• Nenhum resultado encontrado

A comprovação doutrinária dos postulados iniciais da presente pesquisa: A distinção entre os

No documento A SANÇÃO NO PROCEDIMENTO LEGISLATIVO (1) (páginas 195-200)

O B JETO D A FIL O S O FIA E D A

V. Giard E Brière, 1901 p 269.

2.6 A comprovação doutrinária dos postulados iniciais da presente pesquisa: A distinção entre os

conceitos de sanção e

veto ao nível da Teoria

Geral do Direito

Se do exercício realizado primeiro capítulo resultou a comprovação de que a realidade norrnativa do Direito Constitucional

BISCARETTI DI RUFFIA. Op. cit., p. 294

Positivo, em Monarquias e Repúblicas, sincronica e diacronicamente considerada, revela-se muito mais rica e complexa do que poderiam abarcar os esquemas doutrinários, até então, por demais

simplistas e prioritária e politicamente orientados, o segundo exercício que terminamos de empreender, nesse capítulo, vem comprovar tal assertiva e nos fornecer a oportunidade de, ao refletir sobre os caminhos e descaminhos de que foi o nosso instituto ao nível da Teoria Geral do Direito, buscar assentar, em bases normativamente rigorosas, os postulados iniciais da presente pesquisa. Obviamente, é requisito essencial à obtenção de uma resposta segura e precisa àquela questão tópica proposta no início do desenvolvimento do trabalho a fixação do conceito da sanção do Chefe de Estado no procedimento legislativo enquanto fenômeno jurídico Único e discernível dos demais institutos que lhe são próximos, na qualidade de postulado inicial.

Nesse passo, o estabelecimento do diálogo com os teóricos que anteriormente fizeram objeto de sua reflexão o instituto da sanção é fundamental, quando menos, no sentido de possibilitar a apreensão das diferenças específicas de enfoque e metodologia na abordagem do mesmo, o que certamente terá o condão de viabilizar uma compreensão precisa da teoria a que se propõe. É importante frisarmos, e talvez esse modo de proceder constitua por si só já uma ruptura com a tradição anterior, que não se buscou apresentar aqui uma história das doutrinas sobre a sanção como uma galeria de erros, para usar os termos de Hegel, como se o instituto fosse dotado de uma realidade absoluta e independente da realidade normativa e histórica da qual recebeu vida. Muito ao contrário, buscou-se revelar o sentido histórico e político datado, geográfica e socialmente localizado que informava e conformava os postulados iniciais de tais teorias, no mais das vezes, tornando-as inidôneas para a compreensão efetiva e genérica do instituto e impossibilitando-as de açambarcar, como teoricamente se propunham, em toda a sua riqueza, as distintas realidades normativas históricas de manifestação do instituto em sua própria época. Igualmente temos que salientar, e aqui relevamos a existência de outra ruptura metodológica, que não se buscou adaptar, mediante o desconhecimento da riqueza e variedade das distintas realidades convencionais normativas, as diferentes configurações positivas aos pressupostos políticos, axiologicamente orientados e aprioristicamente decorrentes das verdadeiras leituras que virtualmente pudéssemos empreender das obras clássicas de um Montesquieu ou de um Hegel, enquanto ar- gumento de autoridade. Orintou-nos, antes, a consciência de que a

distância que separa desses grandes filósofos não é apenas tem- poral, mas que. de forma necessária e precisa, envolve a contribuição viva dos mesmos na construção e reconstrução pelos homens -

cerca de dois séculos especialmente profícuos por darem guarida a um sem de alterações políticas, jurídicas e econômicas, profundas e historicamente significativas - de distintas realidades cotidianamente vividas e correlata e diversamente apreendidas ao da teoria. que, inclusive, possibilitou, no interior de uina sociedade de tal forma democratizada que seria inconcebível, para o daqueles clássicos, o surgimento de uma ciência específica do teve a audácia de submeter aos seus cânones o próprio fenômeno da criação do Direito Positivo: o procedimento legislativo.

