O B JETO D A FIL O S O FIA E D A
2.2 Hegel e a decisão suprema do Monarca enquanto totalidade ou indivíduo que subsume, em sua
unidade, a universalidade do Estado
.
Buscar delinear, em poucas páginas, a natureza da função reconhecida por Hegel ao Monarca procedimento de formação da lei em seus Princlpios da Filosofia do Direito, embora com o cuidado de não simplificar por demais
a
complexidade e riqueza do pensamento hegeliano, não é tarefa fácil. A propósito, é importante frisar que os da do Direito, de 1821, constituem o coroamento de um abrangente, complexo e coeso sistema filosófico, para a construção do qual se buscou fazer convergirharmonicamente, de forma e
rigorosa, as distintas e os diversos resultados de dois milênios de reflexão filosófica ocidental. Todavia, como Hegel apreendeu, nenhum outro, a sua época em conceitos, embora muitos sejam os riscos, busquemos iniciar tal empreitada pela
de mellior com-
preender a sua crítica à Teoria da Separação dos Poderes, tal como a acolhida, segundo a concepção do intelecto abstrato, na obra de Montesquieu e, igualmente, qual seria o verdadeiro sentido em que se deve compreender a "necessária separação dos Poderes" na acepção hegeliana.
O próprio termo em assume um
significado específico, ao viva e atuante
estrutura ou, para dizer com Nicolai
Hartmann, idéia da Constituição está totalmente
domina&-pela e
orgânica as funções e instituições o Estado não pode fazer-se sobre a base de uma teoria É aualauer coisa de -- real e vivo, e consigo as suas necessidades pode organicamente do seu-próprio princípio e para cada época e povo ter uma única e necessária forma adulta Onde há um povo, há sempre uma coisa pública, um espírito que tem formas
cresceu organicamente, e como -- tal No 271 dos
Princípios da Filosofia do Direito, polí-
tica é, em primeiro lugar, a organização do Estado e o processo da . . orgânica em relação consigo mesmo. Neste
distingue o Esta* interior de si
em existência se a Constituição é a estrutura política orgânica e viva de uma sociedade determinada, às suas formas históricas correspondem as formas de governo. Como
ressalta das-formas de
daquela- empreendida por Montesquieu. A distinção tipológica clássica, assentada sobre o critério quantitativo do número de governantes - Monarquia, Aristocracia e Democracia
- e à redução operada por Maquiavel Monarquia e República, passando a considerar o governo de um só (pessoa física) em oposição ao governo de assembléia (pessoa moral), fosse ela integrada por nobres (República aristocrática) ou apresentasse na- tureza popular, no sentido fiorentino (República democrática), Montesquieu contraposto
e Monarquia distinguir-se-ia do Despotismo não mais pelo critério quantitativo do número de governantes, já que seriam governos de um só, mas pelo critério qualitativo da própria estrutura social subjacente. Para Montesquieu, a Monarquia propriamente dita se distinguiria do Despotismo pela existência de corpos intermediários que obstavam a concentração do Poder político nas mãos do único acolhe a tipologia de Montesquieu a ponto de adotá-la como o principal critério para a do movimento do Espírito absoluto na história, enquanto figuras mais gerais por ele assumidas passagem de forma de para outra, de estágio da civilização outro: o Despotismo oriental, a República antiga e a Monarquia moderna. Assim é que Hegel afirma, ao
da do Direito, que "foi Montesquieu quem definiu a
HARTMANN, Nicolai. A filosofa do idealismo edição.
Lisboa: Galouste 1983. p.
A respeito consultar também:
BOBBIO, Norberto. A constituição em Hegel. In: Estudos sobre Hegel.
São Paulo: Brasiliene, 1989. p. 95 a 110. HEGEL, G. W. Op. cit., p. 243.
verdadeira visão histórica, o verdadeiro de vista filosófico, que consiste em não considerar isolada e abstratamente a legislação geral e suas determinações, mas em vê-las como elemento condicionado de uma totalidade e com as outras determi que constituem o caráter de um povo e de uma que distingue a tipologia de Hegel daquela dos clássicos é não apenas a visão derivada de entre as duas formas de governo de
- -- -
um só - o Despotismo, enquanto primeira manifestação histórica do --- Estado, e a Monarquia, localizada no final percurso histórico--
I
mas -- essa que permitirá a Hegel o
-e--
das características distintivas da Monarquia modernos, a Monarquia Constitucional, contrapondo-a às demais
---
--
- -como a forma em se torna da
liberdade não de um só. o Monarca. como no mas de
-
pelas são três. A
primeira, correspondente à categoria do Despotismo, em a da vida estatal ainda evoluiu, suas esferas particulares não teriam alcançado autonomia e o Poder uma estrutura patriarcal, despótica e instintiva, em que apenas o Soberano individual é livre, mas, mesmo sob a violência de um dominador e mediante a obediência gerada pelo medo, essa primeira manifestação ! do Estado já constitui um complexo de vontade; a segunda
,
--
corresponde ou em que
tais esferas e, com elas, os indivíduos se tornam livres, são
aristocratas, esferas singulares, órgãos democráticos, que dominam, ! fazendo valer as suas particularidades, o Estado é livre, embora a sua
1
liberdade se traduza no particularismo; enfim, a terceira, que
I
corresponde à em que as esferas
particulares são autônomas e sua na produção do I
universal, mediante a articulação, no interesse do todo, das distintas fato, as três formas de governo correspondem a três estruturas sociais diversas: a primeira é típica de uma sociedade
indiferenciada e inarticulada, na qual as esferas particulares que I
compõem uma sociedade mais complexa (ordens, estamentos, classes ou grupos) ainda emergiram da indistinta unidade inicial, tal
,
como ocorre com a família, um todo que ainda não se compõe detes relativamente segunda, surgem as esferas que, contudo, não chegam a ser completamente
com relação à totalidade, uma vez que, vinculadas à defesa de suas particularidades, é o momento da unidade desagregada e não mposta; na terceira, a unidade social se recompõe, mediante a _.-- ulação partes, Ünidade
e
diferenciação, e a-----e--
-
é compatível com-a e, na
I_-
, pressupõe o jogo relativamente - autônomo dessas A
uia pressupõe, para Hegel, como diz
que da unidade substancial indivisa da comunidade não só se emancipe o princípio da particularidade e da ade, mas que esse princípio e revele como o fundamento oderno da existência social: a sociedade civil, esfera da aráter privado, que funciona com base nos interesses s dos indivíduos e que constitui o sistema autônomo ua dependência recíproca objetiva. Este sistema é em si esfera da vida coletiva distinta do Estado. É na sociedade da atividade da reprodução social e da sua ação jurídico-administrativa, que os indivíduos se em grupos ou massas particulares - aí se desenvolve a posições ou condições sociais (Estados, ordens, grupos) diferentes e