A negativa de Sanção Presidencial insuperável
1.2.2.5 A negativa de sanção presidencial por simples reaprovação parlamentar do projeto
Se na maior parte das Constituiçóes republicanas parlamenta- ristas (França de 1875 e 1946; Itália de 1947, etc.) ao Presidente é atribuído tão-só um poder de controle político e de aconselhamento, externo à atividade legislativa propriamente dita, que, pelo contrário, resulta encomendada exclusivamente às Câmaras, n a
Índia, de 26 de novembro de 1949, a tradição monárquica do direito inglês, ali em vigor por quase três séculos e meio, conformou o instituto acolhido com o pressuposto clássico britânico da necessária participação constitutiva do Chefe de Estado no procedimento de formação da lei, sem descurar do reconhecimento do peso decisivo da vontade pluralista manifestada pelo Parlamento.
Consoante ao que nos informa o art. 79 estatui que: um Parlamento da União, composto pelo Presidente (da India) e por duas Câmaras, denominadas, respectivamente, Conselho de Estado e Câmara do Povo". E é esse artigo que conduz Pylee a afirmar que "Consequeiitly, a law of the Parliament a law passed by the two houses followed by the of the
No entanto, o art. 11 1 estabelece os estreitos limites da participação a encomendada ao Chefe de Estado: "Quando um projeto de lei for pelas duas Câmaras do Parlamento será remetido ao Presidente da India. O Presidente declara se aquiesce ao projeto ou se suspende a sua sanção ao mesmo. O Presidente poderá, o mais rapidamente possível, após receber o projeto de lei para a sanção, restituí-10, se não versar sobre matéria financeira, às Câmaras, através de mensagem requerendo que o mesmo seja submetido a nova deliberação na sua integralidade ou indicar determinados dispositivos deste, ou, ainda, propor a introdução de alterações mediante emendas recomendadas mensagem; e um projeto de lei for dessa forma reenviado às Câmaras, essas o reexaminarão, e, se o mesmo for por elas novamente aprovado, com ou sem emendas, e novamente remetido à sanção do Presidente, este não mais poderá negar a sua sanção".
Como assevera Biscaretti, a única possibilidade de leitura sistêmica e dos referidos dispositivos consiste no reconhecimento de que tiveram por objetivo traduzir em normas jurídicas escritas, a um só tempo, tanto o antigo princípio consuetudinário britânico da participação constitutiva do Chefe de Estado na formação da lei, mediante a sanção, quanto a já consolidada of Constitution, que impõe ao Soberano inglês o dever de sancionar todos os projetos que resultem claramente desejados pela maioria da Câmara eletiva.
1.2.3 Conclusões preliminares acerca do instituto da sanção do Chefe de Estado no procedimento legislativo, resultantes do quadro
comparativo de seu acolhimento em Constituições monárquicas e republicanas
Do amplo quadro histórico-comparativo traçado, podemos concluir, de forma ante a dístiiita realidade normativa,
DI Paolo. Op. cit., p. 288-289.
PYLEE. of India, apud Biscaretti de Ruffia, op. cit., p.
política, e social, cultural, enfim, que e conforma, com riqueza de matizes intercambiáveis, a experiência constitucional dos vários países, que
que resulta contraposição axiomaticamente iiecessária o dotado de saiição, ou seja, do poder de participação ativa e constitutiva da lei, e o Presidente, muiiido apenas de um instrumento de controle político, exterior atividade legislativa propriamente dita, reservada exclusivamente às Câmaras, na realidade, jamais pôde encontrar respaldo nos textos constitucionais positivos. os dados hauridos autorizam a coiicordar com a tes bastante difundida apresentada por Maurice Maier, que, enquanto
à tese clássica, defende a identidade absoluta, puramente na linguagem corrente, entre os termos veto e
qual foi igualmente defendida Brasil por Aurelino Leal. Tal teoria, no entanto, ainda se localiza na seara delimitada pelas niesmas premissas e postulados da teoria clássica,
apriorística e politicamente orientada, desconhecendo, verdade, a realidade normativa, sendo, incapaz de fornecer solução jurídica adequada para os virtuais problemas cotidianos da interpretação e aplicação iiormativa do iiistituto. E é oportuno que frisemos o fato de que. insistimos na necessidade de ruptura
essa tradição teórica anterior que se em suma, assunção do vício racioiialista herdado do que até
