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6 A NOVA GESTÃO PÚBLICA E AS ESTRATÉGIAS DE REGULAÇÃO DA

6.2 O Plano de Desenvolvimento institucional como instrumento de regulação da

Em meados da década de 2000, o Decreto 5.773 aprovado em 9 de maio de 2006, dispôs sobre o exercício das funções de regulação, supervisão e avaliação de instituições de educação superior e cursos superiores de graduação e sequenciais no sistema federal de ensino, condição em que se inserem os Institutos Federais de Educação. Convém destacar que o Decreto estabelece que “a regulação será realizada por meio de atos administrativos autorizativos do funcionamento de instituições de educação superior e de cursos de graduação e sequenciais”, sendo esta uma função do Ministério da Educação por intermédio de suas secretarias.

Esse Decreto expõe em seu artigo 15 os requisitos para o credenciamento de instituições junto aos órgãos de controle governamental, entre eles destaca-se a elaboração do PDI. Em continuidade, o artigo 16 especifica os itens mínimos que devem constar no plano.

I - missão, objetivos e metas da instituição, em sua área de atuação, bem como seu histórico de implantação e desenvolvimento, se for o caso;

II - projeto pedagógico da instituição;

III - cronograma de implantação e desenvolvimento da instituição e de cada um de seus cursos, especificando-se a programação de abertura de cursos,

aumento de vagas, ampliação das instalações físicas e, quando for o caso, a previsão de abertura dos cursos fora de sede;

IV - organização didático-pedagógica da instituição, com a indicação de número de turmas previstas por curso, número de alunos por turma, locais e turnos de funcionamento e eventuais inovações consideradas significativas, especialmente quanto a flexibilidade dos componentes curriculares, oportunidades diferenciadas de integralização do curso, atividades práticas e estágios, desenvolvimento de materiais pedagógicos e incorporação de avanços tecnológicos;

V - perfil do corpo docente, indicando requisitos de titulação, experiência no magistério superior e experiência profissional não-acadêmica, bem como os critérios de seleção e contratação, a existência de plano de carreira, o regime de trabalho e os procedimentos para substituição eventual dos professores do quadro; VI - organização administrativa da instituição, identificando as formas de participação dos professores e alunos nos órgãos colegiados responsáveis pela condução dos assuntos acadêmicos e os procedimentos de auto-avaliação institucional e de atendimento aos alunos;

VII - infraestrutura física e instalações acadêmicas (BRASIL, 2006).

Já no primeiro item fica explicita a similaridade com os requisitos gerenciais adotados na administração de empresas privadas, quando requisita a especificação da missão institucional e as metas a serem alcançadas.

Ao apresentar o projeto pedagógico em item específico, diferenciando-o dos tópicos que solicitam a organização didático-pedagógica, organização administrativa e de pessoal, bem como as questões de infraestrutura, a disposição desses elementos diverge das características de um projeto político pedagógico institucional, em uma perspectiva integrada e interrelacionada dessas dimensões, compondo uma proposta única e articulada.

Pelo nível de detalhamento de alguns itens das solicitações, essa forma de regulação tende a antecipar um modelo institucional, que traz em seu bojo um ideal de organização e atuação, do qual não poderão destoar as instituições federais de educação profissional. Desse modo, não se trata apenas da exigência de um plano e sim do tipo de educação que deverá ser proposta. E como se trata de requisitos mínimos significa que todas as instituições, ressalvadas suas peculiaridades, para obterem credenciamento se assemelhariam em suas linhas gerais de atuação.

Considerado um importante componente para a definição da caracterização institucional, bem como seus objetivos e ações frente às diretrizes estabelecidas na Lei de criação, apesar de ser um documento exigido para o credenciamento da instituição para a oferta dos cursos superiores, o PDI passa a ser o instrumento orientador da gestão nos institutos federais. Convém lembrar que a oferta de cursos técnicos de nível médio, segundo a Lei nº. 11. 892 ocupa o maior percentual de oferta de vagas desses institutos.

Assim, nota-se que o planejamento formal se destaca nesse cenário, ao tempo em que surgem novos formatos e perspectivas, adotadas com as mudanças administrativas provenientes das recentes concepções acerca do papel do Estado. No contexto em voga, o modelo de planejamento estratégico tem sido adotado como orientação para essas instituições. O crescente interesse por essa metodologia de planejamento tem sido justificado pela possibilidade do desenvolvimento de formas de adaptação a contextos dinâmicos, impulsionados pela globalização e pelos avanços científicos e tecnológicos. O planejamento estratégico é uma ferramenta gerencial que auxilia o desenvolvimento do modelo administrativo da Nova Gestão Pública.

Essa inovação no planejamento pode resultar em um projeto cujo objetivo se resume no cumprimento de uma exigência normativa, culminando em um conjunto de objetivos e metas com vista ao alcance dos resultados previstos na concepção da política. Trata-se de um pragmatismo que ofusca o conceito de práxis, um termo de significado caro para as teorias críticas e que revela a indissociabilidade entre a reflexão e a ação. Nesse entendimento, nota- se uma semelhança entre esse fenômeno e o identificado por Veiga (2003) quando discute o conceito de inovação regulatória.

