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5 A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL COMO POLÍTICA PÚBLICA E A

5.3 Os novos encaminhamentos para as políticas de Educação profissional no

5.3.2 A proposta de gestão democrática no documento “Políticas públicas para a educação

Em 2004, foi lançado pelo governo federal o documento Políticas públicas para a educação profissional e tecnológica como forma de orientar as ações desenvolvidas pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação.

Até o momento a gestão das instituições de educação profissional não havia sido mencionada com destaque em nenhum documento, o que torna relevante adentrarmos um

pouco mais na discussão para identificar seus fundamentos no processo de reestruturação dessa rede de educação.

O documento reafirma a importância atribuída à gestão democrática pelo Fórum Nacional de Defesa da Escola Pública em sua posição de defesa do Plano Nacional de Educação e a constituição de conselhos democráticos nas diversas instâncias do Sistema Nacional de Educação. Apresenta uma crítica ao governo FHC no tocante a diminuição da presença do Estado nas políticas públicas de cunho social e menciona o processo de desestruturação das escolas técnicas, agrotécnicas e os Cefets, com o forte incentivo à criação de um mercado privado da educação. O documento elenca alguns pontos a serem considerados no processo de democratização:

a participação democrática na elaboração, implementação e avaliação da política pública; o acesso democrático e universalizado à política pública para a educação profissional e tecnológica, buscando a superação do viés compensatório; a relação democrática entre as instâncias governamentais e destas com as instituições; e a democracia interna das instituições, mediante a participação democrática da comunidade educacional na composição e eleição de seus órgãos diretivos (BRASIL, 2004, p.54).

Atribui-se também valor à articulação entre esferas de governo para a proposição e desenvolvimento de uma política pública para a elevação do nível de escolaridade da população brasileira por intermédio das instituições de educação profissional, com o propósito da redução das desigualdades sociais.

Na perspectiva apresentada no documento “Políticas Públicas para a Educação Profissional e Tecnológica”, a gestão democrática se constitui “numa das estratégias de superação do autoritarismo, do individualismo e das desigualdades sociais”. Afirma ainda que “sua implantação exige o enfrentamento das distorções presentes na legislação, nas instituições e nas práticas educacionais vigentes” (BRASIL, 2004, p.54).

O que se observa é uma ideologia que se diz oposta aos rumos das reformas educacionais empreendidas na década de 1990, e apresenta um conjunto de ação de cunho muito mais político do que definidor dos meios para a materialização de uma gestão democrática nos moldes dos fundamentos apresentados. O que se pode inferir é uma crença na capacidade desses termos em inspirar transformações, como se por si só dessem conta de compensar a seletividade e exclusão construída no seio da escola pública em um complexo cenário educacional, do qual a educação profissional é parte indispensável.

A perspectiva de gestão democrática se aproxima muito mais de uma necessidade de desenvolvimento de políticas sociais de combate à pobreza e exclusão social do que da própria necessidade de mudanças nas instituições educativas em prol de uma concepção de educação como direito e uma formação ética, técnica e intelectual para uma democracia emergente.

Mesmo com uma concepção diferenciada sobre a educação profissional, as ações adotadas na primeira gestão do governo Lula não deram conta de superar o dualismo entre educação geral e específica, bem como de prover materialmente as condições necessárias a uma expansão satisfatória. Também não foi possível identificar nessa fase do governo um projeto nacional articulado para a educação profissional. No segundo mandato desse governo, em 2007 destaca-se no Plano de Desenvolvimento da Educação a criação dos Institutos Federais de Educação Ciência e Tecnologia.

A expansão e reestruturação da Rede Federal de Educação Profissional, com a criação dos Institutos Federais, objetivou a emergência de instituições promotoras e colaboradoras na estruturação de políticas públicas para as regiões em que estas instituições estão inseridas, em uma tentativa de estreitar relações entre a ação do poder público e as comunidades locais. Passaremos então a tratar dessa mudança perseguindo a relação entre as exigências de modernização da gestão de instituições públicas federais, inspirada no novo gerencialismo, adotada pelo Estado Brasileiro da década de 1990, com continuidade nos anos 2000 e a criação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia.

5.3.3 Os Institutos Federais de Educação: um novo modelo de gestão para a educação profissional?

Uma das recentes medidas que impactaram a educação profissional foi a criação da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e transformação de Escolas Técnicas, Agrotécnicas e Centros Federais em Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, nos termos da Lei 11.892 de 2008. A Rede é composta pelos trinta e oito Institutos Federais, Universidade Federal Tecnológica do Paraná, CEFET Celso Suckow da Fonseca, CEFET Rio de Janeiro e CEFET Minas Gerais, Escolas Técnicas Vinculadas a Universidades Federais e Colégio Pedro II.