a referida doutrinária, o fazemos pelo gosto da novidade, precisamente porque, ao se limitar à evidente política que recobre o instituto da sanção do Chefe de Estado requerido para a formação da lei, termina por ocultar, porquanto desconheça ou relegue para um segundo plano, a necessária consideração da inserção jurídica do instituto em seu próprio, aquele do procedimento legislativo como um todo, e por impedir o efetivo conhecimento normativo do iiistituto e de todos os seus efeitos nível propriamente jurídico-científico. Em outras palavras, poderíamos dizer que o próprio de abordagem desses teóricos - por privilegiar os salientes aspectos políticos do iiistituto - os conduz ou ao inaiiiqueísmo, ou ao que são apenas as faces de uma moeda apriorística, idealista e racionalista, que só pode instaurar-se mediante o
das distintas e específicas realidades iiormativas, obstando, nessa vertente, que o instituto a ser tomado, de forma rigorosa e precisa, como objeto da Ciência Jurídica. Para nós
buscamos responder a questões mais simples e menos
tal como a de se saber, pura e simplesmente, quais seriam as jurídicas da sanção do Chefe de Estado republicano, ein sistema de governo presideiicialista, que elevado à
categoria de lei um projeto que verse sobre matéria cuja iniciativa se
encontre a ele reservada, podemos
desconhecer tais aspectos, mas tampouco podemos com eles nos satisfazer. E, verdade, teremos alcançado uma primeira e importante etapa no processo de busc de solução juridicamente adequada para o problema, se já agora, em face do quadro histórico comparativo traçado, pudermos concordar que existem, pelo menos,
duas participação do Estado
republicano, quando sejam admitidas, como soe ocorrer, procedimento de formação da lei: uma primeira, de natureza constitutiva da própria lei e uma segunda, de caráter externo à sua formação mesma, de mero controle político, às quais devam
efeitos distintos.
As categorias examinadas, que se refere à participação do Presidente da República procedimento legislativo, comprovam que, a esse respeito, os distintos
constitucionais, consoante a cada caso histórico, atribuem a ela I
natureza ou constitutiva da lei, ou de mero controle político, externo I
de uma lei já perfeita. Nessa última hipótese, encontramos todos os casos nos quais o Presidente se limita a aconselhar e a controlar, exteriormente, a atividade legislativa, enquanto que, na primeira, encontramos, pelo contrário, aqueles casos, mais quais ao Chefe de Estado republicano -- é encomendada uma atribuição análoga àquela ainda que, depois, possa vir a ser afirmada a definitiva prevalência da vontade das Câmaras enquanto representação pluralista, ou da vontade do corpo eleitoral
direta ou ressalta Biscaretti di
Ruffia, a aparente contradição entre o convocar, de início, o Chefe de Estado para constituir a lei e, depois, admitir-se, na hipótese de não-aquiescência do mesmo a um determinado provimento que conte com evidente apoio parlamentar à sua emanação como lei, procedimento complementar destinado a superar essa negativa ou recusa de sanção encontra a sua justificação no próprio caráter igualmente representativo do órgão Repúblicas e também no princípio de sua não-perpetuidade e cristalização, que decorreriam da vitaliciedade do ofício. Nem tampouco há aqui o perigo de se ferir o prestígio da alta posição constitucionalme~ite atribuída à Presidência, pois o dissenso eventual entre dois órgãos igualmente representativos pode ser resolvido a favor de um deles, quando melhor apurada direta ou a vontade popular, sem com isso atingir a
posição do outro, induzido ao da
inais amplamente constitucioiialmeiite para os Presidentes República é aquela que, sob o modelo norte-americano, prevê a liipótese de superação da negativa de sanção por reaprovação qualificada das Câmaras, eiicoiitrada particularmeiite nas Repúblicas onde o relevo do é destacado e por representar individualmente a e em razão de poderes, que reúnem, moiiocraticameiite, os do Chefe de Estado aos do Chefe de Governo ou, diretamente, inteiro
parlamentar, como ocorre no
De posse dos dados hauridos primeiro exercício de inserção do instituto, tal como acolhido nas Constituições rnonárquicas e republicanas de diversos países, que nos possi- bilitaram configurar o quadro histórico-comparativo apresentado, podemos agora, no capítulo, com rigor de postura e suficientemente munidos dos necessários, proceder à crítica das doutrinas que, no da Filosofia Política ou da Teoria Geral do Direito, buscaram apreender o conceito e a natureza
instituto objeto de nossa indagação.
Retomaremos, dessa forma, o instituto desde os seus primórdios, todavia, mediante a análise das teses dos principais representantes da reflexão teórica a seu respeito. Embora tal exercício possa à primeira vista parecer supérfluo, é de se ressaltar que, além do fato de jamais haver sido realizado pelos teóricos eiros que se ocuparam do estudo do que denominam veto, para