A inovação regulatória ou técnica tem suas bases epistemológicas assentadas no caráter regulador e normativo da ciência conservadora, caracterizada, de um lado, pela observação descomprometida, pela certeza ordenada e pela quantificação dos fenômenos atrelados a um processo de mudança fragmentado, limitado e autoritário; e de outro, pelo não-desenvolvimento de uma articulação potencializadora de novas relações entre o ser, o saber e o agir (VEIGA, 2003, p. 3).

A ausência de uma proposta com essa perspectiva pode comprometer a própria definição da identidade institucional, conduzindo suas ações para demandas imediatistas e nem sempre comprometidas com os ideais de emancipação presentes em uma política que admite primar pela democracia e justiça social. Desse modo, a ação do Estado, por meio das instituições de educação profissional pode contribuir com os anseios do sistema de produção capitalista, produzindo para este um quadro qualificado e alheio à formação política e consequentemente cidadã.

Inovar é, portanto, introduzir algo diferente dentro do sistema, para produzir uma mudança organizacional descontextualizada. Este processo deixa de lado os sujeitos como protagonistas do institucional,

desprezando as relações e as diferenças entre eles, não reconhecendo as relações de força entre o institucional e o contexto social mais amplo (VEIGA, 2003, p.4).

Também é possível supor que a exigência de detalhes no PDI tenha o intuito de manter o pensamento característico das formas capitalistas de produção e acumulação de riqueza, se configurando em uma maneira de manter o pensamento hegemônico por meio de uma forma unificada de ofertar esta modalidade de ensino, atendendo às exigências de competitividade e produtividade inerente aos interesses de mercado. E isto pode ser demonstrado pelas estratégias do MEC em manter o planejamento dos institutos de forma controlada e monitorada.

De acordo com Araújo, Hypólito e Otte (2011) o PDI representa um mecanismo de controle que integrará o Sistema de Gestão que vem sendo desenvolvido pelo Ministério da Educação. Este Sistema “deverá ser atualizado constantemente pelas Instituições para que o MEC tenha acesso aos planejamentos e ações executadas em cada IF e a partir dele analise se tais ações estão indo ao encontro do cumprimento do Termo de Acordo de Metas” (p.10). Esse fenômeno demonstra que os investimentos em modernização tendem a conservar o centralismo da União no direcionamento das ações, contudo, conforme vem sendo discutido ao longo dessa tese, não se trata apenas da execução de um projeto nacional de educação, mas de orientações que extrapolam os limites territoriais, compondo uma agenda global para uma educação alinhada às transformações produtivas.

No contexto apresentado, o planejamento institucional, aqui entendido como instrumento de materialização das intenções do Estado, assume distintas funções e cumpre com os desígnios do modo específico de atuação deste, reafirmando a proposição de Offe (1994) que o caracteriza como articulador e promotor das condições favoráveis ao atendimento das demandas do sistema de produção. Conforme pontua Baia Horta (1991, p.23),

o planejamento educacional constitui uma forma específica de intervenção do Estado em educação, que se relaciona, de diferentes maneiras, historicamente condicionadas, com as outras formas de intervenção do Estado em educação (legislação e educação pública), visando a implantação de uma determinada política educacional do Estado, estabelecida com a finalidade de levar o sistema educacional a cumprir funções que lhe são atribuídas enquanto instrumento deste mesmo Estado.

A inserção da lógica do gerencialismo, com orientação metodológica para a adoção do planejamento estratégico tem sido constante no cenário das instituições que ofertam educação profissional. Essa metodologia de planejamento, originária e impulsionada no campo das empresas privadas, cuja finalidade seria tornar a empresa sustentável diante das mudanças no ambiente externo, aumentando suas possibilidades de lucro e crescimento, tornou-se atrativa

também para organizações públicas. A constatação do desequilíbrio entre as receitas públicas e as crescentes demandas por serviços sociais básicos aumentou o interesse do setor por essa forma de planejamento, na busca de equalizar o descompasso dos investimentos por meio de ações focalizadas e orientadas para o alcance de maior eficiência e eficácia na aplicação de recursos, reduzindo os custos e ampliando os resultados quantitativamente, onde os indicadores se sobrepõem à trajetória, relegando a segundo plano os meandros desse processo, que envolve a diversidade e as singularidades que compõem cada instituição.

Nesse entendimento, a forma com que essa metodologia vem sendo adotada torna-se contraditória quando tenta substituir a uniformização proposta pelo modelo burocrático de administração e cria mecanismos de conservação da padronização de instituições e de processos em prol da intensificação do controle e da responsabilização dos gestores pelas falhas do percurso. Assim, se torna contrária às finalidades da educação, pois esta reflete as contradições sociais, política e econômica, as quais acompanham todo o processo formativo dos sujeitos envolvidos nesse processo, sejam eles servidores ou estudantes. Portanto, uma metodologia eficaz de planejamento não pode estar alheia a estas questões.

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