Na chamada pública realizada em 2007 para a constituição dos Institutos Federais o MEC postulava que

a implantação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia – IFETs constitui-se em uma das ações de maior relevo do Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, na medida em que tornará mais substantiva a contribuição da rede federal de educação profissional e tecnológica ao desenvolvimento sócio-econômico do conjunto de regiões dispostas no território brasileiro, a partir do acolhimento de um público historicamente colocado a margem das políticas de formação para o trabalho, da pesquisa aplicada destinada à elevação do potencial das atividades produtivas locais e da democratização do conhecimento à comunidade em todas as suas representações (BRASIL, 2007, p.1).

A expansão da Rede Federal de Educação Profissional, com a criação dos Institutos Federais, objetiva apoiar e promover a estruturação de políticas públicas para as regiões em que estão inseridos, estreitando as relações entre a ação do poder público e as comunidades locais.

O Conselho dos Centros Federais de Educação Tecnológica (Concefet) elaborou um documento em que manifesta a uma posição favorável em relação à criação dos Institutos Federais e em uma das passagens atesta a discussão que levantamos no tópico anterior aos tratar da perspectiva de gestão proposta para as políticas de educação profissional.

Considera-se, portanto, que os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia deverão garantir a perenidade das ações, por meio das políticas públicas e de financiamento, que visem incorporar setores sociais que historicamente foram alijados dos processos de desenvolvimento e modernização do Brasil e viabilizar, desta forma, o pagamento da dívida social em relação a esse público (CONCEFET, 2007, p.150).

Nesse documento elaborado pelo Concefet é proposto um anteprojeto de lei com 18 artigos para a criação dos IFs, em sua maioria incorporados à Lei nº. 11.892 de 29 de dezembro de 2008, que instituiu a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e criou os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Com exceção do artigo que sugere a criação de um Fórum de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Com essa Lei, os IFs são assim definidos:

Art. 2o Os Institutos Federais são instituições de educação superior, básica e profissional, pluricurriculares e multicampi, especializados na oferta de educação profissional e tecnológica nas diferentes modalidades de ensino, com base na conjugação de conhecimentos técnicos e tecnológicos com as suas práticas pedagógicas, nos termos desta Lei (BRASIL, 2008).

As instituições que compõem a Rede Federal possuem natureza jurídica de autarquia, com autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didático-pedagógica e disciplinar. Em se tratando de autonomia dessas instituições, esta não é uma prerrogativa dessa Lei, pois desde 1993 a Lei 8.731 transformou as Escolas Agrotécnicas Federais em autarquias. Sem

contar que desde 1978 os primeiros Cefets criados já gozam dessa condição, sendo ampliada posteriormente para os demais, conforme já apresentado em sessão anterior.

Os objetivos estabelecidos na Lei nº. 11.892 para os IFs habilitam estas instituições a atuarem em quase todos os níveis e modalidades de ensino, ressalvada a educação infantil. Com possibilidade de atuação desde o ensino fundamental a cursos de pós-graduação latu e stricto senso, promovendo a verticalização do ensino. Ainda desempenhar a função de reconhecimento e certificação de saberes profissionais:

I - ministrar educação profissional técnica de nível médio, prioritariamente na forma de cursos integrados, para os concluintes do ensino fundamental e para o público da educação de jovens e adultos;

II - ministrar cursos de formação inicial e continuada de trabalhadores, objetivando a capacitação, o aperfeiçoamento, a especialização e a atualização de profissionais, em todos os níveis de escolaridade, nas áreas da educação profissional e tecnológica;

III - realizar pesquisas aplicadas, estimulando o desenvolvimento de soluções técnicas e tecnológicas, estendendo seus benefícios à comunidade; IV - desenvolver atividades de extensão de acordo com os princípios e finalidades da educação profissional e tecnológica, em articulação com o mundo do trabalho e os segmentos sociais, e com ênfase na produção, desenvolvimento e difusão de conhecimentos científicos e tecnológicos; V - estimular e apoiar processos educativos que levem à geração de trabalho e renda e à emancipação do cidadão na perspectiva do desenvolvimento socioeconômico local e regional; e

VI - ministrar em nível de educação superior (BRASIL, 2008).