E é essa a dimensão da ruptura empreendida por Biscaretti com relação aos seus predecessores. E caso queiramos apreender, de um ponto de vista essenciameiite os institutos da e do veto, impõe-se-nos a ruptura corri a concepção tradicional que toma tais institutos como realidades existentes em si mesmas, aprioristicameiite puros postulados políticos elevados à categoria de e que, portanto, requerem o da realidade própria qual os mesmos se inserem,

a que, por sua própria puramente

necessariamente só pode apresentar-se de uina forma rica, complexa, matizada, variada e variável. Tal fato, tampouco, autorizaria, no entanto, o abstrato e indiferenciado tratamento dispensado a esses institutos por Maurice Maier. Sua tese, na verdade, é apenas o reverso de uma mesma moeda, pois revela ainda a prevalência de um

puramente político; uma reflexão estrita e exclusivamente orientada para a tentativa de apenas dos efeitos políticos mais gerais de ambos os institutos.

Biscaretti efetua esse rompimerito, porque parte de premissas metodológicas diversas, não prefigura aprioristicamente um suposto objeto determinado em si mesmo uina entidade naturalmente dada, nem tampouco toma como homogêneas configurações objetivameiite distintas dos positivos pela mera suposição da identidade dos seus efeitos políticos mais gerais

-

mas, pelo contrário, com a fineza e o refinamento do senso jurídico que lhe é próprio, analisa os distintos institutos no seu contexto específico: o do procedimento legislativo. Se insistimos nesse rompimento não é porque nos preocupa sublinliar a diferença ou a novidade das proposições científicas que acolhemos. Aliás, é bom que frisemos, tais premissas analíticas encontram-se assentadas na

Europa desde a década de cinquenta. Repudiamos igualmente o ecletismo fácil decorrente da ilusão de que aqui poderíamos estar simplesmente complementando as insuficiências das abordagens anteriores. Na verdade, para nós, o próprio enfoque, o método de abordagem de um objeto é, em si mesmo, constitutivo do próprio objeto. Assim é que no rompimento, porque aquelas produções teóricas não se caracterizam apenas por sua insuficiência do ponto de vista iiormativo ou especificamente jurídico, mas sim pela própria interdição que elas representam a esse tipo de abordagem; pelo obstáculo em que se erigem, ao inviabilizar a compreensão especificamente jurídica não só do instituto em exame, mas do procedimento legislativo como um todo, no qual esse necessariamente se insere e pode encontrar a sua explicação. Dessa forma é que, partindo precisamente da contextualização dos institutos da sanção e do veto, consoante à respectiva e distinta inserção dos mesmos procedimento legislativo, Biscaretti os distingue normativamente quanto à natureza jurídica específica de cada um, da qual, necessariamente decorrem efeitos jurídicos obviamente diversos.

Assim é que, na Constituição da Itália de 1948, se reconhece ,

participação encomendada ao Chefe de Estado no procedimento legislativo, pelo art. 74, uma mera função de controle externo sobre a atividade legislativa propriamente dita, um veto em sentido técnico,

pois como afirma Galeotti: "Resta con buona ogni I

natura legislativa in codest'atto, argomentandosi ciò agevolmente

dalla dell'art. 70 Cost. che chiaramente specie se I raffrontata con disposizione corrispondente dello Statuto (art. 6 ) ,

una partecipazione Capo Stato all' esercizio della

legislativa; e riconfermandosi ciò, ulteriormente, in base agli effetti, di cui stesso ato è produttivo, i quali iion menomamente sulla di determinazioni delle Camere, che, como

integralmente riconfermare legge precedentemente adottada. L'atto costituisce invece chiara di

de controllo; e di di controllo, sul modo concretamente esercitata legislativa, si

tal caso gli elementi, che la migliore dottrina indica come strutturali della stessa Nessun'altra attività logica concepirsi contenuta e trasfusa messaggio, previsto cit. art. 74, fuor da quella di un riesame, di una dell'atto legislativo compiuta dallòrgano controllante, lume dei e delle norme i quali la Costituzíone ad

perfezione dell'atto legislativo, che la struttura

impressagli nel costituito e formato con la

concorde deliberazione delle due contrario, che fruisce dell'attribuzione, di cui si tratta, entra, o almeno, può entrare,

nella fase procedimento , in cui l'atto legislativo, validamente costituito, dovrebbe integrare la sua e qui egli può intervenire sospendendo in via la promulgazione della legge e chiedendo alle Camere, mediante l'invio un messaggio

