostos pela soberania nacional, com impactos na autonomia para a construção e implementação de um projeto próprio de educação, forjado com base nos anseios populares e em elementos da realidade local, com fito de formar para a cidadania e para a consolidação de formas democráticas de condução de processos políticos e administrativos.

No tocante à educação profissional, observa-se que o governo da década de 1990 considerou de forma mais acentuada o potencial dessa modalidade para atendimento das demandas de mercado, com ênfase no desenvolvimento de novas competências para a inserção profissional face às transformações no contexto produtivo. Já as deliberações atinentes aos anos posteriores ao ano 2000 tem revelado uma nova forma de atuação, na qual é possível identificar a continuidade de alguns métodos de gestão, com vistas a tornar essa política um fator estratégico para a diminuição dos conflitos sociais e auxiliar do

desenvolvimento nacional nos atuais padrões da organização produtiva, com ênfase na sustentabilidade ambiental e ações que promovam o fortalecimento do empreendedorismo, como estratégia para reduzir os índices de desemprego.

Com as medidas adotadas pelas políticas recentes nota-se a reconfiguração do modelo gerencial da década de 1990. Nessa atuação o Estado tem aumentado sua presença na educação, contudo, não na perspectiva almejada pelo movimento progressista. É perceptível a atuação no sentido do aprimoramento das técnicas de gestão embasadas nos princípios gerencialistas, com ações de intensificação da regulação das instituições públicas em um movimento de recentralização administrativa e de controle dos direcionamentos das prioridades para este exercício.

Com as orientações globais verifica-se uma mudança de rumo para a educação nacional, a qual prescinde formas concretas de controle sobre a oferta e também interferências na gestão, sendo assim, é preciso compreender os requisitos dessa configuração para as instituições de educação profissional frente à expansão quantitativa operada nessa década, na tentativa de descortinar que efeitos têm produzido as novas orientações discutidas nos seus processos de gestão.

5 A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL COMO POLÍTICA PÚBLICA E A

Outline

Documentos relacionados