Em sua estrutura administrativa essas instituições são equiparadas às universidades e possuem um órgão central também denominado reitoria. Essa equiparação abrange as disposições que regem a regulação, avaliação e supervisão institucional e dos cursos superiores. São também geridas por um reitor, eleito pela comunidade para um mandato de quatro anos e este conta com o apoio de cinco pró-reitorias para o desenvolvimento de ações relativas ao ensino, pesquisa, extensão, administração, desenvolvimento institucional, gestão de tecnologia e gestão de pessoas.

Os campi são instituições descentralizadas com relativa autonomia para organização pedagógica e administrativa para oferta de cursos. Em alguns Institutos houve agregação de unidades que antes funcionavam como autarquias, gerando desafios para a gestão.

Antes mesmo da institucionalização legal dos IFs, o governo federal, por meio da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica, lançou em junho de 2008 as Concepções e Diretrizes para a Educação Profissional a ser ofertada nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Como propósito, segundo tais concepções, estas instituições têm por

foco a justiça social, a equidade, a competitividade econômica e a geração de novas tecnologias. Além disso, “responderão, de forma ágil e eficaz, às demandas crescentes por formação profissional, por difusão de conhecimentos científicos e tecnológicos e de suporte aos arranjos produtivos locais” (BRASIL, 2008, p.5).

Em 2010 um novo documento foi publicado com o título: Um novo modelo de educação profissional e tecnológica, nele está expresso que a concepção da educação profissional como política pública intenciona superar a tese apresentada por Louis Althusser ao desvelar o papel da escola como aparelho ideológico do Estado em defesa dos valores da classe dominante.

Os Institutos Federais trazem em seu DNA elementos singulares para sua definição identitária, assumindo um papel representativo de uma verdadeira incubadora de políticas sociais, uma vez que constroem uma rede de saberes que entrelaça cultura, trabalho, ciência e tecnologia em favor da sociedade (BRASIL, 2010, p.19).

A questão da identidade dessas instituições é algo que se revela bastante emblemático, em virtude da expansão territorial, ampliação dos níveis e modalidades de ensino que devem atuar e a premente necessidade de articulação com outras políticas sociais. Essa é sem dúvida uma promissora fonte para outras investigações, mormente pelo impacto dessa diversidade na atuação institucional para o processo de formação profissional que é o cerne de sua existência.

Na Bahia, dois institutos foram criados: o IF Bahia, oriundo do Centro de Educação Federal de Educação Tecnológica (CEFET) e o IF Baiano, procedente da integração das 04 Escolas Agrícolas Federais (Senhor do Bonfim, Guanambi, Catu, Santa Inês) e das 04 Escolas Média de Agropecuária Regional da Ceplac – EMARC (Uruçuca, Itapetinga, Valença, Teixeira de Feitas), estas últimas vinculadas ao Ministério da Agricultura. As características dessas instituições serão apresentadas de forma mais detalhada no capítulo seguinte, no qual se pretende analisar as repercussões das novas formas de regulação a partir do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) e de relatórios de gestão. A propósito, a disponibilização das Concepções e Diretrizes intencionou contribuir para a elaboração desses Planos de Desenvolvimento, exigido pelo Ministério da Educação para a constituição dos Institutos.

As análises empreendidas nesse capítulo demonstram que a educação profissional como iniciativa do Estado no Brasil se revelou tardia e comprometida com o modelo de organização social em vigor nos diferentes períodos da história. Trata-se de uma educação que se voltou para o atendimento da formação técnica para suprir as demandas da modernização industrial, ampliação das relações comerciais e substituição da mão de obra escrava na agricultura.

Apesar do centenário da atuação mais efetiva do Estado nessa modalidade, ainda perduram as contradições nas propostas de formação, que oscilam entre uma concepção para o desenvolvimento de uma formação integral e centrada na constituição de seres autônomos e emancipados e outra perspectiva em que a competência técnica é o foco para o atendimento das demandas do setor produtivo, sendo que esta última tem logrado mais destaque no cenário brasileiro.

No curso dessa investigação também se revelou a pouca importância dada à gestão de instituições que ofertavam a educação profissional. O interesse pela gestão é recente e acompanha as novas diretrizes para a educação em todos os âmbitos. Conforme discutido em capítulo anterior, essa passa a ter papel relevante no processo de regulação de instituições públicas, imprimindo novas formas de atuação em articulação com as necessidades de direcionamento dessa performance em prol dos objetivos convencionados para a educação profissional no conjunto do desenvolvimento das novas estratégias para a constante reestruturação produtiva.

6 A NOVA GESTÃO PÚBLICA E AS ESTRATÉGIAS DE

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