(ove si espongono i di procedere ad una

nuova

Tal distinção, é de se relevar, apenas se tornou possível graças à consideração dos referidos institutos no seio dos mais consolidados avanços da doutrina da Teoria Geral do Procedimento Legislativo. Aqui, tomado em uma acepção mais genérica enquanto série de atos realizados por distintos sujeitos jurídicos, com vistas à produção de um ato final determinado, a lei, em relação à qual esses atos podem encontrar a sua necessária unidade e íntima vinculação recíproca. Mediante recurso à eiiucleação desse procedimento em momentos juridicamente relevantes, obtém-se o reconhecimento de suas três fases ou instantes mais significativos: a fase da iniciativa, consistente verificação dos atos que põem em movimento o mecanismo juridicamente propulsor do procedimento; a perfectiva ou constitutiva, na qual o ato jurídico em questão, a lei, se torna perfeita, integrada por todos os seus elementos constitutivos, ou seja, apta potencialmente a produzir os efeitos a ela juridicamente atribuídos; e, finalmente, a fase de iritegração da eficácia, mediante a qual a lei se incorpora plenamente ao ordenamento.

O reconhecimento da distinção básica, doutrinária e assentada, entre aqueles dois grandes grupos de distintas participações do Chefe de Estado no final do procedimento legislativo, consoante à fase do procedimento em que se verifiquem, qualificando-as, respectivamente, como sanção, se esta se verifica na fase constitutiva, ou veto, se ocorre já quando da fase de mera aquisição de eficácia, obviamente, implica a atribuição de distintas conseqüências jurídicas a tais ou às recusas havidas.

Acercamo-nos, assim, da análise dos aspectos procedimentais atinentes questão tópica que nos move. Contudo, os desenvolvimentos até aqui realizados nos possibilitaram firmar em

GALEOTTI, I1 rinvio di una legge (art. 74 const.).

In: Rassegna Diritto anno V , 1950. p. 50-5 1.

bases sólidas apenas a premissa inicial necessária à resolução da questão. A sanção é uma participação de natureza legislativa, uma vez que constitutiva da lei, encomendada a Chefes de Estado em determinados ordenamentos constitucionais, mesmo republicanos, e que difere essencialmente daquela outra mais corrente nos ordenamentos republicanos e de todo inexistente nas Monarquias, mediante a qual se reconhece ao Chefe de Estado uma mera atividade de controle, de natureza distinta da função legislativa exclusiva e propriamente desenvolvida pelas Câmaras, sobre a qual esse controle é exercido. Mas se a essas distintas participações, logicamente, devem ser reconhecidas consegüências jurídicas diversas, a determinação dessas conseqüências exige um melhor conhecimento jurídico-científico do que seria o procedimento legislativo enquanto fenômeno jurídico específico.

Antes de buscarmos resolver tais questões, é necessárío que explicitemos quais os pressupostos teóricos que informam e conformam a presente pesquisa, o que para vem a ser a Ciência Jurídica e qual a sua relação com a Filosofia do Direito, e ainda qual a importância de se dar um tratamento juridicamente científico aos institutos do Direito Constitucional, especificamente os atinentes ao procedimento legislativo, em uma democracia incipiente como a nossa.

São essas as questões buscaremos responder no próximo capítulo, a partir das quais o motivo tópico que nos move poderá encontrar resposta satisfatória.

No documento A SANÇÃO NO PROCEDIMENTO LEGISLATIVO (1) (páginas 195-200)